Depois de passar quase o dia inteiro trans*ndo com sua amante em algum motel caro do Rio de Janeiro, Eduardo é interrompido pelo toque insistente de seu celular.   

-Alô -­ falou ele irritado, sem reparar no nome que apareceu no visor.  

- Eduardo, sou eu! Onde você está? Estou te esperando para me acompanhar no jantar, que inclusive já está esfriando!   

Eduardo não estava acostumado com esse comportamento da esposa, não entendeu a mudança repentina. Bruna sempre foi uma boa companheira, mas não costumava se preocupar com seus horários ou com o que fazia.   

- Oi, meu amor, desculpe, não reparei que era você ligando, ­- tratou logo de se retratar ­ tive algumas reuniões estressantes hoje mas logo estarei aí, prometo recompensá­la pela demora. - prometeu sabendo que a esposa sequer iria cobrar qualquer recompensa.  

Olhou para a amante que ainda estava deitada nua na cama do motel, queria poder aproveitar mais algum tempo ao seu lado, fazia tempo que uma mulher não despertava nele tanto desejo. Entretanto, não queria problemas com sua esposa, sempre preferiu evitá­los.   

- Já está indo? -­ perguntou Lívia, havia prestado alguma atenção na conversa que o amante teve ao telefone.   

- Sim, Bruna está a minha espera e não quero ter problemas com ela.   

Eduardo gostava de mostrar que é um homem forte, durão, se achava um verdadeiro macho alfa, mas a realidade é que não passava de uma marionete nas mãos de outras pessoas, suas atitudes eram sempre pensando em não ter problemas com quem lhe proporcionava poder. Um exemplo claro era sua mulher, Eduardo tinha uma linda mulher em casa, fazia inveja em muitos homens e mulheres, mas não fazia a menor questão de ser um bom marido, apenas evitava problemas com ela por medo de seu sogro, que era um homem influente e pai superprotetor. Esse era o pensamento de Lívia.  

Enquanto esperava o marido chegar em casa, Bruna não tirava da cabeça o dia lindo que havia passado, estava feliz e não fazia questão de esconder, até os empregados de sua casa já haviam reparado que a moça estava mais sorridente que o normal. Eduardo não poderia sonhar com o que Bruna havia feito ou então poderia colocar seu casamento a perder e, apesar de Eduardo não ser o grande amor de sua vida, gostava do que eles tinham e da vida que levavam, após muitos problemas, finalmente as coisas estavam nos eixos e Bruna não pretendia mudar essa realidade.  

Eduardo chegou em casa meia hora depois da ligação da esposa, para evitar um possível desentendimento mandou que a amante fosse embora de táxi e correu para casa. Encontrou sua esposa sentada a mesa ainda o esperando, mas pelo seu semblante viu que não estava irritada, na verdade, a moça parecia feliz e, apesar de tudo, Eduardo ficava feliz com sua felicidade, então gostou de vê­la tão sorridente.   

- Olá, meu amor ­- disse dando um beijo na cabeça da esposa e sentando na mesa.   

- Oi, Edu! Eu mesma preparei o jantar hoje, não sabia que iria demorar tanto para chegar, queria lhe fazer um agrado.   

- Minha linda, me perdoe, deveria ter me avisado antes e eu daria um jeito de chegar cedo! - falou pegando a mão de sua esposa e dando um leve beijo.   

- Não tem problema, reparei quando chegou e pedi a Nina para esquentar o jantar, ela já deve estar trazendo de volta. ­- reparou que Bruna estava realmente feliz e quis saber o motivo.  

- Ótimo, estou mesmo com fome! E porque resolveu fazer o jantar hoje? Não me leve a mal, eu amo quando cozinha para mim, mas há algo que devemos comemorar? ­- falou sendo sincero e querendo arrancar algo da esposa.   

- Nada em especial, digamos que apenas estou num dia bom! -­ Bruna sorriu encerrando o assunto.   

Eduardo percebeu que ela não falaria e deixou para investigar outra hora. Mas não deixaria essa história para lá, não era um marido dedicado e nem um homem ciumento, mas gostava de estar no controle das coisas e precisava conhecer cada passo que sua esposa dava.  

