Isabella saiu da universidade e passou a caminhar sem destino, só queria que aquela dor no peito parasse, quando encontrou um bar aberto entrou sem pensar, passava um pouco do meio dia de uma terça feira e a garota já estava começando a encher a cara, preferiu começar logo com algo pesado, pediu whisky e virou a primeira, sentiu descer queimando e pediu a garrafa, a menina ficou sentada no balcão bebendo e olhando para o nada, já sentia a  visão e os sentidos ficarem confusos, perdeu a noção do tempo, todos os pensamentos estavam na cena de alguns momentos antes. Bebia sem se dar conta do mundo, só voltou a realidade quando sentiu uma mão lhe segurando pela cintura:

_Toma esse copo com água, vai ajudar com o enjôo._ Uma voz firme lhe falou perto do ouvido.

_Isto importa para você?_ Perguntou ainda sem virar.

_Provavelmente não, estou apenas devolvendo o favor de hoje pela manhã, eu me sentia frágil e sozinha e você cuidou disso, entendeu o que eu precisava e foi perfeita em me fazer te achar insuportável.

_Não fiz um favor e se você acha isto é problema seu, mas não quero nada de volta, apenas me deixe em paz._ Isabella foi rude desta vez.

_Assim como você não me deixou sozinha, eu também não lhe deixarei.
A menina não teve tempo de reagir, Laís fez um gesto ao garçom e saiu puxando a outra pela mão.

Isabella se deixou conduzir sem saber exatamente para onde, atravessaram uma rua e logo no fim entraram num sobrado na esquina, a menina tentou absorver o máximo de detalhes possíveis, mas a quantidade de bebidas engeridas dificultava as coisas, foi sendo levada por uma escada até chegar em um enorme espaço com uma cama, mesmo com dificuldades em assimilar percebeu que só havia a cama no imenso espaço, não pensou em nada, apenas jogou-se na cama.

_Você precisa banhar para melhorar a ressaca.

_Laís para com isso, deita aqui comigo e descansa, eu só quero acordar amanhã._ Isabella falou já se entregando ao sono.

As duas adormeceram quase ao mesmo tempo, no começo Laís manteve-se o mais afastada possível, mas em algum momento do sono aproximou e enlaçou a menina num abraço apertado.

Isabella acordou sem saber onde estava ou que horas eram, sentou na cama de uma vez e sentiu o mundo girar, observou o lugar com atenção, um espaço enorme e completamente vazio, apenas havia a cama, uma janela grande coberta por cortinas pesadas deixavam apenas alguns raios de sol entrarem , a menina jogou-se novamente na cama e tentou lembrar na cama de quem havia ido parar, a última lembrança nítida era o ciúmes estampado no rosto da irmã:

_Que bom que você acordou._ Ouviu e viu Laís entrar no quarto apenas de toalha.

_Isso é demais até para mim._ Mesmo sem humor tentou fazer piada.

_Isabella você é tão engraçadinha, eu jamais iria para a cama com você.

_É claro que nós não trans*mos, se tivessemos feito você não estaria com esta cara horrível.

_A porcaria do seu celular não parou de tocar a tarde inteira._ Laís falou enquanto entrava em outra porta.

Isabella olhou para onde a outra esteve momentos antes e percebeu que havia duas portas, supôs que uma deveria ser o banheiro e a outra o closet.

Lembrou-se do que a outra falou e procurou o celular,  encontrou jogado na cama, olhou e viu as inúmeras chamadas perdidas de Carol e Ana Victoria, já imaginou que tinha a ver com ter sumido a tarde inteira.

Resolveu que ainda não estava com humor para lidar com aquele assunto então rapidamente digitou uma mensagem: "Estou ocupada, não sei se volto hoje, se a mãe perguntar inveta algo."

_As namoradas estão sentindo sua falta?_ Outra vez a voz de Laís vinha lhe interromper.

_Onde estamos?_ Isabella ignorou a pergunta da outra.

_A Julia não te ensinou que é feio responder uma pergunta com outra?

_Então estamos quites, você acabou de fazer o mesmo._ Isabella sorriu ao ver a outra revirar os olhos.

Isabella tentou levantar-se, mas ficou tonta, imediatamente sentiu mãos firme lhe segurando e fazendo sentar-se novamente, fechou os olhos esperando o mal estar passar, de repente voltou a sentir um peso enorme nas costas, lembrando-se de todos os motivos pelo qual tinha bebido daquela tarde.

