- Onde acha que está indo? – perguntou Ana Júlia ao abrir a porta do apartamento e dar de cara com Jasmine se preparando para sair.

- Fotografar – respondeu Jas sem nenhuma animação na voz e sem olhar para a amiga.

- Não senhora – falou Ana Júlia segurando Jasmine pelo braço quando ela tentou passar – Nós vamos conversar. Agora.

- Eu não quero nem tenho nada pra conversar no momento Anjú – a fotógrafa disse tentando soltar seu braço.

- O que aconteceu entre você e a Fernanda ontem? – perguntou Ana Júlia sendo firme e direta – E não me venha dizer nada que eu sei que algo aconteceu. Se não me contar eu vou lá e pergunto pra ela pessoalmente.

- Pergunte – falou Jasmine soltando seu braço e virando de costas para a amiga.

Jasmine andou até a porta, mas quando girou a maçaneta para abri-la Ana Júlia empurrou a porta fechando-a de novo. Ela segurou a mochila da fotógrafa e puxou-a para trás até que a carregou até o sofá e a fez se sentar. Depois Ana Júlia se sentou ao lado dela. Jas suspirou por saber que não iria escapar daquela conversa.

- Eu não estou pronta pra falar disso ainda Anjú – falou Jasmine deixando a mochila no chão.

- Você não pode fugir disso pra sempre – falou Ana Júlia segurando uma das mãos da amiga entre as suas – Vamos lá, eu estou aqui. Me diz o que aconteceu pra deixar você desse jeito. Desculpa a sinceridade, mas você está péssima amiga.

- Ela aconteceu – murmurou Jasmine com a cabeça baixa – Fernanda aconteceu. Eu fiz algo que não devia ter feito Anjú. Eu me dei falsas esperanças a toa. Aquela mulher nunca vai olhar pra alguém como eu. Ela provavelmente está brincando comigo como Amanda fez – a fotógrafa encarou a amiga com um olhar que demonstrava dor – Porque as mulheres gostam de brincar comigo? Eu pareço ser tão burra e ingênua? O que tem de errado em mim Ana Júlia, que faz com que eu nunca consiga atrair um relacionamento saudável?

Ana Júlia abraçou a amiga com força e Jasmine escondeu o rosto no pescoço da amiga retribuindo o abraço.

- Achei que você já tinha superado a Amanda – murmurou Ana Júlia de forma delicada com medo de magoar a amiga.

- Eu superei ela, não o que ela me fez passar – respondeu Jasmine cansando de negar a verdade à amiga – Eu beijei a Fernanda de novo ontem, foi isso que aconteceu. Admito que perdi meu controle, mas ela também não é fácil e me provocou. Eu acabei beijando ela Anjú – Jas se afastou e se recostou ao sofá pensando na tarde anterior – Eu beijei ela e ela correspondeu com a mesma vontade que eu amiga – disse a fotógrafa cobrindo o rosto com as mãos – Eu não vou ser o brinquedinho nas mãos de alguém outra vez Ana Júlia.

- Só porque a Amanda foi uma completa estúpida babaca contigo você não pode presumir que todas as pessoas do mundo vão fazer a mesma coisa Jasmine – disse Ana Júlia tentando, mesmo que indiretamente, defender a chefe.

- O problema não é esse Anjú – retrucou Jasmine com um suspiro – Todas as mulheres com quem eu já me relacionei se interessaram por mim passageiramente – ela falou olhando para o teto – Nenhuma delas queria nada mais sério. Não nego que foram boas noites, eu mesma nunca quis nada demais, eu não queria nada sério e as mulheres com quem eu sai também eram assim. Mas nenhuma delas me afetava como a Fernanda me afeta – ela falou encarando a amiga – A última pessoa que mexeu tanto comigo foi Amanda, e mesmo assim...os beijos dela não chegam nem perto dos beijos da Fernanda; e eu digo isso tendo beijado ela só duas vezes. Não vou deixar acontecer de novo. Não vou encarar como algo sério o que ela só vai ver como aventura.

- O que vai fazer? – perguntou Ana Júlia com um suspiro cansado por saber que não havia o que ela pudesse dizer para fazer Jas repensar o assunto; ela sequer sabia se valia repensar o assunto, pelo que ela conhecia de sua chefe não havia nenhuma razão para que Jasmine estivesse enganada.

- Vou trabalhar minha amiga – disse Jas com um sorriso forçado – Tirar fotos, vender fotos. Resolver tudo o que possa estar pendente por aqui e voltar a rodar o mundo. Como você já disse várias vezes, eu rodei meio mundo, agora vou andar pela metade que falta.

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                - O que pretende fazer agora então? – perguntou Pietro abraçado à Fernanda enquanto os dois permaneciam deitados na cama do rapaz, era de manhça e Fernanda sabia que tinha que levantar logo e ir para sua casa se arrumar para ir trabalhar.

- Eu ainda não sei – ela respondeu num sussurro – O que você faria se estivesse no meu lugar?

- Se fosse eu? – perguntou o advogado pensativo – Se um fotógrafo incrível, gostoso, gay e irresistível tivesse aparecido assim na minha vida...bom. Não vou dizer com certeza, mas acho que eu iria atrás dele. Se ele me deixasse um décimo perto de como essa Jasmine deixa você eu tenho certeza que iria atrás dele, o colocaria contra uma parede e o faria dizer o que ele quer comigo. Depois, se houvesse um mínimo interesse eu iria jogar meu charme e fazê-lo se apaixonar por mim também. Mas isso sou eu, seu charme não chega nem aos pés do meu querida – ele brincou tirando uma gargalhada da amiga que lhe acertou um tapa fraco sobre o braço.

- Tem uma matéria – ela começou pensativa – É sobre moda, um ensaio com algumas modelos. Não é o tipo de trabalho que ela gosta, segundo Ana Júlia.

- Ah eu não sei se colocaria o cara por quem estou interessado no meio de modelos lindos e que podem estar solteiros – resmungou Pietro com a sombra de um sorriso.

- Eu sei, mas não tenho nada além disso por enquanto – reclamou Fernanda emburrada – Não me agrada muito também, mas não sei se quero ficar muito tempo sem ver ela. E eu estaria no ensaio do começo ao fim...e poderia pedir para ela revisar as fotos comigo, seria fácil deixar a seleção das fotos apenas comigo.

- Vai atacar a fotógrafa no seu escritório de novo é? – perguntou o amigo rindo e recebendo um tapa um tanto mais forte.

- Não de novo, foi ela quem me agarrou da primeira vez – resmungou Fernanda rindo também – Também posso conversar com Ana Júlia; parece que elas são amigas à muito tempo.

- Isso seria admitir para sua secretária – começou Pietro, mas foi interrompido.

- Assistente – corrigiu Fernanda – E sim, eu sei, iria entregar que estou interessada na fotógrafa. Mas a alternativa à isso é pesquisar na internet, o que não vai me trazer informações muito consistentes, ou contratar um investigador particular para sondar a vida toda dela. Não creio que isso seja muito educado de se fazer.

- Eu não tinha chegado a pensar no investigador – riu Pietro – Você é uma stalker. Nunca tinha visto esse lado seu Nanda.

- Imbecil – resmungou Fernanda – Eu tenho que me aproximar dela pra saber se estou me apaixonando ou se é apenas atração física...uma incrivelmente forte atração física.

- Junto de uma enorme tensão sexual – complementou o advogado fazendo a amiga concordar com a cabeça – Porque apenas não faz como qualquer pessoa normal e convida ela pra sair?

Fernanda se sentou e encarou o amigo com uma expressão de surpresa e choque. Ela realmente não tinha pensado nessa hipótese, mas agora que isso lhe ocorria notava que ela não conseguiria tanto. Ainda não se sentia confortável o bastante consigo mesma para encarar a fotógrafa assim e ser tão direta em seu interesse. Ela então se levantou e saiu de perto da cama indo para o banheiro do quarto de Pietro.

- Acho que porque eu não sou uma pessoa normal – ela disse antes de fechar a porta.

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Fernanda chegou no escritório 20 minutos depois das 8 horas da manhã. Em cima de sua mesa já estavam todas as coisas que ela precisava para iniciar seu trabalho, a mais importante sendo o copo de café num canto ao lado de seu notebook; naquela manhã era um cappuccino de baunilha. Sua cabeça ainda martelava as cenas da tarde anterior e a conversa com o amigo pela manhã. Decidida a fazer algo a respeito da fotógrafa ela chamou Ana Júlia e, depois da assistente discorrer sobre as próximas matérias, ela perguntou sobre quantos ensaios ainda teriam de ser planejados e quais estavam sem um responsável ainda. Ana Júlia tinha mais três ensaios para serem organizados, dois deles apenas para daqui a três semanas, mas um, dali a quatro dias, ainda não tinha um fotógrafo contratado.

- Fale com sua amiga sobre esse ensaio, envie um convite formal da revista para ela sobre esse trabalho – disse Fernanda fingindo desinteresse quanto ao assunto ao se manter encarando o notebook e não a expressão surpresa da assistente.

- Anh...Dona Fernanda – hesitou Ana Júlia respirando fundo – Eu não acredito que Jasmine vá aceitar o serviço, seria melhor eu contatar outros fotógrafos.

- Porque ela não acetaria? – questionou Fernanda de forma séria, mas ainda fingindo ler algo em seu notebook.

- Primeiro porque Jas não gosta desse tipo de trabalho e em segundo – Ana Júlia hesitou novamente fazendo sua chefe erguer o olhar e encará-la – Não sei mais quanto tempo Jasmine estará na cidade – ela finalmente admitiu.

- Para onde ela pretende ir? – perguntou Fernanda sem conseguir conter sua curiosidade e o tom surpreso e triste na voz.

No primeiro instante Ana Júlia apenas arregalou os olhos. Sua chefe fazendo esse tipo de perguntas não era algo comum e muito menos parecia ser normal. Mas, antes que Fernanda notasse sua surpresa ela tratou de responder a pergunta de um jeito que poderia analisar melhor a chefe.

- Até agora não me disse – falou a assistente vendo a expressão de Fernanda tentar disfarçar a curiosidade – Também não disse quando. Apenas sei que ela pretende ir logo.

- Porque? – perguntou Fernanda sem se contar e depois se arrependendo da pergunta – Ignore – ela disse rapidamente – Não é importante nem me diz respeito – ela falou voltando a encarar o notebook, mas Ana Júlia reparou que ela apertava os lábios como se recriminando a si mesma por aquela conversa.

Fim do capítulo