Capítulo 32
Entre Lambidas e mordidas -- Capítulo 32
O Doutor ergueu imediatamente a cabeça e as encarou sorridente.
-- Tem certeza, doutor? -- Daniela perguntou ainda tonta.
-- Claro! -- ele respondeu com a maior naturalidade do mundo -- Podem ter a mais absoluta certeza. Podem começar a comprar as roupinhas tudo em dobro -- disse num tom de brincadeira.
Gêmeos! Aquilo ainda lhe parecia tão irreal! Daniela deu um sorriso enorme, parecia em transe.
-- Logo que se recuperem do choque, telefonem para agendarmos a próxima consulta. O importante, agora, é que você está goz*ndo de excelente saúde; e tenho certeza de que vai ter uma gravidez perfeitamente normal -- entregou uma receita para ela -- Tome estas vitaminas, apos as refeições. É muito importante para os bebês -- orientou o médico.
-- Obrigada doutor -- Yasmin estendeu a mão -- Telefonaremos mais tarde.
-- EU NÃO ACREDITOOOO... VOU EXPLODIRRR...
Matias berrou tão alto que as pessoas dos outros carros, olharam assustadas.
-- Se você berrar novamente te jogo pela janela -- falou Bianca com as mãos tapando os ouvidos.
-- É maravilhoso mesmo, Matias -- Yasmin sorriu e bateu palmas -- Não tenho palavras para descrever a minha felicidade -- Instintivamente, ela levou a mão ao ventre, num gesto protetor. Gêmeos! Pensou emocionada -- Deus! Obrigada!
-- Eu tenho como descrever a minha felicidade -- Daniela virou a cabeça para o lado -- É só lembrar como eu estava feliz antes e, multiplicar por mil.
Yasmin olhou para ela e assentiu com a cabeça.
-- Lembro-me de um caso no interior que um gêmeo tentou se suicidar e matou o irmão por engano.
-- Isso é coisa de se falar num momento como esse, Bianca?
-- Achei interessante, Vinicius. Por isso falei. Qual o problema?
Vinte minutos depois, eles entravam na rua que levava até a fazenda de Roberta.
Daniela estava calada, e Yasmin a observava atentamente.
-- Está calada, Dani. Em que está pensando?
-- Estou preocupada com a Débora -- deu um suspiro.
Yasmin não a culpava. De um lado a alegria pela noticia dos gêmeos, pelo outro lado, o estado critico de Débora.
-- Que tal se vocês após me deixarem na fazenda fossem até o hospital dar uma força para a Roberta e visitar a Débora?
Daniela franziu as sobrancelhas, preocupada.
-- Não ficarei tranquila pensando em você sozinha na fazenda.
-- Não estarei sozinha. Pedirei para o seu Zé ficar de olho em qualquer movimento estranho.
-- Acho que você tem razão. Vamos fazer isso. Prometo não me demorar lá no hospital -- falou sorrindo e olhou para o ventre da ruiva -- Vai ser um menino e uma menina -- Daniela disse brincando com os dedos no volante.
-- Como você sabe? -- perguntou colocando as mãos sobre a barriga.
-- Intuição -- disse fazendo Yasmin rir.
-- Já pensaram nos nomes? -- perguntou Matias, parecendo extremamente curioso.
-- Ainda é cedo para isso, mas em breve conversaremos sobre esse assunto né Dani?
Daniela assentiu com a cabeça e parou o carro em frente à casinha branca.
-- Você está bem? -- Lavínia perguntou para Roberta com a maior gentileza.
-- Estou. Obrigada, amor.
-- Porque você não vai até o hotel, toma um banho demorado, se alimenta e descansa por algumas horas? Eu fico aqui aguardando noticias.
-- Não sei se é uma boa...
Subitamente, a ideia de voltar para aquele apartamento enorme e vazio a fez tremer, enquanto se recordava da última conversa que tivera com Débora. Ficar sozinha naquele apartamento, após o acidente, era algo de que estava fugindo, seria terrível demais para suportar.
Desde que os pais delas tinham morrido, deixara claro que não assumiria nenhuma obrigação fraternal. Mas logo aprendera a ver a presença de Débora e Daniela como algo bom para seu crescimento espiritual. E hoje tinha a infinita certeza de que não existia nada maior, melhor e verdadeiro que o amor dela pelas meninas. As amava como filhas.
Paula entrou na recepção do hospital e logo avistou Lavínia e Roberta conversando próximas ao bebedouro.
-- Namaste! -- abraçou a amiga rapidamente e se voltou para Roberta -- Fiquei sabendo agora através da Marjorie. Sinto muito Roberta.
Roberta pôs seu copo descartável vazio no lixeiro e se virou para encará-la.
-- Foi realmente trágico. Estou chocada até agora.
-- A Dani já sabe de tudo?
-- Já. A Roberta não teve outra saída a não ser contar -- Lavínia disse, colocando suas mãos sobre os ombros da veterinária.
-- Foi melhor assim. Agora me sinto bem mais leve. A verdade às vezes dói, mais liberta a alma -- a voz rouca de Roberta saiu tranquila.
-- Verdade -- Paula concordou.
-- Vai Roberta, não se preocupe. Desse jeito ficará doente -- Lavínia disse sinceramente preocupada com a namorada.
-- Eu não consigo entrar sozinha naquele apartamento -- se sentou em uma cadeira e cruzou suas pernas -- É assustador -- ao pensar nisso Roberta estremeceu.
-- Deixa de ser cagona -- disse Paula, enquanto enchia um copo com água -- Se quiser eu vou com você. O Deus Brahma é o senhor do universo, o deus de toda criação. Ele vai nos proteger.
Daniela guiava o carro pela rodovia em direção ao hospital.
-- Então está decidido? Você vai desistir da herança? -- Matias perguntou olhando para fora.
-- Eu sinto muito Matias, mas essa herança que Luiz Vargas me deixou é maldita. Não sou atraída pelo poder e riqueza que representa tanto para os Vargas.
-- Sou um Vargas, mana e não me sinto tão poderoso assim. Se meu pai deixou-a como herdeira, é porque ele confiou em você. O dinheiro e o poder também podem ser usados para o bem.
-- Preferia que ele não tivesse me colocado nessa situação. Será que ele já não me fez sofrer o suficiente nessa vida? A morte da minha mãe, a morte do meu pai e agora o acidente.
-- Vou respeitar a sua vontade, Dani -- Matias murmurou com um sorriso triste.
Daniela lançou-lhe um olhar cheio de ternura.
-- Matias... Obrigada!
-- De nada, maninha.
-- Entra e fica a vontade -- Roberta saiu da frente e deixou Paula entrar primeiro.
Roberta jogou a bolsa e as chaves sobre o sofá, enquanto Paula caminhava pelo apartamento olhando tudo meticulosamente.
-- Algum problema? -- perguntou achando a atitude de Paula um pouco... Estranha.
-- Não, não -- virou-se para a veterinária e coçou a cabeça -- Pode ir fazer o que precisa. Não tenha pressa -- fez um trejeito indecifrável e sentou-se no sofá -- Se quiser descansar, por mim tudo bem -- pegou o controle e ligou a TV.
-- Então tá, né -- Roberta saiu em direção ao quarto.
Paula passou todos os canais e, depois, apagou a televisão com irritação, levantou-se e voltou a caminhar pelo apartamento. Pegou um porta-retratos na mão e ficou olhando por um longo tempo.
-- Então essa é a Débora... Caramba... Você é linda hein, mulher?
Paula ouviu o barulho do que, sem dúvida, devia ser um vidro caindo.
-- Roberta? Roberta? É você?
Paula caminhando de forma cautelosa abriu a porta de um quarto e colocou a cabeça para dentro.
-- Roberta, você está aí?
Sentiu um perfume maravilhoso. Não era forte ou dominador. Não, era suave ou doce. Era uma mistura de tudo isso. Era embriagante.
Abaixou-se para pegar o vidro de perfume que estava caído no chão.
-- Então foi esse o barulho que ouvi... Que coisa! -- quando se levantou... -- Aiiiiii... Meu Deus!
-- A Roberta foi até o apartamento. Ela estava muito cansada -- Lavínia falou sentada em uma cadeira -- Foi difícil convence-la, mas no fim ela acabou indo.
-- Ela fez bem -- Daniela puxou uma cadeira e sentou-se a seu lado -- Tenho uma notícia maravilhosa para lhe dar -- disse com uma impaciência infantil.
-- Deve ser maravilhosa mesmo. Sua alegria é contagiante.
-- A Yasmin está gravida de gêmeos -- falou e abriu os braços -- Não vai me cumprimentar?
Lavínia abraçou-a e elas comemoraram com entusiasmo.
-- Isso sim é uma noticia pra levantar o astral de qualquer um.
-- Por isso eu vou contar para a Débora. Ela vai gostar da novidade.
