Jaqueline

 

As meninas que chegaram acabaram se juntando a nós, mas Amanda não estava tão contente assim com as moças. Estava tudo bem, ao menos para mim, até o momento em que vi os olhos insistentes de uma das garotas para a Marcela, que estava conversando com uma delas. Não entendo o porque desse sentimento chato que estava me enchendo a paciência.

 

- Relaxa aí... – Juliane falou baixinho

 

- Tô dando tanta bandeira assim? – perguntei.

 

- Uma enorme... – mordi o lábio.

 

- Então você finalmente se acertou com a loira... – Renata comentou e Flávia sorriu.

 

- Sim... Foi difícil, mas valeu a pena cada patada... – Flávia falou rindo e Amanda pareceu amansar.

 

- Desculpe por isso, amor... – Amanda fez um carinho no rosto da namorada. Estava marcando território. A tal Caroline apenas deu um sorriso, pareceu perceber o recado que a loira estava enviando para ela.

 

- Pensei que viria depois das férias, Carol... – Flávia comentou.

 

- Ah, sim... – bebeu gole de cerveja. – Tive bastante trabalho e não pude vim antes...

 

- E a Carina? – Cássia perguntou.

 

- Ela não quis sair hoje, tá de fossa... – sorriu melancólica.

 

- E você linda... Tá disponível? – Juliane perguntou com um sorriso safado. Essa doida não aguenta ver um rabo de saia.

 

- Depende... É pra você? – o sorriso da Ju só aumentou. Ouvi a Flávia dizer um “Graças à Deus!”. Eu apenas ri discretamente.

 

- Essa daí não tem vergonha na cara... – Cami falou baixinho e eu apenas concordei vendo Juliane e a Caroline saindo da mesa.

 

- Voltamos depois... – Juliane piscou. As outras três também levantaram, uma delas saiu arrastando a Sam e eu agradeci pelo clima entre Marcela e a fulana lá ter terminado.

 

- Duas a menos... Tá com sorte, Flávia... – Emi comentou.

 

- Ao menos parece que vai melhorar... Espero... – ela fez cara de cão sem dono.

 

- Mas, vamos mudar de assunto... Por que você acha que os seus pais estão estranhos, Flávia? – Becca perguntou.

 

- Minha mãe tá de cochicho com o meu pai e quando perguntamos nunca é nada... – eu também já notei isso.

 

- E perceberam que ela tá mais fortinha? – Paloma perguntou e Flávia, Nick e eu concordamos.

 

- Agora até eu fiquei curiosa... – Emi falou.

 

O papo foi se estendendo, levantei para pegar uma bebida no bar, o lugar estava cheio, haviam muitos universitários. Pedi uma dose de tequila, e estava esperando o barman quando uma mão delicada pousou em meu ombro.

 

- Oi... – virei e uma menina da minha altura e olhos incrivelmente claros me olhava sorrindo.

 

- Oi... Tudo bem? – estranhei a abordagem.

 

- Sim... Estava te olhando desde que entrou... – ela passou o dedo em meu braços, sorri sem graça. – Queria muito te conhecer melhor. – mais direta impossível. – Quem sabe esticar a noite...

 

- Acho que não, querida... Ela tá comigo – Marcela surgiu não sei da onde, mas agradeci mentalmente por isso. Ela percebeu o desconforto em meu olhar. – Cadê nossas bebidas amor? – beijou o canto da minha boca.

 

- Já estava levando, amor... – a mulher que nem disse o nome sorriu sem graça.

 

- Acho que já vou... – e da mesma forma que chegou, sumiu.

 

- Eu mereço um oscar... – sorriu para mim. E aquele negócio esquisito no peito voltou.

 

- Merece mesmo...

 

Acho que estava sorrindo igual boba.

 

 

 

Flávia

 

Estávamos no banheiro, Amanda estava apertada e eu a esperava do lado de fora do reservado, passando batom e levei um grande susto ao me deparar com aquela mulher vinda dos infernos ao meu lado.

 

- Olha... Finalmente te encontrei sem os cães de guarda... – Nataly me comia com os olhos. Olhei nervosa para a porta da cabine que Amanda estava.

 

- Nataly... Me deixa em paz... – olhei pra ela.

 

- Deixo... Depois que você me fazer goz*r como da primeira vez... – recuei, ela deu um passo a frente.

 

- Eu tenho namorada... Por favor... – estava entrando em desespero. – Vai embora...

