Vou confessar, afinal não posso fingir para eu mesma, estou uma pilha de nervos desde ontem a noite. Motivos? A mãe da Micaela ligou, me convidou para o almoço e pediu que eu levasse mais alguém da minha família. Convidei a Paloma, é obvio, assim eu não pagaria tanto mico, afinal ela conhece os pais da garota.

 

Só que tem um detalhe: ela não sabe que vai. Eu sei, ela vai me matar.

 

A pergunta de um milhão de dólares é: por quê merd* eu aceitei ir nesse jantar? A resposta é simplesmente assustadora. Eu quero ficar perto da Micaela e isso vem me tirando o sono, a sensatez.

 

A campainha tocou e eu desci as pressas, quase rolando pelas escadas, abri a porta e minhas sobrinhas estavam ali. A Samantha com a cara de tédio de sempre, Camila com uma expressão confusa e a Paloma de: Você não me engana.

 

- Tem iogurte? – a gringa folgada entrou e foi direto pra cozinha.

 

- Tia... Tem que ser algo muito bom. – Camila se jogou no sofá e a Paloma no tapete felpudo. – Eu estava pegando um gatinho...

 

- Argh... – fiz cara de nojo. – Deixa a gringa voltar...

 

- Tia... Você bem que podia ter comprado de morango... – a personificação da falta de noção.

 

- Cala a boca e senta, Samantha. – me joguei no sofá. – O lance é o seguinte... A mãe da Micaela me ligou e o jantar será hoje e Paloma?

 

- Oi... – ela mexia no celular.

 

- Você vai comigo... – a reação foi a esperada.

 

- O que? – ela levantou e jogou o celular que acertou a folgada da gringa no sofá.

 

- Aiii...

 

- Não vou mesmo... – me joguei aos seus pés.

 

- Por favor... Sobrinha do meu coração... – fiz a minha melhor cara de coitada. – Eu nunca te peço nada e se eu for sozinha, vou estragar tudo. Por favor... Por favor...

 

- Aaah, tia... – ela mordeu o lábio. – Deus... Tá bom... Droga...

 

- Obrigada, minha sobrinha linda... – levantei e a abraçei. – Eu fico te devendo essa.

 

- Oh, tia... – Camila chamou. – Eu posso ir?

 

Olhei para ela e pensei em todos os prós e todos os contras, mas no final, achei que ela serviria para me deixar na linha.

 

- Ok... Mas, vai ter que me ajudar... – soltei a Paloma e voltei a sentar.

 

- Em que, exatamente? – Camila me olhou.

 

- Vocês realmente querem uma resposta? – cruzei os braços.

 

- Ok. A gente te ajuda nessa. – Paloma falou. – Que horas será esse jantar?

 

- As oito... – olhei para Samantha. – Não vai dizer nada?

 

- Se divirta? – revirei os olhos.

 

- Esfomeada... – olhei para as outras duas. – Quero vocês lindas as seis...

 

- Pode deixar... – Camila levantou. – Não vamos te deixar estragar o seu encontro com os sogros. – elas riram.

 

- Vão a merd* e fora daqui... – levantei. – Nada de comentários assim... Por favor...

 

- Não prometo nada. Vamos meninas... – Paloma chamou.

 

Será que fiz uma boa escolha? Oh, merd*.

 

- Eu não vou embora... – Samantha falou.

 

- Nem eu... – as outras duas falaram.

 

- Vamos fofocar... – Cami falou.

 

- E a nossa querida ex hétero? – as outras sorriram.

 

- A Nick chegou toda abobalhada em casa... – Paloma falou e gargalhamos.

 

- Mais do que de costume? – Camila perguntou.

 

- Muito mais... – Paloma deu um risinho safado.

 

- A Nick tem tanta sorte... – a gringa soltou. – A Isa é tão...

 

- Tem certeza que vai terminar essa frase? – perguntei.

 

- A Nick não tem sorte... – Paloma começou. – Minha irmã é tudo de bom... Coisas de família...

 

- Concordo! – falamos juntas.

 

Continuamos fofocando até as quatro da tarde, as folgadas foram embora, mas voltariam para se vestirem em meu apartamento. Fiquei na sala tentando me distrair, mas ouvi o toque do meu celular e desbloqueei para ver. Eram algumas notificações no facebook e umas mensagens do Fábio.

 

“Precisa ver como a tonta tá toda nervosinha”.

 

“Meus pais vão pirar se souberem que vocês se pegaram”.

 

“Não dá bandeira”.

 

- Moleque danado... – ri.

 

“Por quê tá fazendo isso?”. Enviei.

 

Sai da sala e fui para o quarto, separei algumas roupas, não fazia ideia do que vestir e me perguntava pela milésima vez se aqueles socos levados não afetaram a minha cabeça.

 

“Porque o Gustavo era um mané e você é mil vezes mais atraente”.

 

Ri alto com a cara de pau do garoto.

 

“Sai fora, moleque”.

 

“Ela tá ai?”.

 

Não resisti em perguntar, abri o facebook e quase tombei para trás quando vi que ela me adicionou. Curtiu todas as minhas fotos, fez breves comentários, mas não mandou uma mísera mensagem.

 

- Não vou mandar nada também...

 

Continuei conversando com o garoto e por volta das cinco e meia, as meninas voltaram e meu apartamento virou uma bagunça. Me fizeram vestir tanta roupa que eu fiquei zonza, mas por fim, decidimos ir de vestido. O plano era ficar pronta até as seis, mas só terminamos de fato as seis e meia e como eu não sabia chegar no endereço passado, Paloma foi dizendo o endereço.

 

Nos identificamos na portaria e nossa passagem foi liberada, eu estava com o coração na mão, ouvindo um besteirol das duas que estavam ao meu lado. Paloma tocou a campainha e segundos depois uma senhora alta e muito bonito abriu a porta, acompanhada por um senhor mais baixo e um pouco rechonchudo. Eles sorriram simpáticos, nos deram passagem para entrar.

 

- Meus amores, sejam bem-vindas... – ganhamos um abraço caloroso.

 

- Angelina, Ricardo. Essa é a minha tia Juliane e minha prima Camila. – Paloma nos apresentou.

 

- É um grande prazer. – ela sorriu. podia ver a Micaela nela.

 

- Ficamos muito agradecidos pelo que fez por nossa filha. – o senhor também sorriu.

 

- Não fiz nada. Acreditem. – sorri de volta, mas o meu sorriso era nervosismo puro.

 

- Oi meninas... – o Fábio entrou na sala.

 

- Oi, Fábio... – respondemos juntas.

 

- Meu filho, onde está a sua irmã? – o rechonchudo perguntou.

 

- Tá terminando de se arrumar. – ele revirou os olhos e eu quase ri.

 

- Adorei a decoração. – Camila olhava em volta. – A senhora tem muito bom gosto...

 

- Oh, minha filha. Obrigada. – Angelina ficou derretida com o elogio.

 

- Ju, quer ver o meu quarto? – arqueei as sobrancelhas, ele prendeu o riso.

 

- Isso meu filho, mostre a casa para a nossa convidada. – o pai incentivou.

 

- Enquanto isso, vamos falar mais sobre decoração. – Camila sorriu. Ela gostava dessas coisas.

 

Subimos as escadas, Fábio me contava animado o quanto gostou do que aconteceu no domingo e disse inclusive que se sentiu em um espetáculo.

 

- Suas amigas são gatas... – entramos no quarto dele.

 

- E sapatas... – conclui. – Menos a Camila, mas ela é velha demais pra você.

 

- Eu tenho quase dezoito... – deu de ombros. – Não sou tão novo assim...

 

- Você tem maior cara de virgem... – ele revirou os olhos e eu sorri.

 

- Mas, sou gato. Admita. – o moleque não deixava por menos.

 

- Gostei de você... – ele sorriu.

 

- Espera aqui... – ele saiu do quarto.

 

Estranhei, mas não disse nada e fiquei bisbilhotando o quarto que em nada lembrava o quarto de um garoto de 17 anos. Haviam algumas fotos dele com a irmã, com os pais e com umas garotas.

 

- Safadinho... – sorri.

 

Sentei na cama, liguei a TV e estava passando algo sobre assassinatos no que me pareceu ser canal fechada. Fiquei observando o que diziam e me interessei no assunto, mas a porta foi aberta com uma certa brutalidade, Fábio passou por ela ofegante e no susto, fui parar no chão.

 

- Ela tá vindo...

 

Não tive tempo de dizer absolutamente nada, pois um segundo furacão entrou furiosa, mas quando me viu no chão, parou. Vi o moleque sair de fininho e fechar a porta, mas antes piscou para mim.

 

- Eu... Eu... – gaguejei e depois me calei. Ela estava tão linda com o vestido azul, o cabelo em um coque frouxo, a boca em um convite escancarado para ser beijada e os olhos incríveis. Não eram azuis ou verdes, mas eram lindos.

 

Perdi qualquer resquício de sanidade, levantei e colei o meu corpo no dela, seus olhos se prenderam nos meus e nossas respirações irregulares se misturaram. Ela segurava as laterais do meu vestido.

 

- Me beija, por...

 

Não a deixei terminar, esmaguei os meus lábios nos dela e gemi com a sensação que atravessou o meu corpo. As mãos dela me puxam para si, enquanto nossas bocas e línguas estavam em uma dança lenta, de uma forma que não lembro de ter acontecido em minha vida. Minhas mãos tocaram suas coxas e não ouve resistência da parte dela, então continuei a minha exploração, o vestido foi subindo junto com a minha excitação. Minhas mãos pareciam queimar em sua pele ou sua pele queimava sob a minha, não sei. Senti o tecido da calcinha, mas não ousei tocar na sua intimidade, me deixando surpresa comigo mesma. O beijo ficou voraz e senti a minha língua ser sugada de uma forma enlouquecedora, senti suas mãos deslizarem por minha costa para logo em seguida as minhas nádegas serem apertadas com vontade.

