Érika estava sentada no sofá e lia um livro atentamente. Escutou a campainha tocar e estranhou o porteiro não ter avisado. Levantou-se sem vontade alguma e andou em direção a porta a abrindo. Ficou surpresa ao ver a visita inesperada.

 

-- Oi Érika... - sorriu sem graça. 

 

-- Rebecca... - disse séria. 

 

-- A... A Luiza está? - falou nervosa.

 

-- Não... Ela foi no mercado comprar umas coisas que estão faltando - afastou-se - Entra, pode esperar. A Luiza não vai demorar.

 

A ruiva concordou e sentou-se timidamente. Nem parecia aquela mulher arrogante. Érika ficou a encarando sem disfarçar. O olhar da loira intimidava a jovem empresária. Rebecca estava visivelmente incomodada com aquele olhar verde sobre si. 

 

-- Por que você está me olhando assim? 

 

-- Não posso? - irônica. 

 

-- Será que você pode parar? 

 

Érika sorriu. 

 

-- Te incomoda tanto assim? 

 

-- Bastante. 

 

Érika era uma das poucas pessoas que conseguia intimidar a ruiva. 

 

-- O que você quer com a Luiza?  

 

-- Isso é assunto de nós duas apenas – disse firme.

 

-- Se você  não tiver nada de bom pra falar com ela... É melhor você ir embora - disse séria. 

 

-- Você nem sabe o que eu quero!

 

-- A Luiza me falou como você agiu com a Anne... Patético – falou torcendo os lábios. 

 

Rebecca abaixou a cabeça. 

 

-- Eu agi por impulso... Estava cega de raiva - disse corada. 

 

-- Essa será sempre a sua desculpa? - Érika falou dura. 

 

A ruiva suspirou. 

 

-- Não quero ser como ele... - sussurrou. 

 

Apesar de ter sido baixo, Érika escutou. 

 

-- Não quer ser como quem? 

 

-- Meu pai...

 

A loira a analisou atentamente. 

 

-- Então não seja.

 

-- Parece até fácil com você falando. 

 

-- Você é que complica. 

 

-- Não é fácil mudar. 

 

-- Pior ainda é ficar se lamentando. 

 

-- Eu que estou errada, ok?

 

-- Pelo menos você admite, isso já é um começo. 

 

Rebecca sorriu. 

 

-- Você nunca relaxa, não é? 

 

-- Não mesmo. 

 

-- Apesar de tudo... Eu gosto de você - a ruiva falou sincera. 

 

Érika ficou alguns segundos em silêncio. Passou o dedo pela sobrancelha pensativa. Encarou a ruiva. 

 

-- No início, eu não gostava de você. Eu tinha uma certa implicância por causa da Luiza, mas eu percebi que você é uma pessoa legal. Ainda tenho que ficar de olho em ti... Mas também gosto de você. 

 

-- Como está a Bia?

 

-- Ela está bem. 

 

Rebecca percebeu que a loira ficou diferente. 

 

-- Vocês ainda namoram? 

 

-- Não! 

 

A ruiva não queria ser indiscreta. Decidiu mudar de assunto. As duas conseguiram conversar de forma tranquila. 

 

********

 

Luiza escolhia tomates distraidamente. Estava tão concentrada que não percebeu que alguém se aproximava. 

 

-- Oi Luiza... 

 

A médica escutou aquela voz tímida e virou-se para encarar a pessoa. Reconheceu rapidamente aquela loirinha de olhos de mel. 

 

-- Karina! - disse sorrindo simpática. 

 

-- Eu vi você e bom... Não resisti em vim te cumprimentar. 

 

-- Você parece bem, Karina - disse a observando. 

 

-- E estou! - sorriu. 

 

-- Carol me disse que você finalmente deixou de ser capacho.

 

Karina corou. 

 

-- Pois é... Finalmente criei vergonha na cara. 

 

-- Isso é muito bom... O que você tem feito? 

 

-- Eu estou tentando arrumar um emprego, mas você sabe o quando está difícil, ainda mais pra mim que não quis saber dos estudos. 

 

-- Sim... Sei o quanto está difícil - disse pensativa - Olha eu conheço algumas pessoas, posso falar com elas... Se eu conseguir alguma coisa, eu aviso. 

 

-- Nossa Luiza... Seria perfeito! - disse animada. 

 

-- Mas você está bem? Você tem dinheiro? - Luiza perguntou preocupada. 

 

-- Ah, eu me viro... Faço alguns bicos. 

