Capítulo 8 – Tentando esquecer o inesquecível – Fernanda
Quando o avião pousou no aeroporto de Guarulhos Fernanda saiu apressada. Foi uma das primeiras pessoas a desembarcar e logo foi buscar suas duas malas na esteira. Ela tinha pressa, já havia liberado Ana Júlia por dois dias, mas não queria correr o risco de encontrar ela e a fotógrafa no aeroporto. Quando foi par a área do desembarque e viu seu amigo, Pietro Sampaio, parado na área de espera, com seu terno cinza de marca, sua gravata azul marinho e seus olhos verdes não conseguiu segurar o suspiro de alívio.
Conheceram-se durante o ensino fundamental, estudaram na mesma escola desde os 12 anos de idade, se tornaram amigos quando ela tinha por volta de 14 e, desde então, eram inseparáveis mesmo com as complicações de suas carreiras. Pietro era um grande advogado, tinha seu próprio escritório e morava num lindo apartamento com a mãe, do pai do rapaz não se tinha notícias e ele queria que continuasse a ser assim. Quando Fernanda havia herdado a revista ainda estava a um ano de terminar sua faculdade de administração, mas conseguiu conciliar tudo e, em sua formatura, o amigo havia sido sua única família a comparecer. Eram tão ligados que alguns chegariam a pensar que poderiam ser amantes, mas a relação dos dois era de uma amizade tão profunda que, para eles, eram como se fossem irmãos.
Quando ela se aproximou ambos se abraçaram, Fernanda escondeu o rosto no peito do amigo sentindo o perfume amadeirado característico de Pietro e, por um instante, ela quase fraquejou. Mas a editora chefe da Actualites tinha uma imagem a manter e, antes que borrasse sua maquiagem e manchasse a camisa de linho branca que o amigo usava ela se afastou. Pietro levou a amiga até o apartamento dela nos Jardins, após estacionar no estacionamento do prédio e subirem pelo elevador até o andar da editora ele se deitou na cama da amiga enquanto esperava-a tomar um banho. O rapaz sentia que o silêncio dela durante todo o percurso era forçado e que a amiga precisava conversar, mas que ela esperava pelo momento certo. Alguns minutos depois ela saiu do banheiro usando um pijama composto por uma calça e uma camisa brancos, sem maquiagem e com o cabelo ainda preso em um coque mal feito.
- Ah minha linda, vem aqui – chamou ele vendo a expressão cansada e confusa que a amiga tinha no rosto.
Fernanda não esperou que ele a chamasse duas vezes e logo estava se deitando ao lado dele e sendo abraçada pelos braços fortes de Pietro. Ela não queria chorar, mas todas as lágrimas que havia segurado desde a noite do assalto vieram a tona e ela se deixou ser abraçada.
- Tá tudo bem agora Nanda – sussurrou ele acariciando os cabelos dela que escondia o rosto em seu pescoço – Você está segura, nada daquilo vai acontecer de novo.
Pietro tinha ficado sabendo do assalto ao casarão durante a madrugada daquela noite quando Fernanda havia ligado a ele dizendo que estava bem e apenas como um tornozelo torcido. Pela manhã já havia notícias de como a editora chefe de uma das grandes revistas do país, Fernanda Azevedo, havia se salvado de um assalto à um casarão antigo onde ela estava supervisionando uma entrevista e um ensaio fotográfico. As imagens ilustravam diversas pessoas e o texto citava também uma fotógrafa, Jasmine Meirelles, que havia escapado junto de Fernanda. Pietro ainda podia ver os arranhões nos braços da amiga, além de ter percebido os sapatos baixos e o tornozelo protegido por uma bandagem.
- Eu tive tanto medo Pietro – choramingou ela estremecendo ao se recordar dos tiros – Os tiros e os gritos; eu achei que fosse morrer.
- Mas não morreu, está bem aqui agora – disse ele tentando acalmá-la – Você conseguiu. Apesar de tudo, você conseguiu e agora está bem aqui. A salvo. Na sua casa. Com seu amigo idiota que não sabe o que fazer com você assim.
Fernanda teve que rir um pouco depois da ultima frase e isso fez o choro parar, apesar dela continuar a limpar o rosto e soluçar uma vez ou outra. Ela se sentou e Pietro fez o mesmo apoiando as costas nos travesseiros da cama de casal de Fernanda. Ela encarou o amigo de olhos verdes e cabelo castanhos claros e respirou fundo para se acalmar.
- Nunca na vida me imaginei passando por uma situação assim – disse ela suspirando e se encostando ao amigo que a abraçou outra vez.
- Mas passou. E superou tudo aquilo – disse ele com um sorriso vendo sua amiga voltar ao seu estado normal – E agora está aqui e será ainda mais forte após essa experiência.