 

- Juliane... – meu nome saiu abafado.

 

Minha mão dessa vez não se controlou e invadiu a sua calcinha, sentindo o sex* molhado. Um gemido abafado saiu de sua boca e senti meu corpo todo arrepiar. Passei a deslizar meus dedos desde a entrada até o clit*ris.

 

- Ju... Acho que já tá bom de amasso ai... – ouvimos a voz do Fábio do outro lado da porta. Nos soltamos, ofegantes.

 

- Vai se arrumar... – ela apenas concordou com um acenar de cabeça.

 

Abri a porta, ele entrou com um sorrisinho besta, passou por mim e sentou na própria cama, me olhando de cima a baixo.

 

- Você deveria arrumar isso ai... – revirei os olhos. – O jantar vai começar...

 

- Vou tentar ficar apresentável. – passei a mão em meus cabelos. Micaela saiu do banheiro, direcionou um olhar mortal para irmão e um envergonhado para mim.

 

- O negócio foi bom... – ele riu. – Vamos logo...

 

Tentei deixar a minha aparência normal, descemos os três sob as piadinhas do Fábio, com esse me acertava depois. Camila e Paloma que não eram bobas, nem nada, sentiram o clima, mas os pais da Micaela não. Estava sentada ao lado do Fábio, ao lado dele a Micaela. Cami e Paloma à minha frente. Angelina ao lado da Cami e como o homem da família, Ricardo na ponta.

 

- Já decidiu o que vai cursar, minha filha? – Angelina perguntou a Paloma.

 

- Medicina... Pra ser mais exata, cardiologia... – sorriu e despertou o mesmo na jovem senhora.

 

- Seus pais devem estar muito orgulhosos, minha filha. – Ricardo comentou.

 

- Você meu amor? –  Angelina olhou para mim. De repente tive a atenção de todos.

 

- Eu? – ela fez um gesto positivo. – Bom, trabalho desde os meus 15 anos como modelo, mas me formei em administração.

 

- Trabalha na Cardoso transportadora? – Ricardo perguntou curioso.

 

- Mãe, pai. Vai virar interrogatório? – Micaela chamou a atenção dos pais.

 

- Tudo bem... – falei sorrindo. – Sou acionista na empresa... Meu trabalho sempre foi com as câmeras e passarelas... – eles sorriram.

 

- Sabia que já tinha te visto em algum lugar... – Fábio comentou. – Vou te chamar pra ser a atração do meu aniversário. Meus amigos vão pirar. – não pude deixar de rir com o comentário.

 

- Meu filho... – Angelina ralhou.

 

- Cala a boca, garoto... – Micaela disse mal humorada.

 

- Considere um presente meu... – falei para provocar a fera.

 

- Pensei que iria dar uma caixa de camisinhas pra ele...

 

- Ai... – tentei chutar a Camila, mas pelo visto, acertei a Paloma.

 

- O que foi meu anjo? – o povo na mesa ficou preocupado. Camila prendia o riso.

 

- Uma visgada na coxa... Machuquei quando corria a tarde... – Paloma mentiu, mas me olhou com uma carranca.

 

“Desculpa”. Falei sem som algum.

 

- Minha filha, precisa tomar cuidado. – Paloma sorriu em acordo. Fábio ria baixinho ao meu lado.

 

“Meu Pai! Por quê eu trouxe essa estrupício?”.

 

Para o meu alivio total, o assunto ganhou outro rumo, comemos a sobremesa e depois fomos conversar na sala. Micaela sentou ao meu lado para diversão do seu irmão, que passou a mandar mensagens para o meu celular, enquanto os outros estavam em uma conversa, mas sempre tentando me deixar dentro. Mas, confesso que a tarefa não estava nada fácil, o cheiro dela estava me deixando louca e pensamentos nada inocentes me atormentavam.

 

“Precisava ser tão cheirosa assim?”.

 

- Deixa eu ver... – Micaela pegou o celular e ergueu uma sobrancelha ao ler a mensagem. – Pirralho idiota... – ela falou baixinho.

 

- Já decidiram os nomes? – o assunto era a gravidez da minha irmã.

 

- Do jeito que as meninas são ciumentas, não decidirão tão cedo... – Camila falou e rimos.

 

- Esse é um mal das mulheres da nossa família... – comentei.

 

A conversa fluía e agradeci muito por não passar por mais nem uma saia justa. Aquela sensação esquisita ficou me enchendo o tempo todo. Micaela me presenteava com muitos sorrisos, me deixando com uma face boba. As meninas me olhavam com aquela cara de: já sabíamos.

 

“Isso não pode acontecer... Não, não!”.

 

 

 

Fim do capítulo