Uma hora depois que os pais de Isabela, foram embora, Cássia, Paloma, Nicole, Rebecca e Emily entraram no quarto. Isabela sorriu por vê-las ali, elas pareciam um pouco sem jeito, não queriam ser indiscretas.

- Ei, meninas... Não precisam ficar com vergonha. – Isabela as confortou.

- Só não queríamos acabar falando nem uma bobagem. – Cássia se pronunciou.

- Está tudo bem. – olhei para Isabela, admirei a força daquela mulher.

- Que tal um filme? – Nicole propos. Eu sabia que elas estavam curiosas para saber o que aconteceu, mas colocaram isso em segundo plano e tentaram deixar a Isa mais confortável.

- Eu topo! – Emily falou.

- Eu vou fazer pipoca, vem comigo, amor? – Cássia chamou Paloma.

- Claro, amor....

- Claro, amor... – Nicole e eu imitamos a fala de Paloma, a mesma nos mostrou o dedo do meio, enquanto as outras meninas riram. Isabela sorria, isso era ótimo.

- Vou selecionar os filmes. Onde estão? – Becca me perguntou.

- Aqui tem uma caixa cheia. – peguei e abri a caixa.

- Me ajuda, amor... – Rebecca falou para a Emily.

- Me ajuda, amor... – Nicole e eu fizemos de novo, Becca apenas revirou os olhos, Emily riu com a gente.

- Vocês são terríveis... – Isabela disse com um sorriso.

Escolhemos três filmes, um de comedia, um de terror e o outro de romance, Cássia e Paloma voltaram com muita pipoca, suco e alguns chocolates. Paloma foi até o quarto dela pegar um colchonete, jogou alguns cobertores e deitou com Cássia, Emily pegou um que havia embaixo da minha cama, fez o mesmo que Paloma e deitou com a Rebecca. Deitei ao lado de Isabela na minha cama e Nicole deitou do outro lado, deixando a Isa no meio.

No primeiro filme, Loucas pra casar, foi quase impossível de se concentrar, era muita risada, comentários muito loucos. No segundo o silencio foi total, vimos invocação do mal, em umas partes mais fortes, Isabela escondia o seu rosto em meu pescoço, me fazendo sorrir involuntariamente. O último foi, 50 tons de cinza, em algumas partes, Isabela tampava o meu rosto, me tirando risadas. Depois de quase cinco horas, a seção acabou, as luzes foram ligadas e lá fora a escuridão tomava posse.

- Caramba... Olha a hora... – Emily falou se espreguiçando toda.

- Vamos jantar? – Paloma chamou.

- Caramba, Paloma. Quantas vermes você cria? – Nicole a olhou desacreditada. Rimos do comentário.

- Eu gosto de comer, oras. – deu de ombros.

- Vamos jantar e depois vocês vão, por favor? – fiz a minha melhor cara de cão sem dono.

- Ai meu Deus, que coisa mais linda. – Rebecca me abraçou.

- Pedindo desse jeito... – Emily apertou as minhas bochechas.

- Isso! – comemorei. – Então vamos descer?

- Esperamos vocês lá embaixo...

Dito isso, logo ficamos apenas Isabela e eu, olhei indignada para o meu quarto.

- Mas que vacas... Deixaram a bagunça só pra mim. – Isabela riu com gosto.

- Eu te ajudo... – ela levantou, parei para olha-la. – O que foi?

- Nada... – sorri.

- Você está fazendo de novo... – ela levantou as duas sobrancelhas.

- Desculpa, Isa... Só fico besta de ver o quanto você é forte, nem parece que passou por uma situação daquela. Eu gostaria de ter um terço dessa tua força...

Ela me olhou por mais um tempo, sorria com os lábios, queria saber o que se passava em sua mente. Arrumamos tudo, descemos e encontramos as meninas na cozinha, conversavam animadas. Meus pais já estavam em casa.

- Como você está, minha querida? – mamãe se aproximou de Isabela, lhe dando um abraço acolhedor.

- Estou bem, dona Carolina. Muito obrigada por tudo.

- Não precisa agradecer, meu anjo. – meu pai a beijou na testa. – Adoramos você.

- Ela conquistou os sogros... – Emily cochichou em meu ouvido.

- Mas você é insistente, Bitencourt...

- Vamos comer... A Lili, deixou duas lasanhas que estão implorando para morrerem em minha boca. – gargalhadas.

- Me lembrem de passar na farmácia amanhã, essa menina precisa matar essa criação que vive dentro dela. – meu pai brincou, arrancando risadas de todas. – Meu Deus...

- O que foi, pai? – perguntei assustada.

- Nunca havia estando com tanta filha na mesma mesa. – rimos com gosto.

- Melhor acostumar, pai... – falei rindo da situação.

Como não poderia ser diferente, o jantar foi muito divertido, por alguns momentos a minha mente se deixou levar, pensei em Amanda, por uma fração de segundos eu senti o coração apertar, balancei a cabeça de forma negativa. Olhei para todos na mesa, guardei na mente.

Depois do jantar, as meninas se foram, meus pais foram dormir, estavam exaustos, Paloma, Nicole, Isabela e eu, ficamos mais um pouco na sala. Ligamos a televisão, passava um programa de comedia na tv. Deitei com a cabeça sobre as coxas de Isabela, a mesma começou a fazer carinho em meus cabelos.

- Mas é folgada. – Nicole falou para mim.

- Inveja... – mostrei a língua.

- De você? Ruumm... – ela empinou o nariz. – Já olhou para o meu namorado? Ham? Ele é lindo!

- Não vou nem responder. – coloquei a mão sobre a minha boca.

- Mas, eu vou... – Paloma se meteu. – Quem te iludiu dizendo que aquele banana é lindo? Se eu preciso de remédio para verme, você precisa de óculos. – Isabela segurou o riso.

- Vamos mesmo ter essa discussão? – Nicole cerrou os olhos.

- Isso não vai prestar. – sussurrei para a Isa. – Vamos sair enquanto dá tempo...

Paloma e Nicole passaram a bater boca, do alto das escadas, Isa olhava divertida para o debate das duas. Já era quase onze da noite, entramos no quarto e Isa pediu para tomar banho, enquanto ela estava no banheiro, me sentei no chão da sacada com o meu violão. Comecei a pensar em Amanda, então pouco tempo, tanto sentimento, tanto problema. Abracei o violão toquei suas cordas, fechei meus olhos e tentei focar em uma canção, mas todas sumiram. Olhei para dentro do quarto, vi meu reflexo no vidro da porta.

- I stare at my reflection in the mirror... Why am I doing this to myself? Losing my mind on a tiny error... I nearly left the real me on the shelf... No, no, no, no... Don’t lose who you are in the blur of the stars... – esqueci a letra. – Droga...

- Por quê parou? – levei um pequeno susto. – Desculpe, não foi a minha intenção.

- Tudo bem, Isa... – ri do constrangimento dela. – Eu estava distraída... Separei uma roupa para você dormir... – desviei meu olhar, Isabela estava só de toalha, com um coque na cabeça.

- Vou trocar... Mas ainda não me respondeu. – ela entrou no banheiro, mas não demorou mais que trinta segundos e voltou. – Por quê parou? Alias, não sabia que tinha a voz tão bonita...

- Não exagera, senhorita Pantoja. – ela sentou ao meu lado, vestida com uma blusa de moleton e um shorts do mesmo tecido. – Esqueci a letra... Meu inglês é péssimo...

- Não, ele é bom... – ela me olhou por uns segundos. – Canta uma pra mim? – sorri.

- Vai me fazer pagar esse mico? – falei com a minha melhor cara de coitada.

- Com certeza. – ela riu.

- Ok... Qual você deseja, senhorita? – arqueei a sobrancelha.

- Nossa... – coçou a cabeça...

- Que tal essa...

 

Tão natural quanto a luz do dia

Mas que preguiça boa

Me deixa aqui a toa

Hoje ninguém vai estragar meu dia,

Só vou gastar energia pra beijar sua boca

 

Fica comigo então, não me abandona não

Alguém te perguntou como é que foi seu dia

Uma palavra amiga, uma noticia boa

Isso faz falta no dia a dia

A gente nunca sabe quem são essas pessoas

 

Eu só queria te lembrar,

Que aquele tempo eu não podia fazer mais por nós

Eu estava errado e você não tem que me perdoar

Mas também quero te mostrar,

Que existe um lado bom nessa história:

Tudo o que ainda temos à compartilhar,

 

E viver, e cantar,

Não importa qual seja o dia

Vamos viver, vadiar,

O que importa é nossa alegria

Vamos viver, e cantar,

Não importa qual seja o dia

Vamos viver, vadiar,

O que importa é nossa alegria

 

Tão natural quanto a luz do dia

 

- Eu gosto dessa... – seus olhos verdes me fitaram.

- Eu também. – prendi os lábios um no outro. – Vamos deitar? – levantei e estendi a mão para ajuda-la a levantar. – Você teve um dia cheio.

