Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 10

 

No apartamento de Matias.

 

-- Que música é essa, amor? -- Vinícius berrou do banheiro.

-- Celebration, da Madonna -- disse Matias colocando dois pratos na mesa.

Vinícius saiu só de toalha do banheiro e começou a fazer suas dancinhas.

-- Não posso escutar esse tipo de música que fico louco para se jogar na pista.

-- Pois pra mim não importa, pode ser house, tech house, tribal, electro, flashback, disco, o que vale é se jogar forte e "bunita"! Se acabar de dançar. Como se não houvesse amanhã. Como diz minha diva, diva, diva, Lady Gaga: Just dance.

Não demorou em ser tirado de seu transe ao ouvir a campainha soar.

-- A nossa comida chegou. Vini abre a porta amor...  -- Matias pediu ao namorado.

-- Estou só de toalha Matito.

-- Grandes coisas -- Matias deu uma gargalhada -- Está com medo que te agarrem louca?

-- Hum -- Vinicius fez bico, abriu a porta e deu de cara com uma garota.

Daniela olhou para ele de alto a baixo.

-- Uma noite uma lésbica atirada, outra noite uma bicha pelada. Esse meu trabalho está ficando melhor que pinhão assado.

-- Quem é você? Se estiver "Procurando Dory", vou adiantando que não está aqui.

-- Quem é Dory?

-- Deixa pra lá. O que você quer? -- Vinicius cruzou os braços e ficou olhando para ela.

-- Vim trazer o seu pedido: Sushi de Salmão, Karê, Lámen Especial, Salada de Harussamê e de sobremesa: Kompeito -- entregou a nota para ele.

-- Hummm... Desculpe, é a primeira vez que mandam uma mulher.

-- Decepcionado?

-- Um pouco. Passa pra cá a encomenda.

Daniela passou as caixas para ele.

-- Tudo certo amor? -- Matias perguntou lá de dentro.

-- Tudo amor -- Vinicius respondeu com as caixas na mão.

-- Quem é ele? -- Daniela colocou a cabeça para dentro e viu Matias também só de toalha.

-- Matito, meu namorado -- falou todo orgulhoso.

-- HELLO-OO... Glamourosaaa...

-- Oi -- Matias levantou a mão e a cumprimentou sem olhar.

-- Poxa, vocês até que são umas bichas bem ajeitadinhas.

-- Você acha? -- Vinicius deu uma voltinha e fez uma pose olhando sua imagem no espelho da sala -- Jura?

-- Não tô brincando, sô -- Daniela encostou-se ao batente da porta -- Ontem eu vi um filme bem legal, era sobre bichas-mortas-vivas que vêm purpurinar toda uma população caipira norte-americana -- deu uma gargalhada -- Foi muito engraçado.

-- Que coincidência, ontem eu assisti o filme "Matadores de Vampiras Lésbicas". Foi muito engraçado.

-- Música legal essa que está tocando. Antes de aprender inglês eu ouvi uma música e amei, chorei tanto que só, se emocionei e fiquei com ela na cabeça por dias. Depois que aprendi me surpreendi com a letra, que contava a história de um homem que sofria de hemorroidas.

-- Interessante -- Vinicius bocejou -- Que música triste.

-- Amor vem logo. Estou com fome.

-- Já vou Matito -- respondeu e logo em seguida lançou um olhar ameaçador a Daniela que estava parada diante dele, com as mãos nos bolsos, olhando-o atentamente -- Ouviu? Meu namorado está com fome.

-- Ouvi -- olhou novamente para dentro e viu Matias caminhando de um lado para o outro da sala -- A comida da nossa lanchonete não é muito boa, não enche nem uma voltinha das tripas, mas dá para o gasto. Bem... Vou indo tenho que trabalhar. Até -- Daniela fez um gesto com a mão e foi embora.

Vinicius fechou a porta com um ruído suave e encostou a testa nela.

-- Jesus!

-- O que foi amor? -- Matias perguntou com as mãos na cintura.

-- Acho que perdi a fome.

 

 

No hotel.

Em seu quarto, calada, com os olhos fixos na tela do computador, Lara vibrou com o e-mail que recebeu.

-- Foi mais rápido do que eu esperava -- sorriu -- Valeu a pena todas as noites em claro estudando... Ter praticamente deixado minha vida de lado... Para estar aqui hoje recebendo esse comunicado da Vargas.

Lara serviu-se de uma dose de uísque e foi até a sacada. Suspirou fundo, um calafrio percorreu todo o seu corpo. Debruçou-se no corrimão da sacada. Enquanto sorvia mais um gole de uísque olhava a cidade adormecida.

-- Um brinde ao amanhã -- virou todo o resto de bebida que tinha no copo e o jogou contra a parede.

 

 

Na lanchonete.

-- Até que enfim Dani. Meu Deus! Duas horas pra fazer uma entrega? Estou começando a achar que você vai fazer entrega com uma motoca Bandeirante.

Daniela sacudiu os ombros: -- Dane- se, bicho feio.

-- O QUEEE??? -- o cabelo de Cristiana ficou todo arrepiado.

-- Faltou o freio. Eu demorei porque deu problema no freio -- disfarçou secando o balcão com a mão e passando na calça.

Cristiana fixou um olhar desconfiado em Daniela.

-- O dinheiro?

-- Que dinheiro?

 

No apartamento de Matias.

 

-- Você é velhaco.

-- Não sou. Aquela garota é que me deixou perturbado -- Vinicius falou esperneando -- Esqueci até de pagar ela.

-- Liga pra lá e pede pra ela vir buscar. Não quero que me chamem de bicha velhaca, isso não, meu bein. Você quer destruir a reputação dessa bicha uó?

-- Eu ligo, mas você quem atende ela. Aquela garota parece o Pokémon falante.

-- Se você tivesse feito a coisa certa, não precisaríamos chama-la novamente.

 

 

A noite então deu lugar ao dia. E Daniela voltou para casa.

Lavínia estava sentada no sofá assistindo televisão.

-- Perdeu o sono Vínia? -- Daniela segurou seu rosto com as mãos e beijou sua bochecha com carinho.

Lavínia bateu na perna.

-- Deita aqui que eu te faço um carinho.

Daniela não pensou duas vezes e se deitou no sofá com a cabeça no colo da morena.

Com o carinho Daniela fechou os olhos.

-- Estou tão ansiosa em começar a trabalhar que não consegui nem dormir.

-- Se preocupa não, minha linda. Você vai tirar de letra. Faço questão de levar minha garota preferida até a porta da Vargas.

-- Que fofa! Obrigada -- deu um selinho demorado em Daniela -- E as namoradas?

-- Não consegui nenhuma até agora -- fez uma carinha de tristeza -- A primeira coisa que olho nas mulheres é os olhos. Se estiverem enxergando, já sei que não tenho chance.

-- Bobinha. Até parece.

-- Você bem que podia me ensinar algumas coisinhas. Que tal?

-- Que tipo de coisinhas? -- perguntou se fazendo de incrédula.

-- Sei lá, o básico, como: trans*r, por exemplo.

Lavínia deu uma gargalhada, mas essa possibilidade deixou a morena com um pensamento fervilhando em sua cabeça.

-- Dói né?

-- O que? -- Lavínia não entendeu.

-- Deitar no sofá e lembrar que esqueceu o controle em cima da mesa.

 

 

Daniela agradecia a Deus todos os dias por ter colocado Roberta em seu caminho. A veterinária transmitiu tantos conhecimentos a ela, que, em alguns momentos parecia saber até mais que os professores. Mesmo assim se dedicava aos estudos fortemente, era uma figura popular e conseguia ganhar cada dia mais a admiração dos colegas e professores.

Para Lavínia e Paula esse era o último ano de faculdade.

Junto com a felicidade vinham os fantasmas que o término despertava. O sonho vai se transformando em profissão, que embora tanto se desejasse, atualmente, parecia assustador.

-- Sabe Dani, percebi que o mundo ao redor de mim não parou enquanto eu estava concentrada "vivendo a faculdade" -- Ela riu e aninhou-se nos braços de Daniela como um gato -- Descobri que tenho menos conhecidos do que antes, porque não tive tempo para, simplesmente, socializar.

-- Porém aqueles que suportaram sua ausência durante os últimos anos reaparecerão em sua vida.

-- Esse é o meu medo.

Risos.

-- Medo de reencontrar seus familiares e amigos?

-- Muita coisa mudou Dani. Eu mudei.

-- Mudou mesmo! Agora você é a farmacêutica da Vargas S.A.

-- Verdade -- beijou o pescoço da loirinha -- Você vai à minha formatura?

-- Mas pensa se eu não vou, sô? Cerveja e coxinha de graça. Tô dentro.

 

 

Na Vargas S.A.

 

-- Como foi a sua noite de amor Matito? -- Yasmin guardou a bolsa e pegou uma garrafa de água no frigobar antes de sentar-se a sua mesa.

-- Uma delicia. Jantar a luz de velas, música romântica, comida gostosa e para finalizar...

-- Tá bom Matito, me poupe dos detalhes.

-- Você acredita que o Vinicius se esqueceu de pagar a garota da entrega?

Yasmin deu uma risada.

-- Acredito. Vocês dois são umas figuras. E ela não voltou para buscar?

-- Não. Nós é que ligamos pedindo para ela ir buscar.  Ficou de buscar hoje à noite.

-- Não esquece que havíamos combinado de ir até o meu apartamento na Bela Vista.

-- Ela só vai depois das onze.

-- Sem problemas. Ficaremos no apartamento no máximo até as dez.

 

 

Daniela parou a moto e desligou o motor. Esperou que Lavínia descesse, tirou o capacete e ficou olhando admirada para o imponente prédio.

-- Quando crescer quero ser igual a você -- Daniela sorriu, e o sorriso lhe fez surgir duas covinhas no rosto -- Trabalhar aqui não é pra qualquer um.

-- Deixa de encher tanto a minha bola Dani -- pôs o braço em seus ombros -- Obrigada pela carona, você é um amor.

-- Quer que lhe busque?

-- Não precisa, chamo um taxi -- acariciou os cabelos loiros de Daniela -- Não sei a hora que sairei daqui hoje.

-- Se prefere assim...

Lavínia beijou o rosto da garota, ergueu a cabeça e olhou para o prédio.

-- Vargas me aguarde!

 

Yasmin ajeitou a roupa e sentou-se calmamente atrás de sua mesa.

-- Por favor, Cintia, pede para Lara Moraes entrar -- pediu para a secretária.

Lara entrou na sala de cabeça erguida e com ar de superioridade. Analisou Yasmin e levou alguns segundos antes de estender a mão para retribuir o cumprimento.

-- Boa tarde Lara. Sente-se, por favor.

Yasmin também analisou a candidata. Observou a elegância de suas roupas e de seus gestos. Sua sogra em seu lugar, nem continuaria a entrevista, aprovaria Lara na hora.

-- Aceita um café, chá, água? -- Yasmin perguntou com sua natural simpatia.

-- Um café bem forte, com pouco açúcar -- Lara respondeu sem sorrir.

Yasmin apertou um botão do aparelho sobre a mesa e pediu:

-- Cintia, dois cafés bem forte, com pouco açúcar, por favor.

-- Parabéns! Sua sala é de muito bom gosto, senhora Vargas.

-- Obrigada, mais os méritos são para o meu cunhado, ele adora decorar salas -- sorriu.

-- Espero que ele ajude a decorar a minha sala -- falou enquanto observava Cintia servir o café -- Gerente farmaeconomia tem sua própria sala, não é mesmo?

