Quando eu acordei naquela manhã, Elise não estava ao meu lado, e aquilo pra mim foi algo aterrorizante. Me levantei imediatamente da cama calcei minhas sandálias e sai correndo pelo apartamento procurei ela pelo banheiro, pela sala, e varanda. Ela não estava em lugar nenhum, não poderia ter sido assim, será que havia fugido de mim?

Corri pra cozinha e lá estava ela, com aquela expressão misteriosa, e com o bule de café.

- Bom dia -  disse ela sorrindo meio em dúvida.

- Bom dia - falei coçando os olhos - por que levantou tão cedo?

- Eu não quis te incomodar, na verdade eu acordo muito cedo pro meu trabalho, tem coisas que ficam perfeitas apenas à luz da alvorada. -  poetizou ela

 - Ah, entendi - resmunguei eu, me aproximando da mesa.

-Quer comer alguma coisa? eu fiz café e sanduíche. Se não se importa, eu já remexi toda sua casa. - me falou com um sorriso indiscreto, a acompanhei.

-Imagina, eu acho que eu fiz tudo errado ontem, obrigada por tudo por tudo, eu acho que eu pirei por uns segundos.

- shh, relaxa. Eu meio que tive culpa, te ver depois de tanto tempo só mexeu com as lembranças que eu não devo me lembrar. Nós Somos adultas agora, eu tinha que ter agido de uma forma diferente com você. Pra começar nem deveria ter vindo em sua casa. Quer saber? Tudo bem, vamos esquecer isso. Hoje é um novo dia, tudo o que passou ficou pra trás. Esse é meu lema. – Suas palavras me pegaram de surpresa, mas eu estava envergonhada demais pra discutir algo, apenas acenei com a cabeça e me sentei à mesa. Ela levantou e  me serviu o café e sanduíche.

-Obrigada - e se sentou do outro lado.

-De nada. -  por um instante ela me olhou bem no fundo dos meus olhos e nós ficamos trocando aquele olhar e eu senti que tudo estava completamente diferente, era uma cumplicidade que eu jamais havia sentido em toda minha vida. Imaginei que deveria ser assim a nossa vida, as duas morando num apartamento e tendo todas as manhãs juntas, suspirei, involuntariamente, ela riu.

- porque tá me encarando? - falou com a boca cheia de sanduíche, o que me fez rir.

-Nada, eu só... Esquece - Ela ficou em silêncio e séria. Ficamos alguns segundos quietas, mas alguma coisa estava me incomodando, aquele pensamento que sempre era recorrente... e isso remontava a 6 anos atrás, quando a gente estava em Oxford. – Elise, tem uma coisa que está me incomodando. – falei eu quebrando o silêncio.

- Fala - disse ela, deixando sanduíche de lado.

-Você me falou que tinha ido pra Oxford a trabalho de modelo, certo?

- Sim, isso é verdade.

 -Isso quer dizer que você não foi lá atrás de mim?

-Na verdade, bem a princípio sim, mas aqueles eram outros tempos... Você precisa entender que eu não era uma pessoa muito equilibrada.

-Não, não é isso que estou te perguntando, estou perguntando se foi você que fez tudo aquilo tudo, você sabe, as fotos, o incêndio.

 -Claro que não, você tá maluca? Eu jamais faria isso. Eu sei que eu sou um pouco louca, mas eu não chegaria a esse ponto. - De repente nada na minha cabeça fez sentido.

-Mas você tá dizendo que não foi você, mesmo você estando na cidade? E tudo indicando que foi você? – fiquei com raiva, ela estava mentindo deslavadamente, ela tinha ido sim atrás de mim.

- Eu jamais faria isso. É isso que eu tô falando pra você – ela também se sentiu ofendida e começou falar em uma voz exaltada, o que me preocupou, eu não queria a magoar, não por uma coisa que havia acontecido a tanto tempo atrás.

-Calma, eu não estou acusando você de nada. eu só não consigo compreender como tudo isso aconteceu, porque nada faz sentido.

-Espera, Vic. Eu tenho algo que eu preciso te contar, na verdade eu precisava te contar isso a muito tempo.

-Diga - falei eu respirando fundo.

-Você deve achar que eu sou maluca por ter perseguido por tantos lugares, até mesmo se perguntar como eu conseguir sempre te encontrar é que... Olha eu não queria te falar isso dessa forma, mas é que você não pode confiar em Lucy.

-Porque está falando isso da minha irmã? Eu confio muito mais nela do que eu jamais poderia confiar em você – as palavras saíram nem sei de onde, eu não queria magoá-la daquela forma, mas ela estava me colocando contra minha própria irmã, e eu não sabia o que pensar.  Ela se levantou da cadeira irritada, e virou as costas pra mim.

