Capítulo 54

 

 

Luiza contava história para Emily, enquanto fazia cafuné nos cabelos ruivos. Emily tentou ficar acordada para esperar a mãe, mas outra vez foi vencida pelo sono. 

 

Luiza pensou que fosse seu trabalho que iria ocupar mais o tempo entre ela e Rebecca, mas rapidamente percebeu que estava bem enganada. A ruiva era viciada em trabalho. No início não era tanto, mas com o tempo percebeu o quanto Rebecca era obcecada, tudo tinha que ser perfeito, a ruiva ficava uma fera quando ocorria qualquer erro. Chegava sempre tarde e trazendo trabalho para casa. Mal dava atenção a Luiza, mas o que mais deixava a médica chateada era que também não dava atenção a Emily, que era louca pela mãe. Luiza não se achava no direito de se intrometer na vida da ruiva, mas agora... As duas já moravam praticamente juntas, tinha o direito de falar. Rebecca precisava enxergar que estava errada. Teria uma séria conversa com a ruiva, só estava esperando ela chegar. Deixou Emily dormindo no quarto e seguiu para a sala. Ficou lendo um livro atentamente enquanto esperava pela ruiva. Estava tão concentrada na leitura, que levou um susto quando escutou alguém lhe chamando. Luiza olhou para Anne a babá de Emily, que sorria simpática.

 

-- A senhorita precisa de alguma coisa?

 

Houve um tempo que Luiza pensou que Anne tinha algum sentimento por ela, mas a menina a respeitava bastante, além de ser bastante tímida conversaram poucas vezes, mas Luiza percebeu o quanto a menina era simpática, sincera e simples. Anne era loira dos olhos verdes, uma típica americana, totalmente gentil e  de bom coração, tinha 21 anos e era babá de Emily desde que a menina nasceu. A médica percebia que Anne adorava a pequena ruivinha, e Emily também adorava a babá.

 

-- Desculpe, senhorita Luiza. Não queria assusta-la.

 

-- Tudo bem, Anne.

 

-- Só vim perguntar se a senhorita não deseja alguma coisa.

 

-- Não, Anny. Obrigada.

 

Anny achava a médica muito bonita e simpática. Realmente no início havia sentindo um interesse por Luiza, mas logo tratou de esquecer essas coisas, afinal, Luiza era mulher de sua patroa e a menina tinha um enorme respeito pelas duas. Aprendeu a admirar a médica como pessoa, sabia que a jovem era uma pessoa amável e simples, diferente de sua patroa, que sempre foi uma mulher difícil. Como não conhecia ninguém no Brasil que fosse do Brasil que sabia falar tão bem o inglês como Luiza, decidiu puxar alguns assuntos dos quais sempre teve curiosidade, mas não havia ninguém para lhe explicar. Só esperava Luiza não a achasse uma folgada.

 

-- É...  – gaguejou - Senhorita Luiza, eu gostaria de lhe perguntar uma coisas. Claro... Se não for incomodá-lo – disse tímid. 

 

Luiza a olhou curiosa.

 

-- Pode perguntar, Anne... Mas, por favor, me chame de Luiza... Tanta formalidade não me deixa confortável - disse sorrindo.

 

Anne sorriu lindamente.

 

--Ok, Luiza.

 

-- Assim é melhor. Pergunte... Estou curiosa.

 

-- Quero fazer-lhe umas perguntas sobre seu país...

 

-- Ahh sim - Luiza animou-se - Sente-se, Anne - apontou para a poltrona.

 

A babá olhou hesitante para o móvel e Luiza percebeu.

 

-- Eu estou convidando Anne... Não tem problema.

 

Anne sorriu e sentou-se. As duas passaram a ter uma conversa animada. Luiza falou várias coisas e depois tentou ensinar a babá a falar português. Riu bastante com o esforço que a jovem fazia. Anne também se divertia com a situação.

 

Rebecca chegou no momento que as duas estavam rindo alto. As duas não perceberam a presença da ruiva que ficou observando furiosa a cena. Sua mulher conversando animadamente com uma empregadinha qualquer, que ainda por cima estava sentada em sua poltrona como se fosse alguém de sua classe.

