Capítulo 1 - Irritação e Ansiedade
Ela entrou em sua sala batendo a porta com força, chamando a atenção da dupla que falava animadamente sobre como seria o final de semana delas.
- Eu não a suporto. – Estava vermelha de raiva. Aquela mulher lhe despertava os piores sentimentos.
- Calma, Nalália. – Paula tentava acalmar a amiga que ficava assim sempre que encontrava a policial encrenqueira.
- Não dá. Ela é muito grossa. Tenho vontade de dar um soco naquela mulher.
- Isso mesmo. Logo em seguida será presa por desacato a autoridade. Na vejo a manchete “Médica é presa por socar detetive em serviço”.
Natália foi até a cafeteira e encheu sua xícara. Respirava fundo tentando se acalmar. A situação já havia sido controlada. Agora era baixar a adrenalina após o embate.
Raul entrou na sala tenso a procura de Natália.
- Querida, e o paciente?
Natália se virou para a amiga com um olhar suplicante.
- Já entendi. Eu vou lá. Pode deixar Raul. Se a Nati voltar para lá quebrará a cara da policial. – Disse entre risos relembrando a manchete.
Raul abraçou a amiga que demonstrava estar voltando ao seu estado normal.
Depois de um dia exaustivo e com grande desgaste emocional Natália chegou ao seu apartamento. Tirou a roupa e entrou no banho. Lembrou-se de seu namorado e desejou que ele estivesse ali naquele momento pronto para compartilharem alguns momentos de prazer, como tantas vezes fizeram. Mas, logo em seguida uma recordação indesejada a tirou desse devaneio, fazendo com que lágrimas se misturassem a água do chuveiro quente. Há mais de quatro anos terminara o namoro. Era apaixonada pelo namorado e estavam juntos há três anos. Faziam planos para um futuro casamento.
“Por que ainda me sinto tão frustrada? Você conseguiu destruir meus planos de uma vida a dois. Até quando vou continuar essa pedra?”
Encerrou o banho com esse pensamento. Sentia-se solitária, mas nada propensa a uma nova entrega. Estava fechada. Quase decretando falência sentimental.
***
- Paula, você tem certeza que está apaixonada pela Cristina?
- Raul, meu amor, ela me desperta uma coisas que nem sei dar nome ainda. – Disse suspirando.
- Mas, e a Bárbara? Ela vai ficar possessa. Tá na sua cola há século. – Raul coçava a barba bem feita em sinal de ansiedade. Gesto típico dele e que não passara despercebido pela amiga.
- Relaxa, Raul. Não pretendo terminar com a Bárbara e muito menos me declarar para a Cristina.
O amigo viu o ar de derrota da Infectologista.
- Por que?
- Porque nem sei se a garota é lésbica. E, se for, quem garante que eu tenha chances?
- Meu amor, você é um arraso de mulher. Se eu fosse hétero ficaria na sua cola o tempo todo. Não é todo dia que nos deparamos com uma mulher do seu calibre. – Ambos deram risada. Raul não tinha mesmo jeito. – Isso não é justificativa. Investir não arranca pedaço. Você a deseja?
- E muito. Acredita que da última vez que estive com a Bárbara fiquei imaginando a Cristina. Preciso me livrar desses pensamentos. – Balançou a cabeça como quem quisesse dissipar pensamentos inapropriados. O amigo achou graça. – E, Bárbara e eu já estamos estabilizadas.
- Ah, meu Deus! Parece aquela mulher que se condena a um casamento de anos por acomodação. Vivendo no piloto automático por medo de morrer sozinha. Dá para vivenciar seus 35 anos, por favor?
- Ah! Vamos mudar de assunto. E o João? Como está a vida de casado?
- Amiga, melhor a gente casar. Acho que daríamos mais certo.
A gargalhada foi geral. Enquanto degustavam mais uma torta na cafeteria do hospital o celular de Paula vibrou. O número era desconhecido.
- Alô.
- É a Paula? Aqui é a Cristina. Tudo bem contigo? – Uma voz sensual perguntou do outro lado da linha deixando Paula com o coração acelerado.
- Tudo.
Diante da resposta monossilábica de Paula, Cristina continuou.
- Estou ligando para elaborarmos a programação do workshop e verificarmos as palestras e cronogramas. Você será uma das palestrantes então... Pensei que talvez pudesse vir aqui em casa no domingo para elaborarmos a programação.
- Claro. Que horas?
- As 14. Te espero. Beijo.
Assim que a ligação foi encerrada, Raul ficou olhando a amiga com ar aéreo. Parecia não ter acreditado na ligação. Sua musa havia acabado de ligar em seu celular.
- Assume logo essa mulher na sua vida.
- O que? Vai trabalhar logo, Raul.
- Vou porque daqui pouco vão pegar no meu pé. Te amo, querida. Bom término de plantão para você porque o meu está apenas começando.
***
- Se você vai continuar a tratá-lo desta forma pedirei que espere no corredor. – Tentava não se alterar. Mas aquela mulher duas vezes na mesma semana era demais.
- Ele é meu prisioneiro. – Disse para morena.
- Aqui dentro ele é meu paciente. – A loira se alterou na hora.
- Você os defende tanto. Amanhã serão eles que maltratarão seus filhos.
Raquel respirou fundo. Percebeu que assim como ela a médica tentava manter a calma. Mas, o embate sempre era difícil.
- Eu preciso terminar meu trabalho. – Resmungou a médica.
