Alexya já estava dançando sozinha outra vez. A negra era linda, dançava bem, mas quando se beijaram ela não sentiu vontade de nada. Depois de alguns beijos elas se separaram e Alexya continuou sozinha num ritmo mais lento do que a música que tocava. Ela já tinha levado alguns foras de mulheres heteros na vida, mas aquela era a primeira vez que se sentia tão incomodada; tanto a ponto de dispensar uma mulher maravilhosa que estava mais do que interessada. Mas ela não queria pensar nisso agora. Tinha voltado ao bar, na ponta oposta aquela em que tinha visto Jasmine e Ana Júlia conversarem, pegou uma longneck e retornou ao seu canto anterior só que mais longe da maioria das pessoas, apenas fora da vista dos outros amigos.

Toda sua postura agora indicava afastamento, ela continuava a dançar, mas não olhava para lugar nenhum, apenas para sua garrafa ou então fechava os olhos. Seu cabelo a estava incomodando então passou a mão livre pelas mechas jogando todas para um lado só. Foi quando sentiu um corpo se colar às suas costas ao mesmo tempo em que uma mão afastava os cabelos de sua nuca e ela podia sentir a respiração quente de alguém bater contra sua pele. Estava a ponto de empurrar a mulher quando sentiu o perfume suave que já havia sentido duas vezes naquela noite e seu corpo travou sendo percorrido por arrepios quando a mão de Ana Júlia deslizou por sua cintura acompanhando o cós da calça.

- O que está fazendo? – questionou a advogada ao segurar a mão da outra e senti-la se esticar e beijar sua nuca, o que a fez se virar rápido.

- Dançando – respondeu Ana Júlia abraçando-a pela cintura e olhando para cima encontrando os olhos verdes confusos.

- Tecnicamente eu estava dançando, você chegou me agarrando mesmo – disse a advogada apenas alto o suficiente para a outra a ouvir.

- Tecnicamente estamos as duas dançando nesse exato momento – falou Ana Júlia e viu a expressão de Alexya se fechar – O que foi?

- Você está bêbada – suspirou a advogada fechando o olhar e erguendo o rosto – Shit, you’re drunk – resmungou ela ainda olhando para cima – Agora está explicado – ela respirou fundo se preparando para afastar a outra, mas antes de o fazer sentiu os lábios de Ana Júlia deslizarem por seu pescoço logo antes de sentir os dentes arranhando seu ponto de pulso – Ana Júlia. Não!

Alexya tentou empurrar a menor pelos ombros, mas ela reforçou o aperto em sua cintura mantendo-a perto o bastante para que a advogada não conseguisse se livrar dos lábios em seu pescoço. Ter uma mão ocupada fez com que Ana Júlia tivesse uma grande vantagem já que Alexya não poderia simplesmente soltar a garrafa pela metade no chão. A pele branca se arrepiou ainda mais fortemente quando as unhas longas rasparam a base de sua coluna por baixo do tecido da blusa. Alexya se sentiu amolecer quando a menor subiu os lábios por sua garganta, sua cabeça se abaixou antes que ela pudesse raciocinar e os dentes de Ana Júlia morderam seu queixo com um pouco mais de força do que o necessário. Mas então o hálito impregnado de tequila a acordou e, surpreendendo a outra, ela conseguiu se afastar.

- Porque está se afastando? – perguntou a de cabelos claros com um toque de irritação na voz enquanto agarrava as laterais da jaqueta da mais alta e a puxava de volta.

- Porque você está bêbada – falou Alexya firme – E por mais que eu queira, e eu quero mais do que você pode imaginar, não vou me aproveitar de você nesse estado.

- Mas sou eu quem está te agarrando – disse ela séria forçando os corpos delas juntos novamente e voltando a envolver a cintura da maior com os braços.

- Só por estar bêbada – Alexya riu sem humor – Eu já passei por isso antes, enquanto tem álcool no sistema você quer, quando estiver sóbria de novo vai fingir que não aconteceu ou se arrepender. Eu não vou aceitar isso, então é melhor você se afastar.

- Não vou me arrepender – garantiu Ana Júlia se esticando e tentando alcançar os lábios vermelhos.

- No Angel – sussurrou Alexya desviando o rosto e escondendo o seu no pescoço da menor, ali ela respirou fundo, sua expiração provocando arrepios na pele da outra, e então se afastou – Não – repetiu ela colocando a mão no rosto da menor quando ela tentou beijá-la outra vez – Se quiser me beijar quando estiver sóbria eu te dou todos os beijos que tenho, todos os beijos do mundo. Mas não a beijarei com você nesse estado – ela falou firme, mesmo querendo se deixar levar, e deixou seu polegar deslizar pela bochecha lisa e depois pelos lábios entreabertos – Não assim – repetiu Alexya erguendo o rosto e deixando um beijo na testa de Ana Júlia antes de se afastar de vez, mas deixando sua mão livre segurar uma das mãos dela.

- Onde está me levando? – perguntou uma Ana Júlia emburrada enquanto era arrastada pela mão – Não quer me beijar, mas está me arrastando para sei lá onde. Se só não quer me beijar era só dizer que eu ia entender.

- Oh God – sussurrou Alexya rindo baixo e se virando para a mulher emburrada que a seguia – De onde tirou que não quero te beijar?

- Estava beijando aquela outra lá agora a pouco, mas não quis me beijar. O que que quer que eu pense? – acusou Ana Júlia estreitando os olhos e se enrolando um pouco no fim da frase.

- Não sei. Que eu te respeito, talvez? – sugeriu Alexya sorrindo e puxando a outra para um abraço – Me desculpe por isso, não é que eu não queira. Mas amanhã você talvez nem se lembre ou queira esquecer; o que é pior. Então prefiro não fazê-lo.

- Porque tem que ser assim? – questionou Ana Júlia confusa – Porque não pode ser como qualquer outro e só me beijar?

- Porque você não é qualquer outra – sussurrou Alexya, mas achou que a menor não havia ouvido – Vem, vamos achar sua amiga ou Pietro para te colocar num taxi pra casa.

Elas andaram por quase meia hora dentro da boate. Alexya teve que afastar uma mulher interessada nela e dois rapazes mais do que bêbados que pensaram em conseguir algo com Ana Júlia que já estava claramente entediada. Procuraram por todos os lugares e nem sinal de nenhum deles. Cansadas elas se sentaram na mesma mesa do começo da noite, Alexya colocou o banco mais perto da outra e passou seu braço esquerdo pela cintura da menor para afastar qualquer possível interessado. Ana Júlia já sentia os efeitos do álcool e do cansaço tomarem conta de seu corpo e acabou se deixando encostar em Alexya até estar com a cabeça deitada no ombro da advogada que a olhou preocupada sem saber o que fazer. Foi então que checou seu celular e viu a mensagem de Fernanda avisando que Pietro tinha achado algum cara e que deveria estar saindo com o mesmo e que ela e Jasmine já estavam indo pra casa. A mensagem havia chegado a 20 minutos atrás.

- Perfeito – murmurou ela irritada – O que faço com você agora hein? – disse ela para si mesma ao notar que a menor estava praticamente cochilando em seu ombro – Vem, Ana Júlia. Vamos arrumar um taxi pra te levar pra casa – disse se levantando e puxando a outra já meio inconsciente.

Quando entraram no carro o ombro de Alexya foi usado de travesseiro novamente. Nem com muita insistência ela conseguiu fazer Ana Júlia ficar consciente o bastante para dizer seu endereço, então ela se conformou e o taxista seguiu em direção à casa da advogada. 

Fim do capítulo