 

-- Churasco - tentava falar a babá.

 

Luiza riu.

 

-- Não, Anne... É churrasco - tentava ensinar.

 

-- Que palavras complicadas, Luiza – disse fazendo careta. 

 

-- Você lo.. - foi interrompida por Rebecca.

 

-- Olha que lindo... Atrapalho? - disse a ruiva irônica e com ódio.

 

Luiza fechou os olhos, sabia que vinha confusão pela frente. Já Anne deu um pulo, ficando rapidamente de pé. A loira estava vermelha de tão nervosa.

 

-- Senhorita Rebecca.. Eu e a Luiza... - tentava explicar, mas foi cortada de uma maneira ríspida pela ruiva, que odiou escutar a menina chamando a médica de maneira tão íntima.

 

-- Cale-se! Com você eu me resolvo depois! Suma daqui agora! - gritou com ódio.

 

A babá não pensou duas vezes e sumiu parecendo um foguete, estava com pavor da patroa.

 

-- Não precisava ter falado assim com a menina, Rebecca - Luiza disse calmamente.

 

Rebecca respirou fundo tentando se controlar.

 

-- Desde quando você fica de papo com uma serviçal de merd* hein, Luiza?! - a ruiva estava alterada.

 

-- A gente estava apenas conversando.

 

-- Conversando? Mulher minha não fica de papo com pessoas desse tipo! Essas pessoas nasceram pra nos servi, apenas isso! Esse tipo de gente não passa de porcaria na sociedade, não passam de lixos, inúteis! - estava descontrolada.

 

-- Para com isso, Rebecca! - Luiza gritou irritada - Eu falo com quem eu quiser! Você não manda em mim! E são essas pessoas inúteis que mantêm seu império de pé!

 

-- Eles precisam disso ou morrem de fome - disse arrogante - São todos alienados - riu debochadamente.

 

Luiza estava decepcionada com a ruiva e cansada de tudo aquilo. sentou-se e ficou um tempo olhando para o nada. Rebecca percebeu isso, mas ainda estava irritada. Caminhou em direção ao bar servindo-se de uma pequena dose de bebida, para tentar se acalmar. Ficou alguns minutos ali, até voltar para a sala. A ruiva observou Luiza e percebeu que a médica estava chorando, pois secava as lágrimas. Rebecca aproximou-se preocupada.

 

-- Lu... Você está bem? - perguntou de uma forma doce, tentando aproxima-se de Luiza, que levantou rapidamente e olhou nos olhos de Rebecca.

 

-- Eu quero que você pense no que eu vou te dizer agora, Rebecca. Eu já deveria ter conversado com você há algum tempo – disse enxugando as lágrimas.

 

Rebecca escutava atentamente o que a médica dizia. Luiza suspirou e continuou.

 

-- Você tem uma filha maravilhosamente incrível, linda, doce, perfeita e que é louca por você. Emily te ama. Não troque a sua filha por essa droga de trabalho! Você precisa aproveitar melhor os momentos entre as duas. Pare de ser tão viciada assim em trabalhos, nem eu que sou médica tenho mais tempo livre que você... A vida passa rápido Rebecca... Você tá perdendo a melhor parte da vida de sua filha que é a infância. Não prive sua filha de ter uma mãe, nós duas sabemos o quanto uma mãe é importante nas nossas vidas, ao menos com sua filha procure mudar... Seja mais presente na vida dela... Tenha mais tempo, Rebecca.... A vida não é apenas trabalho. Quanto ao que eu escutei aqui nesse momento... Até agora estou me perguntando... Aonde está a minha Rebecca? Quando eu te dei o apelido de poderosa há alguns anos atrás eu nunca pensei que você faria tão jus a ele... Rebecca você estava falando pior que seu pai... Os seus "serviçais" são seres com sentimentos como você. Não seja estupida como foi agora... Sei que você não é assim... Aprenda uma coisa... Você não é melhor que ninguém! Respeite as pessoas! E pare de se achar o centro do universo! Para de ser mesquinha... Sei que bem lá no fundo... Ainda tem uma doce menina em você... Então Rebecca entenda... Arrogância não vai te levar a nada... Pois garanto a você... Você está perdendo muito mais coisa que ganhando sendo desse jeito. Espero que você consiga entender isso... Não é seu dinheiro que conquista as pessoas, pois assim, elas vão apenas temê-la e irá atrair pessoas interesseiras, querendo sua grana... O que eu mais amava em você... Agora eu já não enxergo... Preciso de um tempo...- completou Luiza tristemente.