- Obrigada por tudo... – coloquei o violão sobre a poltrona.

- Eu não fiz nada, Isa. – virei para olha-la. – Eu quero que prometa uma coisa.

- Pode falar. – seus olhos vasculharam os meus. Senti uma coisa estranha no estomago.

- Se sentir vontade de falar sobre hoje, se sentir que algo não está certo, não importa aonde você esteja, não importa a hora... Você vai me ligar e eu estarei lá com você, entendeu? – ela me abraçou forte e ouvi um choro baixo.

Mais uma vez a raiva por imaginar o que aquele cretino fez a ela, a monstruosidade que ele tentou fazer, adquiriu níveis altíssimos.

- Você é incrível! – eu era incrível? Aquela menina de dava um banho de maturidade, força.

- Te adoro, olhos bonitos. – beijei o seu rosto. – Vem deitar...

A puxei para a cama, a cobri e ela apenas ria do meu exagero, deitamos de frente uma para a outra, uma vontade estranha passou por minha mente, mas aquele não era o momento. Me recriminei por sentir vontade de beijar a Isa, não poderia envolve-la naquela bagunça que era a minha vida.

“Não, eu não vou fazer nem uma burrada!”.

- Estou sem sono. – ela sorriu, enquanto eu enxugava o seu rosto molhado pelas lagrimas.

- Então vamos conversar até você dormir. – sorri. – Posso te fazer uma pergunta?

- Eu não sou remista. – ri com gosto. – Pode sim...

- Pelo menos já sei que torcemos para o mesmo time. – ela riu, olhei seu rosto pela milésima vez, seu rosto estava um pouco roxo e o lábio inchado. – Você não se senti estranha em ter agora, tanta amiga lésbica? – ela deu uma risada gostosa. Aquilo me fez bem.

- Na verdade, nem um pouco. – ela sorriu com os lábios. – Eu não ligo para essa coisa de rotulo, ao meu ver, somos todos iguais. As pessoas deveriam focar mais no caráter, do que na orientação sexual, por que ta me olhando assim? Falei bobagem? – Essa menina deveria ser de outro mundo.

- Tem certeza que só tem vinte anos? – ela sorriu.

- Boba...

- Deveria existir mais pessoas como você, Isabela. – falei com sinceridade.

- Você está fazendo de novo. – fechei meu olhos.

- Tá bom, assim?  - ouvi sua risada.

Conversamos bastante, sobre tudo, e não sei a que horas fomos dormir, só me dei conta quando o alarme do meu celular tocou, desliguei o mais rápido possível para não acordar a Isa.

Admirei o seu sono por um momento, de repente uma chuva de questionamentos me inundou. Fechei os meus olhos, isso não poderia acontecer.

“Definitivamente, não vai acontecer!”.

Fui para o banheiro, tomei um banho gelado, passei algum tempo a divagar, depois sai do banho, me enrolei em uma toalha, escovei os dentes e sequei o cabelo. Ao sair do banheiro, olhei para a cama e Isa, estava sentada no meio da cama, seus olhos estavam fechados. Fiquei a observar o que ela fazia, ela estava orando. Quando seus olhos abriram, vieram de encontro ao meu.

- Bom dia, Flávia. – sorriso de lábios.

- Bom dia, Isa. – me aproximei, dei um beijo em sua bochecha. – Com fome?

- Muita! Comeria uma vaca... – ri de seu exagero.

- Toma um banho, vou separar umas roupas limpas. – a puxei. – Deixa de preguiça.

- Tudo bem... Não demoro...

Tomamos café todos juntos, nem uma pergunta sobre o ocorrido foi feita, Isabela agradeceu inúmeras vezes à minha família. Estávamos na BR 316, eram sete da manhã, logo chegamos à casa de Isabela, saímos do carro, paramos no portão.

- Tem certeza que não quer entrar? – ela me perguntou pela segunda vez.

- Tenho... Preciso ir pra faculdade. – sorri de lábios.

- Tudo bem... Mais uma vez obrigada... Por tudo. – ela me abraçou, fechei meus olhos ao sentir seu cheiro.

- Eu te adoro, olhos bonitos. – falei depois do abraço.

- Também te adoro... – aquela vontade novamente de beija-la. Ignorei esse desejo.

- Quero saber de tudo, tudo bem? – a fitei seria.

- Tudo bem. – ela beijou meu rosto. – Mais tarde te ligo.

- Vou esperar...

Ela abriu o portão, nos olhamos uma última vez, ela trancou o portão e eu entrei em meu carro, olhei para o portão, liguei o carro e dei partida.

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo