Ela estava com um vestido azul claro que marcava bem sua cintura, e com o seu perfume que por um momento me desconcentrou. Seu cabelo estava solto e usava um laço branco nele. Ela olhou em meus olhos e me deu um sorriso tímido. O qual não consegui corresponder, pois ainda estava sob o efeito da surpresa de sua visita.

 

-- Oi Laura.

 

-- Oi. – Eu ainda não tinha conseguido ter qualquer reação, mas a essa altura era devido a não saber o que fazer. Era a primeira vez que estávamos sozinhas depois do beijo.

 

-- Eu posso entrar? – Ela me perguntou apontando discretamente pra dentro de casa. Dei um passo pra trás, dando espaço para que ela entrasse. Fechei a porta e a observei ir até o meio da sala. – Você está sozinha? – Assenti com a cabeça.

 

-- Meus irmãos estão no colégio, onde na verdade você também deveria estar.

 

-- É... bem, eu tinha que conversar com você, e como não foi a escola.

 

-- Pois é, ainda estou me recuperando pelo mal-estar do fim de semana. – Ela fechou os olhos e suspirou.

 

-- Isso é pra você. – Estendeu-me a rosa e a caixa de chocolates. Pensei por um momento. Olhei em seus olhos e vi o quanto ela estava apreensiva. Dei um passo em sua direção e peguei a rosa e a caixa.

 

-- Obrigada.

 

-- Laura, a gente precisa conversar e eu preciso explicar sobre sexta.

 

-- Tudo bem. – Apontei o sofá na sala para que ela se sentasse. Fui até a cozinha e perguntei se queria algo, ela recusou. Deixei os chocolates e a rosa em cima da mesa e voltei para a sala. – Pode falar.

 

-- Laura, eu sei que já pedi diversas desculpas pelo que fiz sexta. E sei também que não são palavras que vão consertar isso. Eu só não sei o que deu em mim, é como se eu tivesse ficado fora de mim.

 

-- Camila, está tudo bem.

 

-- Não, Laura, não está, por Deus. Estava chovendo, estava chovendo muito, e estava ventando, céus estava tendo um temporal lá fora e eu te mandei embora de casa naquele tempo, que tipo de pessoa faz isso?

 

-- Camila, eu não me importo com isso.

 

-- Mas eu sim, Laura!! – Ela tinha aumentado o tom de voz, estava emocional - Eu me importo e muito. Eu me importo com você. Demais. – Percebi o quanto aquilo havia a abalado e o quanto se arrependia - Assim que eu sai do meu transe e percebi o que tinha feito, eu fui atrás de você e...

 

-- Espera. Você saiu naquele tempo pra me procurar? – Não pude deixar de ficar feliz ao saber que ela tinha ido me procurar.

 

-- Sim. Eu fui atrás. Gritei por você diversas vezes, mas eu não conseguia ouvir nada e não conseguia enxergar nada. Então voltei pra casa e tentei ligar no seu celular.

 

-- É... bem, eu não estava em condições de atender aquela hora.

 

-- Laura, eu fiquei muito preocupada com você. Me senti muito mal pelo que fiz. E depois, quando Diana me disse que ficou doente... Céus... não sabe o quanto me amaldiçoei. Depois fiquei com medo de vir aqui, com medo da sua reação.

 

-- Camila, acredite, está tudo bem. Eu não deveria ter te beijado e sua reação foi totalmente compreensível. Isso não vai se repetir, fique tranquila.

 

-- Você... você se arrependeu do beijo? – Me surpreendi com a pergunta, não esperava por aquilo. Na verdade achei que ela faria do beijo, um assunto morto.

 

-- Quer que eu seja sincera?

 

-- Por favor, Laura. – Pensei no que deveria dizer. Seus olhos estavam fixos em mim.

 

-- Não me arrependo do beijo. Pode não ter sido o momento ideal, mas me desculpe. Eu não consigo me arrepender do beijo. – Ela me olhou e seus olhos estavam marejados.

 

-- Foi o meu primeiro beijo. – Eu não esperava por aquela informação. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo feliz. Feliz por ter sido a primeira. Mas então fiquei preocupada, e se ela não queria aquele beijo?

 

-- E você Camila, se arrepende?

 

-- Nem por um segundo. – Sorri internamente. Ela tinha gostado do beijo.

 

-- Então por que me mandou embora?

 

-- Eu estava confusa. Aconteceu tão rápido, eu acabei tendo uma reação exagerada. Somos amigas, Laura. Duas mulheres. Isso não deve acontecer.

