- Bom dia! Jeannine, hoje quero te apresentar a Vitória.

 

A criança olhou com curiosidade, mas não se aproximou. Lay ficou observando, enquanto Vitória levantou e com cautela foi se aproximando. Abaixou e sentou no chão próximo da menina.

 

- Oi (disse Vitória).

 

Sem obter nenhuma resposta, ela tentou novamente.

 

- Oi, Jeannine, vim te conhecer.

 

- Quem é você? (a menina perguntou desconfiada e mostrando irritabilidade).

 

- Meu nome é Vitória (falou emocionada).

 

- E o que você quer? (perguntou incomodada).

 

- Jeannine, seja boazinha e converse direito (interviu a assistente social que estava sentada ao lado de Lay).

 

- Tudo bem, pode deixar (Vitória respondeu tranquilamente).

 

Jeannine continuou olhando para ela e de repente parecia que só elas duas estavam ali.

 

- Eu quero te conhecer, vim para te ver.

 

- Posso pegar no seu cabelo? (pediu chegando perto da ruiva).

 

- Claro (respondeu toda feliz).

 

Vitória abaixou a cabeça e a criança começou a bagunçar seu cabelo.

 

- Posso te cheirar?

 

- Pode sim.

 

Jeannine fungou o cabelo da ruiva.

 

- Você é cheirosa.

 

- Obrigada e você é linda!

 

- Como que você chama?

 

- Vitória.

 

- Repete!

 

- Vitória.

 

- Você sabe brincar?

 

- Sei sim e você?

 

- Claro que sei.

 

- Gosta de boneca?

 

- Gosto e você?

 

- Eu também.

 

- Quer ver meu dodói?

 

- Só se você quiser me mostrar.

 

- Eu tenho um monte, olha! (falou mostrando as marcas na bochecha do lado direito, na testa e pescoço).

 

- Dói?

 

- Não.

 

- Foi o fogo (contou entristecida).

 

- Já passou e eu gostei da cor do seu vestido (falou tentando mudar de assunto).

 

- É feia (falou olhando para o vestido verde).

 

- Por quê?

 

- Não é cor de menina.

 

- E qual é a cor de menina? (neste instante Jeannine sentou no colo da ruiva).

 

- Rosa e vermelho.

 

- Entendi. Seu nome é muito bonito.

 

- O seu também, é igual de quem ganha né

 

- Isso mesmo (falou sorrindo).

 

- Eu quero ir brincar e depois vou comer (falou levantando e se afastando).

 

- Jeannine, gostei muito de você (Vitória falou demonstrando felicidade).

 

- Vitória, você volta? (a criança perguntou olhando com atenção).

 

- Sim! Eu vou voltar (afirmou).

 

- Tchau (falou saindo do ambiente).

 

Pela primeira vez Lay se movimentou, levantou da cadeira e foi até o lado de Vitória, ajudando-a a levantar.

 

- Ela nunca fez isso com ninguém, nunca perguntou se a pessoa voltaria e ela gostou do seu cabelo, até foi no seu colo.

 

- Eu posso usar o banheiro?

 

- Claro, vou te mostrar onde fica.

 

Depois de usar o banheiro para lavar o rosto, Vitória se acalmou e voltou ao encontro de Lay.

 

- Vitória, notei que você não rejeitou a Jeannine, o que você achou? Tem interesse?

 

- Eu quero adotá-la (respondeu decidida e sem titubear).

 

- Tem certeza? Não quer aguardar alguns dias, até se decidir?

 

- Senhora, nunca tive tanta certeza na minha vida. Como devo proceder?

 

- É importante fazer uma adaptação, venha para as visitas e vamos combinar algumas datas para que você possa levar a Jeannine para conhecer a sua casa. Pode ser?

 

- Claro! Amanhã eu posso voltar no mesmo horário?

 

- Não. As visitas periódicas são no final da tarde. Você consegue comparecer?

 

- Sim. O que mais devo fazer?

 

- Um responsável vai avaliar o seu envolvimento com a criança, além da sua aptidão. Dentro de alguns dias você será informada se poderá ficar definitivamente com ela ou não. Na primeira instância ocorre a guarda provisória. Mais para frente um psicólogo e uma assistente social, fazem a aprovação e pedido de adoção que futuramente é encaminhado ao juiz para assinatura e liberação. A última fase é o novo registro no cartório com a inclusão dos seus dados.

 

- Ótimo!

 

- Alguma dúvida?

 

- Nenhuma. Até amanhã!

 

Elas deixaram o abrigo em silêncio. Dentro do carro Vitória pediu.

 

- Lay, coloca uma música bem alta, por favor! Preciso relaxar.

 

Ouvindo músicas em alto volume Vitória chorou muito.

Quando chegaram, Vitória foi direto para o banheiro, precisava tomar um bom banho e Lay ficou aguardando por ela sentada na cama no quarto. Depois de uns vinte minutos a ruiva saiu do banheiro e deitou na cama.

 

- Amor, quando você quiser conversar estou aqui.

 

- Lay, obrigada! Você pode me fazer um chá, por favor!

 

- Claro!

 

A morena fez um chá para as duas, tudo aquilo também estava deixando-a nervosa. Elas tomaram todo o líquido em silêncio.

 

- Lay, você acha que ela gostou de mim?

 

- Sim!

 

- Desculpe pelo descontrole, são muitas emoções.

 

- Não se desculpe, eu entendo. Quer uma massagem?