Yasmin ficou sem ação. Lara era muito arrogante e... Segura de si, inteligente e sabia tudo sobre os impactos sociais e econômicos de um tratamento, custos e a duração. E como contra fatos não há argumentos, apesar da personalidade não ter agradado Yasmin, Lara foi contratada.

 

Matias recepcionou Lavínia e a levou para conhecer o laboratório da empresa. Lavínia se mostrou realmente impressionada com tanta tecnologia. Tinha tantas ideias, tantas pesquisas que gostaria de dar continuidade que não resistiu a perguntar:

-- Vou ter a liberdade de realizar novas pesquisas, Matias?

-- Deve! -- respondeu de imediato e com um sorriso encorajador -- Libere todo o seu lado curioso minha querida, solte a franga, seja livre, leve, solta, húúú... -- deu um gritinho, abriu os braços, pigarreou e voltou a falar grosso -- A Vargas S.A valoriza a obsessão pelo desafio científico, a capacidade de entrega ao trabalho e a criatividade dos seus funcionários.

Lavínia balançou a cabeça satisfeita e feliz.

 

 

No Butantã.

-- Hoje fiz uma cirurgia ortopédica de reconstrução de cabeça de fêmur -- Daniela contou orgulhosa -- Usei parafusos e placas.

-- Que legal Dani, e o animal? Como está passando?

-- Esta é considerada uma região de cicatrização bastante difícil e o processo de recuperação do animal pode ser longo e complicado, mas estou confiante.

-- Vai dar tudo certo.

-- Onde está o Pedra? -- olhou na cozinha, por toda a sala e nada do cachorrinho -- Onde ele está Bianca? -- insistiu.

-- Calma Dani! Ele está brincando lá no quarto da Paula.

-- Logo no quarto da Paula? Esqueceu que ela votou contra?

-- Ele está quietinho -- resmungou.

-- Hum... Pedraaa... Vem com a mamãe... Pedraaa... Vem aqui garotinho. PEDRA DOIS VEM AQUI JÁ PORRA! -- berrou e ele apareceu -- Viu que obediente... Aiiiiii... Meu Deuuuusss... -- Involuntariamente, levou a mão à boca e depois ao pescoço, onde sentiu o pulso acelerado.

-- Jesus, Maria, José. Vamos arrumar as nossas bagagens e pegar o primeiro avião para o Tibete.

Daniela se abaixou e com os olhos cheios de lágrimas tirou o tênis da boca do animalzinho.

-- Você acabou de decretar a minha pena de morte. A Paula vai me matar né Bianca?

-- Você é uma vaca? Não? Então sinto muito.

-- Obrigada!

-- A Paula comprou esse tênis para no sábado escalar o Pico Das Agulhas Negras. Ela deve ter pagado uma fortuna nesse tênis.

-- O que eu faço? Não tenho dinheiro nem pra comprar um pão com mortadela. Minha última grana usei para pagar um jantar romântico para um casal de bichas.

-- Eu tenho uma ideia, mas você vai ter que descolar ao menos uns cinquenta.

-- Cinquenta eu consigo. Hoje à noite vou buscar a minha grana lá no apartamento das meninas.

-- Beleza, o resto deixa comigo.

 

 

O filhotinho, não sabe o que é uma caça, um boi, um chinelo, uma bola de tênis ou uma revista... Ele vai querer colocar tudo na boca e como seus dentes estão crescendo, roer alivia a dor.

Mastigação é uma etapa normal do desenvolvimento de um filhote de cachorro, assim como o estágio de uma criança onde é normal de tocar as coisas e colocar as coisas em sua boca.

Algumas pessoas acham que um filhote de cachorro "deve saber as coisas", mas os filhotes não sabem ainda e tem que apreender e você é que deve ensinar.

 

 

 

Se você tiver um animalzinho de estimação e quiser mandar a foto dele para participar da capa de uns dos capítulos do romance, envie nesse whats: 47 91333878. Não se esqueça de colocar o nome do fofinho (a) para participar da história.

A capa será atualizada após uma semana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo