1 capitulo : MUDANÇA

Minha mãe monitorava a equipe que levava nossas coisas para o caminhão de mudanças, faziam 5 graus em Curitiba, o céu escuro como se já fosse final de dia escondia sua verdade, eram 10 horas da manhã. Estávamos nos mudando, minha mãe recebeu uma proposta de emprego – ela é advogada – agora iria chefiar em um escritório, como ela mesma me contou.

Estava com meu moletom  surrado – azul escuro – e uma calça jeans – também surrada. Fazia tanto frio  em meu estado que minhas roupas , eram todas praticamente gastas.  eram assim não por falta de dinheiro e insistência da minha mãe, mas, sim porque eu nunca gostei de mudanças. Gosto do cheirinho familiar que minhas coisas e roupas  me trazem . Estava vestida  com essa roupa em particular pois era a minha predileta,  e a vesti como uma espécie de despedida, iríamos nos mudar para Salvador – BA, que para mim era o lugar mais quente do mundo, já tinha ido lá algumas vezes, mas já tem anos que não vou Lá, desde que meu pai faleceu em 2008, eu tinha apenas 8 anos de idade, e voltar lá me faria lembrar dele, gemi internamente com a dor que latejou em meu coração, uma ferida que nunca que curava mesmo após 7 anos do ocorrido. Íamos para salvador visitar a minha tia Selma, lembro de duas primas que eu tinha ,  uma extremamente irritante e a outra calada em seu canto, sempre  no mundo dos games, ela me dava medo. A verdade é que não suportava nenhuma das duas, elas são gêmeas e certa vez uma delas cortou meu cabelo, que ficou de uma forma tão bizarra que tive que ir ao salão e cortar ele ate a nuca.  Foi a rebelde que fez isso a  isolada nem me olhava quando ia passar as férias em sua casa, ho como eu odiava minhas férias  e agora estou indo pra lá, vou pirar.

- Amanda – disse minha mãe pela centésima vez, antes de entrarmos no taxi  -  você vai gostar  de lá , as pessoas  de Salvador são bastante receptivas.

Minha mãe é parecida comigo, a não ser,  pelo cabelo curto que vai ate aos ombros e as  rugas de expressões que  toda mulher de 40 anos não consegue escapar. Senti um espasmo de pânico  ao pensar no que ela disse. Ela sabia  como me sentia, como eles vão me aceitar? Sou fisicamente errada lá, mas é claro que minha amada mãe Márcia iria continuar  tentando me acalmar.

- Tudo bem mãe, eu sei que são – Menti, sempre menti mal, mas, ultimamente ando contando essa mentira com tanta freqüência que agora parecia convincente.

- então vamos “pra “ Bahia  pae  - ela falou entusiasmada forçando um sotaque da região, tive que rir, essa foi a primeira risada verdadeira que dei, desde que fiquei sabendo da mudança. 

Entramos no taxi  e logo chegamos  ao aeroporto , de Curitiba para salvador foram quatro horas de vôo, minha mãe  dormiu a viajem toda praticamente, já eu  fiquei acordada  viajando  em pensamentos, minha vida iria mudar muito, com  16 anos de idade eu tinha uma rotina bastante corrida em Curitiba, fazia balé, estudava e fora os cursos de inglês e Frances que fazia durante a semana, pensei também nas minhas amigas, que deixaria, elas eram ótimas, Karina e Flavia, sempre estavam comigo, sempre presentes, suspirei.

Chegamos em Salvador por volta das 15:00 horas, já  sentia a mudança, o calor estava  insuportável , me fazendo, se arrepender da escolhia que fiz  das minhas roupas do dia, tirei meu moletom  e fiquei com minha blusa sem mangas  de renda branca, com ilhoses, podia sentir o olhar das pessoas encima de mim e da mamãe , pegamos um taxi, demoramos uns 30 minutos , eu fiquei a viajem toda com a janela aberta,  a cidade tinha um cheirinho bom, cheiro de maresia. Segundo minha mãe  íamos morar na Barra, no mesmo condomínio que minhas primas, não consegui disfarçar minha cara de desaprovação

- Elas cresceram meu amor, não se preocupe ninguém mais vai rançar o pedaço do seu cabelo- falou ela gargalhando , apenas  cresci o bico, um gesto infantil que eu não consegui deixar .

Quando o taxi parou e sai do carro, pude reparar na casa nova, era grande, percebia-se de fora, todas as casas ali  eram.

