Capítulo 1
Camboriu era uma praia de Santa Catarina onde aqueles considerados "melhores de vida" iam passar suas férias. O mar, mesmo, não era tão importante. Importava muito mais as baladas, o desfile de carro na beira-mar, os restaurantes e o desfile de corpos perfeitos na areia. Eu cresci em uma cidade do interior de São Paulo e não podia ouvir a palavra praia, que ao contrário dos outros turistas, já queria estar dentro do mar.
Naquele fim de semana, tinha sido convidada pela Bia para passar um feriado prolongado na casa de praia da família dela. Eu tinha 14 anos e não pude ir enquanto minha mãe não conversou com a mãe dela e se assegurou que eu estaria em boas mãos.
Eu conheci a Bia poucos meses antes, quando saí de São Paulo e fui transferida para um colégio em Curitiba. O colégio ficava em um bairro gastronômico da cidade que havia sido colonizado por italianos e poloneses. Alguém vindo de fora era facilmente reconhecido em uma vizinhança onde as famílias viviam ali desde que seus avós nasceram.
Trocar de escola no meio do ano letivo não foi uma das minhas maiores alegrias, primeiro porque não queria nem ter saído da minha cidade e, segundo, por que ninguém gosta de sair de perto dos seus amigos pra sentar entre um monte de gente desconhecida.
A Bia foi a primeira pessoa a falar comigo dentro da sala. A gente tinha a mesma idade, embora ela fosse um pouco mais baixa e um pouco mais rechonchuda do que eu. Seu cabelo castanho liso e sorriso sacana mostravam que estudar era a última de suas preocupações. Sentada na carteira atrás de mim, começou a me cutucar assim que o sinal bateu e todos haviam se sentado.
- Me empresta a borracha? - disse ela baixinho atrás de mim.
Rapidamente peguei a borracha em cima da minha mesa e coloquei na dela, quase sem olhar pra trás. Eu não era tímida, mas naquela situação, ainda me sentia sob pressão e não queria chamar a atenção do resto da turma.
Ela me chamou de novo:
- Qual o seu nome? - sussurrou atrás de mim.
- Júlia e o seu? - Respondi me virando para trás.
- Beatriz, mas pode me chamar de Bia.
O professor ainda não tinha chegado na sala e todos ainda conversavam alto. Ela sorriu e apresentou a menina que sentava ao lado dela.
- Essa é a Carla. - disse apontando para a menina de cabelos escuros cacheados e olhos verdes. - cumprimentei-a com a cabeça e sem saber o que falar me virei lentamente para frente.
A professora estava entrando na sala e resolvi ficar em silêncio para não levar nenhuma chamada já no primeiro dia.
As pessoas falavam de uma maneira esquisita na cidade , principalmente, nesse bairro. Parecia que cantavam enquanto falavam, mas lógico que, para eles, quem era a estranha era eu. A professora comunicou aos outros alunos que eu era uma nova aluna (como se todos já não tivessem percebido) e me perguntou de onde eu tinha vindo.
- Oi, vim de São Paulo. - respondi sem dar muita explicação. Senti meu sangue subir para o rosto quando todos me olharam. Peguei uma caneta e comecei a a movê-la entre meus dedos, tentando ignorar os olhares.
Não demorou muito tempo já havia me entrosado com a Bia e com a Cá (como ela disse que preferia ser chamada) e todos os intervalos íamos juntas para a cantina da escola comprar algo para comer e depois sentar no sol e tentar nos esquentar naquele sol de inverno.
Em agosto o inverno ainda não tinha acabado, mas as temperaturas já não estavam abaixo de zero, o que me deixava muito feliz.
Sair de casa vendo a geada na grama enquanto caminhava sozinha até a escola era deprimente. Ainda não tinha me acostumado àquela cidade. Queria São Paulo de volta, queria meus amigos de volta, mas sabia que não seria possível. Minha única saída era escrever pra quem tinha ficado e se acostumar ao novo clima.
Nessa idade, éramos movidos por hormônios e a escola mais parecia um centro de encontros e desencontros para meninos e meninas eufóricos, descobrindo o mundo, do que um lugar para estudar.
Logo nos primeiros meses comecei um namorinho com o Heitor, um menino da mesma sala, e que embora o nome não fosse comum, era um típico descendente italiano da região. Alto e magro, com seus cabelos claros e olhos azuis era exatamente o tipo de menino que achava bonito e quase não via em São Paulo. Depois, descobri que o que mais tinha nessa cidade eram pessoas loiras e de olhos claros. Mas voltando ao Heitor, ele tinha dois amigos, o Juarez e o Jair que começaram a namorar a Bia e a Cá, respectivamente. O namoro era algo um pouco sem graça. Andávamos de mãos dadas depois da aula ou fazíamos reunião na casa de alguém e assim podíamos nos beijar. Confesso que beijar não era algo muito emocionante, acho que o fazia mais porque tinha que fazer, sei lá, fazia parte daquele momento: namorar, beijar e fazer festa na casa dos amigos. Acho que era auto-afirmação, mas é claro que não pensava assim na época.
No final de outubro, o inverno já havia acabado e o feriado de finados era uma ótima chance para fugir para a praia. Assim, a Bia resolveu que eu devia ir junto com ela e com seus pais ficar no apartamento da Tia Helena.
Fim do capítulo
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