Muitos corriam e gritavam em um lugar de aparência enevoada e eu só conseguia ver seus pés se movendo em meio à luz que turvava minha visão. Eu também corria, e meus músculos jamais se cansavam, não importava o quanto eu me esforçasse. Meu fôlego nunca faltava. Eu gritei, minha voz esgueirou-se em um sussurro inaudível. Meus olhos se arregalaram e eu envolvi minha garganta com duas mãos. Olhei à minha volta novamente e ela me estendia a mãos com um sorriso tão bonito que me fez perder o ar.

Como  se já conhecesse toda aquela estrada cheia de pessoas apressadas, suas mãos estavam estendidas e falava palavras motivacionais. Por mais próximas que estivéssemos, meus dedos nunca tocavam os dela, ainda que eu me esticasse em minha corrida.

Tudo ao redor escureceu como se o dia tivesse apagado suas luzes subitamente, e o cansaço me consumiu, abruptamente. O ar evanesceu em meus pulmões, e mais uma vez meus dedos pressionaram minha garganta. Mais uma vez tentei gritar. Mais uma vez sussurros imperceptíveis. Eu friccionei os dedos na pele, e entreabri os lábios, sugando o ar. Não parecia suficiente, e minha pele fria e molhada de suor me acolheu numa tortura forte.

Já afastada de mim, Mariana corria em câmera lenta, e às vezes olhava para trás. Ela ainda sorria e falava para que eu continuasse a correr, mas minhas pernas pesavam com cargas sobrenaturais. Sentia como se a estrada estivesse sendo puxada para trás, e quisesse me engolir. Quando olhei ao redor, captei uma vórtice  feroz , que engolia tudo quando se aproximava. Meu semblante aterrorizado pela visão voltou a fitar Mariana e eu gritei por ela. Quando ela olhou para trás já não sorria.

Um ruído começou a se fazer presente, até que vi Mariana desaparecer, lentamente, no fim da estrada. Ela ainda estendia a mão pra mim e sua voz gritava:

- Amanda !

- Amanda!

- não ( e naquele momento eu sentir a garganta arranhar e meus olhos se abriram)

Jenifer me olhava com uma sobrancelha arqueada  e eu passei a mão pelo rosto  suada, ela sorriu de lado  e deu uma batida leve no travesseiro. Ela tinha dormido lá em casa, pois hoje seria o dia das voltas as aulas e eu seria a garota nova no meio do ano, não tão nova metade das minhas amigas do balé estudava lá, incluído minha melhor amiga que ali me analisava com um sorriso jocoso.

-Pesadelos ? (perguntou-me divertida. Eu vi em seus olhos que ela estava prestes a fazer alguma piada, e me contive a assentir em silencio, sentando-me na cama  e esfregando os olhos, meu baby dool  do Batman estava empapada de suor )

-você estava gritando : Mari! Mari! ( ela  continuou teatralmente  e riu, eu franzi os lábios e olhei o relógio faltava 10 minutos para nossa aula começar

-porr* Jenifer, enquanto você me deixava nessa agonia   de sonho só pra rir de mim depois, a hora estava  passando  ( falei com mal humor que considerei  péssimo, assim como meu hálito)

-há claro te ouvir estava muito mais divertido do que te acordar, sem falar que estamos de motorista particular hoje, nada de busão, então relaxa. ( ela continuou a rir, enquanto eu corria até o banheiro.

-como assim motorista ? mamãe ainda não foi trabalhar ?

-Mari me salva por favor, me ajude mariiii (percebi que ela desviou da minha pergunta, sua risada corria pelo quarto.

-então estaca sonhando com o que? ( ela continuou)

-Com my little Pony, agora me explica essa de motorista. ( gritei do banheiro. Ela riu alto e eu rodei os olhos, enquanto tirava minha roupa  e entrava no chuveiro , sentindo a água fria relaxar minha pele.

-Mariana agora é my little pony? ( resmunguei com sua chatice , ela viu que não ia falar nada e continuou )

-então sua mãe disse que sua prima vai levar a gente para o colégio

Sai do banheiro já arrumada de uniforme e com um sorriso no rosto,  encontrei minha amiga já devidamente arrumada também,  escutamos uma buzina e eu   ainda com o sorriso no rosto sai pra ver quem era e lá embaixo estava o carro branco de Melissa, fechei a cara peguei a minha mochila e so conseguia escutar as piadas de Jenifer atrás.

