Capítulo 1
Os Anjos Vestem Branco -- Capítulo 1
Bruna Sontag parou o seu carro no estacionamento da faculdade. Olhou ao redor desanimada, suspirou fundo e entrou no prédio andando lentamente.
Bruninha como era conhecida por todos, cursava o quarto ano de medicina a princípio por influência dos pais, ambos médicos, mas com o passar do tempo foi se apaixonando pelo curso e agora estava certa de ter escolhido a profissão pela qual tinha vocação.
Bruna tem uma irmã três anos mais velha que não largava do seu pé, era pior que sua mãe. Bruninha não faz isso, Bruninha não faz aquilo. Era um saco, mas amava por demais aquela morena bonita chamada Priscila.
Priscila estava no último ano de faculdade e ao contrário dos demais membros da família Sontag, decidiu cursar administração. O pai vivia falando que Priscila não podia ser filha dele. Além de morena não tinha a medicina correndo nas veias.
"-- Como em uma família de alemães me aparece uma morenaça dessas?" - todos riam menos Priscila que sempre ficava emburrada em um canto.
-- Bruninha.
Bruna parou e olhou para trás já sabendo quem era a dona da voz que lhe chamava.
-- Que vontade é essa loira? - Sabrina amiga da garota desde o primeiro ano aproximou-se e lhe deu um beijo no rosto.
-- Segunda-feira é complicado - espreguiçou-se tirando a mochila das costas e colocando no ombro - Até a mochila parece estar mais pesada.
-- Com certeza - deu de ombros - Você deve estar carregando aí uns 50 quilos de ressaca do final de semana.
-- Tenho que aproveitar o tempo livre para curtir o colorido da vida, daqui a pouco tudo o que vou ver pela frente é branco, branco, branco...
-- Saiu com quem esse final de semana?
-- Saí com a Carla. Fui para a casa de praia em Angra.
-- A Carla é muito gata - ajeitou os cabelos antes de entrar na sala.
-- Fora o sex* gostoso de resto foi uma chatice. Aquela menina é muito interesseira. Esse tipo de pessoa só pensa nas coisas que podem obter em um relacionamento. A frase de efeito dela: -- "Seu carro é do ano?"
-- Cuidado Bru. Vai que você se apaixone por um tipinho desse.
-- O que? Por uma mulher camarão? Nunca - falou rindo.
-- Mulher camarão?
-- É. Do tipo que só tem merd* na cabeça, mas é gostosa e você come assim mesmo.
Sabrina riu da amiga, mas não deixou de dar um puxão de orelha.
-- Você tem que ficar longe desse pessoal aqui da faculdade. Principalmente do curso de medicina. Todos sabem que seu pai é o dono do maior hospital particular da região e a maioria sonha depois de formados trabalhar lá.
Sabrina já havia dado o mesmo conselho várias vezes para a amiga, mas mesmo assim a garota continuava saindo com as mulheres da faculdade, que viam nela um trampolim para o sucesso rápido na profissão.
-- Não esquenta, é só curtição mesmo - entraram na sala atrasadas como sempre.
Na Barra da Tijuca...
-- Querida você deveria sair dessa. Não vale a pena levar essa vida - o rapaz gay sentou-se no sofá com as pernas cruzadas inconformado com as atitudes da amiga.
-- Thiago meu amor, você nunca apaixonou-se é?
-- Minha Victoria's Secret, o amor é cego e a paixão é burra, não deixa raciocinar. Você é lindíssima, um mulherão de parar o trânsito, fica aí de rolo com um coroa casado? Tem dó querida.
Victória era realmente uma mulher linda. Gaúcha de Porto Alegre, mudou-se para o Rio a dois anos na esperança de logo encontrar um emprego e viver uma vida digna longe da sua família que tanto mal haviam lhe feito.
A realidade foi outra. Levou muito tempo até que conseguisse um emprego e só conseguiu sobreviver naquela cidade graças a ajuda do amigo Thiago.
Só depois de cinco meses que conseguiu o tão sonhado emprego e foi lá que conheceu o coroa casado a que Thiago se referia.
-- Ele é um homem bom. Tudo o que possuo foi graças a ele - abriu os braços como se mostrasse o mundo ao seu redor.
-- Como se bens materiais fosse tudo na vida - fez cara feia - Você não é feliz. Eu percebo isso.
-- Seria bem pior sem ele - levantou e foi pegar whisky para os dois.
-- Você só está com ele por medo de perder tudo o que tem.
-- Eu amo ele e também sou grata e ponto final nesse assunto - entregou a bebida para o amigo.
-- Tudo bem se preferes assim - passou os dedos pelos lábios como se fechasse um zíper.
