Capítulo 15 - Enfrentando o dragão
Eram cinco pessoas. Entre eles aquela mulher que lhe era um desafeto antigo. Ela nada dizia apenas observava o interrogatório. Competia a ela a investigação sobre sua conduta. Continuava muito bonita. Tamborilava os dedos sobre a mesa como quem estivesse impaciente com o rumo das coisas.
- Essa foi a informação que eu havia recebido. De que eram oito homens, mas na verdade eram quatro.
- Policial Raquel Reis, por que adentrou o recinto sem as devidas ordens de quem comandava a operação?
- Senhor, discordei da conduta do policial André Santos. Acredito que um cerco policial no meio da rota de fuga oferecesse menos risco aos possíveis reféns.
- Você declara pacientemente que não concordava com seu superior imediato e por isso o desobedeceu? – Eles pareciam urubus em volta da carniça.
- Eu disse apenas que a postura do meu superior imediato colocou as reféns em perigo.
- Deixem-me a sós com ela. – Finalmente aquela mulher falava.
Todos se voltaram para aquela misteriosa mulher. Obedeceram sem questioná-la. Raquel se encontrava aparentemente calma. Mas, aquela calma não existia. Nunca se imaginara parando ali. Estava indignada.
Todos deixaram a sala.
- Raquel Reis. Quanto tempo! – Sua voz era firme e seu olhar penetrante.
- Suzana. O que estou fazendo aqui? Por que aceitaram a denúncia?
- Para mim parece obvio. Você matou dois dos três homens que foram assassinados durante uma diligência. A imagem da polícia passa por um momento delicado. Somos famosos por primeiro atirarmos e depois perguntarmos o nome. A corregedoria existe para averiguar abusos de poder e excesso de autoridade.
- Há anos presto serviço e... – Sua fala saiu mais exasperada do que gostaria. Mas, fora interrompida quando a ruiva ergueu a mão aberta. Pedindo que se silenciasse.
- Ok, Reis! Seu papel aqui é muito mais importante. Há tempos estamos investigando o Santos. Quando a denúncia sobre você apareceu logo entendemos que era uma tentativa de limpar o caminho.
- Filho da puta. Eu sabia... – Ela esmurrou a mesa.
- Preciso de você, Reis. Quero que seja o nosso vínculo dentro da delegacia. Mas, terá que ser suspensa. Para que não despertemos a atenção. Lembra-se do caso do empreiteiro José Oliveira? – Raquel fez que sim com a cabeça. – Pois bem, ele tem aliados políticos e policiais do seu lado.
- O Santos é um desses... – Disse por entre os dentes.
- Por isso aceitei a denúncia. Além do prazer em revê-la, é claro!- Suzana piscou para o desagrado da policial. – O plano é o seguinte...
***
Paula havia sido avisada de uma possível acompanhante para a paciente do acidente de carro. A mulher ainda se encontrava em coma.
- Olá. Eu sou a doutora Paula. Estou acompanhando a paciente Camila Teixeira.
- Finalmente alguém. Eu sou Helena.
Doutor Marcelo chega neste exato momento.
- Me disseram que você é parente da Camila Teixeira. – A abordagem de Marcelo foi atenciosa.
- Sim, doutor. Ela é minha ex-mulher.
- Isso explica o HIV. – Marcelo que até então tinha o semblante acolhedor logo fechou a cara e mostrou seu lado homofóbico.
Helena ficou momentaneamente sem reação. Mas, Paula que ficou indignada com o comentário se posicionou.
- Doutor Marcelo, o senhor perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado e guardar o seu preconceito para o senhor. Pode deixar que conduzirei a acompanhante.
O olhar de Marcelo foi totalmente desaprovador. Odiou a postura de Paula e a exposição a qual fora submetido. Se pudesse daria um jeito naquela médica naquele momento. Falaria mais tarde com o diretor do hospital sobre a sua conduta. Virou as costas e se afastou.
- Obrigada, doutora. Esse tipo de grosseria ainda me deixa sem reação.
Paula notou que a moça estava trêmula. Aparentava ter sua idade.
- Você está nervosa. Precisa de alguma coisa? – Fitou preocupada com a ruiva que estava a sua frente.
- Eu não sabia que ela era soropositivo. – Os olhos verdes estavam cheios de lágrimas.
“Dr. Marcelo você é um egocêntrico idiota”. Foi o pensamento de Paula ao entender o que se passava com Helena.
A semana fora muito corrida. Muitos casos críticos no hospital. Natália, Raul e Paula deixaram seus problemas pessoais de lado para se dedicarem a casos de suas áreas. Aquela semana em especial mostrava a eles novas perspectivas de vida devido à grande perda de pacientes que estavam presenciando.
Chegou exausta a seu apartamento. Sentia dores em várias partes do corpo. Principalmente nas costas. Já se passava das 20 horas. Precisava dormir urgentemente.
