Capítulo 28 - Asfixia
Abriu lentamente os olhos, estranhou o escuro, mas uma dor lancinante atrás da cabeça roubava toda sua atenção naquele momento. Sentiu o piso gelado do chão sob seu corpo, estava deitada de lado com as mãos amarradas a frente. Piscou com força, tentando enxergar algo, estava tão confusa que esquecera que havia perdido a visão.
Finalmente Theo se deu conta que não enxergaria nada, e de como chegara naquela situação, o restaurante, a pancada na cabeça, Theodore.
Tentou levar as mãos à cabeça, notou que estavam atadas, quase entrou em pânico ao perceber. Sentiu cheiro de pizza, cheiro de mofo e pizza de queijo. Debateu-se no chão até conseguir se erguer, sentando-se. Não fazia ideia quantas horas havia estado descordada, o quarto estava escuro, mas poderia estar claro do lado de fora.
Tentava entender o que estava acontecendo, refazendo os últimos passos. Quem sequestrou quem? Mantinha a testa franzida, tentando unir as poucas peças que tinha. Será que Mike levara Sam; e Theodore, ela? A mando de quem?
Resolveu desbravar o ambiente, não sabia onde estava nem a dimensão do cômodo onde havia sido atirada, nem se havia alguém ao seu lado. Nenhum ruído, nenhuma voz, parecia algum local afastado.
Ficou de pé, andando devagar com as mãos unidas erguidas, conhecendo as paredes e limites do quarto. Paredes geladas e uma cama sem colchão, foi tudo que encontrou, além de uma janela fechada e coberta com tábuas. Estava frio, sem casaco, mas não sentia frio, ainda não.
Sentou-se na cama sem colchão, colocou o cabelo para trás das orelhas, e ali permaneceu por alguns minutos, com o olhar fixo no chão.
- Pegue a porcaria do último pedaço! - Ouviu uma voz grave masculina ao longe.
- Baixe o tom quando falar comigo. - Reconheceu a voz do interlocutor, era Theodore.
- Por que? Só por que é o queridinho do chefe? Falo como quiser.
- Maldita hora que contratei você, não consegue cumprir uma ordem minha do jeito que peço. - Theodore disse.
- Vai me encher o saco por causa dessa merd*? Se quiser volto lá e dou uns tiros no chão, para garantir.
Theo já estava de pé, próximo da porta, ouvindo a conversa atentamente.
- Custava ter feito como mandei? Bastava dar um tiro na cabeça e jogar na cova. Mas você quis bancar o vilão de filme de terror.
- Vai dizer que nunca teve vontade de fazer isso?
- Enterrar uma mulher viva? Não, não tenho esses fetiches estranhos. - Theodore respondeu.
Theo arregalou os olhos e afastou-se da porta, aterrorizada.
- Relaxa, já era, a garota já bateu as botas.
- Espero que sim.
- Enterrei a garota naquele caixote tem mais de três horas, é claro que já morreu, o oxigênio ali dentro não dura muito tempo. - O homem de voz grave explicava, de boca cheia.
Theo movia a cabeça de um lado para outro, em desespero.
- Sam... - Balbuciou baixinho, com pavor.
Theo deu alguns passos pelo quarto, o ar lhe faltava, então eles voltaram a falar.
- Enterrou naquela cova embaixo da árvore ou foi burro o bastante para não perceber que já tinha um buraco cavado? - Theodore perguntou.
- Burro é você. Se começar a me ofender vou abandonar o barco, vai ter que levar essa prostituta sozinho.
- É mesmo? Vai abrir mão do meio milhão que foi prometido? Duvido. E eu acho que deveríamos dormir, vamos sair cedo para o aeroporto.
- Você alugou uma casa sem colchões, viu quem é o burro nessa história?
- Pare de reclamar, temos cobertores. - Theodore fez um pequeno silêncio. - Onde deixou a pá?
- Lá.
- Deixou a pá lá fora?
- Sim, junto a árvore.
- Por que?
- Para o caso de precisarmos desenterrar o corpo.
- Para que?