 

 Rebecca tinha os olhos banhados em lágrimas.

 

-- Você está terminando comigo? - a ruiva perguntou sentindo uma profunda dor.

 

-- Não... Mas eu quero a minha Rebecca de volta... Não essa pessoa que eu vi aqui agora pouco.

 

-- Lu...

 

-- Rebecca é melhor eu ir.. - disse pegando sua bolsa e seguindo em direção a porta.

 

Luiza se foi deixando Rebecca em prantos. A ruiva chorava bastante, pois sabia que tudo que Luiza havia dito era a mais pura verdade. Passou a noite assim... Chorando. Lembrando das palavras de Luiza e percebendo o tão estupida estava sendo nos últimos meses. Sabia que precisava mudar ou perderia as duas mulheres que amava loucamente. Era hora de Rebecca tirar as armaduras que ainda possuía desde que teve seu coração partido por Luiza. Queria se entregar por completo, sem precisar se proteger de nada.

 

Luiza dirigia devagar, estava chorando bastante, mas tinha um enorme alívio em seu coração. Precisava falar essas coisas a ruiva. Só queria que Rebecca fizesse as coisas diferentes, enquanto ainda tinha tempo. Mesmo amando a ruiva, não iria mais conseguir suportar toda aquela situação. Estava na hora de mudarem, não somente Rebecca, mas as duas. Enfim, iria dar um tempo para elas... Antes que a situação ficasse sem solução e ambas sofressem.

 

*****************

 

Victoria estava distraída mexendo em seu celular. A jovem já andava, mas não perfeitamente, ainda precisava apoiar em alguém e muitas vezes da cadeira de roda, pois, cansava rápido, mas ela sabia que tudo era uma questão de tempo. Escutou a porta ser aberta e Carol entrar toda sorridente.

 

-- Oi Vick...  Comprei pizza pra gente - disse a  baixinha animada.

 

-- Que delícia Carol!

 

-- Né... Vou pegar prato e talher pra você.

 

-- Não precisa... Eu pego com a mão mesmo.

 

Carol a olhou surpresa e Vick sorriu. Afinal, a pediatra sempre foi cheia de frescuras.

 

-- Uau hein! Você está bem?

 

-- Claro que estou, Carol.

 

-- Se você diz...

 

A baixinha sentou-se perto da prima e serviu um pedaço de pizza a ela. Correu para pegar copos na cozinha e servir o refrigerante. As duas ficaram conversando várias coisas. Era incrível como as garotas sempre tinham assunto.

-- Vi... Vamos apostar?

 

-- Como assim, Carol?

 

-- Comprei um joguinho pra gente... Futebol... Quem ganhar.. Pode pedi o que quiser... E ai, topa?

 

-- Hum... Tudo mesmo?

 

-- Sim!

 

Victoria sorriu imensamente.

 

-- Carol... Você sempre perde.

 

-- Agora será diferente! Andei treinando bastante.

 

-- Aham... Sei... Vamos ver então... Eu topo!

 

Carol colou o jogo no vídeo game e deu um controle para Vick. Uma partida rápida. Vick era muito boa, apesar de não jogar há muito tempo e ainda não conseguir mover totalmente os dedos. Já Carol era um total desastre. Era naturalmente ruim e isso facilitava bastante a vida da prima. O jogo começou e Vick se divertiu muito, enquanto Carol resmungava de tudo. Resultado final: 8 a 0, para Vick lógico. Carol reclamou.

 

-- Você roubou, Vick!

 

-- Carol... Aceita a derrota que dói menos - disse divertida.

 

-- Esse controle deve está com algum problema! Esse resultado foi absurdo! – falou cutucando o controle. 

 

-- Deixa de ser chata! Agora eu quero meu pagamento! – Vick estava animada.

 

Carol a encarou contrariada.

 

-- Tá... Diz o que você quer...

 

-- Carol... - Vick falou carinhosa e um pouco nervosa - Eu que...Re .. Quero... - gaguejava - Eu... - suspirou tentando tomar coragem - Eu quero que você repita olhando pra mim o que disse no hospital assim que eu acordei.

 

A baixinha ficou surpresa, não imaginava que Victoria iria pedi isso.

 

-- Vi... Eu... É... - Carol também ficou nervosa.

 

Vick segurou na mão da prima de forma carinhosa e disse com a voz mais doce e perfeita do mundo.

 

-- Fala pra mim... Eu sempre quis ouvir novamente...

 

Carol abriu um lindo sorriso e finalmente começou a falar.

 

-- Vi... Eu te acho linda e perfeita... Sempre achei... Sou louca por você.... Eu te... -  não terminou de falar, pois a porta foi aberta e Luiza entrou.

 

Dava para perceber que a jovem havia Chorado e estava triste. Carol e Vick se olharam rapidamente e a baixinha levantou. Foi aproximando-se da irmã e perguntou preocupada.

 

-- Luh... O que houve? Pensei que fosse dormir na Rebecca.

 

-- Eu ia.. Mas a gente brigou.

 

Carol e Vick ficaram boquiaberta. A baixinha logo soltou uma.

 

-- Vick que ano a gente tá mesmo?

 

-- Ahh Carol... - Victoria revirou os olhos.

 

-- 2012 já passou não é? Ou voltamos no tempo? - disse cômica.

 

Luiza não aguentou e riu do jeito da irmã.

 

-- Só você pra conseguir me fazer rir.

 

-- Luh... Mas você vai ficar bem né? - a baixinha perguntou preocupada.

 

-- Assim eu espero, Carol - disse se sentado.

 

-- Mas o que houve? 

 

Quando Luiza pensou em começar a contar tudo a porta foi aberta e Érika entrou feito um furacão, assustando as primas. Rapidamente se sentou ao lado de Luiza. A jovem não estava com um cara nada boa.

 

-- Érika... Você está bem? - Luiza perguntou preocupada.

 

-- Estou... Apenas briguei com a Bia - disse com raiva.

 

-- Eita que hoje o bicho ta pegando! - 

 

-- E você o que faz aqui? - Érika falou encarando Luiza.

 

-- Briguei com a Rebecca.

 

-- Nossa! - disse surpresa.

 

Luiza apenas sorriu e Érika acabou sorrindo também.

 

-- Então... Vocês não vão falar o que aconteceu? ... To curiosa! – Carol perguntou ansiosa. 

 

-- Deixa ser fofoqueira, Carol! - Erika disse séria.

 

-- Eu também to curiosa - confessou Vick.

 

-- Pronto... Você dá certinho com a sua futura mulher. Duas fofoqueiras! - irônica - Mas falando sério... Não to com vontade de falar sobre isso - estava com a voz calma.

 

-- E nem eu... Amanhã a gente conversa... Vou deitar - Luiza.

 

-- Eu também.

 

As duas sumiram no corredor deixando novamente Carol e Vick sozinhas. A pediatra já apresentava sinais de sono, pois estava bocejando.

 

-- Carol me ajuda a ir pro quarto?

 

-- Vai me pagar?

 

-- Deixa de ser folgada.

 

-- Ta bem... Vou fazer de graça... Sou uma pessoa caridosa.

 

-- Ah tá né.

 

Carol ajudou a prima a ficar de pé. Victoria passou o braço pelo ombro da baixinha e essa a segurou pela cintura. Andavam de forma lenta. As duas gostavam desse contato. Era bom estarem assim tão próximas.

 

-- Carol você dá certinho pra ser minha muleta - disse divertida.

 

-- Tá me tirando? - a baixinha estreitava os olhos.

 

-- Mas é a verdade Carol... Você é tão pequenina...

 

--Olha que te jogo no chão hein - ameaçou.

 

-- Você não teria coragem.

 

-- Não sou tão pequena assim...  Sou de tamanho normal!

 

-- Dos anões né - riu.

 

Carol ameaçou se afastar, mas Vick a segurou firme. Já estavam no quarto da médica, que ficou de frente para Carol e a encarou, ainda tinha os braços ao redor do pescoço da baixinha.

 

-- Seu tamanho é um charme sabias? Eu acho super lindo e fofo - dizia fazendo carinho nos cabelos da prima.

 

Carol amoleceu e corou. Vick a achou ainda mais linda.

 

-- Está me cantando? - Carol falou ainda segurando Vick pela cintura - Porque se tiver... Fique sabendo que sou uma menina bem difícil viu. Ninguém me conquista fácil.

 

-- E eu to conseguindo? - Vick já estava bem próxima da boca de Carol.

 

-- Você já conseguiu há muito tempo, Victoria!

 

Vick abriu um lindo e luminoso sorriso. Apertou mais a baixinha contra si. Fazia carinho na nuca da prima, que adorava tudo aquilo. A jovem foi se aproximando cada vez mais até seus lábios tocarem os de Carol. O beijo no início era calmo, as duas aproveitavam o máximo as carícias. Depois de um tempo o beijo foi ficando mais exigente e desesperado. Vick apertava a baixinha, puxando seu cabelo e enfiando a língua em sua boca. Carol estava quente era completamente dominada por Vick e estava adorando, sentiu as pernas ficando fraca e por isso não conseguiu manter o equilíbrio, as duas acabaram caindo, Victoria por cima de Carol que fez uma careta de dor engraçada.

 

-- Aiii - Carol resmungou.

 

-- Carol, Meu Deus! Você está bem? - Vick se apoiava nas duas mãos para não ficar com todo o peso em cima da prima.

 

Carol encarou Vick e sorriu dando um selinho nos lábios que estavam vermelhos. As duas se encaravam profundamente, ainda permaneciam vermelhas devido o beijo. A baixinha fez uma pequena carícia no rosto de Vick.

 

-- Estou bem sim... Vem vou te ajudar a levantar..

 

Carol conseguiu sair de baixo da prima e depois a ajudou a ficar de pé e a conduziu até a cama a deitando delicadamente. Vick sentia um pouco de dor, mas era suportável. As duas estavam tímidas e não conseguiam se encarar.

 

-- Então... Até amanhã Vivi... 

 

Carol deu alguns passos em direção a porta, mas Vick a chamou.

 

-- Espera Carol! - a baixinha virou-se para encará-la e Vick sorriu - Deita aqui... - disse batendo ao seu lado na cama.

 

Carol não pensou duas vezes e deitou-se ao lado da prima sorrindo animada. Vick a encarou fazendo carinho em seu rosto.

 

-- Não quero mais fugir disso. Já fiz isso por muito anos e agora que tenho a chance de viver esse sentimento, não quero continuar fugindo, fingindo... Carol você me ama? - perguntou nervosa, mas de forma doce.

 

Carol a olhava seriamente. Queria que Victoria enxergasse que estava sendo sincera.

 

-- Victoria... Eu sempre amei você, mas era burra demais pra enxergar que tipo de amor era esse. A gente sempre se deu super bem, lembra? Fazíamos tudo uma pela outra... Era uma loucura. Mas eu não sabia que isso era amor... De amor, entende? - sorriu - Depois eu conheci a Lia e ela despertou um sentimento bom em mim, eu nunca havia me interessado por ninguém e ela despertou esse meu interesse... Foi bom, eu gostei de verdade dela... Mas nunca passou disso... Depois você veio com aquele seu namorado idiota - fez cara de nojo e Vick riu - Nossa, por muito tempo não soube descrever o que eu sentir... Mas agora sei que era um ciúme louco. Eu nunca tinha visto você com ninguém e quando eu soube odiei você profundamente... Eu me senti descartada, principalmente quando você deixou de me visitar e não tinha mais tempo pra mim... Meu coração doía de uma tal maneira que chegava a sufocar, era horrível a sensação... Depois eu fiz aquela loucura de ir atrás de você... Não me arrependo nenhum pouco.... Você voltou pra mim... Voltou a ser como antes, apenas eu e você.... E eu me sentia extremamente feliz com isso... A gente sempre preteriu os nossos namoros... Na minha vida era sempre você antes de qualquer namorada e na sua também... Isso foi motivo de muitas brigas entre eu e a Lia... Até o dia que a gente brigou feio e ela gritou que eu era apaixonada por você... Nossa isso ficou na minha cabeça por muito tempo.. Porque eu sabia que no fundo era verdade, mas eu resolvi esquecer isso... Fingir. Eu nunca achei que tivesse alguma chance com você... Quando você me contou dos seus sentimentos por mim.. Eu fiquei tão confusa... Não sabia o que pensar, o que fazer... Fui idiota com você... Me desculpa... Eu também tive um pouco de medo... Mas sabia que também amava você e quando decidir me declarar... Você não acreditou em mim e depois veio o atentado... Foi tudo tão rápido... Eu tive tanto medo de te perder... - Carol já estava com os olhos cheios de lágrimas.