Mal tivera tempo de largar a bolsa e passar um café. O interfone tocou pedindo autorização para a subida de Bruna.
Estava surpresa.
- Você não me ligou a semana inteira. Estava preocupada... – Bruna deu-lhe um selinho e entrou.
Paula fechou a porta e se encostou nela observando aquela linda mulher se esparramar em seu sofá como se estivesse na própria casa. Como gostaria que aquele fosse o lar delas. Que aquele momento fosse Bruna chegando do hospital e juntas partilhassem a vida. Sem sombras de Marcelo.
- Eu estou bem. E o Marcelo? Você deveria estar aqui? – Bruna a olhou e com ar sapeca disse.
- Disse a ele que iria a casa da minha irmã. – Sorriu. – As crianças ficaram com ele.
- Vai ficar tarde para você voltar depois. – Paula ainda estava séria. A situação com Bruna começava a incomodar mais do que imaginava. A médica se levantou e veio em sua direção.
- Só irei voltar hoje se você quiser. Você chegou agora. Já ia dormir? – Bruna enlaçou sua cintura.
- Não.
- Você está me evitando? – Estavam próximas.
Paula balançou a cabeça negativamente. Sentir Bruna tão próxima fazia com que esquecesse seus tormentos. Mas, não podia ceder.
- Nossa história está me fazendo mal.
- Por que, meu amor? – Bruna olhava em seus olhos.
- Porque me incomoda saber que é para ele que você volta. Que você trans* com ele e que eu não a tenho.
Bruna suspirou. Se desvencilharam. Não era aquele final de noite que havia planejado com Paula. Mas, sabia que precisavam conversar.
- Eu sou sua, Paula.
- Olha para mim. Diz que você não trans* com ele? – Bruna não estava preparada para responder aquela pergunta.
- Paula, não faz assim... – Sussurrou.
- Me diz?
- Ele é meu marido. As noites que posso evito. Mas, nem sempre tenho justificativas para isso. – Ela disse num ar derrotado.
- Basta dizer que não quer. – Explodiu em ciúme.
- Ei. – Bruna voltou a se aproximar. – Eu penso em você 24 horas por dia. Eu sou sua. Só sua.
- Com esta aliança no dedo? – Paula estava com raiva.
- Você não tem ideia do quanto sofro. Tenho estado com um marido transformado após aquele episódio. Mais carinhoso, mais amoroso e que requer atenção o tempo todo e em outra época talvez eu fosse gostar disso. Mas, agora me faz mal. Eu amo você, Paula. E isso tem me deixado maluca. Você acha que planejei amar alguém fora do meu casamento? Eu tenho dois filhos. Se coloque em meu lugar.
O semblante de Bruna era transtornado. Isso tocou a infectologista. Ela se aproximou de Bruna que parecia desolada.
- Eu sei que é difícil. Nunca esteve nos meu planos me envolver com uma mulher casada.
- Eu não quero te perder, Paula.
Se abraçaram.
- Eu preciso de um banho. Vem...
Se encaminharam para o quarto de Paula. Bruna não resistiu pulou na cama ainda desfeita da infectologista. Cheirou seu travesseiro.
- Adoro seu cheiro, sabia?! – Paula sorriu. Percebeu quando Bruna se aproximou de suas anotações. – Quem é Camila Teixeira?
Enquanto escolhia uma roupa para o pós banho respondeu displicentemente.
- É a paciente do acidente de carro.
- Hum! Ela é soropositivo.
- Sim. A ex-mulher não sai do lado dela. Achei isso lindo.
- Ela também é? – A curiosidade de Bruna chamou a atenção de Paula.
- A Helena, creio que não. Talvez! Ela soube da doença da ex graças à indelicadeza do seu marido.
Bruna olhou seriamente para Paula.
- O Marcelo é um homem de muitas qualidades, Paula. Mas, também tem vários defeitos.
- Ele é um homofóbico.
Bruna baixou a cabeça. Isso incomodou Paula. Que sentou-se na cama.
- O que eu sou para você, Bruna?
- Você é uma linda fantasia que se tornou realidade. – Disse isso em meio a um sorriso encantador.
- Bruna, eu não passo de uma fantasia. Eu quero alguém que me encare como um futuro e não alguém que me veja somente como escapada de casamento enfadonho. – Paula desabafou.
- Eu não te considero assim... – Bruna demonstrou chateação.
- Estaria disposta a largar o Marcelo para ficar comigo?
Bruna ficou muda. Olhou demoradamente para Paula e disse.
- Eu estou apaixonada por você.
- Eu não duvido. Mas, cheguei tarde a sua vida.
Bruna se aproximou dela na cama.
- Você desperta em mim algo que jamais pensei existir. Adoro você, mais do que pode imaginar. Adoro fazer amor com você e a forma como se aninha em mim, como canta no banheiro. Sei que também está apaixonada por mim do contrário não estaríamos juntas. Sei que é complicado. Fica comigo, menina.
