Capítulo 1: Herança
Estava nervosa, faltava apenas um dia para a segunda parte do testamento do meu pai ser lida.
A primeira parte foi lida um dia após sua morte, por exigência de minha mãe, na época tinha apenas sete anos, de nada entendia aquele alvoroço todo da minha família.
A segunda parte seria no meu vigésimo primeiro aniversário, como orientava meu pai, coisa que aconteceria no próximo dia útil, ou seja, amanhã.
Era uma momento importante da minha vida, pois toda a herança era administrada pela minha mãe e eu não tinha acesso a nada até aquele momento.
A história contada pelos meus avôs paternos desde do falecimento do meu pai, era que minha mãe ficou grávida por interesse e consequentemente conseguiu o tão sonhado casamento. Muitas vezes fiquei pensando se essa história era verídica, o fato era que sempre minha mãe foi distante de mim e quando meu pai morreu de ataque cardíaco, ela me deixou aos cuidados dos meus avôs, é, acho que não tinha muita dúvida quem falava a verdade.
Depois disso eu havia uma vez ao ano, ela sempre teve muitos namorados e eu preferi não interferir em sua vida, já que eu era insignificante na dela.
Uma hora atrás seu advogado havia me ligado marcando a temida leitura do testamento, seria na empresa do meu pai, já que as testemunhas eram três funcionários e amigos dele, além de mamãe claro que estava lá.
Com a correria do dia a dia, enfim estava chegando em meu apartamento. Este havia ganhado dos meus avôs há pouco mais de dois anos. Tomava conta de uma das lojas de material de construção do meu avô, a família era envolvida com engenharia, sempre tinha algum engenheiro nas gerações, eu preferi seguir a carreira do meu avô do que a do meu pai, ser empreendedora, pena que minhas ideais ainda estavam só no papel.
Era uma quinta-feira, já passava das dezoito horas quando saí da empresa e queria relaxar um pouco, o dia fora corrido, iria jantar na minha avó, mas liguei desmarcando e a convidando para estar presente com o advogado da família no dia seguinte para a leitura do testamento, tinha perdido até a fome, coisa rara.
O prédio que morava era no mesmo bairro que eles, dava para ir a pé, poucos quarteirões, coisa rápida. Mas meu clima tinha estragado. Não morava só, tinha uma amiga Bruna, a Neide e Gabi que moravam comigo, as últimas estavam em lua de mel.
Bruna foi uma amizade imediata, ela estava sendo despejada e a convidei para morar comigo. Já a Neide trabalhava na casa da minha avó e eu a trouxe para vir morar comigo, dar uma força e ela ficou de vez, foi aí que ela conheceu a Gabi, minha melhor amiga junto com a Bruna.
Gabi trabalha na loja comigo, já a Bruna era atriz, atualmente estava em uma peça no teatro da cidade, Gabi por sua vez era mais velha e sempre me ajuda com conselhos, e quando ela começou a namorar a Neide, convidei para vir morar conosco também, espaço não faltava, coisa que ela aceitou, agora elas estavam viajando em lua de mel, presente da minha avó, o casamento foi no civil, com direito a cerimônia.
Estacionei meu carro e subi para o quinto andar, o condomínio estava um silêncio, pessoal estava viajando de férias com os filhos, época de fim de ano.
-- Oi, Chico! Quanto está o jogo? -- Chico era o porteiro esportista, sabia de tudo, torcíamos pelo São Paulo e sempre comentávamos sobre futebol.
-- Zero a zero ainda.
-- Vou correr para assistir o segundo tempo -- falei realmente apressada.
Entrei no apartamento, era moderno, mas simples, não gostava de muita decoração, apenas o necessário, mas as meninas amavam decorar, assim foi ficando bem aconchegante.
Encontrei a Bruna assistindo filme deitada no sofá.
-- Oi -- falei beijando seu rosto.
-- Boa noite, Lívia!
-- Jantou?
-- Sim, as opções do jantar hoje são: pão com queijo ou pão com ovo, desculpe passei no shopping e não consegui fazer nada a tempo.
-- Tudo bem Bruna, acho que vou ficar com as duas opções então, estou morrendo de fome, durante o trajeto minha fome tinha chegado.
-- Vai tomar banho que faço -- ofereceu-se.
