Capítulo VIII Por Miguel
Era 03:15 da manha quando Manuela e Félix deixaram a boate, indo em direção a casa do rapaz. Félix tendo seus vinte e oito anos ainda morava com os pais, mesmo Manuela o incentivando sempre para encontrar um apartamento, onde teriam mais liberdade e intimidade. Félix não via motivos para sair da comodidade que possuía morando com eles. E isso a irritava! Um homem com vinte e oito anos independente, pois era um excelente advogado que fazia por merecer o cargo na empresa do pai, não havia motivos para estar sob as “asas” deles. E como era mimado por ser filho único! A música no carro se sobressaia em meio ao silêncio.
- Está cansada meu amor?
- Um pouco Félix... Mas também dançamos a noite inteira!
- E o dia nem amanheceu ainda... O melhor está por vir!
- Imagino... A cama né?
- Não! Seu corpo nu! – não foi possível conter as risadas, Félix podia ser muitas coisas, mas sabia divertir Manu.
- Tudo bem, tudo bem! Mas amanhã cedo tenho que estar lá nos meus pais. Prometi ao Miguel que iriamos ao cinema.
- Sim meu anjo, fica tranquila que não esqueci. E vem cá, que mulher linda que é a sua chefe! Como consegue trabalhar com uma visão daquelas?
- É? Nem cheguei a reparar muito nela. Só nos dirigimos à palavra pra fala da empresa, isso quando há tempo. – Manuela desconversou.
- Bom você não reparou, mas as mulheres na boate hoje, de tanto raparem chegavam a babar! Que sorte as lésbicas tem né?! É nessas horas que gostaria de ter nascido mulher!
- Ora, me poupe Félix! Eu não fico reparando na minha chefe e muito menos nesse sentido tarado seu! E se não tá contente comigo é só falar!
- Oua... Que bicho te mordeu? – Félix estranhou, pois Manu sempre entrava na brincadeira, mas desta vez ficou estranha. Nem sequer sorriu.
- Nada Félix! Só estou cansada e não é brincadeira que se faça. Ela é minha chefe!
- Tudo bem... Me desculpe, mas você nunca reagiu assim... – Disse desviando o olhar.
- Aí Félix não fique assim! Só estou cansada mesmo... – Se sentiu mal, pois viu que havia sido grossa com ele.
Félix guardou o carro e seguiram para o quarto. Pegou Manuela nos braços e foi indo em direção ao banheiro. Faria de tudo naquela madrugada para vê-la melhor e relaxada. Namoraram no chuveiro e a madrugada foi estendida para a cama.
Naquela manhã Félix deixou Manuela em seu apartamento. Se despediram com um longo beijo, pois não se veriam novamente naquele domingo. Manu se arrumou e quando estava tudo pronto respirou fundo, pois acabaria encontrando sua mãe. Não estava se importando muito, pois se tinha alguém nesse mundo que amava era Miguel! Seu irmão que agora estava com dez anos, mesmo sendo muito novinho, era uma criança incrivelmente inteligente, meigo, carinhoso e um companheiro invejável. Foi ele quem deu força para ela seguir seu caminho, pois um dos motivos de Manu não sair de casa era ele. Não queria que seu maninho ficasse a mercê das loucas de sua mãe! Já que seu pai não tinha boca para nada e aceitava tudo do jeito que a esposa queria.
Miguel era um ser encantador, tanto que Manuela tentaria de todas as formas conseguir a sua guarda. Quando tinha dois anos o menininho estava brincando com a bola quando caiu na piscina, que estava sem água. Sofreu uma lesão muscular na perna esquerda, o que acarretou em ter que usar uma bota ortopédica, por toda sua vida. E quem estava com ele quando caiu? Ninguém. Para sua sorte Manuela tinha o costume de chegar da escola e ir brincar com o irmão. O procurou por tudo e quando o encontrou começou a gritar desesperada por ajuda. Ela chorava tanto... Mas não havia ninguém para consolá-la, pois seus pais não estavam. Fora os empregados que haviam chamado os paramédicos.
Sua família era muito bem de vida. Francisco havia herdado ações de seu pai, formado em administração, cuidava muito bem dos bens deixado pelo falecido Senhor Fernandes. E tinha que ser um ótimo administrador, pois se não fosse assim, sua esposa Malvina já teria acabado com todo ele. Era um homem jovem, com seus quarenta e dois anos, uma boa pessoa, mas se sujeitava a tudo que Malvina queria suas vontades e seus caprichos. Miguel era o retrato físico do pai, loirinho e com lindos cachinhos, olhos azuis e uma bondade nata. Já Manuela era a cara de sua mãe. Malvina possuía os cabelos num tom mais escuro que os da filha, mas bem curtos, num corte moderno, todo bagunçado, os olhos verdes, esses até o tom deles era igual. Malvina era toda estilosa, um ótimo gosto por sinal, para tudo, mesmo tendo trinta e nove anos, as pessoas às vezes achavam que eram irmãs. Quando avistou a casa de seus pais respirou fundo. Seria uma longa manhã até conseguir sair dali e passar um tempinho com Miguel.
