- Ei, Afonso! Vem cá! - Bruna chamou o menino que estava sentado no chão brincando com alguns carrinhos.

 

O menino logo obedeceu e sentou ao lado de Bruna no sofá. Os dois estavam na casa da ruiva, que passou a levar o menino para lá algumas vezes para que ele fosse se adaptando aos poucos.

 

- Você gosta de ficar aqui na minha casa? - perguntou com calma.

 

- Sim, titia, eu gosto muito! - o menino respondeu feliz e continuou - Eu adoro tocar o seu piano e brincar de bola na piscina. E a Tia Nina também faz um bolo de chocolate delicioso sempre que venho aqui.

 

Bruna riu dos motivos que o menino tinha para gostar de sua casa, mas ficou feliz por saber que ele se sentia confortável estando lá.

 

- E o que você acha de ficar de vez? - perguntou observando o semblante do menino se tornar um pouco confuso - A gente ia poder tocar piano e ir na piscina sempre que você quisesse e tenho certeza que a Nina ia adorar fazer bolo e mais um monte de coisa pra você todos os dias. O que você acha?

 

O menino ficou um tempo calado, parecendo pensar muito em alguma coisa. Bruna já estava ficando preocupada e esperando pela recusa quando ele finalmente a respondeu.

 

- Mas aí, você ia virar a minha mãe? - ele finalmente perguntou o que o estava confundindo.

 

Dessa vez foi Bruna quem precisou de um tempo para pensar no que o menino disse. Ainda não tinha conversado com ele a respeito disso, tinha medo de não saber como dizer a verdade para o filho.

 

- Você ia gostar de ser meu filho? - resolveu enrolar para se livrar da resposta.

 

- Sim, ia ser muito legal. E os meus amigos lá do orfanato até dizem que a gente é parecido! - o menino falou com tanta naturalidade que às vezes Bruna duvidava que ele pudesse ter apenas 5 anos.

 

- Que bom, meu amor! Eu fico muito feliz de saber isso. Então, o que acha da gente ir lá na cozinha pedir a Nina para fazer um bolo bem gostoso pra gente comemorar? - perguntou querendo mudar de assunto, não queria encher a cabeça do menino, revelaria tudo aos poucos.

 

- Isso! - o menino sorriu, feliz - Mas, tia, eu posso pedir uma coisa?

 

- Uhum.

 

- O meu quarto pode ser do homem-aranha?

 

Bruna riu da pergunta do garoto, estava esperando algo mais sério.

 

- Claro, amor, você vai decorar o seu quarto do jeito que quiser. - o menino sorriu, gostando da resposta - E, também, você começará a frequentar a escola, o que você acha?

 

- Que legal, vou ter muitos novos amigos!

 

Os dois já estavam caminhando de mãos dadas para a cozinha, quando o menino parou e chamou Bruna novamente. Dessa vez, seu semblante parecia um pouco desanimado.

 

- Tia?

 

- Oi, meu anjo! - Bruna se preocupou e parou para escutar o menino.

 

- Quando a tia Lívia vem me ver? - a pergunta pegou Bruna de surpresa - Você prometeu que ela ia vir aqui brincar comigo, eu tô com saudade dela!

 

A ruiva respirou fundo, não queria continuar enganando o menino, uma vez que já tinha prometido várias vezes que ligaria para Lívia e a convidaria para passar o dia com eles, mas ainda não se sentia pronta para ver a morena.

 

- Eu vou ligar para ela, tá bom? Não precisa ficar triste! - o menino acreditou mais uma vez na mãe e sorriu, voltando a ficar contente - Agora vamos logo pedir esse bolo para a Nina.

 

Um mês havia se passado desde o primeiro abraço de Bruna e Afonso como mãe e filho, e a ruiva não poderia estar mais feliz. Os pais da ruiva a estavam auxiliando em tudo, as questões legais pertinentes a adoção de Afonso já estavam praticamente resolvidas. Um novo exame de DNA precisou ser feito, por um pedido do juiz que acompanhava o caso, e logo que ficou provado que o menino era mesmo filho de Bruna, ela teve o direito de ter a guarda do menino. Agora restavam apenas burocracias do orfanato, que também já estavam se resolvendo e logo o menino poderia ir para casa com a mãe.

 

 

Para Lívia as coisas também estavam caminhando bem. Não havia sido fácil, mas ela finalmente estava livre da vida de acompanhante de luxo, havia até mesmo trocado o número de seu celular para que não recebesse mais nenhuma ligação de clientes ou algo do tipo. Com a ajuda e indicação de Cristina, a morena havia conseguido um emprego em um escritório de advocacia e estava em êxtase por finalmente estar exercendo sua verdadeira profissão.

 

Não viu mais Eduardo desde o dia em que ele apareceu na porta de seu apartamento. Naquele dia, sem outra alternativa, aceitou conversar com ele, mas se arrependeu amargamente assim que ouviu a proposta que o homem tinha para lhe fazer.

