- Beijos... Até amanhã... – Isa desligou o celular e sorriu para mim.

 

- Tudo certo? – perguntei realmente curiosa.

 

- Sim, você sabe que eles adoram você... – sorri. – Isso é tão louco... – ela me olhava.

 

- Sim, eu também acho, mas é a loucura mais gostosa da minha vida... – ela sorriu, admirei o brilho em seus olhos.

 

- Da minha também... É errado dizer que estou apaixonada por você? – parei no sinal vermelho, olhei para ela e senti o ar me faltar. Ela ficou tímida e isso me encheu de vontade de beija-la, mas me contive. Eu não esperava por essa frase, mas o efeito dela foi maravilhoso.

 

- Se for, acho que estamos no mesmo erro... – aquele brilho refletia o meu próprio. – Porque eu também me sinto loucamente apaixonada por você, senhorita Pantoja...

 

O sinal ficou verde, sentia os olhos dela sobre mim, busquei sua mão e quando a encontrei, senti um aperto tão bom. Seguimos caminho em silêncio, mas não aqueles silêncios desconfortáveis, um silêncio gostoso. Depois de mais alguns minutos, chegamos na minha casa, Isa dormiria ali. Entramos pela lateral, ela se enroscou em meu braço como eu costumava fazer e esse simples gesto me fez sorri.

 

- Finalmente... – Cami falou assim que chegamos à piscina, elas faziam uma bagunça.

 

- Pensei que tinham desviado do caminho... – tia Juliane nos lançou um daqueles sorrisos sem vergonha dela.

 

- Pervertida... – falei.

 

- Cadê a Flávia? – Isa perguntou, sentei entre suas pernas na espreguiçadeira, ela me abraçou pela cintura.

 

- Deve ainda tá tirando o atraso... – Paloma falou e nós rimos.

 

- Vai dormir na casa da Amanda e elas vem amanhã cedo... – Jaque explicou.

 

- A Cássia não quis dormir aqui? – estranhei.

 

- Ela não quer correr o risco da Paloma tentar...

 

- Cala a boca, tia... – arqueei a sobrancelha. – Ela vai sair com os pais amanhã...

 

- Sei... – fiquei olhando para a pirralha.

 

- Amor... Relaxa... – até fechei os olhos ao ouvir a voz dela.

 

- Tudo bem... – respirei fundo.

 

Minha tia, minhas primas, Paloma e Jaque passaram a brincar dentro da piscina, Isa me aconchegou ainda mais em seus braços, ficamos observando as piradas competindo quem conseguia ficar mais tempo sem respirar.

 

- Você dorme comigo? – perguntei manhosa.

 

- Covardia usar essa voz... – me ajeitei sobre seu corpo, apoiei a cabeça em seu ombro e passei a encara-la. – Não precisa usar esse golpe baixo... – eu sorri.

 

- Quero ficar agarradinha com você... – beijei seu queixo.

 

- Já me convenceu na voz... – ela sorriu e eu também.

 

Levei a minha mão até seu rosto, ela fechou os olhos e eu suspirei, maravilhada com a beleza e a delicadeza que Isabela exalava. Aproximei a minha boca da sua, sentia os batimentos de seu coração colidir com o meu, provei do seu lábio inferior, o trazendo para a minha boca, saboreando e curtindo a macies que ele tinha. Isa tem uma boca de tirar o juízo de qualquer pessoa, o meu já se foi. Sua mão buscou a minha nuca, seus dedos passeavam entre os meus cabelos, enquanto o nosso beijo adquiriu mais contato, impossível conter o gemido baixo que escapou.

 

- Chamem as bombeiras! – foi só o que eu ouvi antes de sentir a água gelada em meu corpo. Levantei no susto e a Isa começou a rir.

 

- Tia... Eu acabo com você... – sai correndo atrás da louca.

 

- Corram... A Nick incorporou! – Sam gritou.

 

Ficamos mais um tempo ali, na verdade acredito que saímos quase três da manhã da piscina, Isa estava tomando banho, separei algumas roupas, coloquei sobre a cama e sai do quarto para lhe dar privacidade. Encontrei a minha tia no corredor, como sempre, quase nua, ela me olhou sorrindo.

 

- Aonde vai dormir, tia? – paramos em frente ao quarto da Jaque. – Tia...

 

- Relaxa, Nick... – ela sorriu e eu acreditei naquele gesto. – Essa menina se tornou uma sobrinha... Uma grande amiga...

 

- Vamos dormir com a Paloma... – Cami e Sam apareceram.

 

- Cadê a Isa? – a gringa perguntou e eu apenas ergui a sobrancelha. – Calma aí, priminha...

 

- Ela tá no banho... – respondi.

 

- Vamos comer alguma coisa? Estou faminta... – tia Juliane entrou no quarto da Jaque.

 

- Ao menos coloca uma roupa, tia... – Cami falou.

 

- Acho até que estou com roupa demais... – ela voltou e trouxe a Jaque.

