PARTE 2

A campainha tocou e quando fui atender, para minha surpresa era Carol.

— Boa Noite! Trouxe um vinho para nós!

— Carol? Como descobriu meu endereço?

— Posso entrar?  Ela disse com um olhar irônico.

— Por favor, entre e me diga... Como descobriu meu endereço?

— Acho que isso não seja um trabalho difícil para uma agente da CIA. Que tal guardar o vinho?

Neste momento, em pé, no corredor do meu apartamento, ela observava minuciosamente alguns quadros que eu tinha em minha parede.

— Belos quadros! Já vi que você gosta de pinturas modernas!

— Há muitas coisas que você não sabe ao meu respeito, Carol.

— Será?! Acredito que eu sei bem mais do que você pensa! Sei seu endereço, sei de seus romances anteriores e também sei que você está se apaixonando por alguém, Beatriz.

—Carol, o que te trouxe aqui?

— Huuum, fugindo do assunto?!

O silencio invadiu a sala, levantei, peguei o vinho e a servi.

— O que te trouxe aqui, Carol?

— Esse vinho é espetacular, é um dos meus preferidos- disse ela, saboreando o vinho tinto que trouxe, e continuou- Você me perguntou o que me trouxe aqui, acho que seria interessante eu dizer sobre a minha noite passada.

— Carol, hoje eu não tenho tempo, terei que sair!

—Avisa a sua alma gêmea que você tem um trabalho para fazer hoje, imprevistos acontecem e tenho certeza que ela irá compreender.

— Ela?  Carol, quem você acha que é para me investigar?  A minha vida não é do seu interesse, acho que você está confundindo as coisas!

— Bom... Pelo que eu sei, combinamos de nos encontrarmos no lugar que eu escolhesse, não? – Ela pegou uma revista que estava na mesa de centro da sala e começou a ler, sentada em meu sofá, bem à vontade.

Eu respirei fundo, pois algumas atitudes dela me estressavam e falei:

—Olha não gosto das suas atitudes invasivas, espero que você mude caso contrário não conseguiremos trabalhar juntas. Já volto – fui fazer uns telefonemas e voltei. Enchi as nossas taças e quando ia sentar ela começou a falar: ­

Adoro as ironias do destino!  Fazia mais de um ano que não via a Letícia, quando voltei de Portugal, ela foi uma das primeiras que fiquei ela nem namorava o Bruno quando ficamos pela primeira vez

.A verdade é que ela conheceu o Bruno no mesmo dia em que me conheceu.

Estávamos na casa da Flávia, uma amiga em comum, era aniversário dela. Lembro que cheguei, tinha levado um Martini para fazermos uns drinks. Quando cheguei, a primeira coisa que pude reparar foi à boa energia que ela transmitia ao conversar com o fotógrafo.

A festa rolava ao som de vários estilos musicais e ela, sentada em um banco dançava e olhava para mim. Eu sorri e fiquei ali, observando as pessoas dançarem e beberem, é claro que eu também bebia.

Igor, meu amigo de anos estava ao meu lado.

— Igor, não acredito que você está olhando para a mesma mulher que eu!

— Cah, ela é gata! Olha como ela é sensual!  Mulheres assim tiram tudo de mim!

—Eu quero ficar com ela!

— Tá louca?!  Acho que ela está com o fotógrafo. Cadê a menina que a Flávia falou que queria te conhecer?

— Está perto de você! Toda sua se quiser!

— Uau! Ela é gata também, se você não quer, eu quero! Ela curte homens?

— Não sei!

Flávia veio me chamar, dançamos um pouco, conversamos e eu continuava olhando para Letícia e ela sorrindo gentilmente para mim. Fiquei encostada na parede enfrente a Leticia e depois de alguns minutos, ela veio em minha direção com o fotógrafo, perguntando se poderiam tirar uma foto minha, pois meu sorriso era lindo. Eu respondi que sim, após isso, perguntei se poderia ficar ali com ela, ela respondeu que sim. Após alguns minutos de conversa, descobri que o Fotógrafo não era namorado dela e sim um amigo. Fui pegar um drink, e perguntei se ela gostaria de um Dry Martini, ela respondeu que sim.

Preparei e trouxe para nós.

Em meio a conversas, o som alto dificultava a nossa conversa, então comecei a falar mais próxima ainda dela, falando no ouvido dela.

— Você poderia parar de falar tão próxima ao meu ouvido?

— Por qual razão você pede isso?

— Você está me deixando maluca!

— Quero te deixar mais!

— Não, isso não rola!  Preciso ir ao banheiro, você sabe onde fica?

— Sim, eu sei! Levo-te até lá, depois vou também! - Andamos até o banheiro, mas pra surpresa dela, eu entrei junto, antes que ela pudesse me dizer o não.

