Depois de chorar e contar tudo que havia acontecido para sua mãe, Lívia finalmente conseguiu se acalmar. As duas acabaram tendo uma conversa reveladora. Luciana contou para a filha todos os problemas que passou depois que ela foi embora, disse que por várias vezes quis largar tudo e procurar a menina, mas acabava não tendo força e coragem suficiente, principalmente depois que o marido descobriu que estava com câncer e seu estado já era avançado. Mesmo com muita mágoa pelo abandono da mãe, que a fez passar por tantas coisas ruins, a morena aceitou o pedido de perdão dela e, finalmente, as duas fizeram as pazes.

 

- Você não tem noção de como eu estou feliz, filha! - Luciana tinha feito a filha comer um lanche que ela mesma preparou e as duas conversavam sentadas na varanda - Lembrei de você todos os dias, sofri tanto sem saber onde você estava, se estava se alimentando direito, onde dormia... Meu coração apertava só de te imaginar sofrendo!

 

- Mãe, eu quero deixar isso tudo para trás! Eu realmente sofri muito, passei por muitas coisas difíceis, mas tudo isso fez eu me tornar a pessoa que sou hoje. Além do mais, não há um jeito de mudar isso, então não temos motivo para ficar relembrando, não é?

 

- Você está certa, filha! - sorriu e pegou a mão da menina - Lívia, o que pretende fazer agora? Digo, depois de toda essa confusão, ainda vai continuar nessa vida? Não acha que é hora de recomeçar, filha?

 

- Eu já havia tomado uma decisão sobre isso, mesmo antes de acontecer toda essa confusão, mas queria planejar e fazer tudo aos poucos!

 

- E o que você decidiu, filha?

 

- Vou procurar um emprego na minha área, já tenho minha carteira da ordem, posso deixar currículos em alguns escritórios. E também pretendo voltar a estudar, mãe, quero focar na carreira que escolhi para mim!

 

- Estou tão orgulhosa de você, Lívia! - a mais velha já não conseguia conter algumas lágrimas - Mesmo sozinha no mundo, você lutou e conseguiu se tornar uma mulher forte. Queria muito ter evitado que tivesse passado por tantas coisas ruins, mas ver a mulher que você é hoje já me enche de alegria!

 

Lívia abraçou a mãe, feliz por estar em seus braços, sentindo o conforto que ela tanto precisava.

 

- E quanto a Bruna, filha? Você já sabe o que fazer?

 

- Eu a perdi, mamãe! - falou chorosa - Tenho certeza que ela jamais me perdoará por envolve-la nessa rede de mentiras. Mas ainda irei me tornar a mulher que ela desejou que eu fosse, se um dia nos reencontrarmos, ela terá orgulho de mim também!

 

- Filha, eu tive pouco contato com essa menina, mas a forma como vi ela cuidar de você no dia que nos encontramos e tudo que você me contou, me dão a certeza que vocês encontraram um amor lindo e genuíno. Será que não vale a pena correr atrás disso? Se ela precisa de um tempo, dê isso a ela! É normal! Há muita confusão na cabeça dela, muita coisa que ela precisa lidar. Mas, se ela realmente te ama, e posso afirmar que sim, tudo isso será apenas uma lembrança ruim dentro de uma história linda de amor!

 

Bruna acordou sentindo-se muito bem. Ainda estava triste e decepcionada com Eduardo, nunca achou que o marido seria capaz de fazer algo tão cruel com o próprio filho, acreditava que ele era um homem bom, apenas manipulado pelo pai. Também sentia-se decepcionada com Lívia, havia confiado cegamente na mulher por quem se apaixonou e não sabia se iria conseguir perdoá-la por tantas mentiras. O pior de tudo era a saudade que sentia da morena, a falta que a presença dela deixou na vida e no coração de Bruna. A ruiva sabia que não tinha como lutar contra isso, muitas vezes a saudade gritava e ela pegava o celular na intenção de ligar ou mandar uma mensagem, mas voltava atrás logo em seguida. 

 

A ruiva tomou um banho rápido, estava ansiosa pelo que viria a seguir e não desejava perder tempo. Quando chegou a cozinha, Nina já havia feito café da manhã.

 

- Bom dia, Nina! - beijou a mulher antes de sentar à mesa.

 

- Bom dia, mocinha. Está se sentindo bem hoje? - a empregada estava há tanto tempo na família e já havia conquistado a confiança de todos, por conta disso, estava ciente dos últimos acontecimentos.

 

- Muito bem, Nina! Dessa vez não vou parar minha vida novamente, tenho um motivo mais que especial para seguir em frente, não acha?

 

- Você tem toda razão! - afirmou Nina, feliz pela alegria que via nos olhos da ruiva.

 

Bruna tomou seu café da manhã com pressa, estava ansiosa demais para sair de casa.

 

- Estou saindo, Nina. Se meus pais ligarem, diga que retorno mais tarde, preciso fazer algo sozinha! - falou enquanto já saía em direção a porta.

 

- Onde vai com tanta pressa, menina?

 

Bruna sorriu antes de responder, sentia uma paz interior por finalmente poder dizer aquilo.

 

- Dar um abraço no meu filho!

 

Feliz pela menina, Nina a observou partir, torcendo para que tudo desse certo.

 

Outro que também já estava ciente que Bruna sabia da verdade sobre Afonso era Tiago, que ficou feliz quando recebeu uma ligação de Marco Antônio dizendo que a filha já tinha conhecimento de tudo que eles haviam descoberto. O rapaz torcia muito para que todas as crianças encontrassem uma família e nada poderia ser melhor do que encontrar a verdadeira família e a mãe que tanto sofreu por estar longe do menino.

 

Por isso, não se espantou quando viu Bruna chegando ao orfanato logo cedo, imaginou que a ruiva estava ansiosa para encontrar o filho.

 

- Olá, Bruna, madrugou hoje, né? - brincou com a mulher assim que ela se aproximou dele.

 

- Bom dia, Tiago! Tá um pouco cedo mesmo, né? As crianças ainda estão dormindo? - perguntou um pouco decepcionada com a possibilidade de não ver Afonso.

 

- Estão tomando café da manhã! Afonso foi um dos primeiros a levantar hoje, parece até que soube que iria receber uma visita especial.

 

- Meu pai já lhe contou, não é? - Tiago confirmou com a cabeça - Tenho tanto que te agradecer, Tiago! Não só pela ajuda que deu ao meu pai para descobrir a verdade, mas pelo tempo que cuidou dele, tenho certeza que ele só é essa criança feliz e encantadora porque sempre recebeu todo cuidado.

 

- Nada me deixa mais feliz do que a felicidade dessas crianças, Bruna. Sempre farei tudo que estiver ao meu alcance para vê-las sorrindo, não precisa me agradecer por nada! - o homem respondeu sincero.

 

- Eu posso vê-lo?

 

- Titio, titio!

 

Antes que Tiago pudesse responder, os dois viram o menino se aproximando e chamando por Tiago com a voz cheia de dengo. Notaram o rostinho vermelho e cheio de lágrimas e logo perceberam que seu joelho tinha um pouco de sangue, na certa, deveria ter caído e ralado.

 

- Oi, garotão - Tiago se abaixou ficando na altura do menino - o que aconteceu?

 

Bruna que estava aflita por ser a primeira vez que via o menino tristonho, se aproximou querendo fazer alguma coisa.

 

- Eu tentei pegar o desenho que fiz pra tia Bruna em cima da estante mas a cadeira virou e eu caí - o pequeno respondeu entre soluços causados pelo choro e com um bico de todo tamanho.

 

- Oh, meu amor, você se machucou por minha causa? - Bruna perguntou aflita e encantada ao mesmo tempo.

 

- Eu vim aqui fora e vi você, titia. Queria te dar o desenho novo que fiz.

 

Cheio de dengo, o menino abraçou Bruna. A ruiva aproveitou para pegá-lo no colo e abraçar o menino, que deitou a cabeça em seu ombro, ainda ressentido pela queda e pelo pequeno machucado.

 

- Ei, campeão, você sabe que vamos ter que limpar isso aqui, não é? - Tiago perguntou sabendo que a reação do pequeno não seria das melhores.

 

- Não, titio, vai arder mais! - o menino respondeu voltando a chorar e escondendo o rosto no pescoço de Bruna.

 

- É sempre assim quando ele se machuca, não deixa ninguém limpar por medo de arder. - Tiago explicou para a ruiva.

 

- Ei, rapaz - Bruna chamou atenção do pequeno, que olhou para ela tristonho e a ruiva se segurou para não rir do bico que o menino fazia - vamos combinar assim, eu cuido do seu machucado sem fazer arder mais e depois a gente faz vários desenhos novos, pode ser?

 

O menino pareceu pensar um pouco na proposta, mas acabou concordando com a cabeça, logo voltando a se esconder no pescoço da mãe. A ruiva aproveitou para abraçar forte o garoto e beijar seus cabelos, emocionada por finalmente ter o filho em seus braços.

 

- Titia?

 

O menino chamou atenção de Bruna enquanto a observava limpar seu pequeno machucado. Mesmo receoso e fazendo algumas caretas de vez em quando, Afonso estava deixando que Bruna fizesse o curativo sem chorar ou reclamar como fazia com outras pessoas, até mesmo com Tiago.

 

- Oi, amor, fala!

 

- Por que a tia Lívia não veio hoje?

 

- Ah, porque ela estava muito ocupada hoje. - falou a primeira coisa que veio a mente - Tenho certeza que ela está morrendo de saudade de você também.

 

- Hum, tudo bem, hoje não ia dar pra gente jogar bola mesmo! - Bruna riu da inocência do menino - Mas promete trazer ela na próxima vez?

 

- Prontinho! - falou finalizando o curativo do menino e aproveitando para fugir do assunto - Viu como foi rapidinho e nem doeu?

 

- É, mas a tia Joyce sempre machuca! - respondeu revirando os olhos e fazendo Bruna sorrir.

 

- Prometo não deixar a tia Joyce te machucar outra vez! - depositou um beijo no rosto do garotinho - Então, vamos desenhar? Mas você sabe que não sou boa nisso.

 

- Isso é verdade, tia, seus desenhos são meio feios. - o garoto foi sincero.

 

Bruna gargalhou com a resposta do menino. Não dava para descrever a paz que sentia em seu coração naquele momento. Foi embora do orfanato horas depois com a sensação de que, independente do que acontecesse dali para frente, tudo ficaria melhor, tudo ficaria bem, desde que tivesse seu filho para sempre ao seu lado.

 

 

 

- Filha, eu queria ficar mais tempo com você, mas realmente preciso ir para casa, tenho que trabalhar ainda hoje! - Luciana respondeu depois de almoçar com a filha.

 

- Tudo bem, mãe, também não quero te atrapalhar. - a morena já estava feliz por ter novamente o cuidado de mãe - Vou aproveitar o dia para resolver algumas coisas, enviar alguns currículos, quem sabe não surge alguma proposta boa, não é?

 

- Isso, Lilica! - a morena sorriu ao escutar o apelido que a mãe lhe chamava na infância - Logo aparecerá alguma coisa boa para você, filha.

 

- Assim espero, pois parada eu também não posso ficar!

 

- Tudo vai dar certo, filha, tenha fé! - a mulher falou enquanto abraçava a morena - Mais tarde eu te ligo, não pretendo ficar longe de você de novo, está me entendendo?

 

- Tudo bem, mamãe, também não quero que fique longe de mim! - falou a morena sorrindo pelo quase desespero da mãe.

 

- Se cuida, meu amor!

 

Depois que Luciana saiu do apartamento, Lívia permitiu-se pensar um pouco nos últimos acontecimentos. Tudo estava acontecendo tão de repente, que ela mal conseguia acompanhar tudo em sua cabeça. A vontade de procurar Bruna era sufocante. Lívia tinha vontade de correr até a casa da ruiva só para poder olhar em seus olhos outra vez, ouvir sua voz, ver que ela estava bem. Mas sabia que o melhor a se fazer era permanecer longe da ruiva e esperar que, se Bruna sentisse vontade, a procurasse.

 

A mãe da ruiva a tinha procurado, preocupada com seu sumiço. Mas Lívia achou melhor ficar um tempo distante de tudo que fosse relacionado a Bruna. Também estava sofrendo muito com a briga das duas e tudo que a fizesse lembrar ou ter esperanças deveria ser evitado. 

 

Sem querer perder mais tempo, a morena ligou para Ramon, seu agente, e combinou de encontra-lo numa cafeteria nas redondezas de seu apartamento. Sabia que o homem não aceitaria bem o que ela tinha para lhe dizer, mas a decisão já estava tomada e Lívia não voltaria atrás.

 

Depois de tomar um longo e relaxante banho, a morena colocou um vestido simples, pois o calor era forte, e saiu de casa. Como a cafeteria era realmente perto de seu apartamento, a morena achou desnecessário ir de carro. O que ela não imaginava era se deparar com uma pessoa lhe esperando na porta de seu prédio.

 

- Finalmente você saiu do seu esconderijo!

 

- O que você tá fazendo aqui? - perguntou Lívia espantada.

 

- Estou tentando falar com você há dias, mas você faz questão de não atender minhas ligações. Então, resolvi te esperar aqui, uma hora você teria que sair de casa!

 

- Acho que nós não temos nada para conversar!

 

- Como não? Nós temos um interesse em comum: nossa ruivinha!

 

- Você só pode estar ficando louco, Eduardo. - a morena estava assustada com o homem - Faz o favor de ir embora daqui e me deixar em paz!

 

- Eu não vou sair daqui enquanto a gente não conversar. - o homem falou sorrindo cínico - E acho bom que me escute, caso contrário, a Bruna pode pagar caro por isso!  

Fim do capítulo