-- Agora vamos falar um pouco de você - sentou ao seu lado e pegou em sua mão - Me preocupo tanto com você meu querido. A homofobia está aumentando a cada dia no mundo e no Brasil ainda mais.
-- Procuro me cuidar como posso mona, mas não consigo viver escondido, não é justo, não é certo - falou triste.
-- Eu sei que não, mas me prometa que se cuidará sempre, evite andar sozinho por aí, principalmente na saída dessas boates que você frequenta.
-- Prometo, prometo - beijou a amiga no rosto - Agora tenho que ir. Preciso trabalhar um pouco.
Thiago trabalhava como garçom em um barzinho a beira da praia no Leblon.
-- Tá certo mas aparece - Retribuiu o beijo e o acompanhou até a porta.
No apartamento dos Sontag no Leblon...
-- Pai você esqueceu que a sua caçula é lésbica? - Priscila brincava com o pai.
-- Tento mas você sempre me lembra - caiu na gargalhada.
Nestor Sontag é um homem bonito, loiro, olhos verdes e muito simpático.
-- Nada me impede de participar de uma equipe de homens - Bruna juntou-se a eles na mesa para o almoço.
-- Isso mesmo meu bebê, se imponha perante aqueles médicos machistas - Débora Sontag manifestou-se sorrindo.
-- Até parece que são todos machistas e o Riquinho é o que? - Priscila fez gestos afeminados com a mão.
-- Dr. Ricardo, Priscila, por favor - Nestor corrigiu.
-- Isso mesmo pai e Dra. Bruna para mim, por favor - fingiu estar séria.
-- Mal sabe fazer um curativo e já está metida a doutora, mas credo - Priscila falou caindo na gargalhada.
-- Pai - a loira choramingou para o pai.
-- Priscila para início de conversa sua irmã está se saindo muito bem e até já sabe fazer um curativo - risos - Brincadeirinha Bruninha. Você está indo bem demais - mandou um beijo pra filha com cara de orgulhoso.
-- Não vejo a hora de começar a residência pai - Bruna estava nas nuvens.
-- E eu filha estou quase explodindo de orgulho. Meu bebê com apenas 22 anos já trabalhando no hospital da família é felicidade demais para um pai.
-- Você vai ter que fazer residência no SUS também né maninha?
-- Vou. Tenho que fazer a carga horária obrigatória no SUS - falou não se importando com o fato.
-- Isso é o cúmulo, ter que se sujeitar a isso ainda - Débora falou sentindo-se enojada.
-- O que é isso mamãe? - Bruna não se acreditava que a Mãe pensava dessa maneira.
-- Deixa filha, sua mãe esqueceu do juramento que fez - Nestor levantou chateado e saiu.
-- Mamãe quero te dizer que vou adorar atender os pacientes de um hospital público - falou e saiu atrás do pai.
-- Credo que família sentimental que eu tenho - Débora continuou comendo como se nada houvesse acontecido - E você como se sente diante da preferência tão clara do seu pai pela sua irmã? - falou maldosa.
-- A Bruna merece, ela sente pela medicina a mesma paixão que o nosso pai sente. E eu... Tenho o maior orgulho... Dos dois - levantou e deixou a mãe sozinha.
No dia seguinte no Hospital Helena Sontag.
Nestor andava orgulhoso pelo hospital com a filha ao seu lado. Apresentava a garota a todos os funcionários e fazia questão de dizer que a filha seria pediatra como a avó Helena Sontag.
-- E das melhores né filha?
-- Vou tentar papai, mas tenho certeza que por mais que tente não chegarei nem aos pés da vovó - falou sorrindo.
-- Se vai ser tão boa quanto ela não sei te dizer, mas o sorriso é mais lindo que o dela.
Uma moça se aproximou e beijou Nestor no rosto.
-- Bruninha essa chata aqui é a Dra. Adriana, uma de nossas melhores pediatras desse país. Você aprenderá muito com ela pode ter certeza.
A moça abraçou Bruna e a beijou no rosto.
-- Adoro residentes - fez um ar de maldade.
-- Cuidado, Adriana é o lobo mau do hospital - o rapaz puxou Bruna e deu um abraço apertado - Sou Ricardo ortopedista e gay - deu uma risadinha - Ela é lésbica e vai querer te comer - falou no ouvido da loira.
-- Não se preocupe também sou - falou no ouvido dele.
-- Vão ficar de cochicho por muito tempo ainda? - Adriana falou bicuda.
-- Não. Já paramos - Ricardo mostrou a língua para ela.
-- Vou deixar a minha joia com vocês. Cuidem bem dela - Nestor beijou a cabeça da filha e saiu em direção a sua sala.
-- Escutou né? Para de comer ela com os olhos. Você tem idade para ser a mãe dela - falou e levou um tapa como resposta.
