Lost in Love - Parte 1
Denis estava esperando na porta do banheiro quando Evellyn passou por ele como um raio. Ele arregalou os olhos se dando conta de que ela e Camila estiveram no banheiro juntas.
- Oh céus, o que será que houve ali dentro?! – disse a si mesmo.
- Moço, eu preciso entrar nesse banheiro! – disse ao segurança que estava parado em frente à porta.
O segurança de terno preto olhou sério para ele e apontou para a porta, mostrando o símbolo de “banheiro feminino”.
- A minha amiga ta aí dentro, ela não está bem. Eu preciso entrar!
Denis postou-se para frente tentando abrir a porta, mas o segurança segurou seu braço.
- Cara, eu sei o que você está pensando, que nasceu no corpo errado, que se sente uma mulher e etc., mas enquanto você tiver um pau aí no meio das pernas você não pode entrar no banheiro feminino. Agora você vai colaborar ou vou ter que te tirar à força?
O segurança segurava firme no braço dele, o encarando. Denis não teve tempo de abrir a boca para protestar, quando Camila saiu do banheiro da mesma forma que Evellyn, passando por eles apressadamente.
- Camila! – Denis soltou-se do segurança e correu atrás da amiga – Camila, o que aconteceu?
Alcançou-a segurando em seu braço.
- Denis, vamos embora. Eu não estou me sentindo bem.
- Baby C, calma! O que houve lá dentro? Eu vi quando a Evellyn saiu de lá às pressas também. Ela falou algo com você? Ela fez algo a você? Me fala, porque se aquela vadia te fez algo eu vou lá agora dar na cara dela!
- Denis, só vamos embora daqui. Por favor?!
- Ta ok, tudo bem. Vou chamar um táxi.
[...]
Evellyn estava sentada no bar da boate. Virou a quinta dose de tequila pura e logo pediu mais.
- Outra, por favor. – disse ao barman.
- Hey... Você não acha que já bebeu demais por hoje?
Meg sentou-se no banco ao seu lado. O show havia acabado há 15 minutos, agora a música rolava do som ambiente.
- Megaaaan! A DJ mais gostosa que eu conheço. – Evellyn disse sorrindo de cabeça baixa, com os olhos fixados no balcão à sua frente.
O barman colocou a dose de tequila em frente à Evellyn, que ameaçou pegar o copo, mas foi surpreendida por Meg.
- Eu acho que pra você já chega. – disse pegando a tequila com mais rapidez e tomando em seguida – Você já está quente o suficiente.
Evellyn não protestou e sorriu para ela.
- Mas me diz, você está realmente se esquentando pra mim ou é só dor de cotovelo?
- Eu não sei do que você está falando. – Evellyn deu um sorriso de canto para ela.
- Bom, porque a menos que tenha levado um chifre, o que acredito que não seja o seu caso, quem bebe desse jeito, largada no bar com essa cara de depressiva, só pode estar sofrendo de amor. – Meg disse com humor.
Evellyn sorriu e levantou-se.
- Eu desconheço todos esses tipos de porre que você me citou. Exceto o primeiro, que a partir de agora pode ser o meu caso.
- Ótimo! Eu vou me fazer de desentendida e fingir que acredito em você. – Meg disse se pondo em frente à Evellyn – Afinal, não é todo dia que temos a chance de ir parar na cama de Evellyn Campbell, não é mesmo?! – sussurrou para ela.
As duas se entreolhavam sorrindo maliciosamente.
- Então, por favor, me acompanhe até minha casa, senhorita Bloom. – Evellyn segurou a mão de Meg e saiu a puxando consigo.
[...]
- Pronto, já estamos em casa, agora desembucha criatura.
Denis acompanhou Camila até em casa, percebeu que ela estava alterada e levemente abalada e preferiu não deixar a amiga sozinha.
- Eu não tenho nada para falar. – Camila estava sentada no sofá da sala, desajeitada, retirando os sapatos.
- Ah, não?! – Denis sentou-se ao seu lado – Por favor, Camila, você esteve no banheiro com a Evellyn por minutos, de repente vocês duas saem totalmente abaladas e você vai me dizer que não tem nada para falar?!
- Não. Eu entrei no banheiro e ela estava lá. Conversamos e ela saiu depois eu saí e fim.
- E você quer enganar a mim? Que te conheço a anos, que vi a tensão sexu*l* que rolava entre vocês duas, que te vi sair ofegante do banheiro e ficar toda esquisita depois! Ha-ha-ha – disse irônico.
- Ela me beijou.
Camila estava jogada no sofá, estava apática. Apenas olhava para o nada, como se estivesse em outra dimensão.
- Aquela bandida tarada te agarrou no banheiro?
- Sim.
- Pelo menos dessa vez você estava consciente.
- Não, Baby D. Ela me contou tudo. Ela ficou brava por eu ter pensado que ela seria capaz de fazer aquilo, mas ela não fez. Ela não transou comigo ontem.
- E como pode ter certeza que ela disse a verdade?
- Não sei, eu só... sei.
- Se você acredita, quem sou eu pra dizer o contrário... Mas então quer dizer que vocês não ficaram ontem, mas ela te beijou hoje, o que quer dizer que ela ta afim de você.
- Pode ser. Eu não sei, eu... Não to conseguindo pensar direito. Eu to confusa. Eu beijei a minha chefe, quer dizer, ela me beijou, mas eu deixei. Eu não reagi. Eu não sei o que pensar. – Camila dizia gesticulando mais apressadamente que o normal.
- Camila. Camila! – Denis segurou seus braços – Calma, meu amor, foi só um beijo.
- Ela é minha chefe, Denis!
- Sim, mas e daí? – Denis aconchegou Camila em seu peito – Ela é primeiramente uma mulher. Uma mulher muito linda, atraente, bem resolvida...
- Justamente! Ela é mulher e eu a beijei e eu... eu... Eu gostei.
Denis não conseguiu prender o riso.
- Ok, você está tendo uma crise existencial porque beijou uma mulher pela primeira vez, porque essa mulher é a sua chefe, porque além de tudo ela é ninguém menos que Evellyn Campbell, porque você gostou do beijo e porque você está levemente alcoolizada. – disse irônico.
- Eu não posso mais trabalhar para ela, eu não vou conseguir olhar pra ela como se nada tivesse acontecido. – Camila já chorava como um bebê – Baby D, eu vou me demitir. Eu não posso...
- Hey, Camila... Camila, meu bem, pare com isso. – Denis tentava acalmá-la – Amanhã é um novo dia e se tudo correr bem você nem vai se lembrar do que aconteceu hoje. Acalme-se, sim?
- Eu não posso, Baby D! Eu não posso... – Camila repetia copiosamente enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- Sim, você pode. Agora vem pra cama. Você só precisa de uma boa noite de sono.
[...]
- Hey... vai com calma, amor.
Meg disse ofegante quando sentiu a pancada nas costas. Evellyn a prensou contra a porta de seu quarto a beijando com vontade.
- Paciência é uma coisa que eu não tenho e você sabe disso. – Evellyn disse olhando séria e sedutora para ela.
Evellyn voltou a capturar os lábios de Meg com desejo, suas mãos desceram do seu pescoço e agarraram o suspensório da DJ, o retirando para os lados. Desceu seus lábios até o pescoço da morena distribuindo beijos e mordidas naquela região. Suas mãos apertavam sua cintura puxando o seu corpo para si. Meg mordia os lábios ofegando de desejo. Evellyn cessou as carícias e se afastou, segurou o suspensório e a puxou, encaminhando-as em direção à sua cama espaçosa, onde pararam em frente. Evellyn virou-se de costas para Meg e retirou seus cabelos para o lado.
- Tira pra mim? – disse mostrando o zíper do vestido.
Meg imediatamente segurou o zíper e o puxou com cuidado. Sentiu o vestido afrouxar-se no corpo de Evellyn e o puxou para baixo, deixando à vista seu corpo escultural.
- Nossa! – Meg sussurrou com a visão ainda das costas da morena.
Evellyn virou-se deixando revelar seus seios à mostra. Usava apenas uma calcinha pequenina de renda preta, o que fez com que Meg arfasse, logo sendo capturada pelas mãos ágeis de Evellyn.
- Por que a surpresa? Não é a primeira vez que você me vê nua.
- Não sei, parece que você fica mais gostosa a cada dia.
Evellyn sorriu e logo recomeçou a sessão de beijos e carícias. Meg mal teve tempo de tocá-la e logo sentiu seu corpo ser empurrado contra a cama. Evellyn, ainda de pé, retirou seus sapatos e o tênis de Meg em seguida. Curvou-se para frente e desabotoou seu short o retirando com rapidez. Logo subiu na cama e sentou-se sobre a morena, que observava cada movimento com prazer. Logo teve sua blusa retirada também, enquanto escorregava sua mão sob a calcinha de Evellyn, começando a fazer movimentos de vai e vem com o dedo médio, o que fez Evellyn arfar de prazer, se movimentando no mesmo ritmo. Quando sentiu que chegava ao ápice, Evellyn retirou a mão da morena e deitou-se sobre ela. Começou a beijá-la com leve desespero enquanto terminavam de retirar as peças que ainda lhes restavam.