 

Lívia aceitou conversar com Eduardo, uma vez que o homem estava transtornado e não sairia dali enquanto não conseguisse o que queria. Com medo dele tomar alguma atitude drástica, não quis leva-lo para seu apartamento, então o levou para a cafeteria onde iria se encontrar com Ramon, assim quando o homem chegasse teria alguém para socorrê-la, caso se tornasse preciso.

 

Os dois estavam sentados, Lívia havia pedido um cappuccino. Ramon ainda não estava no local, então a morena resolveu adiantar logo o assunto, pois logo teria outra coisa para resolver.

 

- E então, Eduardo, o que tanto você tem para me falar? - perguntou um tanto impaciente.

 

- É sobre a proposta que eu te fiz lá em minha casa, antes de sermos descobertos, você se lembra? - Lívia espantou-se, pois lembrava muito bem do absurdo que Eduardo lhe propôs aquele dia.

 

- Infelizmente, eu me lembro! 

 

- Pois então, Lívia, eu quero refazer essa proposta... - a morena apenas esperou que ele continuasse a falar - Se eu continuar por aqui, vou acabar sendo preso pelas coisas que fiz e eu não tive culpa da maioria delas, foi tudo coisa do meu pai. Então eu pensei que a melhor solução seria a gente fugir daqui.

 

- A gente quem, Eduardo? - a morena o interrompeu e perguntou perplexa.

 

- Nós três, Lívia! - ele respondeu como se fosse óbvio - Sei que se eu pedir a Bruna não vai aceitar, ela ainda está com raiva pelo que fiz com nosso bebê. Mas se você pedir, com certeza ela vai pensar melhor sobre o assunto!

 

- Você só pode estar louco! - Lívia afirmou em choque - Só a sua cabeça machista e babaca para achar que eu e a Bruna vamos querer qualquer coisa com você depois de tudo que aconteceu.

 

A resposta atingiu Eduardo, que se irritou com a morena.

 

- E você acha que vou dar o divórcio para a Bruna e deixar o caminho livre para você enquanto eu fico sozinho? - ele perguntou cínico e se dobrou em cima da mesa para falar mais próximo dela - Você pode até se recusar a ficar comigo, Lívia, mas com a minha mulher você também não ficará, está entendendo?

 

- Esse cara está te incomodando, Lívia?

 

Para alívio da morena, Ramon havia chegado e interrompeu a conversa antes que os ânimos se exaltassem ainda mais por ali.

 

- Na verdade, está sim, Ramon! - Lívia respondeu, mesmo com receio da reação de Eduardo.

 

- Mas ele já está de saída, não é mesmo? - Ramon perguntou olhando para Eduardo, que para evitar confusão, afirmou que sim.

 

- Só não se esqueça do que eu falei, Lívia! - ele ainda falou antes de sair.

 

- O que esse cara quer com você, Lívia? - Ramon perguntou depois de sentar à mesa.

 

- Veio me fazer uma proposta sem cabimento e acha que pode me ameaçar, mas fique tranquilo, sei exatamente quem pode dar um jeito nele!

 

- Certo! Então, me diga, o que de tão importante você quer conversar comigo?

 

- Então, Ramon, aconteceram muitas coisas nesses últimos meses e eu tomei uma decisão muito importante. Eu tô fora, não quero mais essa vida para mim!

 

O homem entendeu perfeitamente do que ela estava falando e perdeu alguns segundos pensando naquilo. Quando voltou a falar, sua resposta surpreendeu Lívia, de maneira positiva.

 

- Olha, Lívia, desde aquele dia, anos atrás, quando nos conhecemos, eu sabia que poderia ganhar muito dinheiro com você! Não me leve a mal, mas você tinha potencial para o que eu queria, não só pela sua beleza ou pelo seu corpo, mas o seu olhar é forte, intimidador, esse seu jeito seguro de ser, os homens se atraem por mulheres exatamente assim, naturalmente sensuais, e você mesmo sendo nova, me mostrou que tinha isso. Mas, no fundo, eu sempre soube que um dia você deixaria isso para trás. Uma mulher como você, pode ter tudo na vida, você tem potencial para alcançar muitas coisas boas, eu só usei e apreciei aquilo que me interessava, mas tinha certeza que você não nasceu para essa vida, não é isso que você merece!

 

- Ramon, eu nem sei o que dizer! - respondeu sincera - Sinceramente, não era essa a reação que estava esperando.

 

- Imagino que não, você me conhece! - ele sorriu - Não sou de me afeiçoar às meninas que trabalham para mim, poucas conseguem esse feito, e você o conseguiu, Lívia! Não se esqueça que eu vi você se tornar a mulher que é hoje, te ajudei quando você parecia estar se perdendo do mundo. Você não é apenas uma das minhas garotas, querida!

 

- Obrigada por tudo isso, inclusive! Sempre fui muito grata por tudo que você fez para me ajudar e continuarei sendo, ainda mais depois de ouvir isso tudo!

 

- Não há o que agradecer, garota, ainda estou triste pelo prejuízo que está me dando!

 

Os dois riram do comentário. Conversaram um pouco mais, a morena não poderia estar mais feliz naquele momento. Era como se estivesse tirando um peso gigantesco de suas costas.

 

Depois desse duplo encontro, a primeira coisa que Lívia fez quando chegou em casa, foi ligar para Cristina e contar sobre a conversa que teve com Eduardo, sabia que os pais de Bruna fariam o possível para proteger a ruiva. Mas surpreendeu-se quando a mais velha lhe disse que um segurança ficaria na porta de seu prédio também, evitando um possível encontro forçado por Eduardo. A morena não estava acostumada com tanto cuidado e menos ainda com o carinho que recebia de Cristina, mesmo depois da mágoa que ela havia causado em Bruna.  

 

Depois disso, a vida da morena pareceu entrar finalmente nos eixos. Apesar do medo que intimamente ainda sentia, sabia que Marco Antônio estava controlando os passos de Eduardo para que ele não fizesse nada de ruim às duas mulheres. A única coisa que ainda doía, era a indiferença que sentia vindo de Bruna, que depois de um mês não havia lhe procurado. Cristina algumas vezes lhe incentivava a procurar a ruiva, conversar sobre as mudanças em suas vidas, Lívia já estava sabendo da adoção de Afonso, o que a deixou muito feliz tanto por Bruna quanto pelo menino, que merecia estar com a família. Mas, como prometido, Lívia estava se mantendo distante, mesmo sofrendo.

 

 

Na casa de Bruna, ela tomava café com Nina, enquanto Afonso se fartava do bolo de chocolate que a mais velha havia preparado para ela, quando Cristina chegou.

 

- Olá, meus amores, boa tarde!

 

- Oi, titia - Afonso foi até ela para lhe abraçar, o menino era só sorrisos de tanta felicidade - Sabia que agora você vai ser minha vovó?

 

Cristina olhou para Bruna que sorriu e acenou com a cabeça, confirmando para a mãe que já tinha falado sobre o assunto com o garoto.

 

- Ah, é? Que novidade é essa? Me conta tudo!

 

Os dois voltaram para a mesa e passaram a conversar enquanto Cristina aproveitava para roubar alguns pedaços do bolo do menino, que nem se importava, tamanha era a felicidade que sentia por estar ali em família, mesmo sem saber ainda.

 

Bruna aproveitou enquanto a mãe dava atenção para o neto e foi para a sala em busca de seu celular. Estava disposta a cumprir o que prometeu para Afonso, pois sabia o quanto o garoto gostava de Lívia e não poderia afastá-la dele por mágoas que não diziam respeito ao menino. Assim que achou o celular, tentou ligar várias vezes para a morena, mas todas as vezes ouviu a mensagem da operadora dizendo que o número não existia.

 

A ruiva já estava chateada com aquilo, pois mesmo não assumindo estava ansiosa para ouvir a voz da morena mais uma vez, quando viu Afonso passar correndo por ela e sua mãe chegou à sala.

 

- Onde ele vai com tanta pressa? - perguntou à mãe.

 

- Buscar o Ipad para me mostrar o joguinho novo. - a mais velha respondeu sorrindo, adorava mimar o garoto, dando atenção e fazendo tudo que o deixasse feliz.

 

- Mãe, a senhora tem alguma notícia da Lívia?

 

Cristina até estranhou aquela pergunta, uma vez que a filha evitava qualquer assunto relacionado à Lívia e nunca a deixou falar sobre a morena.

 

- Ela tá bem, filha! Você resolveu procura-la?

 

- Prometi para o Afonso que ligaria para ela. Ele sente falta e pergunta muito, eu não posso afastá-lo dela, ele não teve culpa de nada!

 

- Concordo com você, filha! E aí, está esperando o que para ligar pra ela? - perguntou vendo a ruiva com o celular na mão.

 

- Já tentei várias vezes, mas diz que o número não existe!

 

Cristina então lembrou que a morena havia trocado de número recentemente.

 

- Que cabeça a minha! - afirmou procurando seu celular para passar o novo número para a filha - Ela trocou o número de seu celular faz pouco tempo, por isso você não consegue falar com ela.

 

- Mas trocou por quê? - a ruiva anotou o novo número, fazendo a troca em seu celular - Aconteceu alguma coisa?

 

- Vem, tia, olha aqui o jogo! - Afonso interrompeu as duas, chegando à sala com o Ipad em mãos.

 

- Aproveita que vai ligar para ela e pergunta você mesmo, filha! - Cristina piscou marota para a filha, antes de atender ao chamado de Afonso.

 

Bruna ficou por alguns minutos encarando o celular, agora não tinha mais jeito, teria mesmo que ligar e falar com a morena. Queria falar sobre Afonso, mas não podia negar que queria também saber como Lívia estava.

 

Tomou coragem e discou o número da morena, ansiosa para que ela atendesse logo. Mas quando a chamada foi atendida, não foi a voz de Lívia que Bruna ouviu.

 

- Alô?

 

- Oi, Lívia? - Bruna perguntou para ter certeza que não era a morena.

 

- A Lívia está um pouco ocupada agora, você quer deixar recado?

 

Bruna não aguentou a curiosidade e perguntou quem estava falando, mas a resposta a atingiu em cheio.

 

- Quem tá falando é a Rafaela! 

Fim do capítulo