Capítulo 4

Após ouvirem vários barulhos vindo da sala, Ilara e Helena ficam se encarando por alguns segundos.

Ilara estava realmente tentando entender o porquê de sua mãe continuar naquela vida.

—Mãe, o papai está quebrando todos os móveis da sala— Gustavinho abriu a porta do quarto de Ilara e depois se jogou nos braços de sua mãe. Ele estava com medo.

—Mamãe, vai resolver isso tá, Gu— Helena tentou se desfazer daquele abraço, no entanto Gustavo não queria larga-la.

—Mãe, fique aqui com a gente— Gustavo disse choroso.

Helena troca um olhar com Ilara.

—Venha, Gu, fique aqui comigo— Ilara havia entendido o que sua mãe queria dizer.

—Amor, vai ficar tudo bem— Helena acariciou o rostinho de seu filho e o mesmo se jogou nos braços de sua irmã.

Ao se levantar da cama, Helena olha para os seus filhos que estavam abraçados e em seguida houve um grito.

—Helena, cadê você?— Augusto gritou e Helena vai até a sala sentindo um aperto em seu peito.

Ilara que ficou no quarto com seu irmão, tentou de alguma forma consolá-lo, mas estava sendo algo quase impossível. Gustavo começou a chorar alto ao ouvir os seus pais discutindo na sala.

Por algumas horas naquela casa só se pôde ouvir isso, vozes exaltadas, choros e sons de objetos sendo quebrados.

Rendidos ao sono, Ilara e Gustavo adormecem só sendo acordados lá pelas 10:00 horas da noite, por sua mãe.

—Filhos, acordem para poderem jantar— Helena tocou de leve nos corpos de seus filhos.

Ilara que acordou primeiro, começou a analisar o corpo de sua mãe para poder ter certeza de que tudo estava bem com a mesma.

—Mãe, o que aconteceu?— Ilara indagou calma e Gustavinho acordou.

—Mamãe!— Gustavo pula nos braços de sua mãe.

—Nada, filha— Helena respondeu a pergunta de sua filha e depois sorriu.

***

Durante o jantar, ninguém naquela casa trocou uma palavra sequer. Todos comiam em silêncio. Era sempre assim toda vez que Augusto chegava bêbado em casa.

—Como foi o primeiro dia de aula de vocês?— Augusto quebrou aquele silêncio, que de alguma forma estava o incomodando.

—Bem, papai— Os dois irmãos responderam juntos e depois abaixaram as suas cabeças.

—Certo— Augusto voltou a mastigar os seus alimentos em silêncio.

Augusto é moreno, tem 44 anos e um dos médicos mais renomados de sua cidade. Trabalha em um hospital que pertenceu aos seus avós e agora pertence a toda família Alcântara.

Finge perante as pessoas ser o homem mais correto do mundo, mas as pessoas de sua casa sabia que ele não era um bom homem.

—Essa comida estava horrível— Augusto disse após terminar toda a refeição— Fica dentro de casa o dia todo e mesmo assim não faz nada que preste— Helena o olhou e depois abaixou a sua cabeça.

Ilara e Gustavo não disseram nada, pois conheciam muito bem o pai que tinham.

Se sentindo um pouco envergonhada, Helena se levanta e pega o prato de seu marido para poder lavá-lo.

Augusto que estava sentado a mesa fica olhando fixamente para seus filhos. Ele estava incomodado com algo.

—A minha prima Ester está voltando para cá— Augusto comunicou. Não estava gostando nem um pouco daquela novidade.

Helena ao ouvir o nome de Ester, acaba deixando o prato que estava lavando cair dentro da pia.

Ao ouvir o som do prato caindo, todos olham em direção a Helena.

—Será que não sabe fazer nada direito?—Augusto perguntou. Estava muito irritado.

Helena fica sem saber o que fazer ou falar naquele momento.

Ilara olha em direção a sua mãe tentando de alguma forma entender tudo aquilo.

—Quem é Ester, papai?— Gustavo tomou coragem e indagou.

—É uma imunda, meu filho, que não tem vergonha na cara— Augusto falou e seu filho achou melhor não dizer mais nada.

Helena sentindo suas pernas perdendo as forças, cai no chão e todos correm para socorre-la.

***

—Mãe, o que aconteceu com a senhora?—Ilara perguntou ao sua mãe despertar.

Helena fica em silêncio, olhando para todos lados. Ela estava deitada em sua cama.

—Nada minha filha... Acho que é fraqueza— Helena tocou o rosto de sua filha.

Estando ali olhando para sua filha, Helena acaba se lembrando do que seu marido havia dito. Ester estava voltando.

"Ela tem tudo em São Paulo. Por qual motivo ela estaria voltando?"— Helena se perguntou e passou a ficar desesperada. A presença de Ester ali novamente poderia lhe desestabilizar por completo.

***

Terça-Feira de manhã

Havia acabado a segunda aula quando, Milena tocou o ombro de Ilara levemente.

—Aconteceu alguma coisa?— A morena indagou.

—Não, está tudo bem— Ilara mentiu. Não estava nada bem... Se sentia cansada. Quase não havia dormido naquela noite.

—Tudo bem então— Milena resolveu não insistir ao notar a professora de matemática havia entrando.

Quando Michelle entrou na sala reparou de imediato que alguma coisa estava acontecendo com Ilara. Não conhecia a garota, mas algo dentro dela dizia que Ilara estava com algum problema.

—Bom dia, turma— Michelle colocou seus matérias sobre a mesa e se sentou na cadeira.

Durante toda a aula de matemática, Ilara não conseguiu prestar atenção em nada. Ainda estava tentando entender, o que havia acontecido com sua mãe no dia anterior.

Estava se fazendo várias perguntas mentalmente e uma delas era. "Quem era Ester?" Nunca havia ouvido falar dessa prima de seu pai. O que ela havia feito a sua mãe para poder deixa-la tão abalada?

No meio de toda aquela confusão, Ilara acabou nem percebendo todos saindo para o intervalo só restando ela e sua professora na sala.

Vendo Ilara ali sentada em sua cadeira, cabisbaixa, Michelle se aproxima da garota se sentando na cadeira que ficava defronte para a mesma.

—Algum problema com você, Ilara?—Michelle indagou e Ilara a olhou nos olhos. Isso lhe causou uma sensação estranha. Uma vontade de proteger aquela garota.

Ilara sentindo aqueles olhos castanhos sobre ela, acaba ficando envergonhada.

—Não, professora, não aconteceu nada— Ilara se levantou da cadeira de imediato e tentou sair daquela sala as presas, mas foi impedia pela sua professora que acabou segurando o seu braço.

Nem Michelle e nem Ilara estavam entendendo o que estava acontecendo naquele momento.

—Não é bom ficarmos guardando as coisas, Ilara—Michelle falou, soltou o braço de Ilara, que saiu quase correndo daquela sala.

Fim do capítulo