Seus corpos já completamente nus estavam em um movimento sincronizado, Evellyn rebol*va sobre Meg que ofegava com tesão. O atrito de suas intimidades cada vez mais forte, cada vez mais quente. Evellyn descia e subia sobre Meg num vai e vem frenético.
- Assim... Vai, não para!
Meg sussurrava em meio aos gemid*s que escapavam de sua boca.
- Eu vou... Oh...
Evellyn gemia acelerando cada vez mais seus movimentos. Meg sentiu seu corpo se contrair, uma leve dormência subia por suas pernas se alocando no seu centro molhado de tesão. Em poucos segundos ela gozou gem*ndo e arfando de prazer. Instantes depois Evellyn também chegou ao ápice, deixando escorrer sobre Meg o seu gozo. Seus corpos inundados de prazer repousaram sobre a cama por alguns instantes para logo em seguida reiniciarem uma maratona de sex* que durou a noite quase inteira.
[...]
- Bom dia, meu amor!
Denis abriu as cortinas da janela do quarto de Camila com satisfação. A loira revirou-se na cama resmungando desaforos sem nexo com os olhos ainda fechados.
- Hora de acordar, – insistia ele enquanto carregava uma bandeja até a cama – o dia está bonito demais pra você ficar aí largada na cama.
- Que horas são? – Camila sentou-se com dificuldade.
- São horas de acordar. Já é quase meio dia, vamos acabar com essa ressaca e aproveitar o dia.
Denis colocou a bandeja em cima da cama fazendo Camila animar-se um pouco. Havia torradas, suco de laranja, geléia de amora, a preferida dela, pãezinhos e café. Seus olhos brilharam quando viu e sentiu o cheiro gostoso de café fresco.
- Oh, eu preciso disso! – Camila disse pegando uma das xícaras e levando até a boca, movimento que fez com que o lençol que a cobria escorregasse até sua cintura.
- Ai, garota, eu não sou obrigado a ver isso uma hora dessas da manhã. Por favor, esconda essas bolas perfeitamente simétricas e rosadas e aparentemente macias... – Denis observava com uma feição indecifrável no rosto. Fazendo Camila sorrir, se cobrindo novamente.
- Não há nada aqui que você já não tenha visto.
- Infelizmente, não mesmo. Mas falando nisso, nunca havia reparado nos seus seios. São lindos, bicha. Ta de parabéns! – disse com ironia.
- Ih... eu hein, Baby D, ultimamente você anda reparando demais em mulher. – Camila sorria, zombando do amigo.
- Estou pensando em mudar de sex*, não sabia?
Camila gargalhou.
- Denis Dawson, faça-me o favor, né! Você ama esse pau que você tem aí mais que tudo nessa vida.
- Amo mesmo! E não trocaria ele por lindos seios nunca. O que não me impede de apreciar a beleza da anatomia feminina.
- Ok... – Camila deu de ombros.
- Mas e então... Como se sente essa manhã?
- Estou ótima. Melhor impossível!
Denis olhou para ela com uma sobrancelha arqueada.
- Sério?
- E por que eu não estaria?
- Bem, depois daquele show de drama que você deu ontem à noite eu imaginei que estaria depressiva e morta de ressaca hoje.
- Eu estou bem. Estou ótima. Sem ressaca, sem remorsos. O que aconteceu ontem não foi nada demais, não há porque eu me preocupar. Está tudo nos conformes. Amanhã irei trabalhar tranquila como se nada tivesse acontecido e vai voltar tudo ao normal.
Denis olhava para ela com uma expressão surpresa.
- Se eu não te conhecesse eu diria que você está tendo um ataque súbito de despreocupação excessiva pós surto de pânico.
- Eu não entendi nada do que você disse.
Os dois se olharam seriamente até que não conseguiram mais prender o riso e desabaram a gargalhar.
- Você é louca, Camila! – Denis dizia rindo sem parar.
- Não... eu sou normal até demais. – disse enfi*ndo uma torrada com geléia na boca – E é por isso que você me ama. – sua boca cheia espalhava restos de pão com geléia pela cama – Eu sou seu equilíbrio, você é louco e eu sou normal.