_Toma um banho, eu vou fazer algo para você comer, aposto que bebeu sem comer, por isto está se sentindo tão mal._ Laís falou suavez, uma voz desconhecida até para si de tão doce._ Usa uma roupa minha, o banheiro é ali, tem uma toalha limpa e escovas novas na gaveta, vou te esperar lá embaixo.

Laís não esperou uma resposta, voôu escada abaixo indo beber água. Não se reconheceu naquele dia, para si a explicação estava na noite anterior completamente desastrosa, Luana, sua namroada, havia chamado para sair e ouvido uma recusa, Laís alegou que trabalharia cedo na manhã seguinte, a outra então lhe jogou na cara que  mais parecia ser casada com o trabalho, e tudo virou uma briga, as duas buscando fatos do passado para se magoarem e então Luana juntou tudo que tinha no apartamento da outra e foi embora, sem olhar para trás, Laís não sofreu, não amava a outra apenas tinha se acostumado a não estar mais sozinha. Quando levantou cedo foi direto tomar café na universidade, e então pareceu que o dia inteiro mudou, porque Isabella chegou e sentou-se, lhe fez companhia e lhe acompanhou, sem cobranças ou busca por respostas, apenas querendo fazer companhia.

Quando estava indo para casa viu uma cena que chamou atenção, Isabella sentada na mesa de uma bar parecendo perdida, viu ali uma chance de retribuir o que a outra tinha feito por si naquela manhã. A menina parecia tão distraída que Laís sentou-se do outro lado do balcão e sequer foi notada, ficou observando durante certo tempo e apenas quando percebeu o estado de embriaguês da outra foi que resolveu interferir, pediu ao garçon para colocar tudo em sua conta, era uma cliente antiga, levou a menina a sua casa e quando a outra jogou-se em sua cama apenas deitou-se junto, apenas cochilou, pois o som irritante do celular da outra não permitiu mais que isso.

Laís interrompeu os pensamentos quando sentiu uma presença atrás de si, virou-se para encarar Isabella, ela vestia uma de suas camisas brancas, as mangas arregaçadas até o cotovelo, o cabelo molhado e um pequeno sorriso que começava a despontar.

_Espero que não se incomode com a camisa que escolhi._ A menina falou baixo ainda na porta da cozinha, Laís apenas deu de ombros e continuou fazendo sanduiches._ Parece bom._ Isabella falou claramente se referindo a comida.

_Laura herdou todos os dotes culinários da família, então a menos que queria pedir uma pizza, vai ter que se contentar com sanduiche e suco.

_Estou meio enjoada, mas obrigado.

_Come que vai sentir melhor, você está com uma cara de ressaca horrível, você pode passar essa noite aqui se quiser.

_Desde quando você se importa?_ Isabella perguntou a encarando.

_Não me importo com você, mas sei que se você chegar em casa assim sua mãe e minha irmã vão ficar ainda mais preocupadas do que já estão. Então pare de ser mimada, você não é mais uma criança, apaixonar-se por sua cunhada não é motivo para tantas besteiras. Não se morre de coração partido, e se morrer você será culpada por muitas mortes, andou partindo muito corações ultimamente._ A menina olhou a outra sem saber o que dizer, parecia confusa por a outra perceber._ Não precisa falar, sente-se e coma.

As duas sentarem e passaram a comer em silêncio, cada uma presa em seus próprios pensamentos e sentimentos, aquilo não as incomodava, ao contrário, para as duas estar ali parecia algo bom, mesmo sem falar a companhia era boa.
Ao terminarem Laís foi para a sala, ligou a tv e se dedicou a preparar algumas aulas, Isabella curiosa passou a olhar alguns livros que estavam sobre a mesa de centro, alguns títulos lhe chamaram atenção:

_Posso?_ A menina falou apontando um livro aberto.

_Fique à vontade._ Laís não à olhou, apenas continuou o que estava fazendo.
Isabella sentou-se no chão, pegou uma folha em branco e uma caneta, enquanto lia fazia anotações, Laís parou e ficou observando a cena, a menina parecia absorta no livro.

_Porque faz anotações?_ perguntou não aguentando a curiosidade.

_São algumas coisas que tenho dúvida ou que eu gostaria de ouvir uma segunda opinião._ Respondeu ainda concentrada no que fazia.

_Traga até aqui e vamos ver se temos algo em comum.

Isabella sorriu e sentou próxima a outra no sofá, motrando as anotações que tinha e feito e explicando os motivos, as duas iniciaram uma conversa que durou até quase de manhã, tudo estava tão agradável que nem viram o tempo passar.

Fim do capítulo