 

-- Se precisar de qualquer coisa não hesite em me ligar - disse pegando um cartão e entregando a jovem - Esse é meu número pessoal. 

 

-- Obrigada, Luiza. Você é sempre tão gentil... A Carol sabe meu número, se você conseguir qualquer coisa, por favor, me ligue. 

 

-- Pode deixar. 

 

-- Agora eu preciso ir... Tenho uma entrevista - sorriu. 

 

-- Boa sorte, Karina. 

 

-- Valeu, Luiza... Vou precisar! - disse se afastando. 

 

-- Karina... 

 

A loira virou-se para encará-la. 

 

-- Oi... 

 

-- Sabe da Daniela? 

 

A loira balançou a cabeça negativamente. 

 

-- Não, Ela sumiu.

 

-- Entendo. 

 

-- Luiza, Tenha cuidado. 

 

A loira se foi, deixando Luiza pensativa. A médica terminou as compras e seguiu para o apartamento.

 

********

 

Rebecca explicava algumas coisas para Érika, que escutava atentamente. 

 

-- Você precisa ter certeza absoluta quando for fazer um negócio, ainda mais quando envolve muito dinheiro... Esse é um gráfico do desenvolvimento de alguns setores no país. Pelo que você pode perceber houve uma grande queda - Rebeca explicava pacientemente. 

 

 

-- Sim... Por causa da crise. 

 

-- Yes... Várias empresas não resistiram a tamanho impacto, por isso o desemprego está enorme. 

 

-- Você sentiu o efeito no bolso? 

 

-- Óbvio... Mas a gente sempre tem que buscar soluções para os problemas em questão. Não precisei demitir um único funcionário. Nesse momento as coisas estão estabilizadas em minha empresa.

 

-- Nossa... Isso é muito bom!

 

Luiza chegou nesse momento. A jovem carregava algumas sacolas de compras. Seus olhos se fixaram na ruiva.

 

-- Rebecca - disse incrédula. 

 

A ruiva corou levemente.

 

-- Oi Luiza - falou tímida. 

 

-- Vocês estavam conversando? - estava surpresa. 

 

Rebecca estava sentada ao lado de Érika que estava com o notebook no colo.

 

-- Sim, nós estávamos tendo uma conversa amigável - a loira falou simpática - Eu vou comprar umas coisas e só volto mais tarde - Levantou-se - Foi bom falar com você, Rebecca. 

 

A ruiva sorriu. 

 

-- Eu digo o mesmo. Foi muito bom falar com você, Érika. 

 

A loira se despediu das garotas, as deixando sozinhas. 

 

Luiza ficou um tempo encarando Rebecca, até decidir se sentar no sofá menor. 

 

-- Que visita inesperada – comento. 

 

-- Acho que essa visita até demorou a acontecer – disse a ruiva suavemente. 

 

-- Isso é verdade. 

 

-- Eu precisava pensar... Repensar... Ontem eu vi... E eu sei o que quero mais que tudo. 

 

Luiza ficou em silêncio. Rebecca levantou-se e se sentou ao lado da médica, segurando carinhosamente em suas mãos. 

 

-- Eu mudei... Sei disso... Fui rebelde e inconsequente. Guardei muito mágoa dentro de mim. Sei que nada justifica as minhas atitudes. Eu te culpei, Luiza... Mas sei que nada disso foi sua culpa... Foram minhas escolhas e eu sofri as consequências... Infelizmente ainda sou imatura, sim! Eu sou! Apesar de ser essa empresária temida... Eu ainda me sinto aquela adolescente. Eu faço coisas que nunca imaginei que faria... Acho que no fundo sou uma pessoa ruim - disse tristemente. 

 

-- Você não é uma pessoa ruim, Rebecca! Você apenas teve uma péssima criação. 

 

-- Eu não quero ser como ele... - falou com os olhos cheios de água. 

 

Luiza apertou as mãos da ruiva. 

 

-- E você não é! 

 

-- Mas você disse... 

 

-- Você é parecida com ele sim... Principalmente na forma brilhante que administra todas as suas empresas. Mas me diga... Você seria capaz de ferir alguém para ter o que deseja? seja sincera. 

 

Rebecca ficou pensativa. 

 

-- Não... Eu sei como é está do outro lado.

 

-- Então por quê fez aquilo com a Anne? 

 

-- Eu estava cega de raiva... Eu... Fiquei arrasada depois. 

 

-- Não deixe esses sentimentos ruins te dominarem... Raiva, ódio, mágoa... Não são sentimentos bons. Você não precisa rebaixar ninguém para se sentir superior. 