 

-- Ei... - Victoria enxugou as lágrimas de Carol - Agora é o nosso momento... E eu quero vivê-lo plenamente... Esquece essas coisas... - sorriu carinhosamente, abraçando a baixinha.

 

As duas ficaram assim por um bom tempo. Carol já estava quase dormindo quando seu celular passou a tocar.

 

-- Aff! Saco! - a baixinha resmungou - Vick atende pra mim - disse sonolenta.

 

-- Carol eu até atenderia, mas esqueceu que não posso andar... Por favor, dá pra você pegar pra mim.

 

Carol resmungou alguma coisa, mas virou-se pegando o celular que estava na mesinha do seu lado da cama e entregou a Victoria que imediatamente atendeu.

 

-- Alô...

 

-- Carol?

 

-- Não. É a Vick! - deu pausa - Bia?

 

-- Cadê... Mi... nha... Mulher...Vick?

 

Victoria contraiu os lábios, pois percebeu que Beatriz não estava sóbria.

 

-- Beatriz você está bêbada?! - perguntou irritada. Carol encarou a prima.

 

- Nãaaaoo - gargalhou - Estou apenas... um pouco animadinha... Quero fa... lar... Com a Éri... ka... - estava com a voz pastosa.

 

-- Nem pense em aparecer aqui nesse estado Beatriz! Estou te avisando... A Érika não iria suportar isso, entendeu?! 

 

-- Mas... - tentou argumentar.

 

-- Sem mas! -- Vick estava brava com a jovem - Agora vai dormir e amanhã você tenta falar com a Érika e, por favor, não faça nem uma besteira... Amanhã a gente se fala melhor... Bia você ainda precisa aprender muitas coisas... Eu só quero o seu bem... Promete que vai dormir? - disse preocupada.

 

--U... hum.... Pro... meto.

 

-- Vou confiar em você... Boa noite!

 

-- Boa...

 

Vick  escutou quando a ligação foi encerrada. A jovem tinha um semblante preocupado. Carol a encarava pensativa.

 

-- Ela estava no clima paz e amor, né?

 

-- Provavelmente... - Vick também estava pensativa.

 

-- Bia não precisa dessa coisa... Desse jeito vai acabar perdendo a Érika...

 

-- Vai mesmo... Precisamos ter uma conversa com ela.

 

-- Você tem razão Vivi... - sorriu carinhosa.

 

-- Agora vamos dormir... Estou um zumbi aqui - riu.

 

-- Está mesmo - Carol debochou.

 

Vick a puxou depositando um selinho em seus lábios e a apertando em seus braços. Carol se aconchegou nos braços da prima a abraçando.

 

-- Boa noite, Carol... - sussurrou sonolenta.

 

-- Boa noite, Vivi... - Carol estava quase apagando.

 

-- Eu amo você, meu pedaço de gente....

 

-- Também amo você, vara de cutucar céu. 

 

Vick riu e as duas adormeceram agarradinhas. Não queriam mais se desgrudar. Estavam felizes por finalmente estarem vivendo o amor que sempre às uniu.

 

Fim do capítulo