Jasmine observava a cena atentamente enquanto Pietro e Fernanda riam baixinho do susto que sua melhor amiga havia levado. A fotógrafa tinha concordado com aquele plano de Fernanda, mas ainda estava um pé atrás com ajudar a tal advogada a se aproximar de sua amiga. Primeiro porque Ana Júlia nunca tinha demonstrado ter algum interesse em mulheres e ela não queria forçar nada. Segundo porque ficava insegura em ajudar alguém que ela não conhecia. Tinha que admitir que Alexya era linda, muito linda, e que talvez tivesse ficado interessada na mulher de olhos verdes se já não estivesse completamente apaixonada pela morena nos seus braços. Mas ela não tinha ideia do que se passava com a amiga, então preferiu avaliar toda a situação antes de decidir se iria intervir ou não.

Enquanto isso Ana Júlia estava completamente desligada do resto do mundo, tanto que não ouvia sequer a música tocando alta. Tudo o que ela conseguia fazer era encarar a mulher à sua frente. Alexya usava uma calça de couro preta e justa que marcava cada curva das pernas grossas, nos pés tinha uma bota preta com salto médio que a deixava mais alta. Usava uma blusa prata que deixava parte da barriga lisa a mostra por cima do cós alto da calça e uma jaqueta curta de couro preto. Os lábios estavam destacados com batom vermelho; os olhos, realçados pela maquiagem, estavam mais escuros do que Ana Júlia se lembrava; os cabelos caiam em leves ondas pelos ombros e o perfume cítrico encheu o ar que ela respirava.

A advogada deslizou a mão da lateral até a parte de trás da cintura de Ana Júlia aproximando mais seu corpo da outra enquanto mantinha o sorriso discreto. A outra mal havia reparado que, quando se assustou, a mais alta a havia segurado pela cintura para não bater contra um rapaz que passava carregando vários copos nas mãos. Ana Júlia também não tinha notado ainda que sua mão direita estava apertando levemente o braço esquerdo da advogada. Ela só conseguia encarar os olhos verdes sem nenhuma expressão.

- Pietro vai buscar outro banco – falou a advogada sentindo Ana Júlia dar um pequeno pulo assustando-se novamente ao notar a proximidade das duas; ela apenas sorriu vendo a menor se encolher e olhar para baixo tentando fugir de encará-la; por isso mesmo se aproximou novamente no ouvido dela para sussurrar – Boa noite Senhorita Ana Júlia – falou ela deixando seu sotaque ficar mais carregado de propósito antes de se afastar e voltar ao seu lugar mandando o amigo trazer outro banco.

Alexya se afastou indo até seu lugar e mandando Pietro buscar outro banco. Ana Júlia soltou um suspiro que não sabia que estava prendendo assim que a advogada se afastou e levou alguns segundos para se virar para a mesa novamente. Pietro estava voltando quando Jasmine deu um selinho em Fernanda e saiu arrastando Ana Júlia pela mão dizendo que iriam pegar bebidas. Pietro deixou o outro banco entre o dele e o de Fernanda, Alexya se segurou para não reclamar e fazê-lo deixar Ana Júlia sentar-se ao seu lado.

- Seeenhor! Que tensão foi essa entre vocês duas? – questionou ele assim que voltou a se sentar fingindo se abanar com uma mão.

- Foi você quem tramou isso não foi Nanda? – quis saber a advogada ignorando o amigo e encarando Fernanda com um meio sorriso que escondeu atrás da sua garrafa de cerveja que foi levada a boca enquanto esperava a resposta da outra.

- Eu tenho mesmo que revisar meu gaydar, se eu tiver perdido algum macho por não reconhecer um gay quando o vejo vou ficar muito triste – reclamou Pietro ainda surpreso com o que havia acabado de acontecer.

- Estou apenas dando o troco por terem arquitetado planos pelas minhas costas antes – disse Fernanda sorrindo calmamente – Mas realmente não achei que o clima entre vocês duas fosse ficar tão...

- Quente – completou Pietro que ainda continuava sem entender tudo o que havia acabado de presenciar – Acho que as gay vão dominar mesmo o mundo. Até quem eu juro que é hetero muda pro outro time.

- Você é ridículo Pietro – falou Alexya e Fernanda concordou.

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- Não íamos buscar bebidas? – questionou Ana Júlia quando foi arrastada para dentro do banheiro por Jasmine.

- Vamos – afirmou a fotógrafa ficando frente a frente com a amiga – Assim que você me explicar o que foi que aconteceu.

Ana Júlia jogou as mãos para o alto e rolou os olhos indo em direção as pias e se encarando no enorme espelho, não havia mais ninguém no banheiro. Jasmine a seguiu encarando-a pelo espelho e viu a amiga fechar os olhos e massagear as têmporas por alguns segundos.

- Aquela mulher está me tirando do sério – resmungou ela apoiando as mãos no mármore da pia e respirando fundo.

- Desde quando mulheres te tiram do sério, Anjú? – perguntou a fotógrafa sabendo o que a amiga quis dizer com a frase anterior.

- Não tenho ideia – suspirou ela de cabeça baixa – São aqueles olhos Jas. Não entendo o que acontece comigo quando olho pros olhos dela.

- Você tá interessada numa mulher Ana Júlia – Jasmine foi direta e fez a amiga encará-la com um olhar que misturava confusão e apreensão – Não há problema nenhum nisso amiga.

- Eu sei que não há – suspirou ela – Mas eu não sei como reagir....quero dizer, já fui cantada por mulheres antes....Mas...sei lá Jasmine. É bem óbvio pra mim, agora, que ela está interessada. Mas é diferente.

- Diferente porque você está interessada também – disse a fotógrafa colocando uma mão entre os ombros da amiga tentando demonstrar apoio.

- Não é só isso não – reclamou Ana Júlia ficando séria com um semblante até irritado – Aquela mulher....Aaah é como se ela brincasse comigo Jas! Ela é direta sem ser realmente direta. Mulheres são muito complicadas – ela resmungou suspirando – Não sei se quero me envolver com uma.

- Nós realmente somos mais complexas que homens – concordou Jasmine se escorando na bancada das pias e encarando a amiga que começou a andar de um lado ao outro do banheiro – Mas eu não posso culpar ela. Você está dando sinais, mas ainda não a deixa ter certeza, então ela está sendo sutil.

- Ela está me provocando isso sim – acusou Ana Júlia apontando o indicador para a amiga de um jeito irritado.

- Você nunca experimentou não é? – questionou a fotógrafa começando a entender o que estava acontecendo na cabeça da amiga.

- Você sabe que já – resmungou ela cruzando os braços e voltando a andar de um lado para o outro.

- Me refiro a ficar com uma mulher sem ser um desafio e sem estar completamente bêbada – devolveu Jasmine rindo – Você não se lembra de metade daquela noite, então não conta.

- Eu não gostei do beijo dela. Disso lembro e muito bem – reclamou ela já com raiva pelo assunto.

- Assim como já não gostou do beijo de dezenas de caras – rebateu a fotógrafa – Vamos lá Anjú, qual o real problema? Está com medo de sentir algo por ela? Você não é preconceituosa, eu sei, mas a auto aceitação é mais complexa do que aceitar outra pessoa.

- Eu não sei agir Jasmine! – contou ela – Eu sei o que fazer com um homem, sei como provocar, sei como interagir, sei ler os sinais. Mas com Alexya não. Com ela eu mal sei pra onde olhar.

- Ah você sabe sim – riu Jasmine recebendo um olhar raivoso – Eu vi claramente a checada que você deu nela.

- Vai se ferrar Jasmine – murmurou Ana Júlia se sentindo ruborizar com a lembrança.

- Sorte sua não ter corado na frente dela – anunciou Jas se aproximando e abraçando a amiga – Quando começou a sair com homens você também não sabia o que fazer. Agora só tem que repetir o que fez no começo antes. Seja você mesma e vá testando. Não posso dizer que gosto da ideia de te ver envolvida com alguém. Sabe que no fim sempre fui eu a superprotetora e pela minha experiência sei que aquela mulher faz o tipo que arrasa corações, mas se você sente algo quem sou eu pra impedir? Até porque não conheço ela e não sei o que ela sente.

- Você sempre acreditou que os galantes podem sossegar quando acham a pessoa certa – riu Ana Júlia – Sempre foi a mais romântica mesmo.

- O que posso dizer é que ela está indo devagar e te respeitando.

- Como pode dizer isso? – perguntou Ana Júlia tirando o rosto do pescoço da amiga e encarando-a com um olhar de surpresa e confusão.

- Se não estivesse teria se aproveitado quando te segurou pela cintura, mas ela manteve a mão num limite bem aceitável – contou Jasmine rindo da expressão da amiga – Ela teve a chance de aproveitar um pouco por você estar surpresa demais, mas não o fez.

- Sempre achei que mulheres fossem mais delicadas na hora de chegar em alguém – comentou Ana Júlia se afastando da fotógrafa – Pra mim só homens se aproveitavam desse jeito.

- Amiga, não confunda as coisas – riu Jasmine – Algumas mulheres podem ser bem diretas se virem os sinais verdes pra isso. Só costumamos ser mais discretas com as mãos bobas – disse ela piscando para a amiga e a puxando para fora do banheiro.

Fim do capítulo