O tempo naquele carro parecia não passar, o humor de Melissa estava péssimo e pareceu piorar com Jenifer me humilhando contando do meu sonho, eu sei muito bem que ela fez aquilo para perturbar a pobre da Melissa, confesso que todas as vezes que via ela apertando o volante e o maxilar me dava vontade de abrir um sorriso vitoriosa, pois apesar dos olhos dela não parecer se importar seu corpo dizia outra coisa, o caminho todo ele foi em silencio,  e jenifer tagarelando,  durante a minha observação vi o quão linda é estava, toda de branca e com seu salto perto de uma marca cara que eu não sei pronunciar, olhei para meus pés, eu calçava meu velho all star  preto sujo de alguma inscrição a caneta, eu os batia insistentemente contra o chão do carro. Olhei para o retrovisor, 7 minutos atrasada para o primeiro dia de aula , quando senti o carro parar, meus olhos encontraram os de melissa , e nada ali se via de sentimentos, ódio, felicidade, .. nada. Aquilo me incomodava, ajeitei minha  tiara  de perolas  pois alguns fios rebelde insistia em cair no rosto.

-valeu por me dar carona (deixei um sorriso se espalhar por meu rosto e ela sorriu de lado

-boa aula pra você. ( em um impulso beijei seu rosto,  eu tinha uma necessidade muito grande de querer que melissa se sentisse bem perto de mim,  e acredito que seja por eu sentir pena dela.

Ficamos mudas nos olhando, ate que jenifer se manifestou

-bom vamos né a aula já pode ter começado.

Saímos do carro e minha prima sumiu .

-o que foi aquilo? ( indagou minha amiga)

-um agradecimento. (fechei a cara e ela respeitou meu pedido mudo)

O sinal ainda não tinha tocado, e eu me convenci disso porque a maioria dos alunos fardados com os shorts saias laranja e camisa branca com o brasão da escola caminhavam pelos jardins, do lado de fora da escola. Inspirei fundo e vi duas meninas acenarem pra mim, mas olhavam além. Estreitei os olhos e meneei a cabeça um pouco, fitando os dois lados da rua, me aproximando de  Lucia e Vanessa que ainda olhavam o carro que se afastavam .

-olha ela pode ate ser linda , mas vocês exageram nesse fanatismo pela Melissa. ( jenifer disse e eu esbugalhei os olhos sei entender nada, e ela me lançou um olhar  que entendi que depois ela me explicava tudo)

-o que? Fala serio jenifer ( Vanessa nos olhou como se tivesse saído de um transe profundo, e suspirou profundamente, como se as palavras de jenifer fosse um ultraje para a raça humana.

-hum, vocês exageram sim, principalmente você lu. (comentou apontando para nossa amiga, ela estreitou os olhos em minha direção e balançou a cabeça.

-nada disso só acho ela bonita, e van que quer porque quer pegar ela.  ( engoli em seco,  meu estomago revirou, me incomodei com essa possibilidade)

-Quero mesmo não vou mentir, desculpa Amanda, mas gente Melissa é tão sexy e misteriosa, não é que nem a irmã safada que da encima de todo mundo. (Vanessa retrucou e eu rir para disfarçar e me perguntei quando seá que Mariana partiu seu coração.

- o que  estou falando a verdade , não estou? (Vanessa continuou e apontou o dedo para mim)

-você não pode falar nada que vive em função da sua prima Mariana (todos ali ficaram mudas até eu,  Vanessa era a única dali que não sabia da missa a metade.)

-é totalmente diferente Vanessa ( respondi, arqueando uma sobrancelha  e cruzando os braços abaixo do colo, ela riu e me desafiou com seu tom sempre impetuoso de se comportar

-me fala em que é diferente?

-em tudo e vamos parar de falar das minhas primas, quero ouvir as historias boas desse colégio ( mudei de assunto, não queria começar o dias falando dos meus tormentos.) 

Fim do capítulo