- Bom dia Vilma!
- Bom dia Senhorita Fernandes. – Cumprimentou a empregada.
- Mana! Você veio mesmo! – Exclamou Miguel indo no seu ritmo de encontro à irmã.
- Mas claro que sim maninho, eu te disse que viria não disse? – Manu se ajoelhou para abraça-lo.
- Sim, mas mamãe falou que você acabaria me deixando de lado, agora que esta tão atarefada. – Olhou-a com aqueles olhinhos brilhantes que fez Manu ter a sensação de já ter visto olhos assim a mirando antes, com um amor puro e verdadeiro sendo transmitido por eles.
- Ela disse isso foi? – Manu não estava acreditando, por que sua mãe era assim.
- Sim Mana. Mas eu sei que você sempre honra sua palavra. A mamãe tem esse jeito de ser, mas não é uma pessoa malvada. Apenas não sabe demonstrar amor por nós.
Manu o abraçou mais forte, realmente, seu irmão era um ser sensacional e um sábio para sua idade.
- Olha só... Então resolveu voltar para casa Manuela? – Manu ficou olhando aquela mulher descer as escadas.
- Não! Apenas vim buscar Miguel como havia prometido a ele.
- Bom enquanto você continuar a me desobedecer, Miguel não sairá dessa casa com você!
- Você não pode fazer isso! – Manu se levantou encarando-a.
- Não só posso como vou. É simples quer ver... Escolha seu irmão ou trabalhar naquela empresa!
- Já chega disso Malvina! – Disse o homem de cabelos cacheados.
- Papai? – Manu não estava entendendo.
- Oi minha filha. Fique tranquila, pode levar Miguel para passear quando quiser!
- Como disse Francisco?
- Você ouviu Malvina. Miguel e Manu são irmãos e podem se ver e sair quando quiserem! Dessa vez e pela primeira na minha vida não irei lhe apoiar... E por falar nisso parabéns pelo emprego minha filha, estou orgulhoso em ver você seguir seu caminho.
Francisco deu um abraço gostoso em sua filha e outro em Miguel.
- Vocês dois são meus maiores amores! – E saiu sem olhar para Malvina, que estava de boca aperta.
Malvina tentou argumentar algo, mas nem sequer fora ouvida. No instante em que seu marido foi em direção ao escritório, Manu e Miguel foram em direção à porta. Aquilo não ficaria assim, alguém iria ouvi-la e com certeza esse alguém seria Francisco.
- O que pensa que acabou de fazer? – Disse irada para o marido que estava mexendo em seus papeis.
- O que já deveria ter feito há muito tempo.
- Você só pode ter enlouquecido!
- Não Malvina. Apenas tomei uma atitude certa.
- Certa! – gritou – Você acha certo a nossa filha se envolver novamente com aquela lésbica nojenta!
- Se elas se reencontraram é por que deve haver algum motivo.
- Sim com certeza o destino quis assim, não é? – Falou em tom de ironia.
- Concordo!
- Você é muito idiota mesmo! Não existe essa coisa de destino! São nossas escolhas!
- Exatamente isso Malvina. Foram as escolhas de Manuela que a levaram na direção de Carol. Nisso você tem toda razão.
- Não acredito no que estou ouvindo. Você quer mesmo ver nossa filha com outra mulher?!
- Não é outra mulher, é a Carol. Que por sinal era uma excelente garota e se tornou uma grande mulher. – Encarou Malvina.
- Como disse?
- Conversei com Manuela, semana passada, perguntei como estava o trabalho, nossa filha respondeu que está sendo maravilhoso trabalhar na “Arqui’Corporation”. Quê que eu continue? – Malvina apenas assentiu com a cabeça.
- Falou que todas as pessoas são sensacionais e quando perguntei de sua chefe, simplesmente respondeu que Carolina a tratava com demasiada cordialidade.
- Era o mínimo que ela deveria fazer!
- Ora Malvina, por favor! Quem quer enganar. Você fez de tudo para separa-las!
- Não sei do que está falando Francisco...
- Sabe sim. Carol me contou enquanto esperávamos pela cirurgia de Manu! Você até teve a cara de pau de chantageá-la dizendo que separaria Manu de Miguel! Por isso Carol armou tudo para Manu vê-la beijando outra! Por isso nossa filha sofreu aquele acidente! Por isso Manuela perdeu a memória! Por que Carol sabia que Manu jamais seria feliz longe do irmão. A garota sacrificou o amor delas por Miguel! Coisa que você jamais saberá o que é. Me pergunto se você sabe o significado de amar Malvina... E tem mais uma coisa... Se Manu se reapaixonar por Carol, isso só prova como existe amor entre elas... De alma.
Francisco saiu deixando uma Malvina calada no escritório. As palavras do marido de uma forma estranha a chocaram. Contudo isso não seria o suficiente para Malvina aceitar as escolhas da filha.
- Não me importo com essas fragilidades do amor... Manuela não namorará outra pessoa que não seja Félix Alvin... Essa garota vai sair do meu caminho! Custe o que custar.
Fim do capítulo
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