Jantaram conversando amenidades, Eduardo contou como foi seu dia, inventando reuniões que não aconteceram, na esperança que a esposa fizesse o mesmo, mas tudo que conseguiu arrancar foi que ela havia saído para passear durante a tarde. Após o jantar, Bruna resolveu ir para o quarto dizendo que iria terminar de ler seu livro, ela adorava ler, sempre indicava livros para Eduardo, que nunca realmente se interessou por algum. Saber do passeio misterioso que a mulher havia feito só aumentou a curiosidade de Eduardo, não chegava a desconfiar de uma traição, sabia que Bruna jamais se sujeitaria a isso, mas sentia que algo estava acontecendo com sua mulher. Foi até a cozinha beber um copo d'agua e encontrou Nina.   

- Deixa isso aí para amanhã, Nina, vá descansar! ­- falou ao ver que a mulher lavava a louça do jantar.   

- Não, seu Edu, pra que deixar para amanhã o que posso fazer agora? -­ Eduardo sorriu e pensou que Nina poderia fazer alguma ideia do que havia se passado com Bruna.   

- Nina, a Bruna saiu de casa hoje?   

- Saiu sim, seu Edu, e voltou toda cheia de sorrisos, mas não comentou comigo onde foi não. -­ Eduardo não gostou do que ouviu, então a esposa estava toda sorridente por conta do tal passeio mesmo.   

- Hmm, ela também não me falou nada, mas notei que ela está feliz mesmo.   

- Sim, desde que chegou em casa não tira o sorriso do rosto. Eu gosto muito de vê­la assim, depois de tanto tempo tristonha pelos cantos dessa casa. -­ Nina era cozinheira da casa desde que os dois se casaram, já havia presenciado bons e maus momentos.  

- Também gosto de vê­la feliz, Nina. Bruna merece toda felicidade do mundo! Agora acho que vou deitar, meu dia foi cansativo. Boa noite, Nina!   

Saiu da cozinha ouvindo Nina dizer "Boa noite, seu Edu". Quando chegou no quarto, sua mulher não estava lendo, olhava alguma coisa em seu celular e mantinha um sorriso imenso no rosto.  

- Posso saber quem ta roubando um sorriso tão lindo da minha esposa?   

Bruna se assustou um pouco e isso não passou despercebido por Eduardo, ela não havia notado sua presença.   

- Ai, Edu, não tinha te visto parado ai! Não é nada, só uma bobeira que vi na internet.   

Mais uma vez Eduardo nao insistiu, sabia que sua mulher tinha personalidade forte e não gostava de ser pressionada. Eduardo tomou um banho rápido e se deitou ao lado da esposa. Enquanto ela lia seu livro, se perdeu em seus pensamentos.  

Eduardo não era um homem ruim, apenas ambicioso. Seu pai, dr. Rogério Vilela, era um respeitado procurador do Estado do Rio de Janeiro, dizia que não se tornou político por falta de oportunidade e então, criou o filho para que ele alcançasse tudo que não pôde alcançar. Eduardo cresceu no meio da política, com seu pai sempre lhe mostrando como tudo funcionava, no final acabou pegando gosto pela coisa, sempre gostou de dinheiro e poder e ali viu sua chance de ter as duas coisas. Rogério era um homem inteligente e interesseiro, mantinha amizade com pessoas influentes e, com isso, não foi difícil encaixar o filho dentro da esfera política.   

Um dos melhores amigos de Rogério era Marco Antônio Castanha, pai de Bruna, ex governador do Rio de Janeiro, homem de muitas posses e grande influência no cenário político do Estado. Para Eduardo, foi um grande negócio se casar com Bruna, sabia que isso tornaria mais fácil a concretização dos planos de seu pai, e não poderia negar que era uma boa escolha, Bruna era uma das mulheres mais lindas que ele já havia conhecido, além de suas muitas outras qualidades.   

Eduardo conheceu Bruna quando ela tinha apenas dezoito anos, vale dizer que já era uma linda mulher e isso o encantou de imediato. Eduardo estava com vinte e três anos e seu pai já o preparava para ingressar na política como vereador. No começo Bruna parecia mal notar sua existência, até o mais simples cumprimento a ele era feito de mau grado. Após um tempo, percebeu que a menina foi cedendo, não quis saber o motivo, sabia que tinha dedo de seus pais na história, mas resolveu apenas aproveitar. Após dois anos de namoro, Bruna descobriu uma gravidez indesejada, Eduardo achou que seu pai iria infartar quando lhe deu a notícia.   

