Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 37

Daniela respirou fundo e acompanhada de Matias e Lavínia, cruzou o chão de mármore, até a recepção. Parou diante da recepcionista, que a fitou com curiosidade.

-- Senhor Matias? Senhorita Lavínia? O que querem aqui? -- perguntou olhando a sua volta -- Sinto muito, mas a entrada de vocês no prédio está proibida -- levou a mão até o telefone -- Vou chamar os seguranças.

Daniela abriu caminho entre os dois e encostou-se ao balcão.

-- Se você completar essa ligação, depois que eu assumir a presidência, a minha primeira assinatura será em sua carta de demissão.

A recepcionista estancou de imediato.

-- Quem é a senhorita?

-- Essa é a senhorita Daniela Pauly, minha irmã e legitima herdeira dos Vargas. Ela está aqui para assumir a presidência da empresa -- Matias encheu o peito para falar -- Então? Podemos entrar?

A moça ficou olhando para ela durante um bom tempo, até que finalmente resolveu por simples garantia manter o seu emprego. Vai que a história deles fosse verdade.

-- Sim senhor, Matias -- respondeu solene mudando o discurso.

-- Muito bom! -- Daniela falou de forma serena, colocando a mão em cima da bancada da recepção -- O índice de desemprego está muito alto.

-- Vamos Daniela. Os diretores já devem estar reunidos -- Matias indicou o caminho para ela.

Daniela caminhava pelo longo corredor e com a cabeça erguida, olhando à frente, para uma enorme porta, que se aproximava dela com cada passo que dava.

Passou por um setor e todos pararam seus afazeres para vê-la passar. Algumas pessoas cochichavam e a olhavam admirados.

Seus cabelos loiros platinados e os belos olhos verdes chamavam muito a atenção, isso sem mencionar o corpo esbelto e bem-feito. A aparência foi a sua primeira vitória, restava agora mostrar o seu lado profissional.

-- Você é a princesinha dos Vargas, meu amor -- Matias sussurrou -- Depois que sair daquela sala de reunião, você será uma das mulheres mais poderosas do Brasil.

Daniela olhou-o nos olhos de um jeito suave, mas, ao mesmo tempo, intenso. Se tinha alguma esperança de ser bem-sucedida, deveria estar calma, confiante e equilibrada. Estava ali para assumir o que era seu por direito e não para mendigar favores.

Com esse pensamento parou diante da porta da sala de reunião.

-- Pronta? -- perguntou Matias.

Antes de responder, Daniela beijou a aliança de compromisso que estava usando.

-- Prontíssima!

-- Inferno! -- quanto mais Pedro tentava sair com o carro, mais ele atolava. As rodas, giravam em falso, jogando lama para todos os lados - Droga! Quanto mais acelero mais aprofundo o buraco.

Pedro desistiu, saiu do carro e deu um chute no pneu. Estava extremamente nervoso. A recepcionista havia telefonado informando o que estava acontecendo na empresa. Precisava sair dali urgentemente e acabar com todo o circo montado por Daniela, Pedro e companhia. Pedro bufou de raiva, pegou o celular do bolso e ligou para o homem grisalho.

-- Jorge, preciso que venha me ajudar -- encostou-se no carro, tentando pensar numa saída rápida -- O carro ficou atolado na lama. Venha o mais rápido que puder. Ah, e traga algumas roupas para mim. Sujei as minhas de lama.

Pedro percebeu enfim que não era um joguinho qualquer que estava travando com Daniela, era um duelo de sangue no velho estilo.

-- É, tenho que dar a mão a palmatória. Ela sabe como infernizar a vida de uma pessoa. Não nega o sangue que corre nas veias. Você não perde por esperar, maninha -- dito isto, cuspiu no chão.

Jorge desligou o celular e guardou no bolso traseiro da calça.

-- Que cara chato! -- passou a mão pelo cabelo, deixando-o despenteado.

-- O que foi agora? -- perguntou o mais novo.

-- O babaca não consegue fazer nada sozinho. Agora atolou o carro na lama. Precisa de ajuda e roupas limpas.

-- Vai fazer o que?

-- Vou até lá -- entrou no quarto e pegou algumas peças de roupas -- Fica aí e não dá bobeira.

-- Deixa comigo.

Jorge colocou o boné e saiu porta afora.

Ao abrir a porta depararam-se com a sala cheia de profissionais de terno sentados em volta de uma mesa enorme. Havia pastas de arquivos abertas em frente a eles, mas não olhavam para elas, o foco de todas as atenções era ela: A filha de Luiz Carlos Vargas.

Houve um momento de silêncio. Então:

-- Bom dia! -- não havia nenhum traço de emoção no rosto dela -- Obrigada pela presença de todos.

Ela sentou-se na ponta da mesa e recostou-se na cadeira preta, de couro. Lutava bravamente para manter-se calma. Descansou uma das mãos em cima da mesa e a outra repousou no braço da cadeira.

Olhos curiosos a inspecionavam.

Um homem vestido elegantemente ficou de pé e se apresentou para ela.

-- Senhorita Daniela, sou Diogo Pires, advogado da empresa e agora seu advogado também. O Matias solicitou os meus serviços e eu não recusaria nunca -- sorriu -- Como conversamos ontem por telefone, esses senhores aqui presentes são diretores nomeados pelo presidente, portanto, sem direito a contestar suas ações. Então, por favor, pode prosseguir.

-- Obrigado Diogo -- Matias agradeceu.