- Sei lá, certificar que a moça morreu mesmo, exumar o corpo. E quer saber o que eu acho? Que não precisávamos matá-la, nossa encomenda está lá no quarto, para que matar aquela menina? Ela tinha aquelas placas de soldado pendurada no pescoço, eu matei um soldado, isso não está certo, meu pai era militar, era um homem honesto, um homem bom, aquela moça também deveria ser uma boa moça, eu não queria ter que fazer isso, poderíamos ter a largado em algum local ermo.
- Crise de consciência agora, Tom? Eu tenho convivido com essas pessoas, essa soldado que você matou era apaixonada pela garota que está no quarto, ela faria de tudo para encontrá-la, seria uma pedra no nosso sapato.
- Elas eram namoradas?
- Acho que sim.
- Nossa... Eu matei a namorada da menina do quarto.
- Pare de sentimentalismos. Eu vou lá dar uma última conferida nela, e você vá dormir, tem cobertores no outro quarto.
Theo tremia de frio e tensão, trajava apenas uma camiseta preta. Com os dentes, tentava desatar os nós na corda que prendia suas mãos, avidamente.
Theodore jogou a caixa de pizza vazia dentro da pia, colocou a arma na cintura e foi para o quarto onde estava Theo.
Ela ouviu os passos e foi para o lado da porta, aguardar sua entrada. Assim que a porta se abriu, ela investiu na direção dele. Já com as mãos soltas, envolveu o pescoço de Theodore com a corda, o sufocando.
Ele tentava soltar-se, puxando a corda de seu pescoço, estava ficando vermelho, tentando esbravejar, sem sucesso. Enquanto Theo entrelaçava com força a corda com ambas as mãos, atrás dele, sua mão ferida voltou a sangrar, sujando o curativo.
Theodore venceu aquela batalha de força, conseguindo puxar a corda e soltar-se, respirando de forma ofegante, com as mãos no pescoço. Theo correu na direção da porta, sendo impedida por ele, que a atirou no chão.
- É assim que você agradece sua carona? Só estou tentando te levar de volta. - Theodore disse, ainda com a respiração forte.
- Vocês mataram a Sam! - Theo falou com pavor, ainda sentada no chão, apoiada nos cotovelos.
- Eu fiz um favor, aquela garota não estava nem aí para você.
Theo levantou-se, Theodore se posicionou em frente à porta, de forma defensiva.
- Quem contratou vocês?
- Sigilo profissional, garotinha.
Theo corria os olhos pelo chão, com semblante aterrorizado.
- Elias? Elias te contratou por meio milhão? Eu posso conseguir mais que isso, eu posso te pagar o dobro. - Theo barganhava.
Theodore riu, com deboche.
- Até ontem vocês estavam contando dinheiro para pagar o jantar, e quer que eu acredite que você tem um milhão?
- Não tenho, mas posso arranjar.
- Estou transportando uma criminosa, então? Achei que era apenas uma prostituta.
- Eu posso dar um jeito, me deixe sair desse quarto e fazer umas ligações.
Theodore riu novamente, e virou-se para a porta.
- Tire um cochilo, vamos sair daqui a pouco.
Theo correu na direção dele, como num ataque de futebol americano, o derrubando no chão. Uma batalha travava-se na horizontal, Theo tentava acertar violentamente seu rosto, ao mesmo tempo em que se desvencilhava das mãos dele. Rolaram pelo piso gelado, ela mordeu a mão de Theodore, que enfureceu-se ainda mais.
Theo percebeu a arma presa na cintura de Theodore, ela escorregou sua mão na direção da arma rapidamente. Quando a tocou, Theodore colocou sua mão por cima da dela, que sentiu os dedos grossos apertando os seus, agora ambos seguravam a pistola, numa disputa acirrada. Rolaram novamente pelo chão, e a ação cessou quando um tiro foi disparado.
A porta se abriu e o outro homem surgiu de forma afoita.
- Isso foi um tiro? - Perguntou assustado, ao ver Theodore caído no chão e Theo de pé.
- Tom, ela está com a arma! Atire nela!
Ele sacou sua arma que estava presa às costas, Theo ergueu rapidamente a pistola e atirou seis vezes na direção de onde ouvira a voz do homem. Ouviu o corpo do grandalhão caindo. Percebeu que Theodore levantara-se, mas havia perdido sua localização.
- Não se aproxime, eu vou atirar! - Theo dizia nervosamente, movendo a arma pelo ar, com ambas as mãos, dando passos para trás. - Não se aproxime!