 

-- Eu sei... 

 

-- Para de se esconder atrás da sua fortuna. Você é muito mais que isso.

 

Rebecca ficou de cabeça baixa. 

 

-- Ei... Olha pra mim - Luiza falou segurando o rosto da ruiva, que a encarou - Você tem a vida inteira pela frente... Você tem a Emily, e ela é tão maravilhosa... Seja a mãe que ela merece... Relaxa, Rebecca... Sorria mais vezes... Brinque mais vezes... Você não precisa ser a Rebecca empresária o tempo todo.

 

A ruiva sorriu. 

 

-- Estou tentando ser melhor pra Emily... 

 

-- E isso te exige muito esforço? 

 

-- Não... Nenhum pouco... É tão maravilhoso ficar perto da minha filha - disse com um sorriso luminoso. 

 

-- Então aproveita muito bem esse tempo... Não deixe isso passar sem que você aproveite. 

 

-- Não irei... Me sinto mais relaxada... Não quero mais estragar as coisas em minha volta. 

 

-- Fico feliz em saber disso - falou docemente. 

 

-- Lu... - disse hesitante - Como nós vamos ficar? - estava nervosa. 

 

Luiza suspirou e levantou, ficou andando de um lado ao outro. 

 

-- Eu não sei... - disse confusa. 

 

A ruiva se levantou e a segurou delicadamente pelos braços. 

 

-- Por favor... Tira essa angústia do meu coração - falou segurando as lágrimas. 

 

Luiza percebeu o sofrimento da ruiva e abraçou apertado. Ficaram assim por muito tempo, até a médica se afastar. 

 

-- Eu não quero me precipitar, como aconteceu no início. Eu sempre te quis, mais que qualquer outra coisa. Talvez as coisas tenham acontecido rápido demais... Acho que a gente precisa se conhecer novamente... Pode ser? 

 

Rebecca ficou triste, mas decidiu concordar. 

 

-- Ok, Lu. 

 

-- Que tal começar com você me ajudando a fazer o almoço? 

 

A ruiva ficou surpresa. 

 

-- Mas eu não sei fazer nada na cozinha. 

 

-- Bom, então hoje você vai aprender alguma coisa. 

 

-- Tá bom - disse sorrindo - O que vamos fazer? 

 

-- Lasanha! 

 

-- Que delícia! - a ruiva estava animada. 

 

Luiza levou Rebecca a cozinha e lhe deu algumas instruções. A ruiva apenas cortou os temperos e acabou se cortando levemente. Luiza deu beijinho no dedo da jovem para sarar. As duas se divertiram bastante. Rebecca teve que ir embora, pois iria ficar com Emily, mas adorou o tempo que passou com Luiza. A médica prometeu que iria ver Emily no dia seguinte. 

 

Rebecca deixou a casa de Luiza, não totalmente satisfeita, mas se sentia muito melhor. Luiza não iria mais se afastar e isso era um alívio para a ruiva. Estava decidida a ser uma pessoa melhor. Precisava se controlar... Tinha que aprender. Não queria mais passar do limite. Não queria escutar nunca mais Luiza a comparar com seu pai. Estava decidida. 

 

Luiza estava se sentindo muito feliz. Percebeu o quanto a ruiva estava arrependida. Dessa vez iria com calma. Queria aproveitar os momentos. Queria ter certeza que Rebeca havia mudado. Queria mais que tudo ficar perto da ruiva, mas isso dependia apenas dela. 

 

********

 

-- Não é possível que ela tenha sumido do mapa, Jonas! 

 

-- Mas ela sumiu, Carol. 

 

Carol sentou-se e respirou pesadamente. 

 

-- Como pode isso? - perguntou perdida. 

 

-- Ela é do tipo esperta, Carol... Provavelmente ela sabia que estava sendo monitorada o tempo todo. 

 

-- Que desgraçada! - bateu na mesa fortemente. 

 

-- Acho que ela não vai mais aparecer.

 

-- Não acho que seja possível... Daniela tem um grande ódio da minha irmã e um sentimento obsessivo pela Rebecca. 

 

-- Então você acha que ela ainda vai voltar? 

 

-- Tenho certeza - disse mordendo os lábios - E isso me deixa muito nervosa... Ainda mais por saber que ela sumiu. 

 

-- Entendo... Percebi o quanto ela é perigosa depois do que aconteceu com a Victoria. 

 

-- Ela ainda vai pagar por isso! - falou com raiva - Tenho certeza que vai! 

 

-- O que pensa em fazer agora? 

