Fernanda saiu do escritório assim que ouviu o elevador se fechar após a saída de Ana Júlia. Ela havia passado a ultima hora tentando se recompor, mas era impossível. Ela não parava de pensar no beijo da fotógrafa, não conseguiu retocar o batom nem arrumar o cabelo, sua roupa continuava desalinhada, ela simplesmente não conseguia fazer nada além de encarar o contrato assinado e lembrar das sensações que tinha sentido com Jasmine.

Fernanda nunca tinha se apaixonado, ela havia presenciado o sofrimento da mãe que descobriu todas as traições do marido após ele morrer num acidente de moto, enquanto saia com uma das amantes. Fernanda tinha apenas 6 anos na época. Depois disso acompanhou de perto o sofrimento de Pietro e da mãe dele com as coisas que o pai do mesmo lhes fez ao tentar tirar tudo o que a esposa possuía, mas sendo impedido pelo amigo que se formou como advogado e afastou o pai da fortuna da mãe. Ela não acreditava em relacionamentos.

O começo de sua vida amorosa só a fez desacreditar ainda mais ao ter que lidar com homens interessados apenas na beleza ou no dinheiro dela. Poucos pareciam se importar se ela era inteligente ou não e ela os odiava por isso. Quando o amigo se assumiu gay ela riu da cara preocupada que ele fazia lhe dizendo que sempre soube e que ele havia sido bobo de não ter admitido aquilo antes. Fernanda ia para as baladas LGBT’s com Pietro, sempre recebia cantadas e olhares de mulheres. Quando ia para as baladas comuns atraia os olhares de muitos homens também. Ela sempre preferiu homens, gostava da pegada firme que eles tinham, mas gostava mais ainda de subjuga-los às suas vontades.

Mas ela já havia ficado com mulheres, nunca havia chegado a fazer sex* com uma, mas não podia dizer que não tinha chegado perto disso. Fernanda não se considerava bissexual, apenas alguém curiosa que queria experimentar para ter certeza. Ela não negava que alguns dos melhores beijos de sua vida haviam sido com mulheres. O fato é que nunca, homem ou mulher, ninguém nunca a havia deixado daquela forma. Ela nunca tinha sentido aquelas coisas, ao menos não naquela intensidade. Fernanda não sabia lidar com todo o desejo que a fotógrafa provocava nela com apenas um olhar.

Ao sair do prédio em sua Mercedes branca a editora foi direto para a casa de Pietro, o amigo morava numa casa próxima, um condomínio fechado num bairro ao lado do dela. Fernanda era uma das pessoas que tinha entrada liberada no condomínio e por esse motivo não teve que avisar ao amigo que estava indo. Ela apenas chegou e, ao ver as luzes todas desligadas, desligou o carro e ficou sentada atrás do volante a esperar. Quando Pietro chegou encontrou Fernanda encostada contra a porta do carro dela, o rosto sem maquiagem e a roupa desalinhada assim como seu cabelo. Ele soube na hora que algo não estava certo e apenas abriu a garagem entrando com seu carro e correu para a porta da frente para que os dois pudessem entrar.

- O que foi que aconteceu dessa vez? – ele perguntou quando os dois se aproximavam da cozinha com Fernanda seguindo à frente.

Ela não respondeu de imediato, andou até um dos armários dele e pegou uma garrava de conhaque aberta que estava na adega do amigo. Pegou um copo, serviu-se de uma dose e a virou de uma única vez antes de encarar Pietro com um olhar indecifrável. O advogado ficou preocupado, nunca havia visto Fernanda agir daquela forma, no fundo achava que sabia o que poderia ser a causa, ou melhor, quem era a causa. Mas o jeito de Nanda o impediu de soltar alguma piada ou tentar descontrair, algo havia dado muito errado, ou muito certo com a fotógrafa e isso estava deixando sua amiga num estado completamente inédito para ambos.

- Sabe – começou ele de forma cautelosa pegando a garrafa e tirando-a do alcance de Fernanda enquanto ela virava a segunda dose – Seja lá o que tenha acontecido, se embebedar não vai te ajudar.

- Não quero ficar bêbada – respondeu ela pousando o copo no mármore do balcão e encarando a superfície escura e lisa – Eu só precisava de algo que acalmasse o volume de coisas que estão na minha mente. Só queria....coragem pra encarar o que aconteceu.

- Fernanda, você esta sem maquiagem, eu nunca te vi sair para trabalhar sem ao menos um batom – foi dizendo Pietro enquanto dava a volta no balcão para se aproximar da amiga – Você em desalinho de roupas e cabelo também é uma situação inédita.

- Eu sei – murmurou ela ficando de costas para o balcão e se recostando no mesmo, Pietro apenas se recostou ao lado dela e ficaram os dois encarando a parede atrás da pia.

- Quer subir e tomar um banho? – ele perguntou sem saber mais o que fazer – Te empresto um pijama e você se acalma mais antes de me contar o que houve.

- Ela me beijou de novo Pietro – contou Fernanda sem encarar o amigo – Meu Deus o que essa mulher faz comigo? – sussurrou ela depois colocando as mãos no rosto e escorregando-as pelos cabelos até seu pescoço.

- Nanda – falou Pietro se virando para a amiga que ainda não o encarava – O que foi que aconteceu?

- Num momento eu estava falando do contrato dela – respondeu Fernanda fechando os olhos – Admito que não a olhava, a presença dela já estava me deixando a beira da perda de controle. No momento seguinte estávamos discutindo – ela respondeu com um sorriso fraco – Trocando farpas, não notei quando me levantei, mas acabei fazendo isso. Então ela estava indo embora, mas eu não podia não ser a última a ter a palavra. Eu disse que ela não beijava bem – falou a editora com um sorriso divertido – O que é uma grande mentira e ela fez questão de me dar mais uma prova disso – Fernanda jogou a cabeça para trás ainda de olhos fechados – Pietro ela podia ter me jogado em cima da minha mesa e ter feito sex* comigo que eu teria amado cada segundo – ela admitiu ainda se olhar o amigo – Eu não entendo o que essa mulher faz comigo.

Pietro entendeu o desespero da amiga naquela ultima frase. Fernanda estava acostumada a controlar todas as suas relações, era sempre ela quem tinha o controle. O fato de que ninguém nunca havia sido capaz de despertar algo mais nela fazia aquela situação assustá-la. Ele parou em frente a ela e a abraçou, a editora deixou a testa encostar no peito dele e passou os braços pelos ombros do amigo.

- Você gosta dela – ele disse numa voz calma – Ela mexe com você porque te atrai mais do que qualquer outra pessoa já te atraiu. Não tem que ficar assim só porque esta gostando de alguém.

- Isso é uma grande merd*, Pietro – respondeu Fernanda com um suspiro – E o pior é que não estou assim porque ela me beijou. Migo eu to assim porque ela se afastou depois e foi embora como se não quisesse ter me beijado – ela contou encarando o rosto do advogado com uma expressão de tristeza.

- Ai amiga – ele respondeu e a abraçou ainda mais forte fazendo ela esconder o rosto em seu pescoço.

Fim do capítulo