- Mas não foi bem assim Pietro – Fernanda falou suspirando outra vez e erguendo o olhar para encarar os olhos do amigo – Não superei sozinha. Não foi tudo eu. Aliás – ela fez uma pausa para dar um sorriso sem graça e encarar a janela de seu quarto – Acho que eu não fiz absolutamente nada.
- Não diga isso, você fugiu não foi? – falou ele sério fazendo-a encará-lo outra vez – Saiu de lá, caminhou no meio do mato numa noite escura. Achou a rodovia.
- Mas não fui eu – falou ela séria e soltando o rosto das mãos dele – Foi ela Pietro. Foi tudo ela.
- Ela? – ele perguntou confuso, então se recordou da fotógrafa – A fotógrafa?
- Jasmine Meirelles – murmurou Fernanda se afastando dele e se recostando aos travesseiros também – Sim, a fotógrafa.
- Bem, ter ajuda não diminui o fato de terem conseguido escapar E chamar a polícia – disse ele frisando o ‘e’ da frase.
- Você não entende Pietro – falou ela se encolhendo e abraçando as próprias pernas apoiando o queixo nos joelhos – Ela reconheceu o som como tiros. Ela me arrastou pro quarto dela, me acalmou quando eu ia entrar em pânico, tirou meus saltos e me fez calçar tênis. Me fez pular uma janela e entrar no meio do mato sem nem uma luz de uma lanterna. Foi ela quem guiou o caminho todo Pietro – disse ela encarando o amigo – A calma dela me impediu de surtar. E quando eu torci o pé ela cuidou de mim, não queria me deixar, mas era preciso. E mesmo quando ela foi sozinha buscar um lugar onde conseguisse fazer a chamada e alertar Ana Júlia, mesmo ai ela teve mais coragem do que eu. E quando eu estava para entrar em desespero naquele lugar frio e escuro ela voltou de novo e, mais uma vez, cuidou de mim.
- Então acho que devemos todos agradecer à essa fotógrafa – disse Pietro fazendo carinho nos cabelos de Fernanda e tentando alegrar a amiga com seu sorriso, mas sem entender o porque dela se incomodar tanto em ter dependido da outra mulher – Você não estava preparada para uma situação assim, e eu sempre te alertei que não tem como você se manter imperturbável pra sempre perante todos.
- Não é só isso – murmurou ela – Não foi só isso.
- Nanda, você precisou de ajuda, todos precisamos de ajuda uma hora ou outra – ele disse se virando parar a olhar de frente – Ninguém vai te julgar por ter se desesperado naquela situação.
- Que se dane o que podem falar de mim – disse ela se irritando e saindo da cama para caminhar descalça pelo quarto – Pouco me importa Pietro! Essa merd* toda ainda vai render uma ótima publicidade pra Actualites. E os malditos assaltantes já estão presos. Não é isso o que me incomoda, tudo isso já é passado, já foi – ela disse cruzando os braços e parando em frente à janela, com a cortina logo ao lado – Não é isso o que eu estou, desesperadamente, tentando esquecer – sussurrou a editora com um suspiro antes de fechar os olhos.
- Agora eu já não entendi mais nada – disse Pietro colocando as pernas para fora da cama.
- Ah Pietro – ela murmurou colocando uma mão sobre a testa e os olhos – É o beijo que eu quero esquecer.
- Beijo? Mas do que você está falando agora Fernanda? – perguntou o amigo irritado e a encarando de forma séria.
- Ela tinha saído há 58 minutos – falou a editora sem se virar para o amigo que perdeu o olhar irritado quando notou a seriedade na voz de Fernanda – Meu pé doía, latej*v*. Estava caindo uma garoa fina e meu blazer começava a passar a unidade pra minha camisa. Eu estava morrendo de medo quando ela chegou de volta; animada por ter conseguido ligar para Ana Júlia. Ela estava bem mais molhada do que eu, mas sorria e se sentou ao meu lado. Ela tocou meu tornozelo outra vez, estava ainda mais inchado e eu estremeci de dor quando senti os dedos frios dela na pele quente. Ela se desculpou rápido e logo voltou a sentar do meu lado. Me abraçou e eu não consegui sair daquele abraço porque, além de me esquentar por estar perto dela, eu me senti mais segura com ela me abraçando – contou Fernanda e Pietro não conseguia nem piscar enquanto via onde a amiga queria chegar contanto aquela história toda – Eu me encolhi de frio e ela se ajeitou para me trazer para mais perto. Ela cuidou de mim. O tempo foi passando e não ouvíamos nada, começamos a conversar. Ela, me tranquilizando, dizia que eles deveriam estar tentando pegar os assaltantes de surpresa e por isso estavam demorando. Ela falava com tanta confiança que eu me forcei a olhar para ela, tinha que ver se os olhos dela estavam tão confiantes quanto a sua voz. E eles estavam Pietro. E ela sorria pra mim, tinha uma expressão tão calma que eu não consegui acreditar. Ela viu o medo no meu olhar e acariciou meu rosto me acalmando. Nós estávamos tão perto, podia sentir o ar quente da respiração dela, ficamos nos encarando e eu não sei dizer por quanto tempo. Eu nem sei dizer quem tomou a iniciativa – disse ela com uma longa pausa – Era como se houvesse um imã me puxando pra ela e quando me dei conta já sentia os lábios dela nos meus e eu não sei explicar porque a beijei.
- É – falou Pietro tentando segurar o riso e recebendo um olhar irritado e indignado – Assim fica difícil sustentar o ponto de que não é contagioso – falou ele e começou a rir recebendo um olhar de pura raiva.
- Babaca – falou Fernanda acertando um tapa forte na perna dele quando se aproximou do mesmo – Se a culpa é sua talvez eu deva parar de andar com você sua bicha reprimida – falou ela irritada indo na direção da porta.
- Ah, para com isso Nanda – riu Pietro indo atrás da amiga que se dirigia para a cozinha – Não quis ofender sua heterossexualidade – ele disse ainda rindo – Mas esquece minha brincadeirinha boba, vamos direto ao ponto principal.
- Você é um retardado – falou ela ainda irritada, mas pensando que era impressionante as pessoas não suspeitarem que Pietro era gay, mesmo que ele tivesse toda aquela aparência máscula com a barba por fazer e os ombros largos.
- Nanda! – chamou ele ficando meio sério, mas ainda com um sorriso provocador, quando parou do outro lado do balcão da cozinha enquanto ela abria a geladeira – Vai, sou seu amigo, tem que me contar. E não ouse mentir ou omitir os fatos dona Fernanda Azevedo – falou ele fingindo uma seriedade que não existia – Foi bom beijar uma mulher?
Fernanda parou de costas à ele fingindo estar olhando o que havia na geladeira, mas ela estava apenas encarando o fundo e se recuperando da sensação de relembrar o beijo.
- Eu já havia beijado outras mulheres, Pietro – falou ela se referindo aos poucos casos em que ela tinha tido curiosidade em experimentar – Você sabe minha opinião sobre isso.
- Aah não, nem pensar, o advogado aqui sou eu Fernanda. Não vai fugir da pergunta – disse ele rindo – Foi ou não foi bom beijar a fotógrafa?
Fim do capítulo
Olá =]
Provavelmente terá outra capítulo no fim da seana (sab ou dom) então fiquei atentas ;]
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rhina
Em: 13/06/2016
.......
Mesmo heterossexual.... a Fernanda ficou mexida.
Até demais para alguém que mantém a postura clara e incisa de heterossexual.
Mas tudo é possível.
Beijos.
Resposta do autor:
Kkkkk acho que vc pegou o ponto principal: o beijo mexeu com a Fernanda demais
E realmente, tudo é possível
Bjs ;]
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lay colombo
Em: 30/05/2016
Diz logo q foi o melhor beijo da sua vida e nos faça feliz vai kkkkk
Ja to amando o Pietro e to super feliz de ver q a Nanda ta caidinha na da Jas.
Bjos linda até o próximo
Resposta do autor em 30/05/2016:
Infelizmente a Fernanda não vai dizer isso, primeiro pq ela é cabeça-dura neh hehe
Pietro = melhor pessoa Ever, adoro ele
Bjs ;]
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Eduarda A
Em: 29/05/2016
Amei o capítuo. Amei saber o que a Fernanda pensou e que ela quer esquecer o beijo. Eu levo isso como um bom sinal porque eu também acho que a Jas deve beijar muito bem. Se ela não fosse uma personagem e fosse real, eu não me ía importar nadinha de beijar ela.
Resposta do autor em 30/05/2016:
Ah, nem sei se te aconselho a duvidar ou não do beijo da Jas kkkkkkkkkkk
;]
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line7
Em: 29/05/2016
Mais um capítulo, sabia que a Fernanda ficou abalada com o beijo...hhehe..e se gostou do beijo? Claro que gostou,..rsss...essa pode de durona, está derretendo toda😑.até sáb ou dom😊😙
Resposta do autor em 29/05/2016:
Será que gostou mesmo?? Kkkkkkk Logo saberemos (eu já sei claro hehe)
Até ;]
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Silvia Moura
Em: 29/05/2016
...tcham,tcham... mas que mágica boa, esse capitulo apareceu assim do nada... esse adoçou masi minha angustia já ácida.... mas poderia ter mais não é? Autora; já percebestes que as leitoras quase nunca se contentam? Eu confesso que quando me agrado, fico louca por mais e mais... amei esse, mas pode ter certeza que quanto mais, melhor... beijo autora...
Resposta do autor em 29/05/2016:
Nunca disse que eu era mágica tbm?? kkkkkkk (brincadeira kkkkkk)
Poder até poderia, eu até já disse quanto hehe
Bjs ;]
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