Capítulo único
- Decididamente, eu tenho estilo!
Não se tratava de uma surpresa. Em frente ao espelho que a emoldurava com perfeição, já pronta para a festa, simplesmente constatava o de costume: estava fatal!
Uma taça na mão, seus instintos de caçadora aguçados, era só encontrar a presa certa. Naquela noite, o jogo seria de dominação. Precisava pegar alguém forte, que oferecesse resistência. Era muito melhor adestrar assim. Sabia bem quem seria.
E lá estava ela. A peça ideal para enfileirar sua coleção.
O objeto de desejo não era a mulher mais linda do salão. Não era a que tinha o maior círculo de amigos, nem ostentava uma aura de poder. Estava longe de ser a mais desejada. Porém, era a única que nunca lhe dera oportunidade. A única que fechava em sua cara as portas e as pernas.
- É hoje que mudamos este jogo - disse resoluta, deixando a taça nas mãos de alguém que passava.
Aproximou-se como quem tudo quer. Recebeu um olhar gelado capaz de esfriar o fogo e esquentar-lhe as vísceras. Sem sombras de dúvidas era a mulher a se conquistar.
- Preciso conversar com você.
- A música está alta para conversas.
- Parece que não te impediu até agora - olhou as pessoas que se afastavam discretamente.
- É verdade, foi o que cansou os meus ouvidos. Com licença - após um passo, sentiu seu braço ser agarrado com firmeza.
- Espera, vamos para o jardim.
- Não gosto do perfume daquelas flores. Com licença - com um gesto ainda mais firme, livrou-se da mão que ainda a segurava.
***
Já era a terceira vez que conferia os detalhes no espelho. Não que algo não estivesse perfeito, constatava. Porém, precisava de mais do que a perfeição. E a insegurança, sua desconhecida, começava a rondar.
Desde a última festa tinha se resolvido a conquistar aquela mulher arrogante, que ousava não querê-la, apesar de ser a escolhida.
- Eu troquei as flores do jardim.
- Estive lá, está frio. Com licença, preciso ir para casa. Esta música baixa me deu sono - virou-se rápido o suficiente para fugir das mãos que novamente tentariam retê-la.
Não foi daquela vez. Nem na próxima, com a estufa, ou na outra com o som nem alto nem baixo.
A cada festa, o espelho se mostrava motivo de desgosto crescente. A perfeição não era mais tão óbvia a seus olhos.
Trocou o cabeleireiro algumas vezes. Mudou o estilo de roupa. Experimentou lentes coloridas, tirou fotos com crianças carentes. Nada comovia aquela mulher. Nada!
Já nem se lembrava de quando fizera sex* pela última vez. Não queria mais ninguém, estava obcecada. Sabia disto. Precisava tê-la antes que seu ego se tornasse um tapete. Ainda que persa, naturalmente.
As festas já não a interessavam. Parou de organizá-las. O jardim virou concreto e não quis mais ouvir música: nem alto nem baixo, nem agitada, nem lenta, moderna ou de câmara. Silêncio!
E foi no silêncio que decidiu ir atrás dela. Pediu uma oportunidade. Implorou. Prometeu se submeter. E foi assim que ouviu:
- Este, minha cara, foi só um jogo de dominação... Onde a dominada sempre foi você.
Fim do capítulo
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Monica Franca
Em: 31/05/2017
Uau...essa sabe dominar.
rsrsrsrsrs
Bjos
Resposta do autor:
Deu um baile na dondoca :P
Beijinhos, querida

Nay Rosario
Em: 13/08/2016
Olá,moça.
Confesso que tenho uma predileção por este conto desde que o li pela primeira vez no FatorX.
Bom rele-la.
Abraços.
Resposta do autor:
Eis que se trata de uma confissão que muito me agrada!
Beijinhos o/
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rhina
Em: 03/08/2016
Olá.
Sempre tem os dois lados.
Cara que maravilha.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Menina! Tinha escapado esse comentário! Desculpa...
Pois então, tudo tem sempre múltiplos lados e a gente meio que se perde lutando por um só, como se verdade absoluta existisse.
Beijinhos o/
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