Capítulo 14 - É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã, é um belo horizonte, é uma febre terçã
Conforme previsto, uma hora depois, o serviço estava concluído. Manoel acabara de enxugar o chão e nós tínhamos acabado de jantar.
Quando Chico e Manoel saíram, já passava das 10h da noite.
Espirrei.
Foi quando me dei conta que eu ainda estava ensopada. Minha camiseta e o jeans estavam colados no meu corpo e meu cabelo estava completamente molhado.
Carol olhou para mim e disse:
- Tem roupa sua aí? Acho melhor você tirar isso antes que pegue uma gripe.
- Não precisa, já vou - anunciei.
Espirrei novamente.
- Lu, por favor! - falou, suplicante.
- Tá bom, tá bom, vou ver se tem alguma coisa lá em cima - concordei.
Achei um short e uma camiseta. Estava prestes a tirar o sutiã, quando Carol bateu na porta do quarto, que estava entreaberta.
- Oi - respondi, virando de costas para ela, instintivamente.
- Desculpa, eu não sabia que... - disse ela, desconcertada.
- Não, tudo bem - falei
Espirrei. Espirrei. Espirrei.
Ela se aproximou de mim e tocou minha testa.
- Lu, você tá com febre - sentenciou.
- Impressão sua - neguei, embora sentisse a garganta dar sinais de que as coisas não estavam bem.
- Olha, Lu, por que não dormimos essa noite aqui? É imprudente voltar pra casa a essa hora com você assim - propôs.
Eu já estava recostada na cama, sentindo os olhos pesarem.
- Certo - concordei, sem resistência.
Ela foi até o banheiro e voltou dizendo:
- Tem antitérmico dentro do prazo de validade aqui, vou pegar água pra você tomar - falou.
Eu já tinha colocado um pijama que encontrei no guarda-roupa.
Engoli o remédio e puxei o edredom até o pescoço. Ela sentou ao meu lado na cama e disse:
- Eu vou estar no quarto de hóspede, qualquer coisa é só chamar.
Antes de sair, ela me deu um beijo na testa e me entregou o controle remoto da TV, mostrando não ter esquecido que eu só dormia assistindo a alguma coisa.
Ela encostou a porta e eu liguei a TV. A essa altura, a garganta já incomodava bastante.
A dificuldade para engolir, provocada pelo inchaço das minhas amígdalas, fez com que eu percebesse que algumas coisas ainda estavam presas na minha garganta e precisavam ser digeridas.
Levantei e parei em frente à porta do quarto de hóspedes.
Respirei.
Bati.
- Oi Lu, entra - autorizou.
- Desculpa.
- Você está sentindo alguma coisa? - perguntou ela, tocando meu pescoço para sentir a temperatura. - Você tá bem quente ainda.
- A gente pode conversar? Prometo que não vou tomar muito seu tempo.
- Você não toma meu tempo, Lu - disse ela se ajeitando na cama e chegando para perto de mim.
- Carol, posso te perguntar uma coisa?
- Claro, meu bem.
- Quanto tempo você ficou com aquela mulher?
- Lu, a gente já teve essa conversa.
- Carol, já está sendo bem difícil falar sobre isso, então, teria como você somente responder? - pedi.
- Tá bom. Ficamos juntas por 3 semanas.
- O que ela tinha? - perguntei com vergonha e com medo de ouvir a resposta.
- Absolutamente nada. A questão não era ela e sim eu. Eu agi de forma irresponsável, covarde, como um bicho no cio - respondeu ela com algo que parecia sinceridade.
- O que você sentia ou sente por ela?
- Sentia atração, apenas. Depois daquelas 3 semanas, mais nada.
Tive vontade de dizer muitas coisas a ela, xingar, gritar, mas tudo em mim doía, sobretudo o coração.
Lembrei que já tínhamos passado dessa fase e que não valia a pena voltar. Então, segui em frente.
- O sex* era bom? - saiu sem querer.
- Lu, o que é que tá acontecendo? Por que isso?