- Fecha essa boca, porca nojenta!
- Eu sou uma linda porca que você ama. – Camila disse se curvando para ele – Vem cá, dá um beijinho na porquinha.
- Eu hein! Sai, garota nojenta. – Denis se curvava no sentido contrário ao de Camila – Sai pra lá com esse bafo. Essa boca toda suja, eca!
Os dois continuaram com as brincadeiras e conversas amenas por mais um tempo. Denis passou o dia com a amiga. Pensou que lhe fazer companhia a faria bem, e com razão.
[...]
- Hey... Ta tudo bem?
Meg se curvou de sua cadeira à beira da piscina, passando o braço no pescoço de Evellyn, que estava recostada na cadeira ao lado, e beijou seu rosto.
- Sim. – Evellyn sorriu levemente – Por quê?
- Você não larga esse celular desde que acordou, olha para ele como se estivesse esperando uma resposta amorosa da Megan Fox.
Evellyn sorriu, mas os óculos escuros em seu rosto impediram a morena de ver a preocupação em seus olhos.
- Problemas no trabalho. – Evellyn deu de ombros.
- Sei... – Meg preferiu não insistir no assunto – Vem, entra na água comigo?
Meg se levantou e retirou seu short o depositando em cima da cadeira e estendeu a mão para a morena.
- Eu prefiro ficar daqui apreciando a vista.
Evellyn sorriu sugestivamente para Meg que estava de pé em sua frente. Seu corpo levemente sarado naquele biquíni branco deixava Evellyn animada, mas não o suficiente para acompanhá-la no mergulho.
Meg sorriu para ela e deu as costas, pulando na piscina.
- Senhorita Campbell, o almoço está pronto. – Ivone foi até a área da piscina anunciar a refeição – Deseja que seja servido agora?
- Sim, por favor, Ivone.
- Pois não. – disse saindo em direção à entrada da cozinha da casa.
- Meg! – Evellyn se levantou e acenou para a morena que nadava – O almoço está pronto, vem?
Meg prontamente nadou até a borda e saiu da piscina. A visão naturalmente sensual da morena saindo toda molhada tirou um sorriso dos lábios de Evellyn.
- Acho que eu deveria ter entrado na piscina com você. – Evellyn sorriu enquanto segurava uma toalha estendida para ela.
- Sim, deveria... – Meg sorriu e tomou a toalha se enxugando.
As duas vestiram roupões e se encaminharam para a casa. Tomaram um banho rápido, separadamente, mesmo sob protestos de Meg, e se ajeitaram para almoçar.
- A Evellyn que eu conheço não me deixaria tomar banho sozinha, – Meg disse enquanto apreciavam o almoço – não duas vezes no mesmo dia.
Evellyn deu um sorriso monótono.
- Eu já tinha pedido para a Ivone servir o almoço, se eu tomasse banho com você iríamos nos atrasar.
Megan apenas sorriu enquanto continuavam o almoço. Conversaram sobre amenidades e após a refeição se sentaram no sofá da sala para tomarem uma taça de vinho.
- Daqui eu vou partir para o Canadá, tenho uns shows em Toronto.
- Isso é ótimo. – Evellyn disse.
- Era melhor quando você me acompanhava. Lembra? Aqueles sim eram bons tempos. Viajávamos pra todo o canto do mundo, sem destino, sem compromissos. Eu tocava em qualquer balada onde me pagassem mais que uma garrafa de Vodka.
As duas sorriram nostálgicas.
- É, mas aí você resolveu ficar famosa e só tocar em festas de luxo.
- E você resolveu virar uma mulher de negócios, responsável, e parou de curtir a vida.
- Não foi bem uma decisão minha, mas sim, agora não posso mais levar essa vida de luxuriosa que eu levava antes.
- É eu entendo. As coisas mudam, o tempo passa, é a vida. – Megan disse com pesar.
Após conversas e muitas lembranças, Meg se preparava para partir. Arrumava sua mochila no quarto de Evellyn enquanto era observada pela morena.
- Se quando eu voltar você ainda estiver livre, a gente se encontra de novo. – Meg disse com um meio sorriso nos lábios.
- Como assim, “se”? Eu sou uma mulher livre, meu bem!
- Ótimo! – Meg sorriu e se inclinou selando seus lábios aos de Evellyn, que retribuiu.
- Eu pedi o William para te levar até o aeroporto. – Evellyn disse enquanto desciam as escadas.
- Obrigada, muito gentil de sua parte, senhorita Campbell.
Na porta de entrada William já aguardava para pegar a bagagem de Meg. Assim que o fez ele ficou a postos em frente ao carro esperando as moças se despedirem.
- Então é isso. Foi muito bom rever você, Evellyn.
- Foi muito bom te ver também, Megan!
As duas se abraçaram em despedida.
- Depois eu quero saber. – Meg disse se soltando da morena.
- Saber o que? – Evellyn disse confusa.
A DJ apenas sorriu e deu as costas, descendo a pequena escadaria indo em direção ao Sonata preto em sua frente. Quando chegou à porta parou virando-se para Evellyn.
- Quero saber quem é a mulher que conseguiu a façanha conquistar seu coração. – Meg disse com um sorriso nos lábios.
Evellyn olhou surpresa e boquiaberta para a moça que já entrava no carro partindo dali.
[...]
- Bom dia, senhorita Campbell. – disse Susan ao ver sua chefe adentrar o grande hall que ficava em frente a sua sala.
Evellyn passou direto para seu escritório naquela manhã de segunda-feira. Não havia tirado seus óculos escuros desde que saiu de casa e não estava com humor para sorrisos.
- Ih... Hoje ela ta de mal humor. – Susan sussurrou a si mesma quando sua chefe entrou em sua sala batendo a porta.
A secretária assustou-se quando seu telefone tocou.
- Escritório da senhorita Campbell, pois não?
- Susan, – Evellyn soou rabugenta do outro lado da linha – me traga um café forte e doce, por favor.
- Sim, senhora. Levo já.
Susan levantou-se e se encaminhou até a máquina de café em frente a sua mesa. Enquanto enchia uma grande xícara ouviu Camila chegar.
- Bom dia, Susan. – disse com um sorriso simpático nos lábios.
- Bom dia, senhorita Clarke. – Susan encaminhou-se com uma bandeja em mãos junto de Camila em direção à sala da chefe.
- Café já a essa hora? – Camila perguntou com preocupação.
- Sim. Ela entrou de óculos escuros hoje.
Susan disse quase sussurrando para Camila antes de entrarem na sala, que por sua vez suspirou parecendo entender aquilo como um código de alerta.
- Com licença, senhorita Campbell. Seu café.
Susan adentrou a sala carregando a bandeja, logo seguida por Camila. Evellyn estava concentrada em seu computador e não se moveu até ouvir aquela voz que a fez estremecer por dentro.
- Bom dia, Evellyn.
Camila estava parada em frente a sua mesa, imóvel, sem jeito. Evellyn a olhava com certo nervosismo, também imóvel. Quase sem jeito.
- Com licença. – Susan disse após deixar a xícara de café na mesa de Evellyn.
A voz de Susan dispersou as duas daquela intensa troca de olhares.
- Bom dia, Camila. – disse pegando seu café.
Camila se ajeitou em sua mesa tentando sair daquela situação. Houve um breve silêncio constrangedor até que Evellyn resolveu falar.
- Você está bem? – disse a olhando enquanto bebericava o café.
- Sim, ótima. – Camila ajeitava suas coisas em cima da mesa sem olhar para sua chefe. – E você?
- Bem. – Evellyn não tirava os olhos dela – Sua mão, como está?
- Ótima, a ferida está quase cicatrizada.
Camila continuava ajeitando suas coisas na mesa, mesmo quando não havia mais o que ajeitar. Ela sentia olhar curioso e penet*ante de Evellyn sobre si e não se atreveu a olhar em sua direção. Ficava cada vez mais nervosa e incomodada com a situação. Mexia quase que freneticamente nos papéis em sua mesa até ser interrompida por Evellyn.
- Camila? – disse suave, mas firme.
Camila parou por um instante respirando fundo e enfim a encarou.
- Sim? – A olhava nos olhos.
- Você está realmente bem? – Evellyn cerrou os olhos juntando as sobrancelhas.
- Sim, sim. Por que não estaria? Eu estou ótima. Melhor impossível! A manhã está linda, o tempo agradável, eu estou b...
Evellyn não a deixou terminar. Sabia muito bem que quando Camila estava nervosa desandava a falar descontroladamente.
- Camila, acalme-se!
Evellyn se levantou fazendo menção de ir até ela, o que fez com que ela se levantasse instantaneamente, fazendo com que a morena parasse hesitante onde estava.