- Eles pediram que eu entregasse a encomenda com vida, mas direi que aconteceu um incidente.
Com a fala de Theodore, ela mirou em sua direção e disparou duas vezes, no terceiro disparo apenas um clique foi ouvido, as balas haviam terminado.
Aguardou algum ruído, algum movimento de Theodore ou do outro homem. Tentava controlar a respiração para ouvir o som ao redor, tremia as mãos, que ainda seguravam a arma em riste, mesmo sem balas.
Um minuto se passou, ambos pareciam desfalecidos, deu alguns passos calculados e receosos na direção deles, até encontrar o primeiro, que ela acreditava ser Theodore. Empurrou com o pé, aguardando alguma reação, mas nada aconteceu. Caminhou até a porta, onde encontrou o segundo corpo, efetuando o mesmo procedimento, e novamente parecia inerte.
Abaixou-se, tateando o chão em busca da outra arma, encontrou algum tempo depois, havia caído longe de Tom. Ergueu-se e guardou a arma na borda da calça.
- Amadores. - Resmungou, agora com a respiração voltando normal.
Deslizou a mão logo acima da cintura, no lado direito, percebeu o sangue quente que molhava sua camiseta, havia levado o tiro no embate no chão.
- Mas que droga. - Levantou a camisa e sentiu o pequeno orifício. - porr*! porr*!
Baixou a camisa, estava com um semblante colérico.
- Não, hoje não. Que se foda.
Saiu tateando a casa, tateava com pressa, andou por todo o corredor, entrou na cozinha e saiu, até finalmente chegar numa sala ampla, sem móveis, encontrando a porta de saída.
Haviam dois degraus após a porta, que não foram percebidos, acabou caindo de joelhos num pátio de concreto.
Levantou-se rapidamente e caminhou até perceber que pisava num campo gramado. Ouviu o barulho de águas, logo à frente deveria passar algum riacho ou córrego. Andava a esmo pelo campo, suas mãos eram seu radar, encontrou uma árvore e animou-se.
Procurava pela pá que fora deixada por Tom, de joelhos tateava o solo ao redor da árvore, em busca também de terra recém mexida. Mas não achou nenhuma das duas coisas.
- Tem outras árvores. - Percebeu com o barulho do vento que as faziam farfalhar levemente.
Buscava outra árvore, e logo a encontrou, porém novamente não havia indícios de pá nem terra revirada.
Nos cinco minutos seguintes encontrou mais três árvores, mas sua busca continuava zerada. Foram mais vinte minutos angustiantes procurando por outras árvores, mas acabava sempre nas mesmas cinco árvores de sempre, deduziu que ali essas eram as únicas árvores, e que Sam talvez estivesse enterrada em algum outro lugar.
Foi até a margem do riacho, parou já com os pés dentro da água, submersos até os tornozelos, tentava ouvir o que havia do outro lado, mas não conseguia vislumbrar aquela paisagem, nem a profundeza do rio.
Ajoelhou-se nos pequenos seixos da margem, esfregou as mãos no rosto, com desolação. A água fria corria agora por cima de suas pernas, fechou os olhos, concentrou-se nos sons ao redor. Conseguiu ouvir a presença de outras árvores mais à frente, do outro lado do rio. Imaginou que as águas não seriam profundas o suficiente para encobri-la, nem que a correnteza teria força para arrastá-la, ergueu-se e entrou nas águas, dando cada passo com cuidado e tensão.
Alguns poucos passos depois, que levaram um bom tempo, a água já alcançava sua cintura e sua perfuração, lavando sua camiseta. Levava na mão direita a arma erguida para o alto, para que não molhasse. Agora o frio fazia tremer seu queixo.
O passo seguinte afundou mais do que o esperado, as pedras haviam terminado e caíra em solo arenoso, com a água chegando na altura do peito.
Hesitou em continuar, não fazia ideia de como seria o restante do trajeto, nem o quanto o leito do rio se estenderia. Com força, moveu a perna a frente, enfrentando a correnteza, dando um passo. A água continuava na mesma altura, o solo ainda arenoso. Com mais dois passos difíceis, sentiu novamente pedras abaixo de si. Sem querer perder mais tempo, resolveu caminhar com mais velocidade, mesmo sem saber o que havia a sua frente. Finalmente subiu uma última pedra e abandonara de vez as águas geladas do rio.