- Vai demorar muito. Eu não tenho o dia inteiro. – Falou de forma autoritária.
“Ah, mulher dos infernos!” – Gritou mentalmente a médica.
Algum tempo depois.
- Acabamos.
Raquel caminhou até o rapaz e o segurou fortemente pelo braço. Ela era bem mais alta que o rapaz que chegou a inclinar a lateral do corpo para acompanhar a investigadora.
- Ei. Você não pode tratá-lo desta forma.
Raquel se voltou para a médica a assustando.
- Doutora você já terminou o seu trabalho. Agora, deixe-me terminar o meu.
Embora assustada com a linguagem corporal da investigadora. A médica não se deixou abalar e a enfrentou.
- Você é sempre grossa assim? – Para a policial aquela pergunta lhe parecia insolente.
Neste momento Paula entrou na sala. E presenciou a troca velada de animosidade. Sua presença nem fora notada.
- Só com quem quer se meter no meu trabalho. Já que os defende tanto. Pergunte a este aqui o que ele fez? – Raquel percebeu que a médica continuava muda. – Assaltou um mercadinho de bairro, atirou e matou o gerente levando consigo a filha dele que agora deve estar sendo atendida em pronto-socorro por ter sido estuprada por este animal. Entendeu doutora? O quer que eu desenhe? – Sua pergunta era em tom de sarcasmo.
Natália olhou horrorizada para o garoto que até então lhe parecia inofensivo. E, viu a policial arrastando o rapaz por a fora.
Só então percebeu Paula no canto da sala. Se deixou cair em sua cadeira em sinal de exaustão.
- Essa mulher consegue me tirar do sério. – Massageava as têmporas com os dedos médios. Sua dor de cabeça voltara com força.
- Você deve ter alguma coisa mal resolvida de outra época com a Reis. A conheceu aqui no hospital mesmo?
- Sim. Todas as vezes que nos esbarramos é desta forma.
Raquel e Natália visivelmente não se gostavam. Desde a primeira vez que se encontraram no hospital a relação era pautada por um estranhamento. Natália não concordava com a grosseria e o semblante sempre fechado da policial. Na verdade, não suportava esse tipo de postura de ninguém.
***
Paula estava numa ansiedade louca. Contava os dias para o domingo chegar. Bárbara não gostava nada da empolgação da namorada.
- Bárbara, hoje é aquela reunião com a Cristina e o grupo do workshop.
- Em pleno domingo? Mas que merd*. Você quase não folga de domingo e quando o faz é para trabalhar. – Não agüentava mais ser levada em banho-maria pela namorada. Queria algo mais sério. Queria morar junto. Tinha certeza de seus sentimentos por Paula. Queria aquela deusa de Ébano em sua vida para sempre.
- Amor, eu preciso. – Disse enlaçando a namorada. Sabia que estava em débito com ela.
- Quando iremos conversar sobre morarmos juntas?
- Eu já disse que é muito cedo. Ainda estou fazendo meus cursos. Neste momento quero me dedicar a minha carreira. - Percebeu a namorada fechar o semblante.
- Eu odeio quando você me colocar em segundo lugar.
A namorada saiu batendo a porta de casa. Paula se jogou no sofá colocando as mãos no rosto. O telefone tocou.
- Alô?
- Oi, querida. E aí ansiosa pela reunião? Liguei para desejar boa sorte com sua deusa.
- Acabei de ter uma discussão homérica com a Bárbara por causa desta reunião e outras coisas.
- Deixa essa chata rabugenta para lá. Ela nem combina com você. Confessa logo que você só está com ela porque ela é uma gata.
- Você é idiota – Disse sorrindo.
- Eu acho que você está trocando a emoção de viver intensamente para ter uma vida sólida e monótona.
- E se o que eu sinto pela Cristina for somente atração?
- Amor, se joga. – Disse com ênfase.
- Você ao invés de me ajudar fica colocando caraminholas em minha cabeça.
- Eu só quero a sua felicidade. Vai que a Cristina é do babado também... Pense o que seria viver isso intensamente. Beijo. Não quero te atrasar. Boa sorte.
Paula encerrou a ligação suspirando. Não tinha nenhum objetivo de dar em cima de Cristina. Iniciativas nunca foram seu forte. Mas, será que continuar com Bárbara deste jeito daria certo?
Pegou sua bolsa e com o coração na boca foi ao encontro de Cristina.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 20/06/2016
Quantas emoções fortes e contrarias temos aqui.
Amor... ódio.
Medo... paixão.
Solidão... tristeza.
Já gostei.
Parabéns.
Resposta do autor:
Oie, tdo bem Rhina?
Que bom que vc está curtindo. Adorei seus comentários. Sempre que puder e quiser deixe um recadinho pra eu saber o que vc está achando.
Beijos
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line7
Em: 29/05/2016
Nossa o capítulo foi ótimo, e o amor é ódio sempre cativar...kkk..bem que falei pra uma miga minha que ficar me chamando de marrenta,chata e séria, aí eu eu falo pra ela que é o meu charme..kk..ela pirar..kkkk..me vi na policial agora , deve ser assim que muita gente me ver..rss.até logo😙😏
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Ariana
Em: 29/05/2016
kkkk eu adoro mulher brava kkkkk Amei o capítulo 😊
Resposta do autor:
Oi, Ariana. Continue acompanhando... Desculpe a demora no retorno. Mas, as coisas andaram complicadas por aqui.
Sempre que possível me deixe por dentro do que você está achando do conto. Isso nos ajuda muito.
Beijo
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