-- Mas Dani, ela está em coma -- Lavínia virou a cabeça, com uma expressão de tristeza estampada no rosto.
-- E daí? Ela vai me ouvir e adorar saber que vai ser tia de duas crianças de uma vez só. Eu sei disso.
-- Se você tem tanta certeza disso... Vai lá então.
Depois de uma hora de sono. Roberta enfim acordou sentindo-se bem melhor.
-- Paula! Pauuulaaa... Onde está você? Meu Deus o que é isso? -- correu e abriu as janelas. Sua garganta ardia, tinha a sensação que desmaiaria a qualquer momento -- Jesus...
Roberta tossia sem parar.
-- Estou fazendo a purificação e proteção desse apartamento contra as más energias que tanto atormentam sua vida e pensamentos. O ambiente aqui está pesado demais. Fui obrigada a usar incensos sete ervas e sal grosso, elementos ótimos para limpeza, que além dos aromas agradáveis, também limpam os ambientes das más energias.
-- Aroma agradável? -- Roberta abriu os braços -- Você acha essa catinga agradável?
-- É que também fiz uma defumação.
-- Você é louca é?
-- Eu acabei de falar com a Débora lá no quarto dela.
-- É louca! -- Roberta caiu sentada no sofá.
O interfone voltou a tocar. Quem estava de serviço hoje? Anita não conseguia se lembrar. Nunca fez questão de saber.
-- Droga! Esses empregados são uns inúteis -- esbravejou e atendeu o interfone -- O que você quer?
-- Desculpe perturbá-la senhora Anita, mas há um cavalheiro aqui que deseja vê-la. Sei que está tarde. Mas ele insiste muito em falar com a senhora.
-- Não vou receber nenhum repórter. Muito menos hoje, que Pedro não está em casa.
-- Não é um repórter, senhora. Ele diz que é um investigador. Seu nome é Gaule. Detetive Gaule.
-- Não conheço nenhum detetive Gaule. Peça a esse senhor que vá embora e volte em outro dia. Quando Pedro estiver em casa.
-- Senhora Vargas? -- Uma voz grossa e profunda ecoou através do aparelho -- Sou o policial que falou com o seu filho no funeral do Luiz Carlos. Lembra?
Rapidamente, a lembrança do estranho no enterro lhe voltou à mente. Apesar de ter olhado de relance o rosto dele, jamais esqueceria aquele homem de voz marcante e nariz empinado.
-- Claro que lembro. Pode entrar senhor Gaule, mas vou adiantando que não tenho muito tempo.
-- Prometo que serei rápido.
Minutos depois, uma batida na porta anunciou a presença do policial.
Anita olhou-se no espelho, ajeitou rapidamente o vestido, passou a mão pelo cabelo e abriu a porta.
-- Com licença senhora Vargas -- Gaule nem esperou pela resposta de Anita, foi entrando sem cerimônia -- Quer dizer que o senhor Pedro não está em casa? A senhora sabe onde ele estava na noite do acidente? E, onde a senhora estava?
A realidade daquelas perguntas atingiu como um soco no estômago da velha senhora. O investigador decididamente estava incluindo os dois Vargas na lista de suspeitos.
-- Caro investigador Gaule. Só respondo perguntas com a presença de um advogado -- falou de forma arrogante e decidida -- Passar bem, senhor -- abriu a porta para ele sair.
Um vulto saiu da imensa escuridão do matagal e avançou calmamente até a única claridade que vinha da luz de um poste. O vento balançava os galhos dando um ar sombrio ao cenário.
O homem pegou o celular do bolso e discou.
-- Senhor Pedro? Sou eu... Adivinha quem eu encontrei? Ela mesma... Qual será o meu próximo passo?
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Fim do capítulo
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patty-321
Em: 25/11/2016
A Paula e muito estranha. Ninguém vai acreditar nas palavras dela. Defumou a casa inteira quase asfixia a Roberta. E descobriram o esconderijo de yasmin, só espero q o Pedro não consiga pega-la. Bjs
Resposta do autor:
Olá Patty.
Eu não acreditaria e você?
Beijão garota.
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Mille
Em: 25/11/2016
Olá Vandinha gostei das informações.
Parece que Pedro achou a Yasmim, e torcendo que atrapalhem ele de pegar a Yasmim pois acho que ele vai colocar em cárcere privado. Paula já tinha alguns problemas agora falando com a Débora ninguém vai acreditar, acho que a Débora vai ajudar muito como "fantasma" até voltar do coma.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Só faltava isso para a Paula. Será que alguém vai acreditar nela?
Beijos.
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