 

-- Eu não sei, Jonas... Preciso pensar... Agora tudo ficou difícil. 

 

A baixinha ficou pensando por um longo tempo. Mas nada poderia fazer naquele momento.

 

**********

 

Érika estava sentada em um banco numa pequena praça, onde costumava caminhar com Bia. Seus olhos verdes observavam atentamente cada movimento naquele lugar. Crianças brincando, pessoas correndo e se exercitando, alguns casais. Os vendedores de sorvete, pipocas, lanches e etc... A jovem gostava daquele lugar, se sentia bem. Fechava os olhos e lembrava das pessoas de seu passado, dos momentos vividos. 

 

" -- Nossa, Daniela... Que lugar lindo! - disse a loira encantada. 

 

-- Eu sempre quis te mostrar meu lugar favorito no mundo todo - Daniela tinha um sorriso doce e sincero. 

 

-- É perfeito. 

 

Érika não conseguia parar de encarar o jardim repleto das mais lindas flores. Seus olhos estavam ainda mais verdes. O cheiro daquele lugar era maravilhoso. Tinham por volta dos 12 anos e Daniela havia percebido que a loirinha estava triste, então decidiu levá-la aquele lugar e ficou feliz ao perceber que Érika ficou um pouco mais animada. A morena amava aquele lugar. O jardim era da mãe de Marcelo, e as duas entraram escondidas, pois a mulher não gostava que ninguém fosse ali."

 

Erika sorriu com essa lembrança. Infelizmente Daniela havia mudado completamente.

 

" Érika estava triste, era o dia do seu aniversário e sua mãe tinha ido viajar com o Júlio. A garotinha faria dez anos e não teria uma festa de aniversário. Estava deitada em sua cama e chorava silenciosa. Não percebeu quando Fernando entrou em seu quarto. 

 

-- Érika...

 

-- O que você quer? - não encarou o irmão.

 

-- O Felipe se machucou... Preciso da tua ajuda. 

 

Érika enxugou o rosto e encarou Fernando. 

 

-- O que ele tem? - disse preocupada. 

 

-- Não sei.. Vem comigo. 

 

Érika seguiu o irmão em direção a cozinha e lá encontrou Felipe que sorria para ela. Seus olhos pousaram em um bolo que estava em cima da mesa e com dez velas em cima. A menina sorriu emocionada. 

 

-- É pra mim? 

 

-- Claro, Alice - Fernando disse abraçando a irmã - Feliz aniversário! 

 

Felipe também abraçou a irmã. Érika ficou imensamente feliz nesse dia. Os irmãos haviam guardado dinheiro de suas mesadas e comprado o bolo e o refrigerante. Foi uma festa a três. Eram raras as vezes em que os irmãos estavam reunidos"

 

E as lembranças não paravam. 

 

" Érika foi a sorveteria, tinha treze anos. Foi a primeira vez que viu Bia e ela estava acompanhado de Luiza. A prima tentou se aproximar, mas Érika não queria papo com ela. Luiza ficava triste com a distância, mas tentava compreender a loira. 

 

Érika percebeu que as duas eram bem mais que amigas e sofreu por causa disso. Odiou Beatriz naquele momento e demorou para elas trocarem uma palavra"

 

" Estava tendo uma das famosas festas na fazenda de Marcelo. Érika estava com 14 anos. Ela estava conversando com Daniela animadamente. Luiza decidiu se aproximar. 

 

-- Oi Érika - falou tímida. 

 

-- Deixa a gente em paz, esquisita - Daniela debochou da menina. 

 

-- Não estou falando com você! - disse séria e encarando Érika. 

 

-- Cai fora, Ana Luiza. Você não é bem vinda aqui... Não perceber que as pessoas ficam comentando? - a morena falou irônica. 

 

-- Eu estou falando com a Érika e não com você!

 

-- Você não passa de uma nojenta e doente! 

 

-- Para com isso, Daniela! Você não tem o direito de ofende-la dessa maneira - era a primeira vez que Érika defendia Luiza do veneno de Daniela. 

 

-- Mas é a verdade, Érika, Ela é uma maldita doente!

 

-- Cala essa boca. Nunca mais fale mal dela perto de mim! - disse levantando brava e encarou Luiza - E você, me erra! 

 

Afastou-se, deixando as duas sozinhas. 

 

-- Isso é tudo sua culpa! - acusou. 

 

-- Não seja louca, Daniela! E fique sabendo que nenhuma dessas coisas que você falou me atingem - se afastou deixando a morena furiosa"

 

Érika se lembrou que foi nesse dia que falou pela primeira vez com Bia. 