 

-- Claro. – Dei um suspiro irônico. – Não deve acontecer. – Repeti suas palavras.

 

-- O que as pessoas falariam? Estamos em uma cidade pequena, Laura. Ainda há muito preconceito.

 

-- Pois é, começando por você.

 

-- Não faz assim, Laura. É só que... somos amigas, certo? Devemos continuar assim.

 

-- Claro, Camila. Se você prefere assim, por mim tudo bem. – Passei a mão pelos meus cabelos - Mas sabe o que eu acho? Acho tudo isso que você disse uma imensa baboseira. Você só não quer admitir que gosta de mim e que isso não é só amizade.

 

-- Eu gosto de você, Laura.

 

-- Ai você faz todo um discurso pra não ter que admitir que... que.. o que você disse?

 

-- Que eu gosto de você, Laura. Não nego isso. Mas isso é tão complicado... Apenas me dê um tempo pra pensar e colocar as ideias em ordem.

 

-- Você quer um tempo pra pensar? – Ela assentiu e eu supirei. – Tudo bem.

 

-- Acho que... é melhor eu ir embora.

 

 Concordei com a cabeça e ela se levantou do sofá. Minha cabeça estava a mil por hora. Fomos lentamente até a porta. Até que um pouco antes de chegar à porta eu a segurei pelo braço e a virei pra mim. Parei por um segundo e olhei em seus olhos. Eles expressavam surpresa, mas havia algo mais ali... havia carinho. Encostei suas costas na porta e sem pensar a beijei. Segurei firmemente sua cintura e a beijei com intensidade. Ela colocou as mãos em meu pescoço. Era uma necessidade e eu sentia o quanto ela queria aquilo como eu. Era um beijo apaixonado e eu mal conseguia me controlar. Seu perfume me intoxicava, seu corpo colado ao meu me enlouquecia. Assim que percebi o quão entregue ela estava eu me afastei tão rápido quanto tinha me aproximado.

 

-- Quer algo pra pensar, Camila? Então pense nisso. – Falei com a voz rouca próxima ao seu ouvido. Ela me olhava surpresa e apesar de abrir a boca, não conseguiu dizer nada. Abri a porta pra ela. – Até mais.

 

Ela assentiu e se virou pra ir embora. Assim que ela saiu, eu fechei a porta e me encostei nela. Coloquei a mão sobre meus lábios. Céus, que beijo bom tinha sido esse? Não pude deixar de sorrir. Pois bem, se ela queria pensar, agora ela teria muito sobre o que pensar.

 

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-- Aiiii Kate!! – Passei a mão pela minha cabeça, onde Kate tinha acabado de me dar um tapa. Mal me recuperei e ela levantou a mão pra me dar outro. Desta vez eu desviei. – Mas que coisa, fique calma.

 

-- Você passou o fim de semana doente e eu só fico sabendo agora? Eu te ligueeeei no Sábado, custava falar? – Estávamos no pátio, era intervalo. Henry e Troy tinham ido buscar comida enquanto eu, Kate e Diana nos sentávamos à mesa. – Diana passou o domingo com você, eu poderia ter ido também. Arrrrgh, estou tão brava com você agora!

 

-- Não foi nada, foi só febre! Não precisava desse alarde todo. – Baixei a cabeça, arrependida de não ter falado pra Kate, ela realmente ficou chateada. – No domingo de noite mesmo já estava melhor.

 

-- Em defesa da cabeçuda aqui, ela realmente tava achando que não era nada demais, achou que ia te preocupar atoa. – Não sei se agradecia Diana ou ficava de cara pelo modo que disse.

 

-- Nunca mais faça isso, entendeu bem? – Kate falou de modo muito sério.

 

-- Nunca mais. Pode ter certeza disso. – Assim que prometi ela suavizou a expressão.

 

Os meninos voltaram com a nossa comida. Sentaram-se e começaram a falar sobre um colega deles que agora estava namorando. Ainda não tinha visto Camila, e também não havia mandado nenhuma mensagem. Era a vez dela de ter uma atitude. De qualquer forma eu estava dando espaço a ela para que tomasse qualquer que fosse sua decisão, no seu devido tempo. Me concentrei na minha comida e comecei a lembrar do beijo que havíamos trocado, não pude deixar de sorrir. Assim que levantei a cabeça novamente, avistei Camila com sua bandeja de comida. Ela estava de costas pra mim e ia em direção a uma mesa perto da parede. Estava sozinha. Tive que ter muito autocontrole pra não me levantar e ir até ela fazer companhia. Ela tirou um livro da bolsa e começou a ler enquanto comia uma maça.