 

- Seria excelente.

 

Layza fez massagem em todo o corpo da namorada, deixando a mesma bem relaxada.

 

- Anjo, você me acompanha nas visitas?

 

- Claro!

 

- Estou muito feliz.

 

- Que bom! Vi, eu ainda não decorei o nome dela.

 

- Jeannine.

 

- Diferente e bonito.

 

- Sim, muito e ela é linda.

 

- Você sabe por que ela tem aqueles hematomas? Consegue falar sobre isso?

 

- A assistente social me contou, ela tem uma história de vida complicada e algumas cicatrizes pelo corpo. Com apenas três anos de vida ela perdeu a mãe, que foi usuária de drogas, as duas moravam num barraco que foi incendiado.

 

- Meu Deus! São marcas de queimaduras. Ela deve ter sofrido muito, por isso que ela te contou que foi o fogo.

 

- Deve ter sido terrível e passou por cirurgias. Ficou um ano no hospital e agora não corre mais riscos. Você acredita que outras pessoas a rejeitaram?

 

- Meu amor, que história, nem sei o que te dizer.

 

- Eu a quero como filha, tenho condições para oferecer tudo que ela precisa e sou pediatra, serei uma boa mãe para ela.

 

- Não tenho dúvida nenhuma disso e te admiro muito.

 

- Lay, ela gosta de bonecas.

 

- Sim! E das cores rosa e vermelho.

 

- Você prestou atenção (falou sorrindo).

 

- Sim, fiquei muito atenta.

 

- Obrigada!

 

- Vi, você sabe que não será nada fácil?

 

- Sim, eu sei e já estou acostumada a enfrentar a vida com todas as minhas forças e acho que por isso que continuo viva.

 

- Jeannine, falei certo?

 

- Sim!

 

- Então a Jeannine, não é muito sociável.

 

- Eu percebi e a assistente social me contou que ela é tímida e um pouco complicada.

 

- Não achei ela nada tímida, sinceramente ela é agressiva e um tanto arisca.

 

- Soube também que ela é geniosa.

 

- Também notei isso.

 

- Lay, não será a aparência dela e nem mesmo a personalidade forte que me farão desistir da Jeannine.

 

- Eu já entendi.

 

- Obrigada por me compreender.

 

- Nós precisamos almoçar.

 

- Vamos comer fora? Preciso andar um pouco, espairecer.

 

- Sim, vamos ao shopping, almoçamos e compramos uma boneca. Ok?

 

- Fechado e ela também precisa de um vestido de menina.

 

As duas almoçaram na praça de alimentação. Depois compraram duas bonecas e três vestidos. À noite visitaram Luiz e contaram todas as novidades.

 

- Então eu vou ser tio, mano que ótima notícia (comemorou).

 

- Vai sim (Vitória concordou feliz).

 

- Vocês são rápidas hein.

 

- Nem tanto, demoramos até nos acertarmos e teve até um intercâmbio no meio do percurso (lembrou Lay).

 

- Cunhado, estou há anos na fila de adoção, não sei se a Lay te falou, mas sou infértil e sempre sonhei em ser mãe (revelou).

 

- Não ela nada disse e estou muito feliz por vocês. Vitória vai dar tudo certo.

 

- Estou que não me aguento de felicidade.

 

- Mano, eu vou ser tio!

 

- Louco precisa gritar? (falou Lay).

 

- Lay, me deixa estou animado. Você já contou para os nossos pais? Eles vão adorar!

 

- Ei calma, devagar, vamos esperar mais um pouco.

 

- Ruiva quando que eu vou conhecer minha sobrinha?

 

- Espero que seja em breve (Vitória respondeu sorridente).

 

- Ei, mano se controle e nada de abrir a boca para os velhos. Temos que ter calma.

 

- Pode deixar! Vitória você vai me deixar passear com ela? Nossa tenho que contar para a Mieko.

 

- Lu, chega! Te controla! Vi, vamos para casa, você precisa descansar.

 

- Não! Ainda é cedo, me conta mais sobre a minha sobrinha.

 

Vitória narrou tudo e Luiz já estava todo encantado. Implorou para acompanha-la em uma das visitas, porém Lay não deixou, pediu paciência para o irmão. Depois de conversarem bastante foram para casa.

 

- Lay, eu não imaginava que o Luiz fosse gostar tanto (Vitória comentou).

 

- Nem eu, mas ele sempre gostou de crianças, tem bastante paciência.

 

- Já estou louca para ver a Jeannine amanhã.

 

- Tenha calma e não crie muitas expectativas.

 

- Impossível.

 

- Eu acho melhor você levar só uma boneca, deixe a outra para entregar quando ela vier te visitar.

 

- Boa ideia! Vou levar a de vestido rosa e só duas roupas.

 

- Amanhã vou trabalhar e saio mais cedo para te acompanhar.

 

- Farei o mesmo e não atenderei mais até o final do expediente.

 

- Então vamos dormir, pois amanhã temos que trabalhar e no final da tarde você vai brincar de boneca.

 

- É tão bom contar contigo neste momento importante da minha vida.

 

Elas demoraram a adormecer, estavam muito animadas com o dia emocionante que tiveram.

 

 

“Adoção é um amor que foi escolhido, que foi destinado e realizado. Resumindo: adoção é um amor sem fim! Mãe não é quem gera. Mãe é quem cria, dá amor, carinho e cuidado”.

 

 

 

Fim do capítulo