CapÃtulo 8
A volta
O dia nascia. Jussara levantou-se assim que o sol acordou enfeitando todo o universo. Endy e Virgínia davam os detalhes finais na arrumação das rosas para receber o casal que não tardaria chegar. O café foi servido e Afonso cumprimentou as duas moças que já se serviam em conversa animada. Terminada a refeição matinal o barulho do automóvel se fez ouvir e todos seguiram para fora da casa no desejo de dar as boas-vindas.
Amália abraçou Jussara. Depois foi ao encontro de Ambrósio percebendo que o amor havia lhe feito remoçar e sorriu.
Afonso aproximou-se:
— Como vai, meu tio? O senhor fez falta nessa casa. – depois dirigiu-se para Amália e a cumprimentou:
— Bem vinda de volta ao seu lar, minha cara.
— Obrigada.
Os abraçados afetuosos trocados com Endy e Virgínia fazia o coração de Afonso ofendido pelos ciúmes.
O casal seguiu para o quarto, que estava esmeradamente arrumado. O perfume suave de rosas enchia o ambiente e Amália sorriu, diante a tamanha demonstração de carinho de Jussara e as amigas da escola.
— Ambrósio, o que houve meu amor? Parece aborrecido, ou estou enganada?
— Sente aqui ao meu lado, querida. Vou lhe falar: a estadia de Afonso nessa casa não me agrada muito, sinto como se ele estivesse a nos espreitar, não sei bem o motivo de tais sentimentos. Não me sinto bem com ele aqui, mas não posso pedir que ele vá embora, você me entende? Era sobrinho de Crystal, ela nutria por ele um grande amor...
— Eu entendo meu amor. Confesso que também sinto isso, mas quem sabe estejamos enganados com ele. Como diz Jussara, vamos rezar e pedir a Deus que nos proteja a todos. Agora vamos mudar o rumo desse assunto, pois que pensamento negativo atrai coisas ruins.
— Você tem razão. Venha vamos deitar um pouco e descansar, até a hora do almoço.
Afonso caminhava de um lado para o outro no quarto. Sua cabeça latej*v*, “preciso que ele viaje, para que eu possa então colocar em prática o meu plano. Talvez seja melhor me aproximar de Marcela, fazer dela a minha falsa namorada, sinto que Jussara desconfia de mim, ótima ideia, essa.” – pensava Afonso inspirado pelo espírito das trevas.
O almoço estava sendo servido, quando Afonso adentrou a sala:
— Com sua licença, meu tio. Peço desculpa por não ficar para o almoço, vou até a casa de Eustáquio, estou cortejando Marcela, com quem desejo me casar assim que me sentir melhor de saúde, - mentiu Afonso no intento de desviar qualquer olhar sobre si, — e quero também agradecer a sua bondade em me acolher aqui, garantindo ao senhor que assim que me sentir melhor seguirei de volta para a minha cidade.
— O que desejo é lhe ver bem Afonso, tem o tempo que for preciso.
A campainha soou e Eustáquio levantou-se ao ouvir a voz de Afonso.
— Sua presença aqui meu amigo, sempre é motivo de alegria. Vamos, entre, estávamos a lhe esperar.
Marcela estendeu a mão para Afonso que depositou nela um beijo demorado, fazendo a jovem sentir seu corpo estremecer de maneira desagradável. O almoço foi servido e quando terminou Afonso convidou Marcela para dar um passeio até a confeitaria. O jovem estendeu o braço para Marcela que cedeu, mas logo encontrou uma maneira de tirá-lo, sentindo que a sensação desagradável havia intensificado. Depois de comer a torta, Marcela pediu para voltar para casa, o que Afonso aceitou contrariado.
Chegando de volta em casa, Marcela seguiu para o banheiro e ficou ali imersa na banheira com ervas. Seu coração sentia saudades de Luís Miguel e torcia para chegar à segunda-feira, para então ir ao trabalho e poder ver o homem que havia feito seu coração esquecer seu juramento de não amar outra vez.
A noite caía. A lua embelezava o céu e a brisa mansa soprava pela janela do quarto de Marcela que vestiu uma camisola e deitou-se.
— Não precisa temer Marcela. Perceba que somos conhecidas, - disse à mulher que estava ali aguardando pela sua saída do corpo através do desdobramento espiritual.
A jovem não disse nada, olhando insistentemente, depois sorriu como se tivesse resgatado em si uma memória do rosto da mulher, que abriu os braços e abrigou Marcela de maneira carinhosa.
— Venha comigo.
A frente dos olhos de Marcela surgiu uma grande construção.
— Estamos na CASA DO PASSADO, Marcela, - falou Maria Padilha, seguindo para uma sala e pedindo a jovem que sentasse ao seu lado, — preste atenção em tudo o que vai se desenrolar aqui e depois conversaremos.
Nesse instante a mulher acendeu uma tela branca. As cenas começaram e Marcela viu Augusto assassinando Fernandes.
— É Afonso... – Marcela calou-se no desejo de acatar o pedido da pomba gira, feito antes.
Era noite de festa. Noivado de Aracele e Fernandes, onde Marcela vestia a pele da jovem e apaixonada Antônia, que intentava falar a sós com o homem que havia amado por tanto tempo. A cena do crime de Fernandes chocou Antônia que não teve tempo de impedir.
— Era Afonso? Meu Deus! Porque estou aqui senhora Padilha?
— Tome esse líquido, ele é saboroso e vai lhe ajudar sair dessa tristeza que lhe acometeu ao ver essas cenas, - falando isso Maria Padilha aceitou de uma moça que passava por ali, o suco da alegria. Marcela tomou e sentiu ligeiro e profundo bem estar naquele instante.
— Que refresco é esse? Do que é feito?
— Esse é o suco da alegria, vem de um fruto que tem em Aruanda e que aqui é energizado com o amor dos pretos velhos que comandam com firmeza e sabedoria essa colônia. Esse suco é utilizado na recuperação dos espíritos que chegam aqui imersos na culpa e na tristeza. Suas substâncias nos ajudam a ver com mais clareza os nossos enganos, pois ameniza a dor e a tristeza que sentimos nos abrindo novos olhares para o futuro.
— Tem um sabor maravilhoso e o fato é que combate mesmo a tristeza do momento, estou livre daquele sentimento que fui acometida logo depois das cenas vistas. Obrigada senhora Padilha.
— Não tem do que me agradecer. O agradecimento é para Deus e para os velhos que tanto nos amam. Mas, agora preste atenção no vou lhe falar Marcela, - e a jovem silenciou atenta a fala da nobre pomba gira, que sorveu mais um gole do líquido e continuou:
— Afonso intenta nova vendita sobre Ambrósio e Amália. O desejo dele é se aproximar de você e lhe fazer a corte, para que assim fique mais livre para agir, tirando dele o olhar arguto de Jussara, que sente o perigo se aproximar. Sei do seu desejo de casar, do seu medo de ficar sozinha, mas ouça não se engane. O coração lhe mostrará o seu amor de verdade e você já sabe qual é. Esteja atenta Marcela, a vida é muito mais do que o corpo. Esteja mais próxima de Maria Luísa e ela lhe conduzirá ao amor verdadeiro...
Marcela acordou. O nome da menina ainda reverberava em seus ouvidos, quando seu coração foi preenchido pela saudade e ela levantou-se. Depois do banho Marcela vestiu-se e seguiu para a sala onde o desjejum estava sendo servido.
Ao ouvir o soar da campainha, a negra que servia a casa de Fagundes foi atender e a voz de Luís Miguel encheu de alegria o coração de Marcela que parecia saltar do lugar.
— Bom dia. Peço perdão se estou atrapalhando Fagundes, - falou Luís Miguel estendendo a mão para o homem em cumprimento, — o fato de vim sem avisar não é do meu feitio, mas gostaria de lhe falar, como vai Marcela? – indagou o homem de olhar sereno e esverdeado tomando a mão da mulher e beijando carinhosamente, enquanto Maria Luísa se atirava nos braços dela sem esperar que o pai se afastasse.
— Oh minha amada que alegria ver você aqui, - disse Marcela cobrindo o rosto sorridente da menina de beijo, — venha comigo, tem um bolo de mandioca maravilhoso.
Luís Miguel seguiu com Fagundes para o escritório.
— Venho aqui para lhe pedir que cuide da minha contabilidade, Ambrósio me recomendou muito o seu serviço, estou atarantado com tanta coisa e a sua ajuda me será muito bem vinda, fale o valor de seus honorários.
— Fico agradecido senhor Luís Miguel, - disse Fagundes falando o valor de seu serviço.
