– Júlia, que surpresa – Natasha se apressou em cumprimentar a garota, já que ninguém mais se oferecera para fazer.

– Uau! Como vocês estão diferentes uma da outra – Júlia devolveu o abraço em Natasha. – Nem parecem que são gêmeas.

– Eu tento, mas Alex ainda insiste em imitar meu lindo rosto – Natasha disse revirando os olhos.

– Eu não acho que vocês sejam diferentes – Emma entrou na conversa e Alex sentiu os olhos dela em si. – Vocês têm personalidades diferentes, mas são gêmeas idênticas.

– As diferenças e peculiaridades não excluem o fato que elas têm o mesmo rosto – Júlia encarou Emma. – Mas faz com que cada uma tenha uma apresentação diferente.

– Não são rostos diferentes, não é possível que alguém ache isso.

– Rostos iguais, belezas diferentes – Júlia olhou firme para a mulher ao lado de Alex e de cara já não gostara dela.

– Estou achando ótima essa discussão sobre a anatomia do meu rosto e detalhes íntimos da minha alma, mas eu tenho que ir. Vou deixar Alex trabalhar – Natasha discretamente entrou entre as duas ex-namoradas de Alex que se fuzilavam. – Me dá uma carona Emma?

– Sim, claro – Emma não queria deixar Alex com a morena metida, mas pensou que ela deveria ser uma cliente e não queria atrapalhar.

– Foi ótimo te ver novamente, Júlia. Parabéns pela convocação e vamos marcar alguma coisa para relembrar os velhos tempos. – Natasha se despediu de Júlia com um abraço – Alex, você se importaria em me ceder a Lara hoje?

– Estou chocada com a sua cara de pau – Alex disse ainda tensa com a troca de olhares entre Júlia e Emma.

– Por favor, eu tenho um compromisso muito importante e só a Lara pode me ajudar.

– Tá legal, pode levá-la, mas devolva-a intacta amanhã.

– Isso! Obrigada, sis – Natasha agradeceu e puxou Lara levando-a para fora. – Emma, vamos te esperar no carro, não demore.

– O que você está tramando? – Alex ouviu Lara perguntar para sua irmã e balançou a cabeça desconcertada.

– Alex, nos vemos depois. Me ligue para combinarmos um almoço ainda essa semana – Emma aproximou-se de Alex e a beijou no rosto.

– Obrigada pelo café – Alex agradeceu sentindo o rosto ficar vermelho.

– Então essa é a sua ex? – Júlia perguntou quando Emma deixou o consultório.

– Sim, como você descobriu? – Alex perguntou confusa.

– Pelo sotaque – Júlia pensou em dizer que era pelo jeito como a loira a olhava, mas se conteve. Afinal, a vida de Alex não era da sua conta. – Como está o Paçoca? Já posso levá-lo para casa?

– Ele está ótimo, está com saudades de você – Alex abriu a porta dos fundos onde dormira com Paçoca e o cachorro correu desesperadamente para os braços da dona.

– Aí está você, seu moleque! Não me assuste assim nunca mais – Júlia se jogou no chão e abraçou Paçoca que estava imensamente feliz e se dividia entre lamber Júlia e pular em Alex.

– O que aconteceu com ele?

– Ele só estava em um dia preguiçoso – Alex disse sentindo vergonha. Não podia dizer que Natasha invadira sua casa e praticamente dopara seu cachorro.

– Que estranho, ele nunca teve isso antes – Júlia não se deu por convencida.

– Fique de olho nele, se sentir alguma alteração você o trás para mim novamente, mas por enquanto não se preocupe. Ele está ótimo.

– Então posso levá-lo para casa?

– Sim, vou pegar a alta dele. Só um instante – Alex deixou Júlia brincando no chão com Paçoca e foi até seu consultório.

A veterinária tentava conter o sorriso que tomava conta do seu rosto, mas não conseguia. Era nítido o que a presença de Júlia ainda lhe causava.

– Aqui está, assine para mim, por favor – Alex entregou um papel e uma caneta para Júlia que tentava em vão tirar os pelos da sua roupa.

– É impressão minha ou a Natasha está dormindo com a sua secretária? – Júlia perguntou enquanto assinava o papel.

– Com ela e com São Paulo inteira – Alex disse mordendo o canto dos lábios preocupada.

– Pelo visto ela não mudou muito – Júlia riu lembrando-se de quando eram adolescentes e Natasha conquistou metade da escola.

– O que mudou é que agora ela é casada – Alex disse isso e imediatamente olhou para a mão esquerda de Júlia e viu a aliança em seu dedo. – E você? Casou-se com Gustavo?

– É claro que não – Júlia disse prontamente. – Eu uso essa aliança para me lembrar de nunca mais acreditar no amor.

– Júlia... – Alex sentiu o estômago doer ao ouvir aquilo. – Eu sinto muito.

– Eu terminei com o Gustavo no dia em que ele teve alta no hospital.

– Espera, você fez o que? – O coração de Alex acelerou e parecia querer saltar para fora do peito.

– Contei tudo a ele e aos meus pais. Você não atendia minhas ligações e eu não entendia o que estava acontecendo, fui te procurar e seu pai me entregou aquela carta.

– Você terminou com o Gustavo? – Alex não podia acreditar no que estava ouvindo.

– Eu disse a você que terminaria. Nós havíamos planejado uma vida juntas, Alex. Gustavo era meu amigo, eu não poderia simplesmente abandoná-lo no hospital, eu só precisava de mais um tempo.

– Quando recebi sua mensagem eu surtei, eu não...

– Você não confiou em mim – Júlia a interrompeu

– Júlia, eu não sei o que dizer – Alex disse abaixando a cabeça. Nunca sequer pensara na possibilidade de Júlia ter se assumido.

 – Não diga nada. Eu esperei muito tempo para ouvir alguma coisa de você, mas parece que agora não há nada que você possa me dizer para consertar os cinco anos que eu passei sofrendo por você.

– Por que você não me procurou?

– Você me deixou uma carta bem específica, lembra? E meus pais não aceitaram muito bem quando eu me assumi, eu tive que me mudar para a casa do meu técnico enquanto acertava as coisas para ir jogar em Belo Horizonte.

O coração de Alex doía ao ouvir aquilo. Sempre desejou estar ao lado de Júlia quando ela se assumisse e ao contrário isso a deixara sozinha e vulnerável.

– Júlia, me perdoa. Eu não fui justa com você.

– Alex, está tudo bem. Eu fiquei surpresa ao te encontrar aqui, mas isso não significa nada. Você fez a sua escolha e estamos bem assim, vamos seguir nossas vidas – Júlia suspirou ao dizer aquilo. – Quanto eu te devo?

- O que? – Alex perguntou confusa.

- Pela consulta, quanto eu te devo?

- Nada. Eu resgatei o Paçoca e sempre que ele precisar eu vou atendê-lo.

- Tudo bem, nós vamos embora então – Júlia havia sido tomada por um pânico crescente e só queria sair dali antes que perdesse a calma aparente.

- Almoça comigo? – Alex perguntou antes que a menina saísse.

- Melhor não, eu tenho treino mais tarde e preciso resolver algumas coisas antes de ir – Júlia abriu a porta do carro para Paçoca que pulou animado no banco.

Alex balançou a cabeça com tristeza.

- Você sentiu minha falta? – Júlia perguntou antes de fechar a porta do carro.

- Todos os dias. Exponencialmente.

Fim do capítulo