- Olha... – Evellyn suspirou fundo – Sobre a noite da festa, eu...
- Evellyn, não se preocupe. – Camila a interrompeu – Nós estávamos alteradas e aquela confusão toda acontecendo, enfim. Não foi nada, eu quase não me lembro de nada pra falar a verdade.
Camila sorria sem jeito tentando disfarçar sua tensão.
- Não se lembra?! – Evellyn perguntou confusa.
- Não. Sim... um pouco. Mas nada que eu não possa esquecer.
- Entendo. – Evellyn suspirou levemente desapontada.
As duas voltaram a se sentar tentando voltar sua atenção ao trabalho, mas o clima pesava demais sobre elas.
- O seu... – Evellyn hesitou – namorado, é... Me desculpe. Eu fui um pouco rude com ele. O diga que eu sinto muito, por favor.
- O Denis? Não, ele não é meu namorado.
- Não? – Evellyn sufocou um sorriso aliviado que veio até seus lábios.
- Não. Ele é meu amigo. Meu amigo gay, por sinal. – Camila sorriu timidamente.
- Oh, sim. Entendo. – Evellyn sorriu.
Depois de uma breve troca de olhares elas voltaram ao trabalho.
O dia seguiu sob um clima tenso. Camila e Evellyn trocaram poucas palavras, somente o necessário. Já no fim do dia Camila dava graças por poder ir embora e respirar aliviada.
- Então até amanhã, Evellyn.
- Até amanhã. Ah, Camila, – Evellyn chamou antes que ela alcançasse a porta – você confirmou o jantar com os editores de moda da Agência Art Model na quinta-feira? Preciso fechar minha agenda dessa semana.
- Sim, sim. Está confirmado para a quinta-feira às oito da noite no restaurante Cucina Italiana.
- Ótimo. Obrigada.
A quinta-feira chegou num piscar de olhos. A relação entre a chefe e sua assistente estava menos tensa, mas voltou a ser quase como no início, estritamente profissional. Sem conversas amenas, sem a pouca intimidade que haviam construído. Apenas a dona de uma empresa e sua funcionária. Evellyn tentou algumas poucas vezes quebrar aquela seriedade entre as duas, mas não obteve sucesso. Camila parecia fechada em um casulo e evitava qualquer tipo de aproximação ou assunto que não fosse relacionado ao trabalho.
- Eu tenho analisado todos os relatórios, – disse Camila – mas está tudo muito bem feito, Evellyn. Não conseguiremos provar nada apenas com os relatórios da contabilidade. Precisaremos de notas fiscais, notas de serviços e tudo o que comprova os valores reais de entrada e saída de dinheiro para confrontar com o que está nos livros caixa.
- Mas está tudo aqui, claro e notório que há divergência de valores, Camila. – Evellyn disse já irritada – Não é possível usar somente esses relatórios para entrar com uma ação?
- Evellyn, possível é, mas não será suficiente. Nós precisamos reunir provas incontestáveis antes de tomar qualquer iniciativa. Usar somente os relatórios dará margem para que ele conteste e entre com um recurso, o que dará tempo dele acabar com as outras provas do desvio de dinheiro.
- Mas que inferno! – Evellyn levantou-se de sua cadeira batendo as mãos sobre a mesa – Eu quero colocar esse vagabundo na cadeia o mais breve possível!
- Evellyn, se acalme. É preciso ter paciência. Nós temos que ser muito cuidadosas, até porque a posição dele dentro da empresa o permite ter acesso a tudo, ou quase tudo. Temos que ser cautelosas e não dar margem para contestações.
- Sim, eu sei. – Evellyn caminhava de um lado para outro em sua sala – Meu irmão vai pagar caro por isso. Eu juro por meu pai!
[...]
Às 19h30min daquela noite Camila calçava os sapatos apressadamente em seu quarto quando ouviu seu celular tocar. Correu até a sala alcançando a mesinha de centro com um dos sapatos no pé e outro na mão.
- Droga! – disse arfando quando viu o nome na tela – Pronto? – disse sentando-se no sofá para calçar o outro par do sapato.
- Já deveria estar pronta aqui dentro do carro, Camila. – Evellyn disse impaciente do outro lado da linha.
- Eu já estou saindo, só um minuto.
- Nem meio minuto, Camila, estamos atrasadas! – Evellyn disse ranzinza e desligou a chamada.
- Como ela é irritante!
Camila bufou alcançando a porta. Parou para respirar por alguns segundos, checou uma última vez se havia pegado tudo o que precisava e saiu apressada.
