Capítulo X Tempestade se Aproxima
Fico me perguntado como tudo irá acabar... Como as respostas chegarão até elas... Como se reencontrarão em meio às mentiras... Sabe quando as respostas estão na nossa frente, mas simplesmente a ignoramos! Sabe, quando tudo em nós diz o que temos que fazer, mas preferimos cultivar um medo “bobo”... É assim que Manu e Carol estão. Uma com muitas perguntas e a outra com todas as respostas. Ironia ou escolhas? Destino?... Acredito que possamos criar nosso próprio destino.
Após deixar Miguel em casa, Manu deitou-se no sofá e ficou relembrando do dia que teve... E muitas perguntas vieram em sua mente. Mas o que de fato a estava incomodando, era a reação que teve com Sara. E o pior foi sentir-se ameaçada por ela... Por algum motivo ver Sara próxima de Carol, tão íntima, despertou-lhe uma dor estranha no estômago. Reação esta, que não teve ao ouvir Débora chamar Carol de amor. Como se algo a dissesse que havia alguma coisa errada... Levantou e foi preparar um café, talvez este lhe ajudasse a compreender.
- Ok... Carol é uma mulher encantadora, isso é fato! – Cheirou o café – Outro fato é que ama meu café... – sorriu para si – Me trata com gentiliza, mas ela é assim com todos! Ai... Ai... Estou pirando só pode! Mas pensar em voz alta ajuda, né!
Sentou-se no sofá e ficou mirando o tempo através da janela, pois começava a se formar as primeiras gotas de chuva daquela noite... Era estranho como a chuva lhe trazia conforto.
- Então Senhorita Portman... Por que me sinto assim em relação a você! Por que essa necessidade de estar com você, ouvir sua voz, escutar sua risada gostosa... Olhar pra esses olhos castanhos em que me perco... O que fez comigo Carolina, o que?!
A chuva havia se intensificado lá fora quando Manuela resolveu ir para cama, afinal teria que levantar cedo para trabalhar e encontrar a mulher que habitava seus pensamentos. Naquela noite Manu teve um sonho diferente. Sonhou com um senhor de idade lhe entregando um medalhão, que possuía um coração com uma fechadura no centro, via o homem sorrindo e falando com ela. Despertou assustada e suada, – como já era de costume – faltavam dois minutos para às seis da manhã, resolveu levantar. Depois de sair do banho enrolada na toalha, passou em frente ao espelho e ao mirrar o reflexo de seus olhos, lembrou-se da frase que o sorridente senhor lhe falará.
- “Está exatamente como desenhou”.
Mas o que era aquilo, o que significava. Era realmente um sonho ou talvez... Olhou para uma velha caixa que o seu pai lhe entregou, quando saiu de casa para morar sozinha, dizendo-lhe que eram desenhos, livros e objetos que ele tinha guardado no tempo em que ela estava em coma. Nem se vestiu e correu em direção à caixa. Com toda a correria dos últimos dias, nem se lembrava dela... Pensou que o medalhão poderia estar lá!
- Nossa quanta coisa... Não era à toa que pesava tanto! – Manu revirou a caixa, puxou tudo para fora, mas nada do medalhão – É acho que viajei agora... Claro que era apenas um sonho... Como todos os outros! – Disse com um sorriso triste nos lábios. Foi quando levantou meio sem jeito e derrubou um dos livros que viu cair dele uma folha. – Mas o que...
Manu agachou-se e pegou a folha A3 dobrada ao meio. Dava para notar como era antiga, apenas pela coloração da folha. E o desenho que ela continha era lindo... Era o esboço do medalhão de Manu! E na parte inferior dele, bem na borda, havia o ano...
- Não pode ser... Isso foi feito há quatro anos trás! Ou seja, antes do meu acidente... Então os meus sonhos podem realmente ser minhas... Lembranças esquecidas!
Era nítida a emoção que Manuela estava sentido naquele momento. Há possibilidade de recordar, de ter uma parte sua de volta, não possuía descrição. E foi nessa empolgação que se vestiu – linda como sempre né gente (rs) – e direcionou-se á cozinha para preparar o seu café e o da chefinha.
- “Chefinha”?... Estou muito feliz mesmo, se Fabio me escutar, vai dizer que já estou convertida para o bando deles... Hum, como é o nome mesmo... Ah, depois eu pergunto! – Ria sozinha ao perceber como realmente estava feliz e não foi somente por causa do medalhão, mas também pelo final de semana e Manuela tinha plena convicção disso!