Fiz o que ela disse, Bruna era morena, cheias de curvas, de porte médio, com olhos claros e um lindo sorriso.
Ela tinha feito uma torrada quando voltei.
-- Você está magra! -- ela reparou.
-- Quando Neide voltar, engordo de novo -- ri.
-- Eu também perdi peso, como foi seu dia?
-- Intenso, e seu?
-- Foi bom, acho que entrarei na nova peça, fui convidada.
-- Sério, que bom! É sobre o quê?
-- Ainda não sei exatamente o enredo, só sei que tem bullying.
-- Hum... Interessante.
-- Agora me fala sobre o testamento.
-- Pensei o dia todo nele -- falei cansada.
-- Está tensa né? Tem medo do que pode ter nele?
-- Na verdade não, mas quero me libertar logo disso.
-- E não pensou em nada para comemorar seu niver?
-- Não pensei, nem estou em clima para isso -- meu celular começou a tocar -- Juliana, não para de ligar -- desliguei o celular e joguei sobre o sofá.
-- Sua ex termina, depois ver que fez merd* e quer voltar.
-- Mas agora acabou de vez, vou assistir o jogo lá no quarto! Boa noite Bru!
-- Boa noite!
A vida fora dura com Bruna, abandona, precisou usar seu copo para sobreviver, mas conseguiu dar a volta por cima, mesmo com minha ajuda ela já queria sair do fundo do poço, por isso acho que o mérito é toda dela, pois estava tentando melhorar sua condição de vida quando a encontrei.
Conheci a Bruna em um dia qualquer, adoro andar de patins e em uma praça perto do condomínio quando patinava ouvi alguém chorando e era ela. Estava sem casa, sem ninguém para ajudá-la, foi uma historia triste que ouvi, depois decidi que a convidaria para morar comigo, assim, sem pensar duas vezes. O apartamento era grande, tinha muito espaço e eu tinha condições de ajuda-la. A Bruna ainda era de menor, minha avó conseguiu a guarda dela após procuramos orientação em um conselho tutelar, e logo três meses depois ela fez dezoito anos, agora estava com dezenove quase vinte, meu avô fez questão de pagar a escola para ela terminar o ensino médio. Durante esse tempo ela já fazia curso de teatro, gostou tanto que quis seguir a carreira. Agora, além de cursar artes cênicas, ela era atriz coadjuvante em uma das principais peças em cartaz da cidade, mudou de vida radicalmente. Nos dávamos muito bem, ela era uma morena bonita e inteligente, só não tinha tido oportunidade até aquele momento na vida. E agora junto com a Gabi me enchia de conselhos amorosos.
Dormi mal durante a noite.
O encontro com minha mãe seria tenso.
Pela manhã Bruna já havia comprado pão e fazia misto.
-- Ai, Bruna! Vamos mudar esse cardápio não aguento mais comer pão.
-- Desculpa, não tive tempo para fazer as compras.
-- Não tem problema, mas tarde passo em um supermercado para fazer compras, não deve ter nada né?
-- Nada disso! -- abraçou-me – Hoje é seu niver! -- beijou meu rosto! Eu comprei umas coisas, mas você sabe...
-- Sei, baganas!
Comi o pão com manteiga ouvindo Bruna falar que teríamos que sair para comemorar meu niver a noite, supermercado fazíamos outro dia.
Ela beijou meu rosto mais uma vez, e depois de vários parabéns a deixei na loja e fui ao encontro da minha mãe.
Entrei direto para a cobertura, o prédio era imponente, minha mãe gosta de esbanjar dinheiro, havia reformado tudo desde da morte do meu pai, ela tinha talento para os negócios, ou melhor, os amigos do meu pai sabiam orienta-la.
Minha avó chegou com o advogado.
-- Parabéns minha loirinha! -- minha avó me abraçou.
-- Obrigada vovó!
Fiquei conversando com ela e quase uma hora depois do combinado minha mãe chegou, esperamos chegar as testemunhas e um responsável do cartório foi enviado para ler o testamento.
Mamãe mal me cumprimentou e já quis iniciar a leitura, esqueceu ou não quis me dar parabéns.
Ele começou com a introdução e logo a partilha dos bens, falava sem rodeios.
-- A casa de praia será doada para o lar dos idosos da cidade.
-- Como assim? -- mamãe falou, ela aproveitava aquela casa com festas extravagantes.