 

- Claro... Esse short minúsculo e essa blusa que mal cobre os mamilos estão muito discretos... – Jaque zombou.

 

- Vou chamar a Isa... – andei poucos passos até o meu quarto e bati duas vezes.

 

- Entra! – foi o que fiz.

 

- Vamos comer? – ela vestia a roupa que eu havia separado e uma toalha na cabeça.

 

- Vamos... – ela sorria. – Tá me acostumando mal... – me enrosquei em seu braço.

 

- Não tem problema... – beijei de leve os seus lábios, enquanto andávamos.

 

Descemos rindo, falávamos sobre a noite de ontem, sobre Amanda ter dado descarga na Nataly e tudo mais. Descobri que estava viciada na risada da Isabela, nela por completo, e isso era assustadoramente maravilhoso.

 

- Que noite foi aquela? – Cami dizia, enquanto comíamos alguns sanduiches que Jaque e Paloma prepararam.

 

- Estava vendo a hora que a Fernanda, o Júlio... – franzi o cenho, Paloma continuou. – E o Danilo iriam aparecer também... – as meninas gargalharam.

 

- Que loucura... – Isa disse ao meu lado. – Quantos ex’s ainda vão aparecer? – ela me olhou.

 

- Essa pergunta é pra Juliane, Flávia, Cássia e Amanda... – falei me tirando da roubada.

 

- Amanda tem a minha adoração total... – Cami falou.

 

- Verdade... A cunhada mandou muito bem... – minha irmã falou.

 

- Eu queria muito ter visto... – falei e as meninas me olharam. – Que foi? Também tenho a minha criança interior... – dei de ombros e elas sorriram.

 

- Bom saber... – Sam falou.

 

- A Flávia tá feliz, não é? – minha tia falou.

 

- Muito... – Paloma de repente franziu o cenho.

 

- Tá tudo bem, mana? – perguntei preocupada.

 

- Ainda é doloroso imaginar que quase a perdemos, Nick... – engoli em seco. As meninas ficaram pensativas, Isa baixou o olhar. – Mas, ela tá aqui e é isso que importa... Agora tá lá... Acabando com a coitada da cunhada... – rimos.

 

- Só você, Paloma... – Jaque falou.

 

Continuamos a comer e falar da noite passada, era melhor seguir e não ficar presa ao que passou. Minha irmã estava viva, bem e isso era tudo o que importava e o passado, era só um sonho ruim e que acabou.

 

 

 

Isa

 

- Nick, para de lutar contra o sono... – ri, ela estava fofa demais tentando ficar acordada.

 

- Quero aproveitar cada... Segundo com você... – ela abriu os olhos e ficou me encarando. Estávamos de frente uma para a outra e o lençol até a cintura.

 

- Você é tão linda... – meus dedos se perderam entre os fios sedosos e o cheiro era divino.

 

- Linda é você... – ela fechou os olhos. – Isso é golpe baixo...

 

- Isso o que? – sorri.

 

- Esse... Carinho... – aproximei o meu rosto e beijei de leve os seus lábios.

 

- Dorme... Amor...

 

Ela sorriu, colou a minha testa na dela, me puxou para mais próxima de si, passou um braço por baixo de mim, repousei em seu peito. Nick me apertou com os dois braços em volta do meu corpo, acredito que passei o resto da madrugada com um sorriso.

 

- Aonde tá indo? – perguntei um pouco sonolenta, percebi que já era dia.

 

- Oh, amor... – ela beijou a minha testa. – Não queria te acordar...

 

- Ia fugir... – ela gargalhou e o som me fez acordar de vez, queria olhar para ela.

 

- Ia buscar algo pra comermos... – voltou a deitar e eu logo me agarrei a ela. – Que menina manhosa...

 

- Não tenho culpa se você é quentinha... – ela riu e me apertou. Ouvi um barulho vindo de seu estômago, Nicole passou a gargalhar e eu a acompanhei. – Acho melhor comer alguma coisa...

 

- Vamos...

 

Tomei banho e depois esperei a Nick fazer o mesmo, descemos juntas e da escada ouvíamos as risadas vinda da cozinha. Ao chegarmos, a bagunça estava feita, Flávia e Amanda já estavam ali.

 

- Bom dia meninas... – Carolina levantou, beijou a filha carinhosamente e depois segurou o meu rosto. – Menina linda... – acho que corei, ela sorriu e beijou-me a bochecha.

 

- Bom dia... – retribui o gesto.

 

- Vamos tomar café, minhas meninas... – Henrique chamou. A mesa estava cheia.

 

- Demorou, hein... – Juliane olhou de Nicole para mim.

 

- Tia, não começa... – Nick repreendeu a tia.

 

- Teus olhos estão quase azuis... – Flávia me olhou. – Vou pedi pra Becca fazer um quadro enorme com teus olhos, sério... – eu ri. – A Amanda, Jaque, Marcela e você foram agraciadas... Deus estava expirado... – gargalhamos. – Mãe, por que não usaram lente na hora de me fazer?

