Capítulo 10
A semana seguiu tranquila e nossa rotina estava muito agradável.
Na quinta-feira minha mãe almoçou conosco em um restaurante próximo da nossa empresa, conversamos algumas amenidades e Pilar demonstrava ansiedade.
- Amor, você comeu tão pouco hoje (comentei).
- Não estava com muita fome (explicou enquanto dobrava pela milésima vez seu guardanapo).
- Pilar, podemos ir então? (perguntou minha mãe demonstrando animação).
- Sim! (ela respondeu já levantando da cadeira e deixando a mesa).
- Minha linda não fique tão impaciente (pedi segurando em sua mão).
Efetuamos o pagamento e deixamos o restaurante.
- Onde é a clínica? (perguntei)
- Próximo daqui, em quinze minutos estaremos lá (minha mãe respondeu).
- Vou com vocês (avisei surpreendendo ambas).
- Amor, obrigada! (agradeceu Pilar sorrindo e visivelmente emocionada).
- Ai Deus, obrigada! (foi o comentário da minha mãe erguendo as mãos para o céu).
Eu fui dirigindo até a clínica, preferi acompanha-las, não queria deixar minha mulher sozinha, já errei tanto com ela e sei que a minha companhia é fundamental para ela neste momento. Minha mãe tinha razão o local era próximo e chegamos em menos de quinze minutos.
Aguardamos alguns minutos na recepção e em seguida entramos m uma sala bem arejada, lá uma especialista esclareceu todo o procedimento.
Dentre tantas as informações, o primeiro quesito abordado foi sobre a idade, haja visto que a idade da mulher é fator fundamental nas chances de sucesso. Os métodos de inseminação artificial e fertilização in vitro foram detalhados, confesso que fiquei extasiada com tanta informação. Pilar demonstrou grandioso interesse, fazia várias perguntas e diversas anotações.
Fiquei aturdida quando soube que no caso de casais homoafetivos existe a possibilidade de uma das mulheres ter seu óvulo fecundado por um espermatozoide doado e ela mesma continuar a gravidez ou o óvulo fecundado de uma delas pode ser colocado no útero da parceira que vai engravidar, permitindo assim, que as duas tenham participação no processo. Claro que os olhinhos da minha esposa e também da minha mãe brilharam, enquanto isso eu só queria sair dali correndo.
São diversas as etapas para o tratamento e logo percebi que se tratava de um procedimento longo, o valor do procedimento é alto, porém nada que afetasse nosso orçamento, não seria este o problema, nossa grande dificuldade será vencer as barreiras emocionais e psicológicas.
Depois de aproximadamente uma hora, deixamos a clínica, segui todo o trajeto em silêncio, enquanto as duas conversavam animadas.
- Minhas filhas, vocês vão entrar? Podemos tomar café da tarde juntas (sugeriu a minha mãe).
- Pilar, quer entrar? Eu venho te buscar mais tarde, vou dar uma volta (falei sem olhar para elas).
- Rúbia, tudo bem eu fico, mas não volte tarde. Eu te amo! (falou afetuosa e compreensiva).
- Eu também te amo! Até mais tarde.
Deixei as duas na casa dos meus pais e fiquei dirigindo pela cidade. Depois de um bom tempo dando voltas, parei em uma praça, fiquei por lá sentada, pensando em tudo, eu não sabia o que fazer e a aflição tomava conta do meu ser.
No final da tarde resolvi ligar para o meu pai, eu precisava conversar. No segundo toque ele atendeu.
- Rúbia, tudo bem?
- Pai, preciso conversar, o senhor pode me encontrar?
- Claro que posso minha filha, estou em casa e você onde se meteu?
- Não sei ao certo, rodei pela cidade e agora estou parada em uma praça.
- Quer que eu te encontre aonde?
- Não sei (respondi entregando meu desespero).
- Filha, lembra daquele bar na região central, que eu gosto de ir com alguns amigos?
- Sei sim.
- Vou te aguardar por lá, ok?
- Ok! Até breve! (falei e em seguida desliguei o celular).
Após meia hora entrei no bar e meu pai me aguardava.
- Filha, como vai? (perguntou me abraçando).
- Sr. Rubens, acho que eu queria sumir viu.
- Deixa disso menina, quer beber o que?
- Algo forte, por favor.
Ele assentiu, chamou o garçom e fez o pedido.
- Sua mãe e sua esposa, estão animadas lá em casa, gostaram da clínica.
- É eu sei (falei com desânimo).
- Qual o problema? (indagou com curiosidade).
- Eu não sei o que fazer, tenho receio, mas estou mexida com tudo isso, sei que vou acabar cedendo e a ideia nem tem sido de toda ruim. Porém, algo aqui dentro me deixa insegura.
- Minha filha, tenha paciência e não se cobre tanto.
O garçom voltou com nossas doses de whisky, bebericamos e voltamos a conversar.
- Rúbia, vocês estão tão bem, não se desespere.
- Quando a mãe ficou grávida, como foi para o senhor?