— Você é maluca? Alguém pode ver!

— E dai? – A empurrei contra a parede do banheiro, arrumei a sua franja e a beijei vagarosamente.

Ficamos nos beijando e tendo algumas caricias a mais no banheiro, alguém tinha batido na porta. Depois de alguns minutos saímos, rindo. Era muito engraçada a cara dela de vergonha quando saiu do banheiro.

— Você já tinha ficado com mulheres antes, né Leticia?

— Sim, com uma apenas, mas sou reservada, ficamos e até hoje ninguém sabe!

— Vem cá, gostaria de te levar para conhecer um lugar! – Então a levei para a cobertura do apartamento de Flávia.

Lá nos beijamos, coloquei-a em minha frente e fui tocando parte por parte de seu corpo enquanto ela, olhando os prédios, o Cristo e o céu estrelado, pôde desfrutar dos prazeres de um dos mais profundos orgasmos de sua vida, segundo ela mesma.

— Leticia, vem cá?! Preciso falar com você- disse o fotógrafo.

— Se incomoda se eu for?

— De maneira alguma, pode ir- E eu continuei observando a linda noite!

Depois ela veio ao meu encontro e me chamou para ficar conversando com ela e seu amigo fotógrafo, que se chamava Álvaro. Ele também era muito simpático e gay. Logo revelou que estava a fim de um homem que estava conversando com Flávia.

Leticia então chamou a Flávia e perguntou quem era o “Gostoso” do qual o Álvaro estava de olho, e a Flávia respondeu que ele era hétero e solteiro, realmente o Bruno sempre foi muito bonito e chamava atenção.

Flávia nos apresentou a ele, e começamos a conversar, nessa conversa ficaram evidentes os olhares dele para Leticia, mas eles não ficaram ai.  Começamos a sair bastante, como amigos mesmo, sem pegações (nem mesmo com a Letícia).

Depois de um mês, ele e Letícia começaram a ficar e nossa amizade se fortalecia a cada dia mais, éramos quase O Trio Ternura. Chegou o mês de julho e resolvemos passar um fim de semana em Penedo, desfrutar de bons vinhos, queijos e de uma lareira para nos aquecer no frio. Embora eu tivesse insistido para que eles pegassem um quarto para eles e me deixassem em outro, ele mesmo fez questão de que ficássemos de boa, como amigos. Em determinada noite, depois de muitas taças de vinho e algumas boas doses de cachaça, sentados perto da lareira, ele olhou para Letícia e disse:

— Lê, eu sei que você está com vontade de beijá-la. Vá em frente!

Ela olhou para nós dois, e com um sorriso meigo me beijou. Depois de darmos um beijo lindo, onde nossos corpos se encontravam, ela foi à direção de Bruno e o beijou também. Eu olhei para eles, que estavam lindos juntos e resolvi partilhar de seus beijos. Não digo que foi apenas um beijo, foi algo além do tesão, do desejo carnal.  A nossa amizade fazia tudo se tornar belo.

Entre beijos e abraços começamos a nos despir, juntos, na mesma sincronia, como se fosse um ritual amoroso. Bruno era muito carinhoso com a gente, e como sabia da minha preferencia por mulheres, mesmo sem pedir, entendeu que nossa querida Letícia seria a nossa amante, era para ela que direcionaríamos todo o nosso prazer, e assim foi feito.

Acordamos nus, cobertos e com uma tremenda dor de cabeça. Rimos do que houve na noite anterior, mas resolvemos repetir mais algumas vezes.

Após algum tempo, nossos encontros ficavam raros, por conta de trabalho, eu cheguei a sair da capital por um tempo também, então raramente nos encontrávamos. Eles resolveram morar juntos e saíram do RJ por um longo período. Depois que eles retornaram o nosso primeiro encontro foi ontem.

— Interessante! E ontem, como foi?

— O que aconteceu ontem não tem tanta importância!

— Não?

—Não Beatriz, o mais importante eu já contei- levantou-se e falou – Bom, não vou mais te atrasar! Sua casa é bem aconchegante, parabéns! Boa noite, Bia!

E me dando um beijo no rosto, pegou sua bolsa e caminhou em direção ao corredor.

— Carol, eu te acompanho!

— Não precisa! - disse ela ao me dar um sorriso e acenar com a mão.

­—  Carol, pera! Posso te fazer mais uma pergunta?

— Sim.

— Se você pudesse resumir em uma frase o que você viveu com eles, o que você diria?

Ela se apoiou no corredor, olhou para o quadro que estava ao seu lado,  olhou para mim e com toda sinceridade que poderia existir, falou:

— Algo maior que a amizade e menor que o amor! Foi isso!  Boa noite, Bia!

Fim do capítulo