William já a esperava de pé em frente ao Audi A8 preto estacionado na porta de sua casa.
- Boa noite, senhorita Clarke. – disse ao abrir a porta traseira para ela.
- Boa noite, William. Como vai? – Camila respondeu sorridente parando na porta para esperar a resposta.
- Muito bem, senhorita. Obrigado.
Evellyn, que estava impaciente dentro do carro, virou-se para reclamar da demora, mas ao se deparar com uma das pernas de Camila apoiada sobre a base da entrada do carro e seu corpo sob um vestido preto que modelava suas curvas, ela se conteve. Com a boca ainda aberta para falar e travada pela visão, ela sentiu seu corpo estremecer.
Nossa! – pensou consigo.
Após o breve cumprimento Camila adentrou o carro despertando Evellyn de seu devaneio.
- Boa noite, Evellyn.
- Você está atrasada. – Evellyn disse olhando a hora na tela de seu celular.
- Oh, sim, eu vou muito bem. E a senhorita, como tem passado? Que ótimo. Fico feliz em saber. Muito obrigada, a senhorita é muito gentil e educada.
Camila sorriu da forma mais irônica que pôde. Evellyn permanecia séria a olhando com desdém. Assim que o carro deu partida ela quebrou o silêncio.
- Você está muito bonita. – disse sem olhar para a loira.
Camila não segurou o sorriso, mas logo fingiu seriedade para respondê-la.
- Muito obrigada, a senhorita é muito gentil e educada.
Evellyn não a olhou novamente, mas Camila pôde perceber um sorriso no canto de sua boca pintada com um batom vermelho sangue.
O clima parecia estar ficando mais ameno. Evellyn ficou aliviada ao perceber que Camila estava voltando ao seu normal.
O trajeto seguiu silencioso. Em quinze minutos o carro estacionou em frente ao restaurante italiano mais referenciado de New York.
A reserva para cinco pessoas estava no nome de Evellyn, por isso a pressa. Ela deveria ser a primeira a chegar.
- Sorte a sua que eles ainda não chegaram. – Evellyn disse se acomodando na mesa.
- Mil perdões pelo meu descuido, senhorita Campbell. – Camila disse em tom irônico, já sentada ao seu lado – Estou certa de que devo ser castigada com veemência pela minha falha. Talvez o mais apropriado seja que a senhorita me acorrente ao tronco e me açoite até eu me esvair em sangue.
Evellyn não pôde conter o riso.
- Não seria má idéia, Camila. – disse sugestiva.
- Eu sou realmente grata pela escravidão ter sido abolida há séculos atrás ou estou certa de que seria chicoteada esta noite. – Camila fingiu estar horrorizada com a situação.
Evellyn sorriu com sarcasmo no olhar.
“Realmente não seria nada mal se eu te desse uma lição, Camila. Você tem sido uma menina muito má e petulante. Nada que um bom chicote não resolva.”
- Eu não acredito que você está realmente pensando nessa possibilidade! – Camila disse com leve surpresa no tom de voz, o que fez com que Evellyn despertasse de seus pensamentos.
- Não vou negar que muitas vezes tenho vontade de açoitar meus funcionários pela incompetência, mas você não se enquadra nesse caso, Camila. Competência é uma de suas melhores qualidades, não é a toa que você trabalha pra mim.
- Às vezes você me assusta, Evellyn. É uma sorte você não ter nascido na época da escravidão. – Camila sorria com certo receio no olhar.
- Não seja dramática, Camila.
A conversa foi interrompida pela chegada dos editores da agência de moda. Dois homens, um aparentando seus 50 anos e o outro na casa dos 30. A mulher não parecia ter mais de 35 anos. Todos muito bem vestidos.
O jantar seguiu regado a vinhos finos e saborosos, escolhidos por Evellyn e pelo editor mais jovem, que disputavam arrogante e civilizadamente quem entendia mais sobre o assunto.
Em meio à conversas maçantes, necessárias para o fechamento de um negócio, olhares intensos e sorrisos sedutores eram trocados na mesa. Camila se remexia desconfortavelmente na cadeira a cada olhar insinuante do homem branco barbado à sua frente. Evellyn sentia o peso dos olhos curiosos da mulher loira pairar sobre ela parecendo despi-la a cada movimento que fazia, mas ela não conseguia prestar atenção em nada além do lobo à sua frente prestes a comer Camila com os olhos. Enquanto o senhor gordo de terno, com uma gravata borboleta e óculos de grau combinando na cor vinho, permanecia alheio à todas essas movimentações, monologando incansavelmente sobre o fracasso da última campanha de moda de sua agência publicada na revista de uma agência de publicidade concorrente.