 

-- Laura, você me escutou? – Troy estava passando a mão na frente do meu rosto.

 

-- Ah, me desculpe, estava distraída. O que disse?

 

-- Eu perguntei quando que vão ser os testes pro time de voleibol.

 

-- Ah sim. Vão ser nessa quinta-feira. – Eu não ia voltar a jogar esse ano, porém depois de pensar melhor e de ter uma conversa com a treinadora, sabia que ia acabar sentindo falta se saísse do time.

 

-- E teve muitos inscritos? – Foi Henry quem me perguntou.

 

-- Sim. Uma quantidade considerável. Mais do que ano passado. Acho que vou passar a tarde toda fazendo os testes.

 

Como capitã do time, eu auxiliava a treinadora na escolha das novas jogadoras. Odiava essa tarefa. Odiava ter que dizer a alguém que não tinha conseguido entrar no time. Sabia que tinha que ser profissional e pensar no melhor pra equipe, mas ainda assim não era algo que eu gostava.

 

-- Amanhã são os testes para a equipe de basquete. – Kate me lembrou.

 

-- É eu sei. Alice não para de falar, está muito ansiosa. Eu que fico com um pé atrás, caso ela não consiga.

 

-- Fique tranquila, Laur. Sua irmã vai se sair bem, ta no sangue de vocês, os Carter’s. – Diana bateu levemente nas minhas costas. Dei um sorriso a ela.

 

-- Galera, o que acha de irmos ao cinema na sexta? E depois a gente podia sair pra comer.

 

-- Gostei da ideia. Por mim fechou, Henry. – Troy concordou e roubou a gelatina de Kate.

 

-- Ah lá vai eu ficar de vela de dois casais de novo.

 

-- Você sempre ficou e nunca se importou, não sei por que ta com essa crise agora.

 

-- Henry, apesar de vocês serem casais bem comportados, ainda assim tem hora que sei lá, só não é legal ser a única solteira.

 

-- A Diana vai chamar a Camila também, não vai? – Kate disse e piscou pra Diana. Ok, eu tinha mesmo que falar o que aconteceu no fim de semana pra Kate.

 

-- Por mim tudo bem, chamo sim. – Diana apenas deu de ombros. Ahh aquilo não ia ser uma boa ideia, estava longe de ser. Suspirei. Bem, se ela achasse que ficaria desconfortável, era só recusar o convite.

 

Continuamos conversando amenidades até o sinal bater. Observei ao longe Camila se levantar e guardar o livro na mochila. Antes que ela pudesse seguir seu caminho, Giovanni havia se aproximado e pegado a mochila de sua mão, colocando em suas costas. Foi caminhando ao lado dela, provavelmente iria acompanha - lá até a sala. Desviei o olhar.

 

Seguimos nosso caminho até certo ponto do corredor, onde nos dividíamos para as aulas. Kate foi comigo porque tínhamos a matéria juntas. Achei uma ótima oportunidade para contar sobre o final de semana. E foi o que fiz. Confesso que foi engraçado ver as reações dela todas contidas para que não chamássemos a atenção da professora. Quando me dei por mim já era hora de ir embora. Mandei mensagens para os meus irmãos perguntando se algum deles iria comigo. Sempre íamos juntos para a escola, mas como depois cada um tinha uma atividade diferente, na hora de ir embora os horários não batiam. Responderam dizendo que ainda iam ficar.

 

 Enquanto esperava por Kate e Troy no estacionamento, pois daria carona a eles, vi Camila com Giovanni novamente. Apertei minha mão com força. Foi instintivo. Foram até a frente do carro dele e ficaram conversando, não demorou muito e logo mais Camila entrou com ele no carro.

 

- Mas que saco! – Exclamei irritada e bati levemente a mão no retrovisor do meu carro onde eu estava encostada.

 

-- O quê? – Kate tinha chego e como eu ainda não tinha desviado o olhar, ela o seguiu e viu a tempo antes deles virarem a esquina. – Ah.

 

-- Enfim, cadê o Troy?

 

-- Ele vai ter que ficar, vai fazer um trabalho.

 

-- Entendi. Bom, vamos então?

 

Kate concordou e entrou no carro. Coloquei meu Pen drive de músicas, e uma bem animada preencheu o cômodo. Aumentei um pouco o volume e dei partida. Preferi permanecer em silêncio e Kate entendeu. Deixei-a em sua casa e parti pra minha. Só minha mãe estava em casa. Almoçamos juntas e conversamos bastante. Há muito tempo não tinha um momento assim com ela. Isso me deixou feliz e limpou minha mente de qualquer outro pensamento.

 

De tarde quando Alice chegou, ela quis fazer um treino. Conversei com ela e disse que seria bom descansar ao invés de treinar. Então decidimos apenas brincar um pouco de jogar a bola na cesta. No final da tarde, meu pai e Sean se juntaram a nós e ficamos jogando até a hora do jantar.

 

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Estava no meu armário pegando o material para a próxima aula quando sinto um boné sendo colocado na minha cabeça.

 

-- Eae Carter, que horas é o teste hoje?

 

-- Vai ser às 15:00 hrs, Henry. – Tirei o boné da minha cabeça e devolvi a ele.

 

-- Beleza então, estarei lá.

 

Fiz um positivo com o polegar e ele me ajudou com o material. Disse que o cinema estava marcado para a sexta feira e eu concordei. Nessa hora Camila passou pela gente e nos cumprimentou com um sorriso e um aceno com as mãos. Tinha que ter um sorriso tão malditamente lindo?. Respondi apenas com um aceno de cabeça. Depois que ela passou pela gente, Henry disse que Diana havia conversado com ela e que iria com a gente no cinema. Tentei não me importar.

 

O dia demorou a passar. Quando o relógio marcava quinze pras três, encontrei-me com Henry e fomos até a quadra. Observei sentados do outro lado, Paco e Jad, mas de lados opostos. Alice teria uma torcida e tanto. Sorri balançando a cabeça.

 

Os testes começaram. Primeiro foram feito passadas individuais. Depois em duplas atravessaram a quadra passando a bola de uma para a outra. E assim se seguiu por um tempo, apenas em exercícios básicos, nada demais, só que já servia pra eliminar as que não tinham talento algum. Depois de 40 minutos o treinador formou dois times com as candidatas e iniciou um jogo. Tinha muita gente boa fazendo o teste, e hora e outra eu e Henry nos empolgávamos torcendo. Alice estava jogando muito bem também, e teve um bom aproveitamento dos lançamentos as cestas. O time de Alice não venceu a partida, entretanto eu tinha consciência que ela havia dado o seu melhor. O treinador mandou todas sentarem-se no banco e aguardar. Depois de algum tempo conversando com a capitã do time, ele pegou um saco com camisas de reserva e informou que quem ele dissesse o nome estaria no time e era pra se levantar, pegar a camisa e ir para o chuveiro.

 

Quando o treinador começou anunciar os nomes eu me agarrei no braço de Henry, totalmente aflita. Ele foi dizendo nome por nome, mas nenhum deles era da minha irmã. Faltando apenas dois nomes a serem anunciados, ele parou e começou a falar. Elogiou todas que participaram e disse pra não desistir dos seus sonhos, pois no trimestre seguinte teriam novos testes. Dito isso, ele pegou a lista, olhou e disse que os nomes que diria agora foram as melhores nos testes. E então ele chamou o nome de Alice.

 

-- AAAAAAAAAAHHHHHHHH EU SABIAAAAAAA!!!  - Levantei e comecei a pular na arquibancada, sendo seguida na comemoração por Henry. – Minha irmã!! Essa é minha irmã!!!

 

-- Viu só? Ela conseguiu! Ela passaria, tinha certeza disso, Laur!!

 

-- Uhuuuuuuul.

 

Fiquei tão empolgada que não parava de pular, até Henry mandar eu ficar quieta. Alice já tinha ido pro vestiário. Vi que tanto Paco quanto Jad foram na direção dos vestiários. Ri disso, Alice teria muito assunto hoje à noite em casa pra contar. Peguei meu celular e liguei pra ela. Não atendia, então mandei uma mensagem. Ela respondeu dizendo que me viu lá e que estava muito feliz, disse que eu podia ir pra casa por que ela ia depois, tinha assuntos pra resolver.

 

-- É... sei bem que assuntos são esses. – Pensei alto.

 

Peguei minhas coisas e voltei pra escola com Henry. Encontramos Diana e Troy e ficamos conversando, até decidirmos ir a uma sorveteria, onde passamos o resto da tarde conversando. Quando estávamos indo embora, recebo uma mensagem.

 

[18:16] Camila: Laura, poderia vir hoje aqui em casa? Gostaria de conversar com você.

 

Dei um suspiro. Aparentemente ela já tinha tomado sua decisão.

Fim do capítulo