-- Eu não acredito que você teve a coragem de falar uma coisa dessa - Adriana estava morta de vergonha.
-- Não precisa ficar assim, ela também é lésbica, mas você não faz o tipo dela.
Bruna apenas sacudiu a cabeça e foi em direção a UTI adulta.
-- Esse paciente está aqui há mais de três meses - Ricardo falou sério - Sofreu um TCE e não mostrou nenhuma alteração no quadro.
Bruna aproximou-se e leu o nome do homem em sua ficha de evolução médica.
-- Timóteo, 35 anos, casado, 3 filhos. Eles estão vindo visita-lo? - Bruna quis saber.
-- Aqui na UTI é complicado Bruna, as visitas são restritas.
-- Mas deveriam, você sabe disso - se dirigiu a outro paciente.
E assim a manhã de Bruna no hospital passou tão rapidamente que até assustou-se quando Adriana a chamou para o almoço.
-- Almoça com a gente pobres médicos de plantão ou prefere os restaurantes chiques da elite?
Bruna sorriu e colocou as mãos nos bolsos do jaleco branco.
-- Só se for no refeitório.
-- Legal, lá é de graça - Adriana abraçou Bruna e a conduziu até o refeitório.
Quando as duas entraram no local o silêncio se instalou. Se caísse uma agulha no chão possivelmente conseguiriam ouvir o barulho da queda.
-- Qual o problema? - Bruna olhou ao redor.
-- Esqueceu que você é uma Sontag? Vamos sentar aqui mesmo - Adriana apontou para uma mesa vazia.
-- E daí?
-- Nunca um Sontag entrou nesse refeitório e muito menos comeu dessa comida - apontou para o bufe.
-- Pois eu estou morrendo de fome e não estou nem aí pra isso - a loira levantou-se e foi para a fila.
Todos saíram da sua frente para ela servir-se.
-- Não façam isso, sou um funcionário como outro qualquer e posso esperar como todos vocês - voltou para o final da fila com o prato na mão.
-- Acabou de ganhar o respeito de todos. Parabéns - Adriana sorriu.
-- E se a comida estiver ruim ainda vou reclamar - continuou esperando a sua vez.
O dia para Bruna estava sendo corrido. No período da tarde apresentou-se ao hospital público aonde iria fazer a sua residência obrigatória pelo Ministério da Educação. Não aceitou a interferência do pai que queria um hospital no Leblon e escolheu o hospital da Barra da Tijuca.
Mesmo assim o sobrenome Sontag que carregava fazia com que os médicos lhe tratassem de maneira diferente que dos outros residentes. Isso causava um certo constrangimento a Bruna, mas nada que a fizesse mudar o seu jeito humilde de ser.
-- Meu nome é Sandra sou clínica geral e irei acompanhar vocês - olhou para os quatro residentes - Sou exigente, chata e não aceito erros nem choros - ajeitou a gola do jaleco de Sabrina - Não sou de muito papo, por isso vamos já para o pronto socorro temos muita coisa para fazer por lá - virou e saiu caminhando a passos largos com os quatros correndo atrás dela.
Mais tarde...
-- Caramba Bru, essa mulher é uma máquina de costura, daquelas que faz tudo. Tá ligada? - Sabrina sentou em uma banqueta na sala de sutura.
-- Ela é experiente pra caramba. Se bobear ela sutura sem olhar - risos - Um dia a gente chega lá.
-- Com certeza trabalhando em um lugar como esse. Cara já vi de tudo - fez uma careta - Que lugar violento.
-- É aqui que a gente aprende Sabrina, não vai ser atrás de uma mesa só preenchendo relatórios e aviando receitas.
-- Você está certa - levantou em um pulo.
-- Agora vamos lá que já devem ter uns cinco pra gente costurar.
Bruna e Sabrina retornaram ao pronto socorro e continuaram os atendimentos daquela tarde.
Fim do capítulo
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LavinneBella
Em: 09/10/2015
Autora amando sua história tão divertida,viciada aki !!!
obrigada e parabéns !!!
Resposta do autor:
Obrigada, Lavinne. Bjã.
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Ana S2
Em: 18/09/2015
Aiii meu Deus tô tão feliz por você estar postando essa história aqui no Lettera, Estava lendo no abcles mas parei no capítulo 42, vai ser um prazer reler essa história maravilhoso e vou esperar ansiosa o final b25;b25;b25;
BjoOo BjoOo ^^
Resposta do autor:
Bjs Ana. Até querida.
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jessicabarbosa
Em: 15/09/2015
Estou relendo essa história maravilhosa. N demora muito a postat n querida autora. Bjos
Resposta do autor:
Olá Jessica. Vou postar um capítulo por dia. Blz. Bjã querida.
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