 

- Flávia! – dona Carolina ralhou, a gente acompanhou o Henrique na risada.

 

- Te amo, mãe... – ela piscou.

 

- Você é terrível, amor... – Amanda falou e beijou o rosto da namorada.

 

- Meninas, precisamos ter uma conversa com vocês... – Henrique olhou para a Carolina. As meninas se olharam.

 

- Pelo amor de Cristo, não inventa de dizer que alguém tá doente... – Paloma levantou e eu senti a mão da Nick procurar a minha.

 

- Calma, filha... – Henrique abraçou Paloma de lado.

 

- Estão nos matando de aflição, pai... – Flávia falou e olhou para a mãe.

 

- Bom... – segurou a mão de Henrique. – Serei direta... – ela sorriu. – Estou grávida...

 

- Ooooh... – Henrique sorriu, enquanto as meninas tinham um misto de surpresa e felicidade no rosto.

 

- Mas, tem outra coisa... – ela olhou para todas. Henrique franziu o cenho, até ele parecia não saber da continuação.

 

- Tem? – ele perguntou e Carolina abriu um sorriso enorme.

 

- Tem... – passou a mão sobre a barriga, nossos olhos acompanharam o gesto e pudemos ver a discreta barriga atrás do tecido do vestido. – São gêmeos...

 

- Caramba... – Henrique sentou, passou a mão sobre o rosto.

 

- Pai, você tá bem? – as meninas levantaram.

 

- Pega um copo com água... – Flávia mandou a Paloma.

 

- Estou bem... – ele disse pálido.

 

- Tem certeza? – Carolina perguntou.

 

- Beba, pai... – Nicole pegou o copo da mão de Paloma e entregou ao pai.

 

- Obrigada, filhas... – Amanda, Juliane, Samantha, Jaqueline e Camila, olhavam preocupadas. – Estou bem... – ele riu. – Nossa... Dois... Ou duas... – ele tinha um sorriso bobo, as meninas suavizaram a expressão.

 

- Mãe... – Nicole abraçou a Carolina, Paloma e Flávia fizeram o mesmo. Eles estavam muito emocionados, sorrimos com a cena.

 

- Nossa família vai virar time de futebol... – Paloma brincou.

 

- Deus... Paloma vai perder o trono... – Flávia falou e rimos.

 

- Já divido ele com a Jaque... – piscou para uma Jaqueline muito corada.

 

- Jaque... – Carolina chamou. – Meu marido e eu, andamos conversando...

 

- Sabemos que você pode tá querendo comprar um lugar só pra você, mas queríamos muito que ficasse... – Henrique completou e vi os olhos de Jaqueline marejarem.

 

- Gostamos muito de você, filha... – Carolina sorriu amorosa. – Se for da sua vontade...

 

- Fica, Jaque... – Flávia sorriu. – Faz parte dessa família zero por cento normal...

 

- Sabemos que não podemos substituir a tua família, mas isso não impede que faça parte desta... – Nicole falou. Meu coração vacilou, olhei admirada para ela, para eles, era palpável a bondade que exalava daquela família. Sequei uma lágrima fujona, as outras meninas estavam da mesma forma que eu.

 

- Gente... Vocês... – ela respirou fundo e secou suas lágrimas.

 

- Vem cá... – Carolina chamou e eles abraçaram a Jaque. Rimos com aquela cena, em meio a esse mundo tão cruel, de gente tão capitalista, de egoísmo, de guerra, ter pessoas como aquelas enchia o coração de esperança.

 

- Por isso que eu amo esse povo... – Juliane foi até eles. – Bem-vinda... – abraçou forte a Jaque. – E não demorem, louca pra conhecer vocês... – passou a mão sobre a barriga da irmã.

 

- Quanto tempo?  – Jaque perguntou, voltamos a sentar.

 

- Um e meio... – falou emocionada.

 

- Um mês é meio... – a branquela olhou para a mãe. - Eu quase matei os meus irmãos... Ou irmãs...

 

- Flávia, eu vou te encher de cascudo se você repetir isso... – Nicole falou.

 

- Mas, é verdade, Nick... – olhou para a mãe. – Não vamos te dar preocupações, mãe e a senhora vai prometer que vai tomar o máximo de cuidado possível...

 

- Ah, isso ela vai sim... – Paloma falou.

 

Continuaram fazendo mil e uma recomendações para a mãe, que sorria boba, Nick tinha os dedos entrelaçados aos meus. As outras meninas passaram a discutir quais seriam os nomes, arrancando risadas. Amanda estava sorrindo da felicidade estampada no rosto da namorada, ela me olhou e piscou, sorri.

 

Nem tudo é perfeito, as pessoas menos ainda, mas acho que é justamente isso que faz que o ser humano seja especial. Curtir ao máximo os momentos de felicidade como este é quase obrigatório, os problemas estão batendo constantemente em nossas portas, mas devemos mostrar para eles quem manda.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo