-- Cara, não acredito ainda que peguei exame de   História.

 

Troy e eu estávamos indo em direção a saída da escola. Era nosso último dia de aula. Teríamos as férias do fim do ano e retornaríamos logo após o ano novo. Assim que saímos para frente do prédio fomos recebidos por um vento extremamente gelado. Senti minha alma congelando. A cidade estava tomada por neve havia três  dias.

 

-- Qual é! Por que eu vou querer saber que Alemanha começou a primeira guerra mundial?

Isso aconteceu na década de 40.

 

Torci o nariz para a bagunça de informações que meu amigo tinha conseguido fazer em apenas uma frase. Suspirei paciente enquanto avistava Kate, Diana e Camz encostadas no muro ao final das escadas. Sorri e comecei a caminhar em direção de onde   estavam.

 

-- Troy. Vamos por partes. Não foi a Alemanha quem começou a primeira guerra, e sim   a morte do herdeiro do trono austro-húngaro. O estopim da segunda guerra, geralmente é considerado a invasão da Polônia feita pela Alemanha Nazista. A primeira guerra foi em 1914 e não na década de

40. Em 1939, sendo mais especifica, foi que começou a segunda guerra.

 

-- Laura, você é um robô? Como consegue saber de tudo?

 

-- História é legal, Troy.

 

-- Você acha tudo legal,  Laur.

 

Assim que chegamos onde as meninas estavam, pude perceber que meu sorriso tomava meu rosto por completo. Cumprimentei as meninas com um beijo na bochecha. Quando chegou a vez de Camz, demorei-me mais no abraço aproveitando para falar em seu ouvido.

 

-- Está linda de botas, cachecol e esse nariz com a ponta vermelha pelo frio. – Ri e me afastei.

Ela levou a mão até a ponta o  cobrindo.

 

-- Oi, Laur. – A voz saiu um pouco abafada devido a sua mão tampando o rosto.

 

-- Galeraaa, Féerias finalmente! – Kate disse empolgada dando pequenos pulos de seu lugar.

 

-- Fale por você, amor. – Troy respondeu cabisbaixo enquanto encaixava Kate em um abraço por trás.

 

-- Ih Troy, não conseguiu tirar o oito em história? – Diana perguntou.

 

-- Passei foi é longe dessa nota.

 

-- Não fique triste, bebê. Você recupera a nota no   exame.

 

-- É cara, se quiser até te ajudo com os estudos. – Ofereci ajuda.

 

-- Valeu, Laur. Acho que vou aceitar. Não dá pra vacilar esse ano com nota. – Concordei assentindo.

 

-- Vou tirar todo meu atraso de seriados e filmes. Sábado vou hibernar lá em casa embaixo de cobertas e na Frente da TV. Se quiserem, é só aparecer   lá.

 

-- Eu topo Diana. Que horas posso ir lá? – Kate perguntou.

 

-- Poxa, Kate. Você não está me dando apoio nenhum. Sabe que vou ter que passar o fim de semana estudando.

 

-- Tem razão, bebê. – Se virou e deu-lhe um selinho. Troy sorriu. – À noite passo na sua casa.

– O sorriso que Troy tinha antes, se desfez. Ri de sua cara e dei um tapinha em suas costas.

 

-- Passe lá logo após o almoço, pela quantidade de filmes que Diana separou, vamos ficar as férias todas para assistirmos tudo. – Camz respondeu a pergunta que Kate tinha feito. – Você vai, Laur?

 

-- Tenho treino amanhã de tarde. A treinadora vai passar algumas orientações para o time. Eu passo lá assim que acabar.

 

-- Bom, pra mim não vai rolar nada até quarta, que vai ser o dia do   exame.

 

Nesta hora Collin passou por nós e desejou boas férias para nós. Estávamos no começo de dezembro. Dirigiu-se até seu carro no estacionamento e deu partida. Isso me lembrou de dizer o que tinha descoberto.

 

-- Sabe aquele rapaz que estava com Collin aquele   dia?

 

-- Não tem como esquecer, né!

 

Kate respondeu e pude perceber Diana fingindo prestar atenção em suas unhas. Mas sabia que estava totalmente atenta ao que estávamos   conversando.

 

-- Então, é um primo dele. Mora no Kansas e é do exército. Veio passar as férias aqui. – Diana estava extremamente interessada na cor branca do muro neste momento. – E bom, está solteiro.

 

Dito isso, todos nós nos dirigimos para ela. Sentindo o peso dos olhares, virou-se para nós.

 

-- Quê? – Perguntou fazendo-se de desentendida.

 

-- Não te interessou saber que ele está solteiro? - Camila perguntou. Diana demorou em responder.

 

-- Talvez. Mas isso não é importante. O que importa agora é eu colocar minhas séries em dia.

Isso sim é algo sério.

 

Ri de seu comentário. Senti alguém me cutucando no ombro por trás. Me virei e dei de cara com Alexa com mais duas meninas. Ela sorriu para mim e cumprimentou o resto do grupo.

 

-- O treino está de pé amanhã, Laura?

 

-- Claro. Duas da tarde. Não se atrase, ok?

 

-- Pode deixar, estarei lá no horário. – Apertou seus braços envolta de seu caderno e se despediu sorridente, sendo seguida pelas outras meninas.

 

-- Pra mim quem fica com um sorriso desses é porque noite passada deve ter da...

 

-- Não termine a frase, Diana! Não termine. – Interrompi seu comentário maldoso referente a Alexa. Ela riu alto, sendo seguida por Troy. Eu mesma quase não conseguindo segurar a risada.

 

Meu irmão chegou e então pudermos ir embora. Deixei Camila e Diana em casa e fui pra minha com meu irmão. De tarde iria para a loja do   pai.

 

 

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Acordei com meu relógio biológico, já estiquei minha mão na cômoda pegando meu celular e desligando o alarme antes que começasse a tocar. Me espreguicei na cama enquanto bocejava. Meu primeiro pensamento foi no sorriso da minha namorada. Ri disso, consciente do meu estado de boba apaixonada. Joguei as cobertas para o lado e corri para o banheiro ligando o chuveiro no quente.

 

Desci as escadas já trocada para minha corrida matinal. De moletom e touca devido ao tempo. Meus pais estavam na cozinha, cumprimentei-os com um beijo cada um e me servi de uma xícara de café.

 

-- Vai correr agora cedo, Lolo? – Sorri do apelido de infância pelo qual meu pai me chamou.

 

-- Vou sim, papai. Todos os dias. Quer que eu vá agora cedo para a loja? De tarde não vou poder porque tenho treino e depois vou na casa da Dih.

 

-- Não precisa, vá cuidar de suas coisas. – Assenti para ele.

 

-- Camila pode dormir aqui  hoje?

 

-- Claro querida, chame-a para o jantar. Hoje ficarei em casa. – Foi minha mãe quem me respondeu.

 

-- Quanto ao jantar eu não sei, Diana vai fazer uma verdadeira sessão cinema hoje e acho provável comermos por  lá.

 

-- Como vai Diana? Faz tempo que ela não vem aqui. – Minha mãe    perguntou.

 

-- Vai indo, mamãe. Acho que a pior fase depois do término do namoro já passou. Tem até um rapaz interessado nela, primo do Collin lá do   colégio.

 

-- Esse Collin é filho do Pietro? – Olhei para meu pai. Pensei que estava lendo jornal.

 

-- Não sei de quem ele é filho,  papai.

 

-- É sim, os Kampmann não é, Clara? – Perguntou para minha mãe.

 

-- Sobrenome dele é esse mesmo. – Respondi.

 

-- Então eu conheço o primo dele, é o Ian. Vai direto lá na loja. Ele está reformando um Mustang 74. Gente boa o  rapaz.

 

Ia direto na Loja? Isso era interessante e quem sabe poderia ser útil de algum modo.

 

-- Ele pratica curling. – Continuou. – E se não me engano amanhã vai ter uma competição e ele vai participar. Estava perguntando onde poderia comprar aquelas pedras. Não sei o nome daquilo.

 

Pronto. Já achei a parte útil. Às vezes me esquecia de como meu pai era uma fonte de informação, mesmo sem saber. Abri um grande  sorriso.

 

-- Sabe que horas vai ser essa competição? – Perguntei.

 

-- Acho que de tarde, mas não tenho certeza. Por quê?

 

-- Nada. Só achei legal, talvez leve Camila para assistirmos. Um programa diferente para o domingo. O que acha?

 

-- Chame Diana também. Você não disse que o rapaz estava interessado nela? Ia ser uma boa oportunidade.

 

Claro. Claaaro que Diana era meu foco principal. Tinha usado minha namorada apenas como pretexto, mas deixaria esse mérito da ideia para  ele.

 

-- Boa ideia. Uma boa oportunidade mesmo.

 

-- Se for hoje na loja, converso com ele e vejo certinho como vai ser essa competição.

 

-- Por favor papai, faça isso. – Sorri para ele e beijei sua bochecha gordinha.

 

Terminei meu café e despedi-me deles. Coloquei o fone de ouvido e liguei o Ipod. Eu gostava de correr em silêncio, mas Camila tinha preparado uma playlist especialmente para minhas corridas e eu estava ansiosa para ouvi-lá. Coloquei em um volume médio e sai de casa. O sábado estava com sol, apesar da neve e do frio.

 

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Cheguei ao ginásio um pouco atrasada. A treinadora conversava com duas alunas. Aproveitei para ir até o vestiário trocar de roupa e guardar minha mochila. Enquanto pegava meu uniforme percebi que tinha  companhia.

 

-- Disse para eu não me atrasar, mas quem acabou fazendo isso foi você. – Alexa se aproximou e sentou-se no banco perto da minha mochila.

 

-- Tem razão. Acabei me enrolando um pouco na hora de sair de casa. – Dei risada.   Tirei minha blusa ficando apenas de top esportivo, peguei meu uniforme e vesti. – Não siga meu exemplo.

 

-- Imprevistos acontecem, Laura. – Ela me entregou o short. Tirei minha calça e o vesti. – Mas se eu fizer metade das coisas que faz já me dou como satisfeita. Se alguém aqui dá exemplo de algo, esse alguém é você.

 

-- Não faço nada demais. – Ri sem graça, um pouco encabulada por suas palavras.

 

 

-- Estive conversando com a treinadora. Ela me disse que você está fazendo alguns treinos

extras.

 

 

-- Ah sim, é verdade. Logo mais começa os estaduais e sempre tem olheiros e eu estou focando em universidades em Nova York também.

 

-- Vai tentar então uma bolsa de  atleta?

 

-- Espero conseguir uma. – Peguei meu esparadrapo e comecei a colocar nas dobras no anular e indicador que eram os que estavam mais doloridos.

 

-- Você sabe que vôlei é um esporte de grupo, certo? – Ri de seu comentário.

 

-- Tenho uma noção sobre isso.

 

-- Não ri, estou falando sério. – Riu também. – O que quero dizer é que não adianta só você se empenhar assim, nós dependemos do time também.

 

-- E qual seria a solução pra isso? – Peguei minha mochila e guardei no meu armário. Alexa se levantou  me acompanhando.

 

-- Não garanto nas férias, mas tenho certeza que algumas das meninas topariam fazer os treinos extras, afinal não tem só você do último ano e as calouras estão empolgadas com o time também.

 

-- Acha então que o time me acompanharia nesses   treinos?

 

-- Não falo por todas, mas tenho certeza que mais gente gostaria de   participar.

 

-- Tem razão, Alexa. No final acho que acabei sendo egoísta não estendo isso ao time. Quando voltarmos das férias vou regularizar isso.

 

-- É... Laura, e nessas férias você vai continuar  treinando?

 

-- Claro, vou tentar manter um média de no mínimo três treinos na semana.

 

-- Vão ser de noite?

 

-- Bom, como não estaremos em aula, acho que virei de tarde. A treinadora já conversou com a diretora e bom, não tem problemas quanto a  isso.

 

-- Se quiser posso te ajudar nesses treinos. Eu gosto de jogar e não veria problemas. – Já estávamos entrando no ginásio.

 

-- Tem certeza? Treinar nas  férias?

 

-- Claro, como disse eu gosto. – Sorriu para mim.

 

-- Hey, vocês duas ai. Parem de conversa e vão logo para o aquecimento. – Ouvimos a voz da treinadora imponente.

 

-- Bom, eu te mando mensagem então, Alexa. Agora vamos porque não estou afim de pagar 20 flexões. – Sorri e fui retribuída.

 

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Cheguei na casa de Diana quando já passava das seis. Depois do treino tive que ajeitar meu quarto e acabei dormindo no final. Bati na porta e demorou um pouco para alguém me atender.

 

-- Oii amor. – Camila deu espaço para eu entrar e assim que fechou a porta me beijou. –

Demorou, achei que tinha desistido. – Ouvi a risada das meninas lá da   sala.

 

-- Queria ter vindo mais cedo, mas acabei dormindo um pouco.

 

-- Muito cansada, amor? – Colocou os braços envolta do meu pescoço, e eu repousei os meus em sua cintura.

 

-- Um pouco. – Fiz biquinho. Ela riu e me  beijou.

 

-- Vem ficar um pouco comigo então. – Pegou minha mão entrelaçando na dela e me levando para a sala.

 

-- Oie, meninas. – Cumprimentei Kate e  Diana.

 

-- Eai Laur! – Diana acenou pra mim. – Chega junto   ai.

 

-- Vocês estão vendo o que?

 

-- A arte da conquista, escolha da Kate. - Camila respondeu.

 

-- Já ouvi falar desse filme, muito bem na verdade.

 

-- É, mas infelizmente eu não vou poder ver o final. Troy já me ligou três vezes na última hora.

 

-- O filme está quase acabando já, Kate. E a Laura acabou de chegar – Diana disse.

 

-- Eu sei, mas ele já esta impaciente. Vou nessa e bom filme pra   vocês.

 

Despedimo-nos de Kate. Camila e eu sentamos no sofá, ela recostada em mim e meus braços repousaram em sua cintura. Terminamos de ver o filme e Diana pediu uma pizza. Estávamos na cozinha esperando o  entregador.

-- Dih, vai ter uma competição de Curling amanhã, estava pensando da gente ir, o que acha?

 

-- Ah não sei não, Laur. Queria hibernar mesmo amanhã.

 

-- Vai ser aqui, amor? – Camila estava sentada no meu colo. Eu estava na cadeira da mesa.

 

-- Na verdade não. Vai ser em um clube perto daqui. Se não me engano fica entre a nossa cidade e a próxima.

 

-- Ah vamos Dih, parece ser legal. – Camila incentivou.

 

-- Vai ser que horas isso? Convenhamos que curling não é lá grande coisa, muito monótono.

 

-- No começo da tarde. Eu passo aqui e te pego, ok? Está decidido, nós vamos.

 

Diana suspirou e ouvimos a campainha tocar, ela se levantou e foi atender deixando eu e Camz sozinhas na cozinha.

 

-- Por que esse programa repentino?

 

-- Ah, é legal não é? Queria fazer algo diferente.

 

-- Então por que tenho a sensação de que está aprontando algo?

 

-- Porque você é muito encanada, amor. – Ri e beijei a ponta do seu nariz.

 

 

Diana voltou com a pizza. Comemos e depois assistimos a mais um filme. Ainda tive que esperar Camila arrumar suas coisas para só então irmos para casa.

Fim do capítulo