- Responde, Carol.
- Foi bom, mas foi só sex*. Por pior que seja dizer isso, ela foi uma ferramenta para saciar uma necessidade, um desejo que, naquele momento, era puramente animal. Não havia amor, paixão, só o necessário para que aquele tipo de relação acontecesse, atração. - relatou ela, de forma bem convincente - Nós nos usamos.
- Vocês ainda se falam?
- Lu, desde aquele dia, falei com ela uma única vez pedindo que não me procurasse mais. E foi assim que foi feito.
- Obrigada. - disse, levantando da cama como se aquilo me custasse muita energia.
Ela percebeu o meu esforço e pulou da cama imediatamente para tocar minha testa.
- Lu, acho que essa febre não está baixando. O que você está sentindo?
- Muita dor no corpo e na garganta. Meus olhos estão ardendo e dói para respirar.
- Vou colocar o termômetro em você.
Ela me acompanhou até o quarto que um dia foi nosso e colocou o termômetro por baixo da blusa do meu pijama.
Três minutos depois, o bip do aparelho soou.
- 39,8 Lu! Vamos no hospital.
- Não vou, não. Quero deitar. Me dá um tempo para descansar, que vou melhorar.
- Você vai tomar um banho agora pra essa febre baixar! - disse, me puxando pelo braço.
- Carol, tô morrendo de frio. Deixa eu deitar, por favor.
- Lu, tira a roupa e entra no chuveiro ou então vamos para o hospital - disse ela.
Sem escolha, comecei a tirar a blusa.
Ela me ajudou a tirar a calça do pijama e ligou o chuveiro. Ficou do lado de fora do box, enquanto eu entrava na água.
Eu já tremia de frio, quando ela diminuiu a temperatura do chuveiro e a água gelada tocou meu corpo.
Foi impossível conter o grito e o choro.
Ela me abraçou me enrolando na toalha:
- Desculpa meu bem, desculpa, mas eu precisava fazer isso pra a febre baixar.
Eu não conseguia parar de chorar e minha garganta doía ainda mais. Queria botar ela pra fora dali, mas a dor dela parecia maior que a minha.
Ela me secou com a toalha e colocou minha roupa. Eu já estava aquecida, mas ainda soluçava quando ela me deitou na cama e me cobriu com dois edredons.
O termômetro apitou.
- 39. Parece que valeu o sofrimento. Vou pegar um copo d'água pra você tomar o antitérmico e já volto.
Eu tremia de frio, quando ela voltou com uma xícara de chocolate quente.
Nunca aprendi a operar aquela máquina de bebidas quentes em cápsula que ela havia insistido em comprar, embora eu adorasse o chocolate quente que saia dela.
A bebida me aqueceu por dentro e foi impossível não agradecer por ela estar comigo.
Ela sentou na cama, me deu o remédio, sorriu e perguntou:
- Ainda com raiva de mim?
Fiz que não com a cabeça, porque falar era um esforço sobre-humano naquele momento.
- Você quer que eu fique aqui ou volto para o meu quarto?
Tive vontade de dizer que o quarto dela era ali, mas não foi dessa vez que venci a queda de braço comigo mesma.
- Você pode ficar aqui?
- Claro.
Ela dormiu ao meu lado e acordou às 4h da manhã quando levantei para ir ao banheiro.
- Lu, como você está?
- Com muita dor.
Carol tocou na minha testa e disse:
- Coloca uma roupa que vou te levar no hospital.
Estava tão mole que resolvi nem tentar contrariá-la. Apenas obedeci.
Enquanto Carol preenchia minha ficha na emergência, eu larguei meu corpo numa das cadeiras da sala de espera.
Depois de passar pela triagem, ganhei uma pulseira amarela, que indicava que eu não estava bem, mas também não estava à beira da morte.
Quando o médico finalmente me chamou, Carol entrou comigo no consultório. Como eu não conseguia falar, ela acabou respondendo às perguntas do clínico geral, que depois de olhar minha garganta revelou:
- A garganta dela está bastante inflamada. Deve estar sentindo muita dor. A ausculta também revelou um chiado, então vou pedir um raio x do tórax e da face.
