Sábado, 5 de fevereiro de 2005, passava das 16:00h quando Nathalia chegou a cidade das conchas.

Aos 28 anos, já se destacava na área da pediatria em um grande hospital do Rio de janeiro. Depois de sofrer uma desilusão amorosa e ficar insustentável a perseguição de sua ex-namorada, ela resolveu aceitar uma proposta de emprego em outra cidade para recomeçar sua vida.

Nathalia estava muito empolgada com o novo trabalho, ficaria a maior parte do tempo no ambulatório e daria apenas um plantão na emergência por semana.

Entrou em seu apartamento deixando em seu quarto apenas a mala que trouxe consigo contendo seus últimos pertences que ainda estavam no Rio, já havia enviado toda sua mudança no final de semana anterior... trancou a porta e saiu para conhecer um pouco da cidade onde seria seu novo lar.

Ainda sem saber que rumo tomar, seguiu em frente, a igreja matriz da cidade ficava a poucos metros de seu apartamento, encontrou uma praça enorme com parque de madeira cheio de crianças e até um coreto no meio da praça como os que ela estava acostumada a ver nas novelas. 

Ficou encantada com aquele ar de interior tão diferente da agitação do Rio de janeiro, subiu no coreto, deixou que seus pensamentos a levassem para as cenas mais lindas das novelas que ela tanto gostava e que sempre a fazia chorar, sentou no banco da praça, ficou observando os casais tomando sorvete, chegando a suspirar com aquele clima de romance que a nova cidade lhe trazia.

Caminhou pela rua que parecia ser a principal da cidade, tudo era novo, os prédios com no máximo cinco andares, as pessoas caminhando com calma pela rua, até se deparar com uma rua transversal que destoava daquela calmaria; era uma ladeira com pequenos bares e mesas espalhadas pela calçada nos dois lados e um carro atravessado no fim da rua com um som muito alto que ambientava o local.

Nathalia caminhou até o bar mais vazio, se sentou observando as pessoas que ali curtiam. fez sinal pedindo uma cerveja para a garçonete que logo veio até sua mesa, atendendo-a prontamente.

--A senhora deseja mais alguma coisa? - a garçonete perguntou esbanjando simpatia.

--Por enquanto é só, obrigada! - Nathalia respondeu com aquele sorriso de parar o transito que só ela tinha.

A garçonete se afastou e Nathalia quase se engasgou com o primeiro gole de cerveja ao se deparar com a morena linda que caminhava em sua direção.

--Posso? - perguntou a morena apontando para a cadeira vazia ao lado de nathalia.

Nathalia apenas assentiu com a cabeça e abriu seu melhor sorriso deixando a morena boquiaberta com tanta beleza.

--Prazer, meu nome é Cristina! - disse a morena estendendo a mão para ruiva.

--Satisfação, me chamo Nathalia! -ela falou com um sorriso malicioso nos lábios.

--Satisfação? - Cristina retrucou sem entender direito.

--Sim! O prazer vem com o tempo. -Nathalia falou rindo. --Coisa de carioca. -completou ela.

Cristina que estava acostumada a sempre fazer piadas de duplo sentido, ficou corada com o descaramento daquela ruiva linda a sua frente.

--Está explicado! Por isso nunca te vi por aqui. Veio passar o fim de semana?

--Esse e todos os outros nos próximos dois anos, me mudei para a cidade hoje e pelo que diz meu contrato de emprego ainda tenho mais dois anos pela frente.

--Que maravilha! Já que vai ficar tanto tempo, precisa conhecer a cidade, e eu como sou uma boa anfitriã me coloco a sua disposição para te mostrar as maravilhas da cidade das conchas.

--Olha que eu aceito! hoje saí só pra dar uma volta, mas se puder me encontrar amanhã a tarde, eu vou adorar.

--Perfeito! Amanhã podemos nos encontrar as seis no primeiro quiosque da praia do centro. Sabe onde fica?

--Na verdade, não. -Nathalia respondeu com um sorriso tímido.

--Não é difícil chegar até lá. Você veio pela principal? -Cristina falou apontando para a rua de cima.

--Sim! Imaginei que fosse pela movimentação.

--Então, é só você continuar descendo, a praia é a uns 150 metros daqui e o quiosque como eu disse é o primeiro.

--Estamos combinadas, amanhã as seis, no primeiro quiosque. Agora realmente preciso ir,  tenho muitas coisas para organizar, não quero ficar com o apartamento parecendo que acabei de me mudar a vida toda. -a ruiva disse terminando de beber sua cerveja e se levantando.

--Até amanhã, foi uma satisfação muito grande te conhecer. -Cristina falou meio que debochando do jeito que Nathalia se apresentou a ela, Nathalia se despediu com um sorriso.

Cristina continuou sentada no bar embasbacada com aquela mulher linda que acabara de conhecer. Naquele instante se lembrou que tinha encontro da galera do Hospital de São Jorge no “Estupidamente Gelada” o point da turma.

O bar não era GLS, mas a maioria dos frequentadores eram gays o que tornava o ambiente descontraído e livre de qualquer tipo de preconceito.

Cristina se perguntava o porquê de não ter chamado a ruiva para lhe acompanhar. Como não havia pego nenhum contato, tudo que podia fazer era curtir a noite com a galera e esperar a tarde de domingo chegar para enfim encontrar sua ruiva.

Cristina foi pra casa, tomou um banho rápido, colocou uma camiseta regata branca, all star azul e uma calça jeans bem justa, pegou a chave do carro e foi buscar Tatiana, sabia que ela detestava esperar e já estava bem atrasada.