- Com licença, – Camila disse se levantando – preciso ir ao toilette.
Evellyn logo pediu licença e a acompanhou. Ao chegarem ao banheiro apenas se entreolharam e começaram a rir descontroladamente.
- O que foi aquilo? – Camila disse se apoiando na bancada da pia, perdendo o ar.
- Eu estou pasma! O que é que está acontecendo naquela mesa? Colocaram alguma coisa naquele vinho?
- Aquela mulher está se insinuando descaradamente pra você, Evellyn.
- E aquele lobo feroz está te comendo com os olhos, Camila.
As duas, que haviam conseguido conter o riso, voltaram a gargalhar.
- Eu acho que, de fato, colocaram alguma coisa naquele vinho! – Camila disse tentando se conter.
- Estimulante sexu*l*, só se for! – Evellyn disse com ironia – E aquele gordo que não cala aquela boca. Pelo amor dos deuses!
- Ele parece ser o único realmente interessado em fechar um negócio.
- De fato, porque aquele cara parece mais interessado no seu decote.
- E aquela mulher me parece muito admirada pelas suas qualidades, e não estou falando profissionalmente.
- Eu nem reparei. Fiquei mais incomodada com o barbudo inconveniente.
- Está com ciúmes, senhorita Campbell? – Camila a fitava com o olhar.
- Eu deveria, senhorita Clarke? – Evellyn retribuía com olhar desafiador.
- Você me parece muito possessiva, Evellyn.
- Eu só tenho muito cuidado com as coisas que tem o meu apreço, Camila.
Não desviaram o olhar um segundo sequer. Um sorriso sufocado em seus lábios, mas nenhuma das duas se permitia demonstrar. Toda aquela tensão conhecida já tomava conta do espaço até serem interrompidas por duas senhoras que adentraram o banheiro.
Após alguns minutos descontraídos, as moças voltaram para a mesa, já recuperadas. Houve mais algum tempo de conversas e troca de olhares, Camila e Evellyn seguravam o riso entre um flerte e outro lançados por aquele casal. No fim da noite o negócio estava fechado.
A volta para casa foi muito diferente da ida ao restaurante. Não se sabe se o efeito dos vinhos ajudou, o fato é que Camila e Evellyn conversaram durante todo o caminho. William volta e meia sorria disfarçadamente ouvindo a falsa indignação das moças com o que havia ocorrido no restaurante. As gargalhadas ecoaram pelo carro até que o mesmo parasse na porta da casa de Camila novamente. William logo desceu para abrir a porta para a moça.
- Eu nunca fui a um jantar de negócios tão divertido. – Evellyn disse se recuperando.
- Nem eu! – Camila concordou.
Mais alguns sorrisos entre troca de olhares e houve silêncio, que logo foi quebrado por William abrindo a porta do carro para Camila.
- Então boa noite. – Camila sorriu timidamente sob o olhar intenso de Evellyn.
- Boa noite, Camila.
Mais alguns segundos de silêncio enquanto Willian aguardava pacientemente do lado de fora. Camila sorriu soltando o ar preso em seus pulmões e num impulso se aproximou de Evellyn que permaneceu imóvel. Camila tocou seu braço com a mão direita e levou sua boca até o ouvido de sua chefe.
- Você também está muito bonita, senhorita Campbell. – disse num sussurro.
Evellyn suspirou num leve sorriso e Camila pôde sentir os pêlos de seu braço se eriçarem, o que fez a loira morder os lábios num sorriso. Num rompante, Camila se afastou com a mesma velocidade que se aproximou e saiu do carro.
- Boa noite, William. Até amanhã. – disse caminhando até a porta de sua casa sem olhar para trás.
- Boa noite, senhorita Clarke. Até amanhã.
No caminho para sua casa Evellyn recostou-se sobre a poltrona confortável do carro suspirando em seus devaneios. Mordeu os lábios só de pensar na possibilidade de tocar no corpo perfeito de Camila, sentir seus lábios novamente. Sentir de perto o cheiro gostoso que ela tinha. Evellyn já sentia seu corpo quente só de imaginar.
- Você está perdida, Evellyn. – sussurrou a si mesma – Perdida!
Fim do capítulo
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