A essa altura, eles agiam como se eu fosse só um corpo, sem vontades. Não triangulavam o diálogo e tomavam decisões entre eles. Não lutei para ser incluída, preferi ficar de fora.
Voltamos do rx para o consultório e então veio o veredito:
- É bronquite.
- Bronquite? - assustou-se Carol.
Eu continuei sem reação, mas com frio, muito frio.
- Você é irmã dela? - perguntou o médico.
- Não, somos... é, bom, somos amigas - respondeu ela olhando pra mim confusa.
Foi estranho escutar ela falar isso.
- Preciso que ela fique em repouso absoluto. Vou passar um antibiótico para a bronquite, que vai servir também para a garganta e um spray para aliviar a dor.
- Dr., e a febre? Desde ontem que está alta e não cede.
- Você vai revezar os antitérmicos. Dê ibuprofeno, se depois de 3h a febre continuar subindo, você dá novalgina. É importante que a febre não suba.
- E a alimentação?
- Olha, do jeito que a garganta dela está, acho difícil que queira comer, mas ela precisa se alimentar. Tente coisas líquidas, suco, sopa, chá e pastosas, purê, frutas amassadas. Não deixe ela de estômago vazio, ok?
- Ela vai ficar bem? - perguntou angustiada.
- Se fizer tudo direitinho, em 72 horas a garganta deve estar melhor e em uma semana deve regredir. Mas ela precisa ficar de repouso ou a bronquite pode virar uma pneumonia.
- Pode deixar - garantiu ela.
Ela me ajudou a descer da maca, pegou as receitas, apertou a mão do médico e me tirou dali.
Eu dormi no banco do carona e só acordei quando Carol estacionou no prédio dela.
Não questionei, apenas entrei no apartamento, sentei no sofá e liguei a TV.
Carol foi até a cozinha e alguns minutos depois um cheiro de comida invadiu a sala. Em seguida, ela apareceu com um prato de purê e um copo de suco de laranja.
Tinha certeza de que eu não era capaz de engolir nada, mas travar uma luta com Carol, neste momento, seria entrar no ringue já derrotada. Elas estava determinada a cuidar de mim.
Me entreguei.
Peguei o prato e tentei. Cada garfada arrancava uma lágrima de mim. Carol me olhava com compaixão e dizia:
- Só mais um pouquinho, meu bem.
Até que ela não suportou mais o meu sofrimento e determinou:
- Acho que está bom. Foi um ótimo começo - disse, entregando-me o copo de suco.
O esforço parecia ter me enfraquecido ainda mais. Carol me levou até a cama e me cobriu com um grosso edredom. Depois ela voltou com dois comprimidos e me fez engolir ambos.
Definitivamente, o ser humano engole mais coisas do que pode ao longo da vida.
Dormi.
Fim do capítulo
Muitos acontecimentos, conversas e finalmente Luisa está colocando pra fora. Vocês acham que ela vai conseguir passar em cima do ocorrido?
Comentar este capítulo:
Jebsk
Em: 31/07/2018
A leitora NovaAqui tem meu apoio. Luisa tem que partir pra cima de Carol, uma coisa bem selvagem, sensual e suada. A garota está com muita coisa reprimida, tem é mais que se libertar.
bjs
Resposta do autor:
Vou ali passar um whatsApp pra Luísa dizendo que é sexo que voês querem e já volto. Não garanto nada, mas vou tentar!
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 31/07/2018
Concordo com a leitora Jebsk, mas também acho que essas duas precisam ter uma noite tórrida de amor, sexo com tudo que tem direito rsrsrs e espero que a iniciativa parta de Luisa kkkk
Vamos esquentar esse momento delas
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Quando te qiímica, não tem como segurar, mais cedo ou mais tarde, acaba acontecendo. E, uma coisa nós sabemos, nossas protagonistas têm muita química!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]