Tatiana por May Poetisa
- Veemência: força vigorosa expressa nos sentimentos ou na sua demonstração.
Veemência
O domingo amanheceu ensolarado e no horário combinado, Yasmin chegou para me buscar. Deixamos o carro num estacionamento, alugamos bicicletas e passeamos pelo parque por um bom tempo. Além de pedalar e passear, também paramos para tomar suco natural e apreciar a natureza. Depois de percorrer por todo o Ibirapuera, decidimos ir embora. Antes de entrarmos no carro vi um outdoor, li a propaganda e tentei:
- Será que aquele filme é bom?
- Ouvi dizer que sim, lançou na semana passada e no consultório comentaram bastante.
- Faz muito tempo que não vou ao cinema. Quer ver este filme? Podemos combinar!
- Pode ser. Entro em recesso a partir de quarta.
- Então, que tal na quarta à noite?
- Tranquilo, podemos marcar.
- Vou verificar os horários das sessões e te aviso.
- Combinadas!
- Você tinha comentado que vai viajar no dia 23, quinta agora né?!
- Sim! No período da tarde. Já você vai ficar por Sampa mesmo?
- Isso, na casa dos meus pais. Yasmin, quando você vai retornar de Águas de São Pedro?
- Eu ainda nem fui e você já esta com saudades? (brincou).
- Exatamente! (afirmei a fitando).
- Boba! Vou ficar com meus avós por uma semana e no dia 30 já retorno.
- Vou morrer de saudades!
- Não me iluda!
- Quais são seus planos para o Réveillon?
- Ainda não confirmei, uma amiga me chamou para passar em um clube, aqui em São Paulo mesmo. Já um primo me convidou para ficar em Ilha Bela. E você pretende passar a virada do ano onde?
- Onde você quiser, só me convidar que eu topo, pode ser clube ou praia, tanto faz (provoquei).
- Tati, você é terrível. Bom, já chegamos. Uma boa semana para você e até quarta!
Nós duas nos despedimos, desci e fiquei meditando, conforme o carro se distanciava eu já começava a sentir saudades dela. Era surreal, como em tão pouco tempo uma pessoa pode se tornar tão especial, necessária e querida?
Naquele domingo à tarde o apartamento estava mais silencioso que o normal, Tata toda perdida e entregue aos seus pensamentos, sonhando acordada com a Edwiges. Acredito que meu estado é um pouco pior, quase que vegetativo, mas não neste sentido literal, no meu caso é relacionado à paixonite. Já sinto que meu corpo começou a liberar hormônios da paixão, já estou começando a idealizar uma realidade paralela, um mundo só meu e dela, o que é gravíssimo, pois se apaixonar é um perigo. Minhas atitudes estão mais estranhas que o habitual, para sair com ela tenho me arrumado muito mais do que antes, fui até ao salão, cuidei das unhas e do cabelão. Cheguei ao ponto de achar que já sou íntima da Yasmin, tive a cara de pau de auto me convidar para passar o Réveillon com ela. Além disso, algo dentro de mim fica gritando, querendo me contar que tudo que eu fizer ao lado dela pode ser ainda melhor.
A segunda passou arrastada, mais lenta que uma tartaruga sem pata.
A terça não foi diferente e eu querendo que a quarta a noite chegasse logo.
Como eu não aguentava mais ficar dentro do apartamento, decidi sair, andei pelo comércio, entrei e sai de várias lojas; foi em um destes estabelecimentos que comprei uma cesta linda de Natal.
Reencontrei com a Yasmin no início da noite, na Augusta. Comemos hambúrguer vegano, tomamos sucos naturais e ela já estava toda animada para a viagem que faria no dia seguinte. Após lancharmos seguimos para o cinema, adoramos o filme, muito divertido e interessante.
Eu não queria que aquela noite acabasse. Só de imaginar uma semana sem ela, eu já ficava toda desanimada.
- Yasmin, ainda é cedo. Vamos até algum barzinho, podemos beber um pouco.
- Tati, eu não bebo!
- Nossa é verdade. Como que você aguenta? Yasmin a toda certinha (debochei).
- Só não gosto de bebidas alcoólicas (explicou).
- Para com isso, deixe de ‘mimimi’. Não sabe o que esta perdendo.
- Já que você gosta. Faça o seguinte: beba por mim e por você!
- Eu só estava brincando (justifiquei toda sem jeito).
- Você quer carona?
- Quero sim.
Entramos no carro em silêncio. Na lanchonete e no cinema, o clima estava tão agradável, porém eu fui bancar a indelicada e brincalhona, perdi a oportunidade de ficar mais tempo ao lado dela. Além de não gostar de beber, ela esta dirigindo, que vacilo o meu.
- Se você quiser pode ligar o rádio.
- Obrigada! (agradeci ligando o aparelho, mas nem consegui prestar atenção nas músicas).
