Notas iniciais:
O nome do capítulo é grande, eu sei, mas nem tudo é breve.
Pretendo escrever bastante nessa primeira semana, mas o plano inicial era publicar duas vezes por semana.
Um dia que tinha tudo para dar errado - Parte I
POR GABRIELA
Hoje foi um dia daqueles que começou estressante, quase liguei no PROCON pra fazer reclamação e pedir o ressarcimento do valor investido, não um novo produto porque esse início de dia foi muito complicado, mas eu acho que isso se deu pelo fato de ter perdido cerca de 2 preciosas horas de sono.
Fui acordada pela minha assistente(posso chamar ela de melhor amiga sem problema algum, desde que seja fora da empresa e em casa, porque nós moramos juntas) numa ligação desesperada às 7:15hs dizendo que estava chegando na empresa e recebeu um e-mail da nossa diretora geral(outra amiga queridíssima, mas essa, de trabalho) solicitando minha presença e palavra numa reunião hoje às 15hs dizendo que não aceitaria desculpa alguma como resposta porque era para apresentar os resultados do plano de trabalho que nós duas projetamos para as filiais da América Latina, que nos fez sair da crise bancária que estávamos prestes a enfrentar, o apoio, voz e intelecto dela foram essenciais para que eu tivesse auxílio para dar corpo ao meu plano que poderia resultar na minha demissão, mas funcionou e o plano era simples: por à prova a união de nossos setores internos para lidar com problemas reais de uma forma flexível e com inovações para nosso mercado atuante. Ok, não é tão simples assim, mas preciso admitir que se não fosse ela e, segundo ela, minha mente que pensa lá na frente e em todos ao meu redor, nós não teríamos passado esses três anos tão bem e encabeçando o ranking de empresas do ramo da comunicação no Brasil. Depois disso meu salário, sala e principalmente responsabilidades aumentaram consideravelmente, numa oportunidade única de promoção eu me tornei a mais nova diretora da área de comunicação e projetos em meu auge dos 24 anos. Depois dessa explicação inteira e continuando as ações, eu me levantei antes do despertados das 9hs e me arrumei depressa e com atenção aos detalhes(sou libriana com ascendente em virgem, caso interesse).
Corri de um lado ao outro da república procurando as chaves do meu carro, bati na porta do quarto da Thais( uma das 8 meninas da casa e a mais atrapalhada de todas) para me dizer onde ela tinha colocado as chaves já tendo em mente que ela tinha pego para levar alguma mulher para casa, mas não ouvi nenhum sinal de vida dela lá dentro e quando olhei pela janela, nem sinal do meu lindo carro preto na vaga onde deveria estar. Saí pisando forte até a rua da guarita do condomínio e tinha duas opções: ou eu ia para o Ana Rosa e pegaria o metrô com uma mochila de rodinhas, um tubo de projetos num braço e na mão desocupada um pão de queijo ou pediria o famoso novo amigo "uber". A segunda opção foi mais atraente e eu não resisti a seus encantos.
Chegando na empresa 8 minutos muito apressados depois, a assistente a qual me referi mais cedo, Flávia, já me esperava na porta com o valor da corrida e preparada para me ajudar. Já no elevador, nos cumprimentamos e eu dei um abraço sonolento nela, reclamando da Thais e suas peripécias, depois rimos e ela me ajudou levar umas caixas de documentos que precisava para minha sala.
Fui buscar uma xícara de café tendo a ideia de criar um posto desse combustível maravilhoso nos mais variados sabores e combinações, mas lembrei que isso já existe e se chama cafeteria, como todos nós sabemos. Ri com esse pensamento bobo e notei que do outro lado da copa, duas estagiárias novas conversavam me olhando discretamente, não tinha tempo para retribuir os olhares naquela hora mas falei um bom dia animado e deixei um aperto de mão firme em cada uma, me apresentando e deixando claro que estaria a dispor na minha sala se precisassem de ajuda ou não entendessem o porquê de uma diretora careca e da idade delas, nós rimos e eu segui a passos curtos e rápidos para a sala.
Passei a manhã inteira trabalhando na apresentação das 15hs e por ser sexta-feira todos sairiam às 17hs, eu teria que ser breve e firme, sem tempo para as piadinhas de "por favor, deixem a digestão de lado, não quero ninguém dormindo nessa palestra" e resolvi acompanhar os rapazes do meu departamento até uma praça de alimentação próxima, mas quase nunca íamos almoçar juntos pois sou vegetariana e eles adoram uma churrascaria na sexta. Ia calma e com as mãos para trás do corpo rindo de alguma situação que um dos meninos contavam quando fomos virar a esquina e eu bati em alguém, me desequilibrei e tive que buscar apoio no muro do prédio.