- Vocês ficaram loucos? Você está prestes a sair como candidato na próxima eleição e me aparece com uma gravidez indesejada? Como acha que as pessoas verão isso, Eduardo? A barriga dela estará enorme antes das eleições!   

Marco Antônio também não gostou nada da novidade, sua filha era jovem, cursava faculdade de odontologia e um bebê aquela altura apenas atrasaria sua vida. Após uma longa conversa entre o casal e seus pais ficou decidido que eles se casariam o mais breve possível. Bruna sabia que não tinha escolha, uma hora ou outra essa história de casamento apareceria, só estavam a antecipando por conta da gravidez e, mesmo que nada disso estivesse nos seus planos, ela estava feliz, Eduardo era um bom homem, saberia cuidar dela e da criança.   

Outra decisão foi que a gravidez deveria se manter sigilosa até que não fosse mais possível esconder. Marco Antônio e Rogério sabiam que muita gente poderia não ver com bons olhos a situação, passariam a ver Eduardo como um jovem inconsequente e isso prejudicaria sua imagem e sua campanha. E Bruna conseguiu manter a gravidez em sigilo, terminou o semestre na faculdade e trancou o próximo, ja prevendo que no fim da gravidez não poderia esconder a barriga das pessoas com quem convivia diariamente. Para os curiosos que perguntavam de seu afastamento, dizia que iria fazer uma viagem longa e depois retornaria aos estudos.   

Tudo ocorreu como planejado até o sétimo mês de gestação. Bruna e Eduardo haviam se casado numa cerimônia simples porém muito bonita e já estavam morando em uma linda casa, presente de casamento de Marco Antônio. A eleição estava próxima e Bruna já exibia uma enorme barriga.   

Eduardo nunca sonhou em ser pai mas depois do susto inicial, estava feliz com o bebê que estava a caminho. O casal já havia até decidido o nome do menino, se chamaria Afonso, como o avô de Bruna, a quem ela nutria uma admiração e amor enorme.   

Em mais um dia corrido no meio de tantas coisas a serem resolvidas numa véspera de eleição, Eduardo recebeu uma ligação que fez seu coração parar por um segundo. Bruna havia sido atropelada por uma bicicleta enquanto caminhava com sua mãe pela orla da praia, sentia muitas dores abdominais e os médicos resolveram fazer um parto de emergência.   

Depois de muitas horas de sufoco, recebeu com alegria a notícia de que mãe e filho passavam bem e logo ele poderia vê­los. Entretanto, quando viu seu pai chegando com seu olhar frio habitual e acompanhando de uma mulher que Eduardo nunca havia visto, percebeu que algo estava para acontecer e não pôde prever se era bom ou ruim.   

- Pai, eu não posso aceitar isso, apesar de tudo ele é meu filho! ­- falou confuso com o que o pai havia lhe proposto.   

- Eduardo, seja firme! Essa criança agora só nos trará problemas, nós conseguimos manter essa gravidez em sigilo esse tempo todo e agora uma semana antes da eleição sua mulher aparece com um filho? Isso não será bom para nós, você quer abrir mão do que ja alcançamos até aqui?  

Não! É claro que Eduardo não queria abrir mão do que haviam conquistado, mas também não queria abrir mão de seu filho. Rogério percebeu que o filho estava confuso e precisava de mais um empurrão para que aceitasse a proposta.   

- Filho, me escuta! Eu sei o que é melhor para você! A criança será levada para um orfanato e vai ser muito bem tratada, eu lhe garanto! Daqui um tempo vocês podem tentar uma nova gravidez, depois que você for eleito, e ai nós faremos tudo dentro dos conformes! Edu, pense no seu futuro agora e deixe que do futuro deste bebê cuido eu.   

Eduardo pensou por mais algum tempo antes de tomar a decisao mais difícil de sua vida.   

- Eu aceito pai! Podem levar o bebê e dizer para a Bruna que ele passou por complicações e não resistiu. Mas tenho apenas um pedido, o nome do menino será Afonso, como ela queria!  

Fim do capítulo