 

- Eu não ligo para a azeda da sua namorada... Eu me garanto...

 

Opa!

 

O barulho da descarga foi ouvido, Nataly virou e olhou para onde vinha o som, a porta foi destrancada, meu corpo tremeu ao ver os olhos faiscando. Nataly deu dois passos para trás, me olhou e eu apenas dei de ombros.

 

- Então se garante... – Amanda olhava para a loira ao meu lado com um sorriso assustador.

 

- Flávia... Manda ela ficar longe de mim... – me olhou em desespero.

 

- Eu? Me tira dessa... – cruzei os braços.

 

- Eu te avisei pra ficar longe dela... – Amanda deu alguns passos à frente e Nataly recuou. – Mas, você se acha muito fodona...

 

- Fica longe de mim... – tremia igual vara verde. Amanda assim só me fez deseja-la. – Não toca em...

 

- Vou te ensinar a não desejar mulher alheia... – Nataly deu um grito quando a Amanda a pegou pelos cabelos e a levou para dentro de um reservado.

 

- Me solta! – ela gritava em desespero. Eu deveria ajudar, mas como amo a minha vida, fiquei quieta.

 

- Vai aprender a me ouvir... – Amanda enrolou os cabelos de Nataly em sua mão.

 

- Sua louca!

 

Eu jamais imaginei que um dia veria uma cena dessa, pensei que isso só existisse em filmes americanos de colegial. Amanda fez a Nataly ficar de joelhos em frente ao vaso sanitário, ela se debatia toda, mas a minha loira estava incorporada, enfiou a cara da outra loira dentro do vaso e deu descarga. Eu sei que não deveria rir, mas a minha criança interior tomou conta de mim, me segurei na pia para não cair. Minha barriga doeu e meus olhos lacrimejaram de tanto que eu gargalhava.

 

- E se você não tiver nem um pingo de vergonha na cara, estarei esperando pra próxima... – largou a loira com o cabelo molhado, a maquiagem borrada e os olhos faiscavam.

 

- Sua bruta... – ela levantou e correu para a pia, passou a lavar freneticamente o rosto. – Que nojo, que nojo...

 

Eu consegui voltar ao normal, Amanda olhava satisfeita pelo que fez, me olhou e eu sorri sem graça, calada para não correr o risco de sobrar pra mim.

 

- Vamos, amor? – ela segurou a minha mão, sorrindo como se nada tivesse acontecido.

 

- Vamos, meu amor...

 

Que mulher...

 

 

 

Becca

 

- Ela fez o que?

 

Estava difícil parar de rir, fazia cinco minutos que as taradas saíram do bar, a loira estava toda amarrotada, levou a morena. Flávia nos contou o que aconteceu dentro do banheiro, fazendo todo mundo rir sem parar. Algumas pessoas nos olhavam como se fossemos loucos, mas estava impossível parar.

 

- Vocês precisavam ter visto... – Flávia beijou o rosto da namorada.

 

- Eu não consigo entender como alguém pode ser tão oferecida... – Amanda franziu o cenho. – Teve o que merecia...

 

- Concordo em número, gênero e grau querida cunhada... – Paloma enxugava os cantos dos olhos.

 

- E eu que pensava que a Paloma era brava... – Cássia comentou.

 

- Deixa aquela piranha se engraçar pra ela ver se não acontece o mesmo com ela... – rimos, Paloma era uma graça com raiva.

 

- Essa noite vai ficar pra história... – Rafa disse. – Precisamos sair mais vezes com elas, né amor? – beijou Eliza.

 

- Concordo... – ela falou sorrindo.

 

- A tia Juliane ainda não voltou? – Flávia olhou ao redor.

 

- Ela e a gringa sumiram... – Emi falou. – Estão se dando bem por ai... Ai... – chutei a sua canela.

 

- Como é? – encarei a minha namorada.

 

- Vou ficar calada. – as meninas riram.

 

- Emi, Paloma, Cássia? – Flávia falou.

 

- O que? – disseram.

 

- Vamos cantar? – ela deu um sorriso em expectativa.

 

- Vamos... – Emi e Paloma se animaram.

 

- Tô fora... – Cássia falou.

 

- Tá fora nada, vamos logo... – Paloma segurou a mão da namorada.

 

- E o que vamos cantar? – minha namorada perguntou.

 

- Tenho uma boa música... – Flávia olhou para as meninas. – Curtam o show...

 

- Cadê a sua vergonha, Flávia? – Nick perguntou.

 

- Quase mijou na calcinha quando teve que fazer aquele discurso... – Cami emendou.

 

- Deixei no apartamento da Amanda... – respondeu com um sorriso sacana.

 

- Flávia... – rimos.

 

- Te amo, amor... – e saiu levando as outras.

 

- Essa eu quero ver... – Rafa falou.

 

- Desconhecia esse seu lado, dona Amanda... – ela gargalhou.

 

- Nem eu sabia que existia... – sorri. – Mas, acredite... Existe uma louca assim dentro de você também, dona Rebecca...

 

- Pior que tem mesmo... – rimos.

 

Passamos a olhar para o palco, enquanto víamos a Flávia falar algo com o Dj, que apenas sorria em acordo. Juliane apareceu junto com a Samantha, as duas estavam com as roupas amassadas e os cabelos desgrenhados.

 

- Olha o estado que elas voltaram... – Jaque começou a rir, sendo seguida por Isa e Marcela.

 

- Vocês ao menos poderiam ter arrumado os cabelos. – Isa falou.

 

- Queriam guardar de recordação... – Marcela completou.

 

- Tia... Olha o estado de vocês... – Nick falou com os olhos arregalados.

 

- Nicole, minha amada... Deixa eu ser feliz... – Juliane tinha um sorriso besta na cara.

 

- Cadê as meninas? – Sam perguntou e eu apontei para o palco. – Karaoke? Tô nessa...

 

- Também quero... – Juliane levantou.

 

- Deus nos proteja! – Cami falou.

 

 

 

Marcela

 

 

 

As meninas sorriam animadas em cima do palco, Jaque olhava sorrindo para as seis, que esperavam pelos microfones. Aquela menina tinha um jeito tão leve, um sorriso bonito e sim, eu estava cada vez mais encantada com ela.

 

- Boa noite... – tirei a minha atenção dela para olhar para o palco. – Por favor não joguem cerveja em nós... – Paloma brincou, fazendo o povo ri. – Curtam o show!

 

Quando as primeiras batidas da música começou, pude ouvir alguns gritos femininos, Amanda e Becca logo deram uma olhada em uma mesa que estava cheia de mulher.

 

Flávia e Emi começaram a cantar, passamos a acompanhar a música.

 

 

 

This was never the way I planned
Not my intention
I got so brave, drink in hand
Lost my discretion
It's not what, I'm used to
Just wanna try you on
I'm curious for you
Caught my attention...

 

 

 

E as seis passaram a cantar o refrão, arrancando assobvios e risadas nossas.

I kissed a girl and I liked it
The taste of her cherry chapstick
I kissed a girl just to try it
I hope my boyfriend don't mind it
It felt so wrong
It felt so right
Don't mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it...

 

Paloma e Juliane passaram a cantar juntas, algumas mulheres que estavam na mesa ao lado, levantaram e foram para perto do palco.

 

- Oh, vai dá merd*... – Jaque falou.
- E quando não dá? – rimos juntas.

 

No, I don't even know your name
It doesn't matter
Your my experimental game
Just human nature
It's not what good girls do
Not how they should behave
My head gets so confused
Hard to obey

I kissed a girl and I liked it
The taste of her cherry chapstick
I kissed a girl just to try it
I hope my boyfriend don't mind it
It felt so wrong
It felt so right
Don't mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it...

 

- Gostosas! – uns gritavam, Amanda e Becca levantaram.

 

- Gostosa, porém minha... – Becca olhou fixamente para uma ruivinha fazia coração pra Emi.

 

Cássia e Sam, não levavam o menor jeito para a música, mas mesmo assim seguiram em frente.

 

Us girls we are so magical
Soft skin, red lips, so kissable
Hard to resist so touchable
Too good to deny it
Ain't no big deal, it's innocent

I kissed a girl and I liked it
The taste of her cherry chapstick
I kissed a girl just to try it
I hope my boyfriend don't mind it
It felt so wrong
It felt so right
Don't mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it

 

 

 

Os aplausos foram muitos, algumas meninas se aproximaram delas, Paloma puxou a Cássia pra si, Becca e Amanda também não perderam tempo. Juliane e Sam foram as únicas que continuaram no meio do povo. A gente que ficou na mesa, apenas riamos delas, olhei para o lado e vi aquele sorriso lindo que a Jaque tinha, ela me olhou e eu sorri para ela.

 

 

 

Juliane

 

 

 

- Precisamos fazer isso mais vezes... – falei depois que sentamos, me apoiei na Jaque.

 

- Vocês foram um arraso... – Isabela falou.

 

- Ganharam até fã clube... – Nick debochou.

 

- Bando de assanhadas, isso sim... – Rebecca comentou.

 

- Se eu ainda tivesse algum folego... Pegava todas... – falei dando de ombros.

 

- Eu não duvido nada... – Cássia falou.

 

- Não duvida mesmo, né dotosa? – Paloma cerrou os olhos e as meninas me acompanharam na risada.

 

- Quando pensa em sossegar o faixo? – Flávia me perguntou.

 

- Afinal, como ficou assim? – Nick me perguntou.

 

- Tia... Você já gostou de alguém? – passaram a me encarar.

 

- Nossa... Ela ficou séria. – o pedaço de mal caminho falou. Flávia me olhou como se pudesse ler o que eu estava pensando. “Credo, começo a achar que tem paranormal na família”.

 

- Eu nem sempre fui assim... – falei dando de ombros.

 

- Ah, sério?

 

- Não brinca... – ficaram me enchendo.

 

- Tô falando sério... – não acredito que iria falar de coisa seria. Tenho alergia a isso. – Antes de embarcar nessa de modelo, eu tive o meu coração partido... – ficaram todos em silêncio, olhos arregalados, parecia até que eu havia dito que vi um disco voador.

 

- O que aconteceu? – Cami perguntou. – Você nunca fala do seu passado, tia...

 

- Quando eu tinha quinze anos, me apaixonei por uma garota da escola... – lembrei da cretina. – Eu me declarei e ela disse que também gostava de mim... Mas...

 

- Mas, o que? – Paloma perguntou. Aqueles fofoqueiros nem piscavam.

 

15 anos atrás...

 

Aquele dia eu iria pedir a Eduarda em namoro, nem acreditava que estava mesmo namorando com ela. Duda era a garota mais linda da escola, meu coração acelerou desde a primeira vez que a vi. Comprei chocolates, uma rosa vermelha e um par de anéis, minhas mãos estavam suadas e o coração não parava quieto a cada passo que eu dava em direção a sua casa.

 

Entrei sem precisar bater, sabia que os pais dela estavam trabalhando, então não tive medo, tentei ser mais silenciosa possível. A casa da Duda tinha dois andares e seu quarto ficava no fim do corredor, andei devagar, mas parei ao ouvir algumas vozes.

 

- Mais rápido... – era a voz dela. Senti o peito apertar.

 

- Como você é gostosa... OOOh... – eu sabia de quem era aquela voz.

 

Me aproximei a passos vacilantes, tentei abrir a porta, mas ela estava trancada, os gemidos estavam cada vez mais altos. Bati duas vezes, escutei alguma coisa caindo no chão, senti uma raiva fora do comum e não sei como tive força, mas meti o pé na porta e ela abriu, fazendo um barulho que acho que até os vizinhos ouviram.

 

- Ju... – ela estava com uma toalha cobrindo o seu sex*, enquanto uma mão cobria os seios.

 

- Wiliam... – olhei para o cara que ela sempre jurou ser só amigo, o cara estava totalmente pelado, me fazendo lembrar o quanto tinha nojo de homem.

 

Joguei as coisas que havia comprando no chão, dei as costas e sai de lá com uma calma que eu não sabia que tinha.

 

- Ju... Espera...

 

- Ninguém mais vai me fazer de otária...

 

Limpei as lágrimas que insistiam em cair.

 

De volta ao bar.

 

- A vaca te traiu? – Cami perguntou.

 

- Que puta... – Flávia se indignou e eu apenas ri.

 

- Você era romântica? – essa foi a Paloma

 

- Sim e sim... – dei de ombros.

 

- Wow!!! – revirei os olhos.

 

- Eu quebrava a vaca... – Sam falou. As meninas concordaram.

 

- Isso explica um bocado... – Jaque falou.

 

- Olha, tia... É bom saber que você tem um lado “sério”... – Nick falou.

 

- Mas, depois de saber disso, prefiro mil vezes a minha tia sem vergonha... – Flávia falou e eu sorri. – Preferimos seus risos...

 

- Eu também me amo safada... – eles gargalharam. – Agora deixem de me fazer ficar seria e vamos curtir a nossa noite...

 

- Assim que se diz!

 

Eu prefiro assim...

 

 

 

 

 

Fim do capítulo