Do outro lado, recomeçou sua busca por árvores, achou uma pá pousada no tronco já na segunda árvore encontrada. Ajoelhou-se rapidamente em busca de terra remexida, encontrando uma região onde a terra parecia mais fria e fofa.
Com visível pressa e apreensão, cavava com determinação, apesar da mão esquerda incomodar ao ponto de ter que interromper para uma rápida sacudidela de tempos em tempos.
- Sam! Sam! - Gritava enquanto cavava, mas não havia nenhuma resposta.
Havia removido dezenas de quilos de terra, os músculos do braço doíam, chegando à quase exaustão, pelo menos meio metro abaixo já havia sido descoberto, mas nenhum sinal de que houvesse algo ou alguém por ali.
- Sam! Fale comigo! Fale algo!
Parou ofegante, tentando ouvir algo, mas apenas o barulho das águas e das folhas das árvores eram ouvidos.
Cavou mais uma boa quantidade de terra, até bater com a pá em algo rígido. Bateu mais algumas vezes, percebendo que era algo de madeira.
Continuou removendo a terra que havia acima daquela superfície, agora com mais velocidade. Jogou a pá para o lado e cavou o restante com as mãos, atirando a terra para trás.
- Sam, você está aí? - Theo bateu na madeira com a mão espalmada, suas roupas estavam encharcadas.
- Aqui. - Ouviu um som abafado e fraco vindo de baixo.
- Sam! Te achei! - Theo arregalou os olhos, que brilhavam agora.
Atirou-se sobre a madeira, encostando o ouvido.
- Sam, sou eu, eu vou te tirar daí, fique calma. Aguente firme!
- Me ajude... - A voz era baixa e fraca, mas reconhecível.
- Já vou! Eu.. Eu tenho que abrir isso. - Theo movia a cabeça procurando o que fazer. - É uma caixa de madeira, certo? Eu vou sair de cima, e você tenta empurrar, ok?
- Theo.
- Sim?
- Não consigo. Não consigo respirar. Me ajude. - Sam falava pausadamente, sem forças.
Theo estava ajoelhada sobre a madeira clara, abaixou-se, tateando, procurando alguma abertura ou forma de abrir aquilo. Nas bordas percebeu que haviam pregos encravados.
- Está pregado, Sam, eles pregaram a tampa! Preciso que você force daí de dentro, use as pernas e braços. - Theo disse, saindo de cima.
Não houve resposta.
- Sam? Está me ouvindo? Preciso que empurre, eu já saí de cima e tem pouca terra agora.
Novamente apenas silêncio.
- Fale comigo!
Theo ouviu um ruído baixo na madeira, algumas pancadas de leve.
- Empurre! Vamos lá, oficial, você é forte, tente de novo!
- Theo... Eu não...
- porr*! Ok, não se desespere, eu vou dar um jeito. Não morra agora, ok?
Theo pulou novamente para dentro da cova, ficando com os pés afastados em cima do caixote. Tomou a pá e fechou os olhos, criando coragem.
- Sam, preciso que você fique o máximo a direta que conseguir. Me ouviu? Tente deslizar um pouco, coloque sua cabeça encostada na parede a direita. A sua direita, não a minha, só para esclarecer.
- Ok.
- Eu vou bater na sua esquerda, prepare-se.
Theo ergueu a pá e bateu com força no lado esquerdo da madeira, tirando apenas farpas. Bateu com mais violência, soltando um brado raivoso, e a madeira partiu-se. Aplicou mais alguns golpes, percebeu que já havia um buraco. Largou a pá e ajoelhou-se, enfiou a mão pela fresta aberta, encontrando o braço de Sam.
- Aguente firme, agora você tem ar, eu vou dar um jeito de abrir o resto. Fique calma ok? Respire devagar, o ar está entrando. - Disse com a mão pousada em seu braço, que estava frio.
- Ok, estou respirando.
Colocou a lâmina da pá na fresta, forçou o cabo contra sua perna, a madeira não se movia. Afastou a perna e tentou novamente, agora forçava o máximo que podia, e soltava grunhidos. Finalmente uma das duas tábuas que formavam a tampa foi arrancada.
