Uma semana depois organizamos nossas coisas e viajamos para Londres, Daniel me entretia durante todo o trajeto e a sua presença me deixava mais tranquila. Quando enfim chegamos, nos hospedamos em um hotel.

 - "Ta" esperando o que para ir atrás da pediatra gostosona? - Daniel questionou deitado na minha cama.

 - "Ta" esperando o que para sair da minha cama?

 - Não muda de assunto!

 - Sua cama é do lado da minha, o que custa ficar na sua? Você que escolheu aquela! - ele continuou impassível - não sei Daniel, já está tarde, acho melhor amanhã.

 - Você quem sabe, deita aqui - bateu do seu lado, deitei e coloquei a cabeça no seu peito - não seja idiota - abri a boca para protestar - calada, como eu dizia, você se apaixonou por foder com a louca de pedra.

 - Ei.

 - Não me interrompa, o que você gostava era de trepar, afogar o ganso, colocar as aranhas para brigar. Não era amor, sei disso por você ter superado no mês seguinte, você só ficou abalada por ter sido enganada e ter perdido o caso, quando passou o seu devaneio, você me encheu o saco o resto do ano por causa da Amanda.

 - O que isso quer dizer?

 - Que o que você sentiu pela Elizabeth/louca de pedra foi passageiro, não sei o que você sente pela Amanda, mas é bem mais intenso já que durou até agora. Não tenha medo, conversa com ela e se ela sonhar em te machucar, eu mesmo acabo com ela.

 - Você é o melhor, sabia? - minha voz estava embargada pelo choro contido.

 - Sei, claro. Agora chega de conversa mole e me leva para conhecer alguma balada.

 - Você é um safado, hoje não. Só quero dormir.

 - Ta bom, vai ficar me devendo essa.

 - Depois do que você me fez passar na nossa última balada você deveria ter vergonha de me pedir isso - me empurrou e eu cai no chão - Daniel!

 - Nem me lembre disso, fiquei três dias andado todo duro.

 - Ai, vou dormir na sua cama, você é um folgado mesmo.

 Me joguei na cama ao lado, Daniel levantou e começou a arrumar suas coisas para tomar banho, peguei minha toalha e sai correndo para o banheiro.

 - SUA VAGABUNDA - gritou esmurrando a porta.

 - Perdeu, playboy.

 Tomei banho cantando uma musiquinha enquanto ele continuava a bater na porta, terminei e ele já tinha desistido, abri a porta e encontrei seu olhar furioso, ignorei e ele entrou batendo a porta. Aproveitei e deitei na minha cama.

 - Essa cama é mais confortável mesmo - não demorou muito e adormeci.

 Um peso caiu sobre mim e acordei sobressaltada.

 - Bom dia - Daniel me lançou um sorriso atrevido.

 - Dani, você está comendo muito - fiz uma careta - tira essa bunda gorda de cima de mim.

 - Tudo bem, vai tomar banho que vou escolher uma roupa para você.

 Nem me dei ao trabalho de retrucar, cambaleei para fora da cama e praticamente me joguei no chuveiro. Só lembrei que não tirei a blusa quando ela já estava molhada.

 Depois de fazer minha higiene, voltei para o quarto, a mala estava no chão  e as roupas jogadas em cima da minha cama.

 - Você vai arrumar tudo isso - grunhi para o meu amigo.

 Caminhei até a bolsa e peguei meu celular, 6 horas da manhã, não mereço um amigo desses.

 - Veste sua roupa e cai fora - o encarei assustada.

 - Estou sendo expulsa? 

 - Sim, achei um gato no bate papo e vou conhecer ele hoje.

 - Você que deveria sair então - refleti.

 - Motel está muito caro, vai ser aqui mesmo - riu.

 - Você não tem jeito mesmo.

 Resmunguei enquanto me trocava.

 - Amiga, vai lá e pega essa mulher para você.

 - Amigo, só não faça na minha cama.

 Fui a passos lentos até a cafeteria que ficava do outro lado da rua, tomei um expresso esperando que aquilo me mantesse acordada. Olhei o endereço no meu celular e senti dor de barriga por causa da ansiedade.

 Chamei um táxi e fui, eu não tinha ideia do que falar para ela, não sabia como a Amanda me receberia. Em meio a questionamentos cheguei no endereço indicado, paguei o táxi e desci.

 Era uma casa bonita, fui até a porta e troquei o peso de perna, fiquei encarando a porta sem coragem nenhuma.

 - Vamos lá, Adriana. Você é uma mulher ou um rato? - falei comigo mesma - um rato.

 Virei as costas pronta para fugir, mas eu não poderia fazer isso. Droga! Virei para a porta e num ímpeto toquei a campainha. Meu coração batia rápido e comecei a ofegar.