Paula sentia sua resistência diminuir. A aproximação de Bruna roubava-lhe a resolução.
A médica mais velha a foi puxando para o banheiro em meio a beijos e carícias.
- Você sabe que a hora de escolher vai chegar... – Sussurrou enquanto a mais velha se deliciava em seu pescoço.
Bruna colocou a mão por dentro da calça da mais nova e sentiu-lhe a umidade. Sorriu com encanto...
- Eu amo você, Paula.
***
Natália chegava cabisbaixa ao estacionamento. Não tivera notícias de Raquel a semana inteira. Soube por telefone que ela teria que encarar a corregedoria e depois não tivera mais notícia.
“Essa mulher quer me deixar maluca. Ai, que saudade! Por que fui deixar o carro no final do estacionamento?”
Mirou seu carro e se deparou com uma miragem. Sorriu.
- Pois não, policial. Fiz algo errado?
- Pois é, doutora. Recebi uma denúncia e vim averiguar...
- É mesmo? – Natália sorriu.
- Sim. – Viu Raquel se aproximar e puxá-la. A encostou de frente para o carro e lhe abriu as pernas. Passando a mão por todo o seu corpo. – Mas, antes de qualquer coisa, precisarei revistá-la para ver se oferece perigo real imediato.
A mão percorria o corpo da médica sem nenhum pudor e apalpava-lhe partes delicadas.
- Hum, que delícia. – Natália olhava para os lados. Mas, de fato o estacionamento estava vazio. E, naquele momento abençoou mentalmente a localização de seu carro.
- Mocinha, você está encrencada. Vou ter que te acompanhar até sua casa.
- Hum! Prisão domiciliar. Vou adorar.
O clima era mesmo interessante. Até a policial estranhava aquela nova mulher que surgia em si. A saudade que sentira da médica durante aquela semana era indescritível. Estar com ela naquele momento era divino.
Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 26/12/2020
Aiaoaiaoa que amo demais Nat e Raquellll.... eeeeeee, essa Helena?!?!
rhina
Em: 04/07/2016
Oi.
É autora vc está me apresentando um caso difícil e real :Paula e Bruna.
Uma solteira e que ama pra valer e não gosta de ser o extra da relação.
Bruna casada, mãe que se apaixonou fora do casamento e por uma mulher.
Muito interessada como vc vvai lidar com cada dos envolvidos.
E esta nova Raquel mais relaxada. Uma loucura.
Parabéns.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Oi, Rhina!
POis é, um caso difícil... A situação não é fácil, mas como vc disse, bem real. Delicado porque é um assunto doloroso quando há amor para quem vive este tipo de relação. Vejamos como Bruna irá se resolver.
Agora, a Raquel está entregue a uma nova experiência... Naty conseguiu, rsrs;
Beijos
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Mille
Em: 04/07/2016
Essa personagem nova cheia se gracinha pra cima da Raquel, Naty cuida dela, e parece que o amor transformou nossa durona policial quando está perto da médica e achei lindo esse final😍😍😍😍😍
Bruninha vai ter que tomar uma decisão, um dia a Paulinha se cansa e se deixa levar pelos sentimentos, e da um ultimato para a Bruna. E Cristina o que aconteceu com ela??
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Oi, Mille.
Nossa ginecologista volta logo mais... rsrs. A Raquel está transformada pela paixão... Até que enfim... Agora o problema está em Bruna e Paula... Quem será que Bruna escolherá? Será que amor falará mais alto? q vc acha?
Beijos
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wood
Em: 03/07/2016
Exelente capítulo adorando ver que Naty e Raquel estão se entendendo,e Santos vai se dar mal.A hora de Bruna fazer sua escolha está chegando não vai ser nada fácil. Até o próximo 😚
Resposta do autor:
Oi, Wood!
QUal é a sua aposta: A Bruna escolherá quem? A Raquel anda mais relaxada... O que o amor nã faz... rsrs.
Beijos
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line7
Em: 03/07/2016
E essa abordagem..hehehe😉d84;..e Raquel voltou com tudo 😍😍😍..para o delírio de Nathália...kkkk (para o nosso delírio ) e Susana vai desmarcar santos(e ela vai ajudar a investigação mas parecer que quer algo a mais a Raquel..rsss).e Paula e bruna😑, uma hora Bruna vai ter que escolher! Maravilhoso CAPÍTULO 😙
Resposta do autor:
Oi, Line!
Pois é, a Paula já demosntrou não ser muito de esperar e prolongar isso será sofrimento para as duas. Basta ver se Bruna se joga ou se tranca no armário. Qual é a sua aposta?
Acho que a Suzana veio para dar uma agitada, rsrs. Vejamos se a Naty vai gostar, srs.
Beijos
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