 

" Érika andava furiosa pela festa, estava procurando um lugar sossegado para ficar. Luiza e Daniela haviam esgotado a sua paciência. Escutou alguém a chamar, mas ignorou por completo e continuou andando. 

 

-- Ei! - Bia tocou levemente em seu braço. 

 

Érika se virou e a fuzilou. 

 

-- Tira a mão de mim, Garota! - disse tentando se controlar e se afastando. 

 

-- Nossa, calma - falou levantando as mãos. 

 

-- Me erra! Vai procurar a sua namoradinha - disse irônica. 

 

Bia sorriu divertida. 

 

-- Tá falando da Luiza? 

 

-- De quem mais né?

 

-- Nós não temos mais nada. Percebemos que era só amizade. 

 

-- Não quero saber disso! 

 

-- Você é meio nervosinha hein. 

 

-- E você é uma intrometida! 

 

Bia se divertia com a cara brava da loirinha. 

 

-- Uii que medinho - debochou. 

 

-- Vai a merd*! 

 

Érika falou se afastando furiosa. 

 

-- Caramba... Que garota é essa?! - Bia falou encantada."

 

Érika estava tão distraída que não percebeu que Bia estalava os dedos na sua frente. 

 

-- Érika! 

 

-- O que você quer, Bia? - fingiu estar com tédio, mas gostou de ver a jovem. 

 

-- O que tu tá fazendo aqui? 

 

-- Vim me distrair um pouco e você? 

 

-- Também... Cansei de ficar trancada em casa. Posso sentar? 

 

Érika sorriu. 

 

-- Claro. 

 

Bia se sentou ao lado da loira que olhava alguma coisa a sua frente. 

 

-- No que você estava pensando? 

 

-- Na vida... - disse vagamente. 

 

-- Coisas boas ou ruins? 

 

-- Apenas alguns momentos - Érika continuava com os olhos fixos em algumas flores que tinham por ali. 

 

Bia ficou em silêncio por alguns segundos. 

 

-- Vou deixar a banda. 

 

Essa notícia chamou a atenção da loira que a encarou. 

 

-- Mas você gosta de tocar. 

 

-- Sim, eu gosto... Mas essa vida não é pra mim.

 

-- E o que você pretende fazer? 

 

-- Ainda não sei... 

 

-- Bom, se é isso que você quer... Então estou ao seu lado. 

 

-- Sinto sua falta - disse direta. 

 

Érika voltou a encarar as flores e ficou alguns segundos em silêncio. 

 

-- Também sinto a sua falta, Bia. 

 

-- Não fica tão longe de mim, amor... Você não sabe o quanto eu sou louca por você - disse emocionada. 

 

A loira voltou a encará-la. 

 

-- Bia... Eu não sou perfeita... Sou apenas um mulher que sempre tenta fazer o melhor... Já fui amiga da Daniela, eu que disse pra ela ficar com a Rebecca... Vou carregar essa culpa pra sempre... 

 

-- Não preci... 

 

-- Deixa eu terminar? - a cortou. Bia concordou - Isso é apenas uma exemplo para demonstrar o quanto sou errada também. Não quero te mudar... De forma alguma... Eu amo esse seu jeito maluco... Mas eu quero o melhor pra você, sempre!... Você é especial pra mim... Eu também te amo! ... E eu sinto uma saudade imensa de você... Prometo que não vou ficar tão longe... Com tempo tudo se resolve, basta a gente querer. 

 

-- Não vai mais fugir de mim? 

 

Érika sorriu. 

 

-- Eu nunca fugi de você, Bia. 

 

-- Quer almoçar comigo? - perguntou simpática. 

 

-- Adoraria. 

 

-- Então vamos... Eu ainda tenho que cozinhar. 

 

A loira ficou perplexa. 

 

-- Cozinhar?! 

 

-- Sim - falou sorrindo -  Ando aprendendo algumas coisas na Internet. 

 

-- Não acredito que eu vivi pra ver isso... Já posso morrer em paz - disse divertida. 

 

-- Não é tão complicado assim... Vem... 

 

As duas seguiram de mãos dadas até a casa de Bia, que não ficava longe. 

 

As jovens estavam felizes e sorriam o tempo todo. Tinham a certeza que estava nascendo uma nova chance para o amor. 

 

Érika sempre paciente e Bia sempre tentando melhorar. Juntas iam aprendendo e descobrindo novas coisas, para assim seguirem a vida juntas. 

 

 

Fim do capítulo