-- Muito prazer Diogo e obrigada por aceitar o nosso convite -- seus olhos permaneciam inexpressivos -- Por suas expressões percebo o grau de curiosidade que domina essa sala -- disse cerrando um pouco os olhos -- Estou aqui somente para assumir o meu lugar nessa empresa. Um direito que foi me dado em testamento por meu pai Luiz Carlos Vargas.

Houve, assim, um zum zum-zum que irritou Daniela.

-- Posso continuar? -- subiu o tom da voz e todos calaram - Pedi para o Matias convocar essa reunião por respeito a vocês. Seria muito desagradável se fossem pegos de surpresa, ou ficassem sabendo por outros meios. Porém, quero deixar bem claro que não me interessa se gostam ou não de mim na presidência. Eu ficarei, isso é fato consumado. Quem quiser sair com o senhor Pedro, fique à vontade.

Jorge dirigia o carro velozmente pela avenida em direção à Vargas S.A.

-- Vai mais rápido -- disse Pedro, olhando o relógio -- Aquela garota foi longe demais. Não tinha a intensão de dar cabo dela, seria óbvio demais. Aquele detetive não largaria mais do meu pé -- olhou novamente no relógio -- Mas ela está pedindo uma atitude mais drástica de minha parte.

-- Que tal um acidente, chefe? -- disse Jorge, olhando de lado para Pedro -- Acidentes acontecem. Ninguém vai desconfiar.

-- Quem sabe. Primeiro vamos ver o que vai acontecer hoje, depois decido o que fazer.

O carro parou na frente da portaria da empresa e Pedro saiu apressado.

Lavínia a observava. Finalmente, Daniela amadurecera. Atingira o auge da responsabilidade e de seus atrativos físicos. E sabia como se apresentar diante dos poderosos.

Daniela mexeu-se ligeiramente. Estava tensa, mas decidida.

-- É muito simples. A partir do momento que Diogo providenciar tudo o que a lei exige... Assumirei a presidência da empresa.

Por um segundo, silêncio total e absoluto.

-- Até sexta, tudo estará resolvido, senhorita Daniela -- disse Diogo, ligeiramente feliz.

Ouviram o violento estalo da porta e Pedro entrou num rompante.

-- Que palhaçada é essa?

Daniela, Matias e Lavínia levantaram-se rapidamente.

Pedro vestia uma simples camisa branca de malha, casaco preto, uma calça ridiculamente justa e os sapatos estavam sujos de lama.

Daniela olhava para ele como se quisesse estrangulá-lo. Com certeza ele estava vindo do cativeiro de Yasmin.

-- Estou aqui para assumir a presidência, Pedro. Não há mais nada que possa fazer para me impedir -- franziu o cenho e falou sem medo.

Pedro nunca imaginou que aquela garota matuta teria a audácia de ir até a empresa e forçar aquela situação! Havia tentado de todas as formas possíveis preservar o que era dele, mas os advogados tinham sido inúteis, imbecis! Impossível anular o testamento, lhe disseram. Seu pai prevendo o que aconteceria, protegeu-se de todas as formas. Mas ela não tinha nada que comprovasse, os documentos haviam ficado com o falecido juiz.

Pedro começou a rir. Daniela sentiu-se enojada. Aquela risada de desdém era insolente.

Vendo que todos permaneciam sérios, Pedro parou de rir. Com um olhar sombrio e maldoso, inclinou-se para a frente.

-- Nos seus sonhos, sua bastarda -- zombou -- Só sairei daqui morto.

A voz de arrogância de Pedro a forçou a ter consciência de que ele não largaria o trono assim tão fácil.

-- Você sairá sim e, farei o possível para que seja ainda hoje.

Os diretores observavam em silêncio a batalha que era travada, sem tomarem partido de nenhum dos lados.

-- Então prove que você é realmente a herdeira.

Daniela tinha uma expressão preocupada no rosto e Pedro percebeu.

-- Você não tem como provar. Não é mesmo? -- deu um sorriso vitorioso -- Claro que não tem.

Virou-se sorrindo para os diretores com o orgulho e arrogância de sempre.

-- Podem voltar para os seus nobres afazeres e esqueçam essa comédia encenada por esses três patetas. Essa falsária vai sair daqui com o rabinho entre as pernas e nunca mais se atreverá a botar os pés aqui.

Daniela, calada, ficou olhando para ele sem saber o que fazer. Sentia-se humilhada.

-- Saiam daqui! Agora! -- berrou.

-- Ela tem os documentos -- disse Diogo -- Você sabe que ela é a herdeira.

-- E você senhor Diogo, vá junto. Está demitido.

Matias deu um passo e, inesperadamente, agarrou o braço de Pedro. Ele olhou a mão de Matias e lhe encarou com ódio.

-- Caia fora daqui seu perdedor infeliz.

Matias soltou o braço do irmão lentamente. Ficou indeciso por alguns instantes. Tinha feito a barba, o cabelo estava cuidadosamente ajeitado e vestia o seu melhor terno. Tudo para aquele momento tão especial.

-- Dani... -- levantou a cabeça, mas ficou sem voz ao encarar aqueles olhos verdes tão tristes -- Voltaremos quando...

Ouviram novamente o estalo da porta.

-- Desculpe a invasão senhores -- falou a secretária de Pedro -- É que...

Bianca empurrou a mulher e entrou esbaforida, quase sem ar.

-- Estamos atrasadas?

Dia 23/12, primeiro capítulo do romance: O Jardim dos Anjos.

Convido vocês a viajarem nessa história cheia de mistérios e romances.

Para quem não acredita que anjos existem... Vou provar que sim.

Beijos.

Facebook da autora: https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5

Fim do capítulo