 Eu estava morrendo, alguém me ajuda, socorro. A luz branca está vindo, calma, respira. Bati na minha cara e me senti melhor, conviver com o Daniel não me fazia bem. 

 - Esses jovens estão ficando loucos - resmungou uma idosa que passava pela rua e viu meu monólogo.

 Balancei a cabeça negando, ainda não estava louca. A porta rangeu e foi abrindo, ah, a luz branca voltou.

 Amanda estava ali, um metro de distância nos separava, notei que ela estava bem mais magra e suas olheiras estavam fundas e roxas. Meu coração doeu e naquele momento eu sabia o que dizer, mas não falei nada, só a abracei forte e ela desabou nos meus braços.

 Sentamos no chão e eu a aninhei em meu colo, acariciei seus cabelos e murmurei palavras de carinho.

 - Está tudo bem - a confortei - estou aqui.

 Amanda levantou a cabeça e me fitou, o azul que tanto me conquistava estava opaco e eu me culpei. Era visível o sofrimento que a fiz passar, não falamos nada, ela me olhava como se eu fosse a oitava maravilha do mundo, era pura adoração.

 - Vem - a levantei, fechei a porta e fomos até o sofá. 

 - Pensei que ela tivesse te matado - se pronunciou depois de um longo tempo - ainda não acredito que você está aqui.

 - Tem muitas coisas que preciso te falar - passei a mão pelo cabelo - mas preciso que você me conte tudo, absolutamente tudo sobre a Elizabeth e o vínculo de vocês.

 - Tudo bem - dessa vez ela não exitou - vou te contar desde o começo, os pais da Elizabeth foram obrigados a se casarem. Eles eram amigos e por questões de poder e dinheiro as famílias deles organizaram o enlaço, mas o pai dela estava apaixonado por outra mulher, uma mulher simples e como eles não poderiam ficar juntos, ele não teve escolha e casou com a mãe da Elizabeth, mesmo assim o pai dela continuou saindo com a mulher que ele gostava, essa mulher era a minha mãe.

 A olhei espantada, ninguém tinha essa informação sobre ela, relembrei das informações sobre Elizabeth e não constava nenhum irmão.

 - Só que em uma noite de bebedeira meu pai e a mãe da Elizabeth a conceberam - continuou - eles não queriam que isso tivesse acontecido. A mãe dela a rejeitou, teve depressão pós parto e a minha ficou arrasada e logo descobriu que também estava grávida. Meu pai ficou perdido, ficou feliz por ter um filho com a mulher que amava e com a melhor amiga, Elizabeth nasceu meses antes que eu, foi criada por babás. Sua mãe me adorava, mas fingia que ela não existia, meus pais tinham um relacionamento lindo, sabe? - limpou as lágrimas - nisso se passou dezesseis anos. Elizabeth era mimada, queria tudo para ela, egoísta ao extremo e se as coisas não fossem como ela queria.. ela surtava.

 - Até que ela quis uma garota, Suzan, você se parece com ela. Só que a menina gostava de mim e mesmo que na época eu tivesse um namorado, não foi o suficiente para a Elizabeth. Ela achava que eu queria tudo o que era dela ou o que ela achava que devesse ser dela. Então a matou, seria um escândalo e meu pai acobertou tudo, mandaram ela para um colégio interno, para terapia, fizeram o possível, só que era tarde demais. Aos dezoito ela saiu do colégio interno e parecia melhor, meus pais, eu e a mãe dela viajamos até um sítio.

 - Eles voltaram e eu preferi ficar mais tempo lá, não me sentia disposta, aconteceu um acidente e eles morreram, não foi um acidente, foi ela. Fiquei destruída, perdi todos eles de uma vez, me afundei no álcool e drogas, meu pai tinha deixado dinheiro o suficiente para mim não precisar trabalhar. Foi quando eu engravidei e eu prometi que seria boa mãe para a minha filha, por isso eu não fui até a polícia, Eliza tentaria fazer algo contra a minha filha.

 - Mas ela é assim por causa da infância dela?

 - Elizabeth é uma psicopata, Luana. Não há cura, o fator externo influência, mas é algo que já nasceu com ela, é biológico. Ela é uma mulher fria, sem sentimentos, só sente prazer e o prazer provém do sofrimento alheio. Mesmo se o ambiente familiar fosse perfeito, a tendência de ser como ela é continuaria, talvez ela não matasse, mas iria arrumar uma forma de machucar os outros mesmo assim.

 - Você sabe se ela está envolvida com mais crimes? Mais mortes? Tráfico de órgãos?

 - Acredito que ela tenha matado mais pessoas sim, mas não posso te confirmar isso. Nunca tivemos muito contato, ela claramente não gosta muito de mim. Sobre tráfico de órgãos também não sei te responder, não sei como, mas ela assumiu os negócios que nosso pai deixou para ela e conseguiu triplicar a fortuna.

Fim do capítulo