***



Nathalia fez o caminho de volta para casa pensando em como tinha sido acertada a sua mudança para aquela nova cidade, o lugar era lindo, calmo e pelo visto as pessoas eram bem acolhedoras.

Entrou em seu apartamento, foi direto para o banheiro, abriu o chuveiro e deixou que a água caísse sobre ela, passou mais de meia hora ali curtindo a paz de sua nova casa. Se enrolou no roupão e foi até a cozinha preparar um lanche, já eram mais de oito da noite e não havia comido nada a tarde inteira. Chegou a cozinha e agradeceu por Lu ter feito compras antes dela se mudar.

Preparou o seu sanduíche preferido(queijo minas, tomate e orégano), um suco de laranja, foi para o seu quarto, ligou a televisão em um canal de desenho, comeu e logo foi vencida pelo cansaço da viagem.

***



Cristina e Tatiana chegaram no bar e toda turma já estava reunida, juntaram quatro mesas, a animação era total, uns dançavam ao som das musicas dos anos 80, outros conversavam sobre o dia de plantão que havia sido bem agitado, enquanto Tatiana tentava chamar a atenção de Cristina em vão.

--Cris, Cris, Cris! -Tati chamou pela terceira vez, fazendo com que ela despertasse de seus pensamentos.

--O que foi, por quê está gritando? - falou sem entender o motivo da irritação de Tati.

--Estou te chamando à horas e você não me ouve! - Tati já estava de cara fechada.

--Desculpe amiga, estava aqui pensando em umas coisas e acabei me distraindo.

Tati ficou triste, era assim toda vez que Cristina a chamava de "amiga", era como se uma faca entrasse em seu peito. Tatiana era apaixonada por ela desde que a conheceu três anos atrás, mas nunca teve coragem de se declarar, Cris por sua vez sempre a viu como uma menina e apesar do carinho que sempre a tratava, era só amizade e cuidado que sentia por ela.

--Deixa pra lá, nem lembro mais o que queria dizer. Agora me conta, o que te fez sair de órbita desse jeito? - Tati perguntou já temendo a resposta, sabia que se tratava de mais uma conquista de Cristina.

--Conheci uma gata hoje e sei lá, ela tem um papo legal, é engraçada e linda. Fiquei pensando que de repente poderia rolar alguma coisa.

--Como assim conheceu? Você conhece a cidade inteira e "adjacências"... De onde ela é? Qual o nome dela?

--Calma Tati, assim você me deixa tonta com tantas perguntas. Conheci, conhecendo ué! Ela estava no bar da rua da ladeira, usei toda a minha cara de pau e perguntei se podia sentar com ela já que estava sozinha, tomamos duas cerveja e convidei ela pra conhecer a praia do centro, o nome dela é Nathalia, é do Rio de Janeiro, mas vai morar aqui por uns tempos. Isso é tudo que eu sei, e se depender de mim saberei muito mais amanhã.

--Amanhã! Já tão rápido? -Tati não gostou nada de saber.

--Sim, amanhã. O que houve? Parece que não gostou de saber.

--Não, é que estava pensando da gente fazer uma sessão de cinema, mas deixa pra semana que vem. - Tati falou tentando disfarçar sua irritação.

--Vai ficar mesmo, pois não perco aquela gata por nada, nem por uma tarde inteira com você, bebê. -Cristina se dirigia a ela assim quando queria irrita-la.

--Desculpe, não está mais aqui quem falou. Pensei que tinha uma amiga, agora está aí cheia de coisas por uma pessoa que acabou de conhecer.

--Não é nada disso, para de ser boba. Pretendo conhece-la melhor, mas você sabe que não te troco por ninguém. -Cris falou abraçando e beijando a cabeça da Tati, que já tinha feito um bico enorme, com ciúmes de sua "amiga".

Já passava de uma hora da manhã e a galera começou a se despedir, a maioria estava de plantão no domingo, Cris e Tati se despediram de todos como de costume, Cris deixou Tati em casa e foi embora.

Assim que entrou em casa Cristina tomou um banho, colocou uma camiseta e uma calcinha confortável, se deitou e seus pensamentos só tinha um nome... "Nathalia". -"Será que ela é entendida? Ela deu a entender que sim, mas e se for o jeito dos cariocas? Se estiver procurando apenas uma amizade em um lugar que não conhece?"

Com esses pensamentos em sua nova musa inspiradora Cristina adormeceu.



***

O domingo amanheceu lindo como um típico dia de verão, Nathalia tentava organizar as suas coisas com calma, tinha o domingo inteiro pela frente, não conhecia ninguém além de Cistina e como não trocaram telefone o jeito era esperar ocupando o tempo de alguma forma.

Cris estava ansiosa pra encontrar Nathalia, Já tinha experimentado todas as suas roupas sem conseguir decidir por nenhuma. Ás 17:00 em ponto ela foi tomar banho, ficou lá por mais de meia hora, quando saiu do banheiro tomou um susto. Estava em cima da hora, teria que correr pra não deixar aquela gata esperando.

Colocou uma bermudinha branca,uma blusa lilas, sua cor preferida, como iria caminhar na beira da praia resolveu colocar uma havaianas branca, fez um rabo de cavalo, passou apenas um gloss e foi ao encontro de Nathalia.

Nathalia chegou ao quiosque dez minutos adiantada, sentou em uma mesa e ficou olhando o por do sol que era lindo em toda extensão da praia, quando sentiu uma mão em seu ombro se virou e deparou com a morena de pé ao seu lado.

As duas caíram na gargalhada.(estavam praticamente iguais,a diferença era só a bermuda da ruiva, que era desfiada na ponta e a camiseta que era uma regata soltinha e a outra ribana, pois até o tom do lilas era o mesmo…

Fim do capítulo