-Me desculpe!!! Não tinha visto que alguém vinha, estava no celular- quando olhei em direção da voz vislumbrei uma mulher de tirar o fôlego: morena com os cabelos até a cintura, num vestido até os joelhos e de gola alternando com as mangas curtas, olhos cor de mel, lábios levemente rosados, tatuagem no antebraço que me segurou no ombro guiando nossos olhares.
-Não se preocupe! As calçadas de São Paulo que precisam de sinalização de trânsito.
Nós duas e os rapazes caímos em uma risada harmoniosa até que ela voltou o olhar para o meu, que até então estava pousado em seu pescoço.
-O que você acha de almoçar comigo para compensar esse acidente de trânsito?
-Ih! Cuidado com a Gabi, viu? Ela tem sido nossa macha alpha desde que raspou o cabelo e esqueceu a maquiagem em casa, ela é um perigo para a sociedade feminina- o dono desse comentário estúpido foi o Pedro, ele está na empresa há mais de 15 anos, no mesmo cargo e não precisamos deixar claro que se dependesse de muitos lá dentro, não estaria mais lá, ele não tinha filtro algum em relação ao que dizer e quando dizer, um sem noção.
-Maquiagem nenhuma mede o nível de feminilidade de uma mulher, me desculpe, qual seu nome?
-Pedro, senhorita, prazer- ele tentou tocar a mão dela, que se esquivou.
-Então, senhor Pedro, posso ver que pela sua idade e pela aliança em seu dedo, é casado, correto?
-Sim,há 39 anos sou casado mas não entendi onde quer chegar.
-Sr. Pedro, todos esses anos convívio com sua esposa, com todo o meu respeito à ela, o sr. não aprendeu a respeitar uma mulher, percebe? Ainda deve pensar que mulher tem que maquiar-se para ser mulher, que feminilidade é esperá-lo em casa, mas não é isso- à essa altura todos prestavam atenção no puxão de orelha merecido que aquela completa desconhecida dava em nosso indesejado colega de trabalho que se metia no meio de todos os grupos de almoço.
O silêncio se fez presente nesse momento e os meninos do meu departamento- não, Pedro não é do nosso departamento- se desculparam comigo e com a senhorita e eu aceitei seu convite para o almoço de desculpas.
Nossa energia deu certo logo de cara, ela era uma mulher mais velha que eu e se chamava Vitória, tinha uma filha de 3 anos e não encontrei alianças presentes ali, não que isso fosse meu foco, mas eu sempre noto esse tipo de coisa no automático. O almoço foi ótimo, a companhia excelente e trocamos telefones porque em algum momento do almoço eu acabei falando que estava sem carro e como a Vitória trabalhava no prédio ao lado do meu( ser divino que me ouve aí de cima, como eu nunca esbarrei nessa mulher em três anos???), talvez ela me desse uma carona para casa, já que a dela ficava também próxima da minha. Nos despedimos com um aperto de mãos e um beijo no rosto, acenamos antes de entrarmos cada uma em seu prédio.
Durante a tarde eu me prepararei para a reunião e como sempre, o nervosismo me fazia ficar mais engraçada e falante, foi isso e o planejamento dessa apresentação que já vinha sendo feito, que tornou essa, sem dúvidas, uma das mais importantes palestras de minha vida. Cheguei mais cedo e me aloquei em minha cadeira repassando a apresentação no telão e na cabeça enquanto só a Flavinha me assistia e morria de rir, mas depois de alguns minutos todo aquele salão de convenções foi ocupado por ternos e blasers e vestidos e camisetas, outros telões se abriram exibindo fotos de nossa base estrutural: nossos funcionários.
Tudo deu muito certo na apresentação, fomos breves ao tratar de alguns assuntos, tivemos um bufê em comemoração a todos presentes e nossa diretora geral anunciou que tinha uma surpresa e adivinhem para quem? Isso, eu mesma, euzinha. Subi ao palco cumprimentando alguns conhecidos pelo caminho e recebi uma singela homenagem e o apelido de "super-heroína 2" porque a nomenclatura seguida pelo número 1 com certeza eu deixaria para Carmen, nossa querida diretora geral. Recebi uma plaquinha com um escudo e uma frase que eu sempre dizia quando alguém queria desistir nesse caminho que percorremos "ou vamos juntos, ou paramos todos!". Foi tudo tão lindo e simples que me fez borrar a maquiagem.
Minutos depois me encontrava em frente ao prédio trocando mensagens com minha carona e esperançosa de que ela fosse melhor nas ruas que nas calçadas.
Fim do capítulo
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