- Consegue sair? Eu vou tentar arrancar mais um pedaço. - Theo perguntou, ajoelhada ainda segurando a pá, com desespero.
Quase caiu para frente quando Sam a abraçou, com fulgor. Theo esboçou um sorriso aliviado, e também a abraçou da mesma forma.
- Está tudo bem, está tudo bem, oficial. - Theo corria sua mão pelas costas de Sam.
Sam segurou seu rosto e lhe deu um beijo afoito.
- Obrigada. - Sam sussurrou, seu semblante ainda era de pavor, estava pálida, mas aliviada.
Theo estendeu a mão, encontrando a cabeça de Sam.
- Você está bem? - Theo disse correndo sua mão pelo rosto dela.
- Sim, agora sim.
- Se machucou? Tem sangue aqui.
- Acho que foi uma pancada na cabeça. - Sam levou a mão ao local ferido, percebendo o sangue próximo da testa. - E você?
- Como você aguentou todo esse tempo aí embaixo?
- Não sei, eu já não tinha praticamente ar algum, estava tendo pequenos desmaios. - Sam falava aterrorizada. - Meu Deus, que pesadelo, sempre tive pavor que isso me acontecesse, achei que só acontecia nos filmes... Que merd*, que merd*... Achei que as coisas terminariam assim, dessa forma horrível.
- Você vai ficar bem agora, vamos sair daqui, temos um rio para atravessar.
- Rio? Tem uma ponte logo abaixo.
- Ah... Adivinha quem não viu a ponte?
Theo já estava fora da cova, ajudando Sam a sair de lá, quando ouviu tiros em sua direção.
- Abaixe-se! - Sam gritou, a puxando de volta para o buraco.
- Acho que alguém não morreu. - Theo disse.
Sam ergueu-se devagar, dando uma olhada rápida para fora, outro tiro foi disparado.
- Theodore?? Theodore está por trás disso? - Sam perguntou, com espanto.
- Está, e pelo visto é imortal, porque acho que acertei algum tiro nele.
Theodore caminhava com dificuldade, com a arma apontada para elas, metade de sua camisa e sua gravata aberta estavam tingidas de vermelho, mancava.
- Você tem alguma arma? - Sam perguntou.
- Tenho. - Theo tateou a cintura. - Mas não sei onde deixei, deve estar aqui ao redor.
Sam levantou, olhou ao redor e encontrou a arma, abaixou-se novamente.
- Não se levante. - Sam ordenou, ergueu-se fazendo mira em Theodore, que já estava próximo.
Atirou com precisão, duas vezes, o atingindo no peito e na cabeça, o corpo despencou para trás.
- Venha. - Sam saiu da cova, auxiliando Theo. Pegou em sua mão e correram na direção dele, Sam ajoelhou-se ao seu lado, e certificou-se que estava morto.
- Agora morreu? - Theo perguntou.
- Agora sim.
Theo balançou a cabeça, pensativa.
- Adeus, Theodore.
- Nunca fui com a cara dele mesmo. - Sam resmungou.
- Tem outro cara, dei cinco ou seis tiros, mas nunca se sabe, minha mira às cegas não é tão boa.
Atravessaram a ponte de madeira, Sam deixou Theo do lado de fora de casa com a arma de Theodore, e foi checar o segundo elemento, no interior.
Theo aguardava de forma impaciente, andando de um lado para o outro. Sua roupa, ainda molhada, estava suja de terra, bem como seu rosto e suas mãos.
- Sam, você está demorando, vou entrar! - Theo foi até a porta gritar.
Já no primeiro degrau foi impedida por Sam, que a segurou pelos ombros.
- Eu estava procurando o token do carro deles.
- Achou?
- Sim, vamos.
Sam tomou sua mão e seguiram para o grande carro branco que estava parado em frente à casa. Saiu dirigindo pela estradinha de terra rodeada de árvores, até chegar à autovia.
- Sabe para onde ir? - Theo indagou.
- Vamos buscar nosso carro no restaurante. - Sam mexia na tela no painel. - Menos de dez quilômetros daqui.
- E se tiver mais deles lá?
