Capítulo 18: Hesitação e reviravoltas
Cai na água totalmente desesperada, pensando unicamente que dessa vez seria mesmo meu fim. Meio que me agarrei no pedalinho com medo de me afogar, mas conforme fui recuperando a consciência para o que acontecia ao redor, percebi que havia várias pessoas observando nosso sufoco e rindo descontroladamente da nossa cara.
Não entendi a princípio o porquê dessa falta de sensibilidade, afinal estavam rindo claramente de mim e de Camila e nos encontrávamos em tal situação delicada. Só sei que conforme fui ficando cada vez mais nervosa com tudo o que estava acontecendo e finalmente baixei um pouco minha guarda é que finalmente compreendi. Que burrice a minha! Nós estávamos num lago artificial, que não era profundo, quando ousei tentar esticar os pés, logo encontrei o fundo. A água batia um pouco abaixo do meu pescoço estando na vertical.
Comecei a rir a valer, uma mistura de nervoso e alívio, que nunca tinha sentido igual antes. Camila que ainda estava em pânico, relaxou totalmente quando me viu gargalhar que nem uma hiena desembestada e quando compreendeu toda a situação, deu um suspiro de alívio e decidiu então pular na água, pois o tal cisne estava afundando cada vez mais e ela acabaria mesmo toda molhada no fim das contas.
Chegamos a margem ainda não totalmente recuperadas do ataque de riso por causa de toda nossa ridicularidade anterior. Subi o muro separatório, que ligava a calçada do tal do lago e ajudei Camila a superá-lo também. Ficamos frente a frente e fiquei um pouco apreensiva quando me deparei com seu olhar aparentemente preocupado e aflito.
Mas como já estávamos a salvos de tudo e em terra firme, continuamos andando em frente. E eu só conseguia pensar na sua voz dizendo que era apaixonada por mim naquele momento tenso. Aquele instante único seria eternamente inesquecível. Olhei pra ela de rabo de olho e ela também tinha se virado em minha direção e estava me encarando naquele exato momento. Senti até os pêlos da minha nuca se arrepiarem com o verde incrível de sua íris.
Porém, ela logo desviou o olhar, claramente fugindo da intensidade com que fitei seus olhos e seu corpo todo, afinal não pude mesmo me controlar, ela estava inteira molhada, sua blusa branca ficou transparente, as gotinhas d`água escorrendo lentamente pela sua pele e os contornos do seu corpo nunca haviam ficado tão visíveis pra mim quanto naquele momento. Até me preocupei em averiguar se não estava babando. Fiquei mesmo com água na boca.
Não sei mesmo o que faria a partir de agora, como conseguiria continuar me controlando a espera da sua liberação aos momentos mais íntimos, ainda mais depois de sua declaração inesperada. Estava mais desesperada de tesão que nunca. Precisava fazer alguma coisa urgentemente.
Como ainda estava sol, conforme caminhávamos, nossas roupas foram se secando naturalmente. Eu estava bastante cansada, afinal foi um dia de intensas emoções. Até tentei começar algum assunto que amenizasse aquele clima estranho que havia se instalado entre nós, mas Camila estava monossilábica e acabei desistindo. Acabamos por continuar rumo a rodoviária em completo silêncio, mas não era daqueles agradáveis que nos dão paz, mas sim dos que nos deixam apreensivas e ansiosas.
Acredito que estava tentando arrancar até minha pele fora de tanto nervoso. Precisava recuperar nossa cumplicidade de antes de qualquer modo, porém não sabia o que fazer para tirá-la da defensiva em que se colocou, depois que afundamos no tal lago. Certamente ela devia ter se arrependido da declaração.
Antes de irmos, Camila quis ir ao banheiro e acompanhei-a. A minha cabeça estava em turbilhão e quando ela já estava se preparando para sair, não consegui me controlar mais e a puxei.
-- Mila... – não saia as palavras necessárias. Que raiva de mim naquele momento, estava mesmo com vontade de me estrangular.
Ela olhou fundo em meus olhos, me desestruturando ainda mais, e não aguentando aquela minha inércia irritante, tentei beijá-la, estava com muita vontade, além de estarmos sozinhas no local. Queria provar de alguma forma que também a amava. Mas não era assim que ela desejava, acredito que precisava de palavras, pois Camila desviou o rosto, impedindo o contato dos nossos lábios.
Nesse instante, tive a certeza que estava mesmo ferrada. Fiquei me sentindo uma imprestável, que não conseguia nem falar umas palavrinhas de nada para a mulher que amava. Não sei por que toda essa hesitação da minha parte, visto que não diria nenhuma mentira, eu era mesmo louca por ela. Estava sem saber o que fazer e apreensiva ao extremo, pois a meu ver era agora que ela terminaria nosso relacionamento. E se isso acontecesse me sentiria mais vazia que barriga de mendigo.
Camila interrompeu meu monólogo interno, dizendo:
-- Sophia, estou cansada, vamos pra casa... por favor. – ela disse num fio de voz e sem me encarar.
Não teve mesmo outra solução a não ser acatar seu pedido e enquanto voltávamos só conseguia pensar que necessitava encontrar uma forma de também me declarar pra ela. Estava claro que ela estava incomodada com minha falta de reciprocidade quanto a sua declaração apaixonada no pedalinho. Mas não sei o que me aconteceu, acho que fiquei emocionada demais e as palavras não saíam de jeito nenhum.
A viagem foi tensa e difícil, minha cabeça a mil, estava dura naquele banco, com medo de fazer qualquer movimento que pudesse afastar-nos ainda mais.
Suspirei aliviada quando o ônibus parou no destino final, minhas costas estavam em frangalhos e como estava sentada na poltrona do corredor, deixei propositalmente todas as pessoas passarem, porque tinha que ser agora. Não conseguiria ficar mais nenhum minuto com essa situação me corroendo por dentro.
-- Soph, chegamos, vai ficar parada aí que nem uma estátua? – Camila se manifestou ao perceber que estávamos sozinhas e eu não fiz nenhum movimento para levantar.
-- Mila, antes de irmos, preciso te falar... – respirei fundo, criando a coragem necessária, que já estava querendo fugir novamente, mas continuei – eu sempre tive dificuldade para me expressar com relação a esse assunto, por isso hesitei tanto hoje em te dizer... mas não consigo prolongar essa situação. A verdade é que também achava que estava claro isso, porque sou capaz de fazer qualquer coisa por você e pra te fazer feliz. Então, o fato é que... eu também amo você, com toda a força existente em meu coração. Nunca duvide disso, por nenhum segundo.
Os olhos de Camila ficaram marejados e no fim acabei não sabendo se também fiquei emocionada por sua causa ou por me livrar do peso de não conseguir expressar os meus sentimentos como era devido. Acreditem, é realmente aflitiva essa realidade.
Ela me abraçou tão forte que até pensei que me sufocaria, mas na verdade estava adorando a sua reação. Quando me libertou, depois de um bom tempo, Camila segurou meu rosto com suas mãos pequenas e macias e para minha felicidade, me beijou, de uma forma única e totalmente nova, mais terna e apaixonada.
Esquecia-me ainda mais do mundo quando ela estava em meus braços e como não poderia deixar de ser, estávamos tão envolvidas naquele ato que não percebemos que alguém entrou no ônibus, flagrando-nos naquele momento público de afeto.
Não sei se quem ficou mais chocado com a situação foi o funcionário da empresa de ônibus ou Camila, que ficou um pimentão de tão vermelha. Para tentar amenizar os fatos, levantei-me depressa a puxando comigo.
Percebi que ela se retraiu um pouco e não a queria distante novamente, então tentei mais uma das minhas gracinhas:
-- Não se preocupe, você fica ainda mais linda vermelhinha!
Ela riu, um pouco sem graça, e me deu um tapa nos ombros como que me dizendo para parar de ser boba. Eu estava feliz por estarmos bem mais uma vez e como não queria me separar dela de forma alguma, convidei-a para ir até em casa.
-- Cam, temos que tirar esse cheiro de cachorro molhado, você não acha? – disse, tentando convencê-la a aceitar minha proposta.
-- Você e suas piadinhas sem graça. Mas tá bom, não quero chegar em casa toda destruída desse jeito para não dar falatório com o meu pai.
O clima no caminho até em casa foi completamente diferente de antes, estávamos ambas alegres e Camila, com seu habitual bom humor de volta, recomeçou as piadinhas com relação as minhas desgraças no parque. Fazer o que?! Tenho mesmo vocação pra palhaço de circo e comediante standy by, não tem jeito. O bom é que isso sempre nos conectou ainda mais, por isso não me importava nadinha com as tirações de sarro que precisava enfrentar.
Chegamos em casa e devido todos os acontecimentos surpreendentes estava um pouco mais apreensiva e agitada que o normal. Ansiosa ao extremo mesmo. Ela pediu que eu fosse primeiro ao banheiro, pois estava em pior situação que ela, o que era algo comum se tratando da minha pessoa.
Fiquei muito tentada a convidá-la para ir tomar banho comigo, mas me controlei a tempo, com medo de estar indo muito rápido novamente com as coisas e assustá-la. Nem sei se teria mesmo coragem de fazer uma proposta dessas e achei que não era o melhor momento para descobrir. Ainda bem que controlei minha impulsividade natural.
Não queria deixá-la sozinha por muito tempo, por isso tomei um banho rápido e enquanto Camila foi também se banhar, resolvi preparar um lanche para comermos, pois com tantas aventuras estava faminta. Pelo menos isso eu meio que sabia fazer na cozinha, era só colocar as coisas no pão, seria muita incompetência se não prestasse nem pra isso, embora ainda assim me atrapalhasse um pouco. Nasci mesmo do lado errado, só pode.
Estava distraída na tarefa de realizar o menos possível de sujeira na cozinha e não me dei conta de que minha companhia havia chegado. Quando avistei Camila entrando no ambiente, quase tive um colapso, derrubei o vidro de maionese, fiz um verdadeiro escarcéu. Nada muito estranho se tratado de mim né, gente?
Até esqueci toda a minha fome anterior de comida, pois estava mesmo é com vontade dela naquele momento. Ela não utilizou nenhuma das roupas que havia separado para que usasse, resolveu mesmo foi pegar uma camisa minha no armário, que lhe chegava quase ao meio das coxas e apareceu dessa forma, só para atormentar um pouco mais meu estado já normalmente agitado com sua presença. Fiquei sem fôlego, me esqueci completamente de como se respirava por vários segundos.
Prendi mesmo a respiração, pois ela veio andando lentamente em minha direção, aumentando ainda mais toda a minha agonia. Eu devia estar até de boca aberta. O que era aquilo, gente? Meu Deus, tenho dó só de pensar em quando ela decidisse seduzir alguém, a pessoa estaria completamente perdida antes de qualquer movimento mais certeiro de sua parte, como eu estava naquele momento. Não haveria escapatória pra mim. Já estava me sentindo a beira de um abismo e não sabia se retrocedia para me proteger do perigo iminente ou me deixava cair, voando rumo a profundeza insondável.
Fim do capítulo
Será que agora vai ou Murphy voltará novamente? Se quiserem saber não percam as cenas do próximo capítulo. Estou voltando com minha tortura básica pra não perder o costume, sabe. rs..
Mas é bom, assim prendo a atenção de vocês. Ou estou enganada? Tô não gente kkkkk
Despertar a curiosidade das mulheres é um ótimo segredo que estou compartilhando com vocês. Não sou má não, testem minha teoria e me entenderão :)
Gente, uma coisa ruim. Estou postando semanalmente nas quartas, mas vou ficar sem pc uns 20 dias e não vai dar pra postar a história, mas não desistam que volto assim que possível. Vou tentar postar o próximo capítulo até sexta pra amenizar o hiato. Obrigada a todas que me incentivam aqui nos comentários, vocês são demais.
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 25/07/2018
Oi Dani tudo bem? Bom torço para sim e depois de muito tempo a saudades é imensa. Mais tenho esperança do retorno e poder continuar torcendo pela nossa amiguinha azarada.
Hoje é dia do escritor
"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida" Clarice Lispector
Parabéns e muitas inspirações para novas e velhas escritas.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 31/12/2017
Oi Dani tudo bem?
Apareci para lhe desejar:
“A aventura da vida renova a cada 365 dias e só desejo que os próximos sejam os melhores de sempre.“
Que você tenha inspiração e continue nos proporcionando a alegria de histórias maravilhosas personagens cativantes.
Feliz Ano Novo!
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 28/09/2017
Boa noite
Vim dar uma espiadinha aqui na história, pois a saudade bateu aqui. Espero que esteja tudo bem contigo e assim que tiver oportunidade volte e nos proporcione com um belíssimo capítulo de menina mais desajeitada que conhecemos e que dê uma folga para ela ser feliz.
Bjuw e até o próximo capítulo
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 25/07/2017
Oi Dani, aparece de novo, tudo bem contigo??? Espero que sim, saudades à quilometro da minha amiguinha Sophia e da autora que adora nos deixar aflita.
Hoje é o dia do escritor desejo muita inspiração, alegria e sucesso a ti. Tem uma frase muito linda que vi hoje pena que o site não aceita anexar figura.
"As melhores viagens da minha vida eu fiz sem sair do lugar".
Já viajei muito por lugares, conhecimentos de culturas e sentimentos, a torcida por os personagens queridos, ou vilões para ver sua queda.
Obrigada por sempre nos presentear com belissimas histórias.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 31/05/2017
Oi Dani tudo bem??
Sabe que dia é hoje??? Não!!!! Dia da saudade!!!
Vou deixar de drama, e aí quando nossa atrapalhada Sophia se dará bem??? Acho que a senhorita dará uma colher de chá para ela e com certeza ela ficará agradecida assim como nós.
Bjus e até o próximo
[Faça o login para poder comentar]
Rita
Em: 30/03/2017
Eu não acredito que o lago não era profundo kkkkk quem tá rindo agora sou eu kkkk
Awwnn Sophia tão linda *-* a maioria das pessoas diz logo que ama sem problema nenhum, dizem fácil fácil mas muitas vezes é mentira.
Nossaaa eu não me importava de derrubar toda a cozinha, ver ela assim vestida fiu fiu onde tá a fome agora kkkkkk se joga Soph, só vai! Que quente ficou aqui agora ufa kkkkkk
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]