— Bem... acertado isso, prefiro que me chama apenas de Luís Miguel, - ele riu, — agora desejo lhe pedir o consentimento para cortejar Marcela por quem meu coração se encheu de amor assim que meus olhos pousaram sobre ela. Quero que saiba do meu desejo de me casar com ela, se esse também for o desejo dela.
— Tem todo o meu consentimento Luís Miguel, e acredito que esse também é o desejo de Marcela, mas isso cabe a você descobrir. Confesso que me alegro muito.
Os dois homens deixaram o escritório e Luís Miguel tomou a mão de Marcela.
— Deseja dar um passeio comigo e Maria Luísa, Marcela?
— Será um prazer, com sua licença meu pai?
— Sim filha, vá.
Marcela seguiu ao lado de Luís Miguel que abriu a porta do carro e ela adentrou depois que viu Maria Luísa instalada confortavelmente. O homem seguiu até a frente da confeitaria, abriu a porta e Marcela desceu seguida de Maria Luísa que exalava alegria com o passeio ao lado do pai e da babá tão amada.
A jovem que ali servia veio e anotou os pedidos saindo para providenciar. Marcela sorriu beijando suavemente o rosto de Maria Luísa e falando da alegria que sentia de estar ali ao lado dela.
— Nós que estamos felizes por ter aceitado o convite, - disse Luís Miguel sorrindo e fazendo o coração de Marcela acelerar de maneira deliciosa.
As tortas e os refrescos foram trazidos e eles comeram. Terminado lanche foram passear pela cidade e Maria Luísa disse:
— Marcela porque você não vai almoçar lá em casa, não é papai, ela pode ir?!
— Sim filha, se for desejo de Marcela, afinal hoje é domingo e ela tem o dia de folga...
— Para mim será um prazer imenso, preciso apenas passar em casa e avisar meus pais, pode ser?
Marcela adentrou sua casa sentindo-se imensamente feliz. Avisou aos pais do convite recebido e seguiu para a fazenda. Justina sorriu ao ver a chegada de Luis Miguel ao lado de Marcela que havia lhe conquistado o carinho e o respeito durante aqueles dois meses que trabalhava ali na casa e que se desvelava em cuidados e amor a pequena Maria Luísa.
— Que bons ventos lhe trazem Marcela? – indagou a mulher abraçando-a com alegria.
— Oh Justina vim desfrutar do tempero da sua comida, mas se precisar de ajuda, por favor, não se envergonhe em me falar.
— Fique sossegada que já está quase tudo pronto, você está em casa, vou terminar o almoço, - falou Justina seguindo de volta para a cozinha chamando Maria Luísa que a seguiu curiosa para ver o que ela fazia de sobremesa.
— Vamos no sentar lá fora Marcela, pois que corre uma aragem boa, aqui está muito calor.
E ela o acompanhou. Sentou sobre a sombra de uma grande árvore ali no jardim onde o cheiro de rosas exalava. Marcela sentiu seu coração acelerar quando Luís Miguel tomou sua mão e disse:
— Marcela... eu não sou homem de rodeios, quero que saiba que sua estadia aqui fez da nossa casa e da nossa vida muito mais feliz... eu nutro por você algo que há muito tempo não sentia. E desejo saber se você tem algum sentimento por mim, mas caso não tenha...
E Marcela cobriu os lábios dele com a mão perfumada, impedindo que ele terminasse a frase e disse;
— Amo você desde primeiro dia que meus olhos pousaram sobre você Luís Miguel...
Luís Miguel tomou o rosto da mulher entre as mãos e a beijou sofregamente como se desejasse externar ali todo o sentimento que carregava.
— Então... casa comigo?!
— Sim meu amor, eu caso.
Maria Luísa chegava naquele instante e começou a gritar de alegria, assustando os dois que começaram a rir diante a euforia da pequena.
— Eu ouvi direito? Papai o senhor e Marcela vão se casar? Oh meu Deus que alegria para esse meu coração, - e colocou a mão sobre o coração indo se juntar no abraço que os dois a convidavam.
— Sim filha. Marcela e eu vamos nos casar, isso alegra o seu coração?
— Por demais da conta papai, agora vou ter uma nova mãezinha. Marcela... – e dirigiu o olhar para a mulher, — posso lhe chamar de mãe?
— Oh meu Deus, Maria Luísa, isso para mim é uma honra, serei a melhor mãe que eu puder.
Fim do capítulo
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