-- Está inscrito aqui senhora -- o rapaz justificava.
-- O apartamento residencial ficará com Amanda Costa Clemente.
-- Sou eu! -- mamãe disse -- Ainda bem que ele foi correto nessa parte.
-- O dinheiro que ele possui em uma conta no banco fora do Brasil que chega a quase cinco milhões de reais com valores atualizados, será doado para os orfanatos da cidade, podendo ser um apenas, quem irá definir será sua mãe Vitória Clemente.
-- Como seu coração era bondoso, mas não precisava ser tanto -- mamãe falava e eu apenas ouvia.
-- E por fim, a empresa de construção civil, será dividida da seguinte maneira: Amanda ficará com 30%, desde que nunca se case, caso contrário seus bens todos serão doados, para escolas.
-- Só isso? E esse quesito de casamento, nunca irei me casar meu amor, sempre serei fiel a você.
-- Por favor, senhora, não me interrompa -- ele pediu -- E Lívia ficará com 30% também, desde que se case oficialmente para, enfim, poder receber a herança, e os 40% restantes serão doados, para igrejas, o time de futebol da cidade e hospitais.
-- Quando dar estes 30%? -- mamãe quis saber, nessa eu também fiquei curiosa.
-- Senhora, vocês precisaram vender a empresa para depois saber quanto cada um vai ficar em valor, caso queiram vender logo aconselho a senhora começar a fazer um balanço dela e noticia-la no mercado de vendas, assim, como aconselho sua filha a casar para poder receber o dinheiro, tudo depende de vocês agora, mas não tem pressa, ele não estipulou nenhuma data.
O senhor pediu licença e se retirou, olhei minha avó que deveria está pensando quais motivos meu pai tivera para essa divisão.
-- Seu pai foi mesquinho até na morte, aposto que não acreditava que você era filha dele, essa aí deve ter envenenado ele, por isso você ficou com tão pouco, quer um conselho, case mesmo com aquela puta que você mora, só assim ela vai servir para alguma coisa a não ser abrir as pernas para você -- disse bufando e saiu com seu ódio.
-- Filha, você sabe que ele acreditava que você era filha dele, assim como eu credito, sua mãe esta fora de si porque queria tudo para ela.
-- Vovó não se preocupe, ela não me abala, mas ela me deu uma ideia, você acha que seria uma boa casar com a Bruna para adquirir a herança?
-- Ah filha, não sei, você tem que analisar vários fatores, além de saber se sua amiga quer né?
-- Verdade vó, tenho tantos planos de expandir a loja do vovô, e outro meus.
-- Com certeza ele aceitaria, sabe que ele te apoia.
-- Vou falar como ela.
-- Tenho muito orgulho de você minha neta.
-- Eu te amo vovó, o que sou hoje é graças a senhora, ainda bem que fiquei com a senhora, pois ficaria muito decepcionada com essa atitude de mamãe.
-- Eu sei filha, só não sei como seu pai não viu isso, acho que ele até conseguiu ver um pouco, pois deixou-a com pouco ainda, e você também.
-- Ele me deixou o suficiente, só não sei quanto -- ri, me despedi de vovó e fui para casa, queria pensar.
Fim do capítulo
Oie, meninas!
Estava com saudades de escrever, então voltei *-*.
Aos poucos vou mostrando mais detalhes sobre as personagens.
Bjss!
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NovaAqui
Em: 09/05/2017
Oi, Dyh!
Que bom que voltou!
Gostei desse primeiro capítulo
Lívia decidida. Será que ela já nutre algum sentimento por Bruna.?Parece que sim.
Agora é esperar o pedido. Acho que esse casamento vai dar caldo
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Oie, NovaAqui!
Bom que gostou, inicialmente posso garantir que não sente, mas isso vai ser bom para o futuro delas, quando começarem ver uma a outra com outros olhos.
As duas são calmas, mas quando elas se esquenterarem...
Bjss, fraternos pra você também!
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Mille
Em: 09/05/2017
Bom dia Dyh
Gostei do início, e que mãe é essa mais nada que seja inédito pois ainda existe piores.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Oie, Mille!
Bom saber *-*, pois é, Amanda está longe de ser boa mãe, o bom é que Lívia tem boa cabeça.
Bjss!
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