- E ai gostou do nosso novo lar?  Disse minha mãe dispensando o taxista  sorridente.

- não é muita coisa? –  eu disse tentando controlar um tom de reprovação .

- Vamos lá Mands , merecemos – fomos para porta com ela  me puxando pelo  braço . . Minha mãe abriu a porta  preta e com detalhes em  rebuscados , entramos, realmente era grande, a casa era de 2 andares, na parti inferior tinha um jardim de frente, 2  salas, uma de visita a que nos encontrávamos e  tinha uma de TV também que percebi logo depois, um escritório, a cozinha e a sala de jantar com uma mesa exageradamente grande para apenas eu e a mamãe.

- surpresa?

- serio mamãe? Olha essa mesa? – disse eu indignada

- é porque você ainda não viu seu quarto meu amor. E ela saiu  me puxando igual criança sai puxando a mãe em parque de diversão , e eu me deixei ser levada para  a parte superior.

-e ai gostou? – perguntou minha mãe me dando maior visibilidade do meu novo quarto.

- ta maravilhoso

-agora você vai ter um banheiro so pra você  com banheira e tudo – ela me empurrou para o banheiro e realmente lá estava a banheira, e claro que eu gostei. Logo percebi que ela tinha me comprado roupas também, mas pra minha alegria ela me deixou espaço pelo menos para meus pijamas antigos.

- vou deixar você a vontade meu amo, vou descer, tomar um banho e pedi algo pra gente comer ta. Amanhã nossas coisas chegam e  domingo tem visita da família , se prepare , ela disse fechando a porta e me deixando só .

   Dei mais uma olhada em meu quarto, todo branco com alguns detalhes em verde musgo, tinha uma varanda , que quando vi já estava com um sofazinho anti-chuva, é minha mãe caprichou pensei comigo mesmo, so me irritei com minhas roupas, logo mais descobrir que ela tinha  doado a maior parte , e agora o que faço sem meus moletons.  Parei em frente ao closet e  me deparei com vários vestidos  e shorts curtos e blusas decotadas, abri a gaveta e ate  roupa intima ela havia me comprado, corei mesmo sabendo que ninguém estava ali comigo, avistei meu uniforme em um Aldo isolado do closet , estremeci ainda tinha um mês de férias , mas eu sabia que esse mês iria passar rápido,  o que é de mal agrado sempre chega rápido. Eu seria a garota nova, a aberração, a sem sal, talvez se eu  parecesse  uma  dessas garotas daqui, pudesse me dar bem,, mas meu verdadeiro físico é vergonhoso . Eu devia ser bronzeada, atlética – uma jogadora de vôlei talvez – todas as coisas compatíveis que levavam uma pessoa a ser aceita, mas claro que não , eu nunca seria assim, meu pai  descendente de canadense e minha mãe natural do sul, o que eu   herdei foi uma pele branca como marfim , olhos verdes beirando o azul e cabelos loiros, sempre fui magra, mas meio mole  e obviamente  não era uma atleta, não tinha a coordenação motora  necessária  para tal feito, não conseguia praticar esportes sem me humilhar  e sem machucar alguém em um raio de distancia de 2 metros de mim, fui ao banheiro  e ao ver meu reflexo pálido  fiquei mais desanimada , tava com esperança de ter pegado uma corzinha , mas que eu queria enganar  a única cor que eu vou agregar em minha pele será o vermelho.  Quais serão minhas chances aqui?

 Resolvi tomar um banho e descer, já era noite e minha mãe estava sentada no tapete da sala de TV assistindo algo e comendo pizza, me juntei a ela,  conversamos um pouco , e logo subimos, passei no quarto dela pra conhecer e logo fui para o meu e capotei com ar condicionado   trabalhando ao máximo .

O sábado chegou  com ele o sol, que as 7 da manha já estava lá debochado. Passei o dia todo de pijama e ajudando minha mãe com as caixas que chegaram do caminhão de mudança, terminei de arrumar meu quarto, ajudei ela com a cozinha e  assim foi meu dia, ajudando minha mãe com a casa, a noite quando estava em meu quarto conversei com minhas amigas de Curitiba e pedi pra ela virem me buscar porque não agüentava mais o calor, ate que minha mar apareceu e me mandou dormi, pois amanha  iríamos para  a casa da minha tia Selma, mas não seria ela que teria que vim aqui ?  não falei nada pra minha mãe, apenas a obedeci e mais uma noite com o ar ligado. 

Fim do capítulo