- Uma alegria extrema, foi uma surpresa, ela sempre tomou remédio, era cuidadosa, mas aconteceu e ficamos muito felizes, curtimos toda a gestação e a sua chegada só melhorou nossa relação.
- Será que conosco será assim também?
- Claro que sim filha. O que você achou da clínica?
- Eu também gostei, só fiquei aflita, preferi ficar sozinha por um tempo e também precisava conversar.
- E você já tem uma decisão?
- Ainda não.
- Pode contar com o seu velho aqui viu filha.
- Pai, obrigada!
- Não precisa agradecer. Quer beber mais?
- Não, já chega, estou com fome.
- Sua mãe estava preparando a janta quando eu sai de casa, vamos?
- Sim!
Acertamos a conta, pegamos nossos carros e prosseguimos.
- Dona Duda, eles chegaram (anunciou Pilar indo ao meu encontro).
- Chegaram na hora certa, acabei de terminar o jantar.
- O aroma esta muito bom, o que você preparou? (meu pai perguntou).
- Peixe assado com batatas ao molho de creme de leite e leite de coco.
- Uau, inspirada hein, vamos devorar então (ele sentenciou seguindo para a cozinha, acompanhado da minha mãe).
Os dois deixaram a sala e minha esposa questionou toda carinhosa:
- Amor, você esta bem?
- Estou sim (respondi a abraçando).
- Você precisava ficar sozinha né
- Sim e depois também quis conversar um pouco com meu pai.
- Se arrependeu de ir conosco?
- Não.
- E o que você achou?
- Podemos conversar depois do jantar?
- Sim.
Jantamos com meus pais e a comida estava deliciosa, com o auxílio de Pilar, minha mãe caprichou muito e fez até a minha sobremesa preferida, mousse de maracujá.
Quando retornamos para a nossa casa, Pilar e eu optamos por ouvir música, antes de conversarmos. Mas quando chegamos não foi possível adiar mais.
- Amor, vamos conversar? (perguntei já sabendo que ela concordaria).
- Sim, claro!
Sentei no sofá e ela sentou no meu colo, a abracei e ficamos em silêncio por alguns minutos.
- Amor, o que você achou da clínica?
- Eu gostei princesa.
- Sério?
- Sim, mas fico tão insegura, queria me sentir pronta para tudo isso como você se sente.
- Calma amor, vai dar tudo certo, obrigada por ter ido, fiquei muito feliz.
- Eu notei mesmo.
Voltamos a ficar em silêncio e permanecemos abraçadas.
- E sobre o procedimento, qual sua opinião?
- Fiquei perplexa com tanta informação, eu nem imaginava que era tão complexo.
- Eu já tinha lido um pouco sobre.
- Você não tem medo?
- Não (afirmou).
- Pelo que entendi sua idade é boa né (falei).
- Sim e nossas chances aumentam.
- Verdade.
- Você vai precisar de um tempo para decidir e pensar sobre? (perguntou olhando os meus olhos).
- O primeiro passo é consulta com psicóloga né
- Isso.
- Ainda bem que já tenho experiência nisso (brinquei).
- Eu não quero te pressionar, serei paciente, só quero te lembrar que a idade é essencial e estou ansiosa.
- Eu sei (garanti).
- Amor...
Ela não teve coragem de continuar e eu sabia muito bem o motivo. Então respondi.
- Sim!
- O que?
- Já que você ficou receosa, respondi e é sim.
- Você... (tentou falar com os olhos cheios de lágrimas).
- Eu quero te fazer feliz. Uma hora ou outra vou acabar cedendo e não te quero sofrendo, sendo assim, já que é seu sonho vamos realizar juntas (falei também emocionada).
- Eu te amo! (disse me beijando).
- Eu também te amo e poderemos utilizar meus óvulos na fertilização in vitro.
- Amor, eu não acredito, é sério? (disse abobada).
- Sim, eu não brincaria com algo que é tão importante para você.
Nos beijamos, nos acariciamos, unimos nossos corpos e começamos a fazer amor ali no sofá mesmo, com muito amor, paixão e tesão.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 08/09/2016
Olá.
Cada vez melhor.
Casal lindo.
Onde realmente o amor prevalece e conduz cada movimento do casal.
Com respeito. Sinceridade.
Parabéns autora linda.
Beijos.
Rhina
Resposta do autor:
Oie, fico feliz por saber que esta cada vez melhor ;)
Beijocas
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Mille
Em: 23/06/2016
Ola querida May.
Rubia mim surpreendeu na decisão de usar seus óvulos, tenho certeza que será uma ótima mãe e quando ver a evolução de gestação da Pilar será uma babona e ficará imaginando o filho ou filha.
Sabe que essa sua leitora é meio doidinha, li sua resposta e como sou a zoada pensei que tinha capítulo novo, o que na verdade quando você posta o capítulo fica esperando por um comentário meu. Passei o dia atualizando a página, depois fui reler a resposta ai entendi. Kkk
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá querida Mille, obrigada! Até breve! Beijos.
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