- Não sei, acho que não. - Sam ainda levava em sua expressão o terror das últimas horas em que passara embaixo da terra, um de seus maiores medos, suas mãos tremiam. - Por que Theodore fez isso? Por que ele quis me matar? E justamente desta forma, é uma das piores formas de morrer!
- Eu também não entendo o que aconteceu. - Theo dizia, se recuperando de toda a ação, pensativa.
- Ele queria você?
- Sim, pelo visto eu era o alvo. Espera, do que você está falando?
- Ele parecia interessado em você, e você parecia lhe dar esperança.
- Não, não, claro que não. - Theo dizia, incomodada. - Pelo amor de Deus, Sam, que besteira! Ele foi contratado por alguém, só não sei por quem.
- Elias, certo?
- É, deve ter sido Elias... - Theo respondeu cabisbaixa, esfregando o pulso esquerdo.
- Ele é insistente, mesmo aqui no Brasil ele continua te procurando.
- Sim.
- Você está bem?
- Estou. - Theo passou as costas da mão na testa, sujando ainda mais seu rosto.
Sam riu.
- Você parece uma toupeira, toda suja de terra.
Theo continuou com semblante fechado.
- Porque eu cavei a sua cova.
- Eu sei. Você enfrentou aqueles dois caras sozinha? E venceu? - Sam perguntou, incrédula.
- É o que parece.
- Você conseguiu vencer dois homens, fugir do cativeiro, descobriu o que havia acontecido comigo, me encontrou, atravessou um rio, cavou minha cova e me resgatou. Sozinha?
- Do que você está falando? - Theo rebateu, com irritação.
- Fala sério, Theo. Você fez tudo isso sem ajuda de ninguém? Quem te ajudou?
Theo não respondeu prontamente, moveu a boca irritada, ensaiando falar algo.
- Vá a merd*, Sam.
Sam assustou-se com a resposta dela.
- Hey, só achei meio impossível você ter feito tudo isso sozinha, você não enxerga, e é só uma garotinha. Ninguém te ajudou mesmo?
- Sério, vá a merd*.
- Ok, não está mais aqui quem falou.
- Estamos chegando?
- Chegamos.
- Permaneça alerta, pode ter ficado algum deles aqui. - Theo orientou, já abrindo a porta.
Assim que desceu do carro, tropeçou em alguns galhos, caindo de bruços em um terreno de folhas secas.
- Que porr* de lugar é esse?? - Theo exclamou, se levantando.
- Não é o estacionamento do restaurante, eu vou abandonar esse carro aqui dentro da mata, e vamos a pé até lá. Estamos perto, uns trezentos metros. - Sam respondeu, indo em sua direção. - Você caiu?
- O que acha?
Sam a segurou no alto do braço direito, ajudando a erguer-se.
- Não, não, me solte, me solte! - Theo reclamou, com feições de dor, soltando seu braço.
- O que foi?
- Merd*... - Curvou-se, com a mão sobre o local do tiro.
- O que foi, Theo?
- Você tem uma pinça na sua caixa médica?
- Pinça? Para que você quer uma pinça?
- Uma pinça grande, você tem?
- Ãhn, tipo uma pinça médica? Acho que sim, mas não muito grande. Mas para que?
- A bala não saiu do outro lado, preciso tirar antes que infeccione. - Theo disse, erguendo a camisa, exibindo o orifício que sangrava discretamente, continuava com feições de dor.
- Você levou um tiro?? - Sam indagou, atônita.
Asfixia: s.f.: Suspensão dos fenômenos da respiração e da circulação do sangue, seguida de morte, real ou aparente, causada por estrangulação, submersão, ação de gases irrespiráveis etc.; morte por falta de respiração ou de ar respirável; sufocação.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 12/12/2015
Realmente amadores! Uma garota cega consegue destruir dois capangas? Caraca, imagina o que ela pode fazer enxergando. Demais! E tbem a super Theo salvou a super militar! E ainda por cima a Sam duvida da Theo, ainda acha que Theo estava tendo interesses em Theodore. Que pior!
Lari Maciel
Em: 21/09/2015
Nossa,quanta emoção! Que sustooo! Nossa,como Théo é esperta! Ainda bem que deu tudo certo... Agora Sam vai ajudar Théo...
Resposta do autor:
Sobre Sam ajudar Theo, bom, vai ser daquele jeito, né? rs
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