Ficamos um bom tempo sem trocar nenhuma palavra e quando estávamos chegando me recordei.
- Yasmin, por favor, aguarde um pouquinho, vou subir e desço rapidinho. Tenho algo que quero entregar para você.
- O quê? (perguntou desconfiada).
- Eu já volto. Você espera?
- Ok, mas não demore!
Sai rapidamente e subi correndo. Entrando no apartamento fui direto até o quarto, peguei a cesta e segui para o elevador. Em poucos minutos eu já estava dentro do carro novamente.
- Demorei?
- Não.
- Para você! Não vamos nos ver no Natal e quero te entregar seu presente.
- Uau! Que cesta linda, muito obrigada! (agradeceu toda feliz).
Ela ficou um bom tempo admirando cada detalhe e sorrindo. Tinha: panetone, chocotone, caixa de chocolate, pacote de salgadinhos, lata de cookies, caneca, balas, torrones, frutas cristalizadas, nozes, castanhas, amendoim, bombons, pistaches, amêndoas e pão de mel. Além de um urso de pelúcia bem simpático e fofinho.
- Tati! Gostei muito. Obrigada de verdade!
- Fico feliz por você ter gostado.
- Nossa e eu não comprei nada para ti. Estou até envergonhada.
- Para com isso e não precisa se preocupar. Boa viagem! Que o seu natal seja excelente junto da sua família.
- Obrigada! Um ótimo natal para você também, muita paz e alegria para toda a sua família. Nós vamos nos falando.
- Claro! Vamos sim e até dia 30.
Ficamos alguns segundos em silêncio, nada mais precisava ser dito, contudo não queríamos nos distanciar.
- Agora é àquela hora chata que tenho que te dar tchau e descer do carro (falei conformada e me lamentando).
- Se cuide e tenha juízo!
- Pode deixar senhorita.
- Falo sério, quero o seu melhor!
- Eu sei e a recíproca é verdadeira.
- Você é linda Tati (afirmou).
- E você, maravilhosa! (salientei toda encantada).
Mais segundos em silêncio, momento de pura contemplação mútua.
- Yasmin. Vou subir. Boa noite!
- Tati, boa noite e sonhe comigo.
- Não tenha dúvidas disso, sonharei! (falei deixando o carro).
Ela acomodou a cesta, lançou um beijo, acenou se despedindo e foi embora. Eu estava mais animada que uma escola de samba, meu coração batendo semelhante a um tambor, minha respiração mais eufórica que um pandeiro e todo o meu corpo agitado como se eu fosse uma passista, toda saltitante e mais feliz que uma sambista. Demorei muito para adormecer naquela noite e claro que sonhei com ela. No sonho, nós duas nos beijávamos e nos abraçávamos.
Na quinta e na sexta, trocamos algumas mensagens, assuntos corriqueiros, ela me avisou quando chegou ao interior, contou sobre os avós e estava toda alegre; notei que ela é bem próxima da família, toda dedicada e participativa. Enquanto eu já estava contando as horas, querendo logo o seu regresso. As pessoas geralmente dizem que o final do ano passa rápido e é verídico; os dias passaram de pressa, tanto para a minha alegria como também para a de Tata, que assim como eu, estava eufórica pela chegada da virada de ano. Passamos o natal em harmonia com as nossas famílias.
Posterior à data natalina, a ansiedade se intensificou. Competição acirrada entre Tabata e Tatiana, competindo entre quem estava mais ansiosa. Tata, mais calada que o comum, toda confusa e ainda cheia de dúvidas sobre a mudança para Paraty. Compreendo o receio dela e acredito que apesar da indecisão, ela vai acabar mudando. Minha angústia também é a despeito da temática sentimental, todavia, minha situação é bem diferente. Nem mesmo sei se tenho chances reais com a Yasmin, somos muito diferentes, ela toda séria e eu farrista. Enquanto ela quer fazer planos e constituir uma família; eu compreendo que a vida é uma jornada breve, por isso, vivo a curtir intensamente, passeando muito.
Certa noite me joguei no sofá e fiquei a pensar... Como será o meu reencontro com a Yasmin? Minha irmã passou pela sala e resolveu aproveitar que eu estava por ali para desabafar:
- Irmã! Preciso conversar (revelou se aproximando).
- Eu sei. Você esta muito inquieta, qual o problema?
- Tati, eu fico tão insegura, eu conheci a Edwiges há pouco tempo, é complicado e eu acho que peguei trauma de casamento.
- Para com isso, não é porque não deu certo uma vez que você será para sempre infeliz, traumatizou faz terapia, mas não deixe de viver. Ah e agora é diferente meu bem. Você tem uma mulher linda, que esta te esperando naquele paraíso na terra (falei sinceramente).
- Tati, me ajuda!
- Tata, se o que você sente pela cunhada é amor de verdade, então siga seu coração e viva este sentimento. Quer ajuda para fazer as malas?
- Sim!
- Você disse sim? Você vai morar com ela? (questionei atônita).
- Vou. Eu não consigo ficar longe dela e eu a amo muito.
- É assim que se fala mulher e esta é a minha irmã, toda decidida e sincera consigo mesma (elogiei com emoção).
- Ela pediu uma resposta quando nos reencontrarmos novamente, então vou chegar lá cheia de malas, acredito que ela vai entender como um sim (comentou risonha).
- Ela vai amar e vai dar tudo certo (incentivei).
- Então mãos a obra, tenho muita coisa para arrumar, vou levar algumas coisas e depois eu volto para pegar outras tantas.
- Estou muito feliz por você irmã.
- Tati, obrigada!
- Tata, faça surpresa, não conte nada sobre data, nem horário e muito menos sobre a sua decisão (aconselhei marota).
- Pode deixar.
Naquela mesma noite começamos a planejar tudo e arrumar as malas. No dia seguinte, Tata acordou ainda mais determinada.
- Tati, bom dia! Já preparei nosso café da manhã (ela falou quando entrei na cozinha).
- Bom dia! Que delícia e o aroma esta ótimo. Dormiu bem?
- Sim, muito bem e você?
- Dormi como um anjo e voltei a sonhar com a minha loira, acho que estou apaixonada.
- Você também irmã? O cúpido deve ter nos acertado (brincou).
- Cúpido arteiro o nosso (confirmei entrando na brincadeira).
- Vou tomar café contigo e depois já vou começar a viagem.
- Acordou ainda mais decidida ou é impressão minha?
- Decidida e muito confiante. Também estou saudosa, quero reencontrar minha morena.
- Que linda! Que bom te ver assim mana. Tata, eu posso ficar aqui no seu apartamento?
- Claro que pode e fique a vontade, todo seu.
- Obrigada! Eu ainda não sei a data que vou retornar para o trabalho e na casa dos nossos pais fico mais distante da minha loira, estamos nos conhecendo e estou muito feliz.
- Seu semblante é tão fofo quando você fala dela e seus olhos brilham.
- Você também fica assim quando fala da sua namorada e eu quero ser madrinha tá.
- Sua boba!
- Tata, eu te desejo toda felicidade do mundo e fique em paz vai dar tudo certo. Vocês formam um dos casais mais lindos que eu já vi, são perfeitas uma para a outra e a Edwiges vai ficar muito contente com a sua chegada.
- Oh Tati, obrigada meu amor (agradeceu emocionada me abraçando forte).
- Depois da virada do ano, eu tento aparecer por Paraty, quem sabe no carnaval eu não vá te visitar, então não chore, nem precisamos nos despedir, é só um até breve!
- Você é incrível e vá sim, vou adorar. Outra coisa fique mesmo a vontade por aqui, considere o quarto de hóspedes como sendo seu e faça as mudanças que quiser.
- Sério mana? Posso mesmo?
- Sim!
- Mais uma vez obrigada! Eu e minha vida sem fixar raízes; têm épocas que sinto falta de um cantinho do meu jeito, sabe?
- Sei e confesso que não entendo como você consegue. Tati fique a vontade para trazer sua loira aqui em casa viu, você sabe que por mim tudo bem né.
- A melhor irmã do mundo é mesmo a minha. Amo-te!
- Eu te amo mais.
Tomamos café da manhã e na sequência acompanhei Tabata até a garagem do estacionamento.
- Irmã, qualquer coisa me liga e até breve!
- Seja muito feliz e boa viagem! Mande mensagem avisando que chegou bem e diga para a cunhada que mandei beijo.
- Pode deixar (garantiu despedindo-se com um abraço caloroso).
Tata, pela primeira vez foi para Paraty de carro e chegou ao seu destino no período da tarde, conforme o combinado mandou mensagem para me avisar que já estava em território carioca.
- Ótimo! Tudo certo com a mana e fui uma excelente conselheira. Agora, preciso me ajudar. Mexa-se Tati! (falei comigo mesma, já pegando o celular e discando para Yasmin).
Fim do capítulo
Olá! Senhoras e senhoritas, nesta nota quero deixar um aviso: a sucinta narrativa sobre a Tati já começa a se despedir. Agradeço antecipadamente por todas as leituras e comentários. Até breve, beijos e abraços!
Comentar este capítulo:

Lea
Em: 21/07/2022
Ao que parece,a Tati está mudando de ideia sobre não fincar raízes. A loira já a conquistou,sem nem ao menos ter rolado nem um beijo!
Torcendo para dá em namoro.
A Yasmin meio que, demonstrou não gostar de se relacionar com bissexuais.
Resposta do autor:
A vida é repleta de mudanças, quando se trata de amor então nem se fale rs

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