-Você não conhece ninguém, Victória. você nunca conheceu a verdadeira Lucy. Ela sempre estava atrás de mim, sempre fazendo com que eu corresse atrás de vocês – então se virou pra mim, e me encarou bem firme, conseguia sentir toda a intensidade daqueles olhos em mim. - e eu só queria te ter eu ia a qualquer lugar pra te reencontrar e sempre quando eu chegava onde você estava ela armava alguma coisa pra mim. Eu não consegui, eu tive que correr dessa sujeira que é Lucy. – Então me sobreveio um onda de fúria, eu sabia de tudo que Elise causava em mim, e aquele olhar significava isso, pura manipulação, ela queria que meu desejo sobrepujasse minha razão. Levantei da minha cadeira bati forte na mesa e comecei a gritar.

- Para de mentir sobre minha irmã! Você não sabe nada sobre ela. É você que é louca nessa história, é você que sempre correu atrás de mim, você que incendiou o restaurante que eu trabalhava, você que mandou aquelas malditas fotos pra mim pra que eu me sentisse desprezada, traída e no fim pra eu ficar com você, não é mesmo? – Ela se revoltou com minha resposta. E começou a gritar também.

-Você não me conhece mais, Victoria, na verdade você nunca quis me conhecer quem sou eu. Você sempre me desprezou, achou que eu era nada. Mas eu cansei disso, eu não me importo mais com o que você falou ontem. nem tudo que aconteceu entre a gente. Estou cansada chega! Eu vou embora dessa merd*. – e saiu furiosa em direção à sala, meu coração entrou em desespero, mas eu não podia jamais deixar que ela mentisse novamente pra mim. Ainda mais envolver o nome da minha irmã no meio. Eu sabia que Lucy estava me desprezando naquele momento, mas eu sabia muito bem porque, e não tinha nada a ver com Elise. Aquilo era só mais uma mentira que ela está inventando. Meu coração dizia uma coisa, minha mente dizia outra e meu orgulho estava completamente ferido, mas eu não ia me deixar levar mais por mentiras e nem por ilusões da pessoa que havia feito tanto eu sofrer. Eu a segui até a sala, ela pegou suas coisas e olhou pra mim uma última vez proferindo aquelas palavras.

-Se tem tanta certeza, porque não pergunta pra sua querida Lucy aonde é que está a namoradinha dela. Quem sabe isso te faça entender quem você escolheu ficar do lado, agora quando souber da verdade, não corra atrás de mim. NUNCA mais me procure. -  Elise saiu batendo a porta, e eu me sentei no sofá, a única coisa que eu queria era tirar aquela história a limpo. Eu confiava na minha irmã, era em Elise que eu não confiava, por mais que meu coração pertencesse a ela, e a ver ir embora daquela forma sem saber ao menos aonde ela iria e me deixar completamente destruída por dentro.

 Peguei o celular tremendo, eu precisava desmentir tudo aquilo, antes que fosse tarde demais. Antes que minha certeza desmoronasse. Disquei o número de Lucy iria ligar pra sua casa na Inglaterra. Lucy havia se formado e atualmente eram uma grande arquiteta. Pelo que eu sabia dela através das conversas com a mamãe, dos anos que eu não entrava em contato, era que havia se casado com Elisa que tinha até mesmo adotado um casal de gêmeos, Lucy não conversava mais comigo, e até mesmo não atende minhas ligações no celular, o único que atendia as ligações na casa, era o mordomo. Resolvi me passar por outra pessoa, pra que assim não corresse o risco de ser enganada.

- Olá – fiz um sotaque britânico falso.

- Olá - respondeu ele naquele sotaque forte. – o que deseja?

-Eu gostaria de falar com a Senhora Elisa, por favor.

-Perdoe-me, eu acho que você ligou pro número errado.

-Essa não é a residência da senhora Lucy Rockfeller?

-Sim é, mas não existe nenhuma senhora Elisa por aqui. A senhora Rockfeller mora sozinha. - Naquele momento, eu entendi o que Elise queria dizer, então toda aquela história foi apenas um teatrinho? Eu não sabia porque, mas Lucy havia mentido sobre ficar com Elisa, eu ainda acreditava que havia alguma explicação plausível pra aquela mentira, mas Elise havia falado verdade, pelo menos em parte, e eu havia a deixado ir embora, sem ao menos saber aonde ia. Sai correndo e deixei mordomo falando sozinho corri pro elevador, mas pro meu azar ele demorou muito pra chegar ao meu andar. Cliquei o botão do térreo, quando Finalmente consegui entrar nele. Foram os segundos mais demorados da minha vida. Quando cheguei ao saguão, Elise não estava mais lá. Corri pra rua desesperada, mas ela também já havia sumido de lá. aonde ela se foi.

Fim do capítulo