Eram sete horas e quinze minutos, quando Carol adentrou em sua sala. Como de costume chegou antes mesmo que Marta. Queria rever alguns projetos antes de marcar a viagem para o congresso Internacional de Arquitetura que ocorrerá na cidade de Manaus – no Brasil –, visando à sustentabilidade, que era o foco das novas edificações. Carol teve sua atenção interrompida por um trovão que perpetuou pela cidade, virou-se para olhar pela parede de vidro. A tempestade se aproxima, pensou! Quando se voltou para sua mesa, uma figura surgia em meio às sombras.
- Adoro entradas triunfais! – Carol nada respondeu estava surpresa demais. – Vai ficar ai calada... Não tem nada a dizer? – Sorriu percebendo o quanto Carol estava sem ação.
- Não temos nada para falar. – Foi direta.
-Será mesmo? Carolina! – Sentou em uma das poltronas que ficavam de frente para a mesa de Carol. O tom na voz daquela mulher havia mudado.
- Por favor, retire-se da minha sala.
- Sempre tão educanda, né garota! Conquista a todos com essa carinha de beata... Mas não passa de um demônio!
- Olha só Malvina... Não sou mais uma “jovem inocente”. Seja lá o que queres... Dessa vez irá fracassar! – Carol disse tão convicta que o seu sorriso reluzia em meio aquele temporal.
- É muito petulante mesmo! Vejo que o tempo só aumentou essa sua arrogância, garota. – Disse com uma irá no olhar.
- Concordo! Hoje em dia sou arrogantemente petulante, adoro unir o útil ao agradável... Você não? – Realmente o sorriso não saia dos lábios da garota, o que irritava cada vez mais Malvina.
- Escuta aqui sua fedelha! Modere sua língua comigo, ouviu bem?!
- Olha eu até pediria pra você desenhar, mas creio que não tem aptidão para isso. – Carol ergueu a sobrancelha, desafiando-a. Malvina sabia que estava perdendo aquela discussão, pois a garota já não era tão “garota” assim. Deu uma boa observada em Carol e viu como ela estava amadurecida e muito mais linda que antes...
- Bom garanto que você se sairia muito bem... Ensinando-me! – Carol sentiu seu coração gelar com aquele comentário ambíguo e Malvina percebeu que atingiu seu objetivo.
- O que você realmente quer Malvina? – Ficou com medo da resposta que ela poderia lhe dar, mas tinha que saber.
- Você ainda não sabe Carolina? – Riu inclinado a cabeça para trás – Se afaste da Manuela! Não quero minha filha a mercê de suas libertinagens. Você deu um jeito de entrar em nossas vidas novamente... E vai sair delas!
- Primeiramente Manuela veio até mim, ou melhor, minha empresa. Segundamente não tenho motivo nenhum pra perder uma funcionária tão excelente como ela... E por último e não menos importante se estás tão preocupada assim, é porque sabes que o amor que tínhamos era verdadeiro!
- Ora fedelha! Me poupe, amor verdadeiro, sério? – Debochou – que discurso batido esse né!
- Hum... Está com medo que Manuela se apaixone novamente por mim? – reagiu Carol.
- Você jamais ficará com ela! Está me ouvindo?! Jamais! – Levantou-se enfurecida, puxando Carol pela jaqueta, sendo separadas apenas pela mesa.
- Me solta Malvina! – Carol falou entre os dentes, se segurando para não enfiar a mão na cara dela. Mas Malvina aproveitou pra ficar a centímetros do rosto da garota.
- O que foi Carol – ironizou – está com medo de descobrir o que é uma mulher de verdade? – Malvina era cinismo puro.
- Está blefando! – Ela sentia a respiração da outra em sua cara.
- Estou?... Sabe Carol, tenho muitas maneiras para afastar vocês. Posso ser sincera... Você não viu nada! Continua ai, brincando com a sorte e veremos quem irá rir no final. – Malvina emburrou Carol contra a cadeira e saiu satisfeita da sala.
Marta ficou sem entender quando viu aquela mulher, linda por sinal, sair da sala de sua chefinha. Mas a situação ficou mais estranha quando Manu parou de frente para ela com uma cara interrogativa. O que Carol estava aprontando dessa vez? Era a nova indagação que Marta estava fazendo.
- O que faz aqui?
- Eu não disse que teria uma conversinha com sua chefe? – Sorriu vitoriosa para a filha.
- Não posso acreditar! Você não tem nada melhor pra fazer? – Manu estava incrédula.
- Agora que me lembrou, estou atrasada para o Spa! Aproveite seu dia de trabalho. – Ao fundo pode-se ouvir outro trovão, enquanto Malvina seguia para longe delas.
Fim do capítulo
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