CapÃtulo 22 - Fogo
Capítulo 22 — Fogo
— Juliana, você tá assistindo a TV? — Everton ligou nas primeiras horas do sábado.
— É sábado, Everton, eu tô dormindo.
— Liga a TV, tá passando o telejornal.
Ainda acordando, Juliana fez o solicitado, tomou o controle no criado mudo e ligou a TV.
— Tá passando o Pica Pau, era isso?
— Não, muda de canal, coloca no Bom Dia Santa Catarina.
Uma repórter falava da frente do portão principal do complexo penitenciário de Florianópolis. Juliana aumentou o som e sentou na cama.
— Tá vendo?
— É uma rebelião?
— Sim, começou de madrugada, já olhei nos sites também, ainda não fala nada da casa do albergado.
— Tomara que não chegue lá, ou que Flávia tenha saído para trabalhar.
— Liga na pousada.
Sem responder, tomou o telefone fixo e ligou para o trabalho da namorada, Nick atendeu.
— Ela não veio ainda, Ju. — Já estava íntimo dela pela quantidade de visitas.
— Ela já deveria estar aí, não deveria?
— Sim, mas ela deve ter ficado presa, soube que está rolando uma confusão onde ela mora.
— Acho que é uma rebelião, você tem mais alguma informação?
— Só o que eu vi na internet, mas você deve ter visto também.
— Se ela chegar aí, você pede para ela me ligar? Eu estou meio apavorada aqui.
— Fique tranquila, ela deve estar bem, ela sabe se manter longe de confusão.
— Mas você pede?
— Peço sim.
Voltou à chamada com Everton.
— Ela não apareceu para trabalhar.
— Devem ter proibido todo mundo de sair, temos que esperar a rebelião terminar, ela deve estar no pavilhão dela esperando a poeira baixar.
— Eu vou pra lá. — Juliana disse e saltou da cama, indo para o banheiro.
— Fazer o que?
— Acompanhar pessoalmente, não tá passando mais nada na TV.
— Acho que não vão repassar informações, melhor acompanhar de casa.
— Everton, obrigada por me avisar, quando chegar lá te ligo, tá bom? Vou tomar um banho rapidinho aqui.
Já havia uma pequena multidão na entrada do complexo, quase fechavam a rua, os carros precisavam se desviar das pessoas. A maioria mães e esposas dos presos, havia algumas pessoas da imprensa também, fazia tempo que nenhuma rebelião chegava de fato a eclodir ali. Maurício ligou quando ela estava chegando, minutos depois ele também estava ali.
— Everton ficou de me manter atualizada, ele está monitorando a internet. — Juliana disse após abraçar o primo de Flávia.
— Ninguém veio aqui dar informações?
— Não, só alguns da imprensa passaram pelo primeiro portão, mas já voltaram.
— Esse lugar é enorme, só deve ter atingido um ou dois pavilhões masculinos, onde se concentram as facções.
— Essa é minha esperança, na TV disse que foi briga de facção que deu início ao conflito.
Juliana passou a manhã andando impaciente de um lado para o outro, sem nenhuma novidade, perto do meio-dia Everton ligou.
— Tenho duas notícias para você, acabei de ver no Jornal do Almoço.
— Diga logo, homem!
— A rebelião foi controlada, já terminou.
— Que bom! E a outra?
— Ela chegou na casa do albergado.
— Falaram isso na TV?
— Falaram sim, disseram que o fogo atingiu essa ala também.
— Oh céus... Tem notícia de feridos?
— Só disse que um prisioneiro morreu e outros ficaram feridos, mas não explicaram mais nada.
— Isso tá errado, não podem nos deixar sem informações sobre nossos entes queridos!
— Ninguém veio falar com vocês?
— Veio um cara e falou com os jornalistas no segundo portão, só eles entraram, não saíram ainda.
— Eu sinto muito, Juli, você vai ter que ter paciência de ter as informações aos poucos, é assim mesmo, não tratam os familiares dos presos como gente.
— É... Qualquer coisa você me liga, viu?
***
No pátio aberto do presídio feminino reuniram todas as presas, mesmo as do regime aberto e semiaberto. Estavam enfileiradas, sentadas no chão de concreto, apenas de sutiã e calça laranja, com os braços sobre os joelhos e cabeça baixa. Qualquer indício de desobediência era punido com cassetetes, não podiam falar nem erguer os olhos.
Flávia já havia levado um golpe de cassetete nas costas por tossir demais, havia inalado uma grande quantidade de fumaça quando os colchões em sua cela arderam em chamas. Estavam naquela posição desde as dez da manhã, e agora já passava das quatro da tarde. Além da tosse que não conseguia controlar, estava morrendo de sede.
“Espero que Juliana não esteja sabendo dessa rebelião, nem meus tios e Maurício.”
— Se você continuar tossindo assim vai tomar um pau daqueles. — Sua colega de cela murmurou.
— Acho que queimei minha garganta, eu preciso muito beber água, o que eu faço?
— Reza para isso aqui acabar logo.
Flávia criou coragem e ergueu a cabeça, depois a mão.
— O que foi? — Uma guarda veio ter com ela.
— Senhora, acho que queimei minhas vias aéreas, eu preciso muito de atendimento médico, estou com dor e falta de ar. — Disse num tom educado e amedrontado.
Esperava algum grito ou golpe com cassetete, mas a guarda falou com a mão na cintura.
— Você é a que não para de tossir, né? — Fez um gesto com a mão. — Isaías! Leva essa para a enfermaria!
O guarda a levou grosseiramente pelo braço até a enfermaria, que estava quase cheia.
— Pega essa aí, inalou fumaça. — Ele disse quando soltou, na frente de um enfermeiro.
— Na hora de tocar fogo nas coisas não estava com essa cara de coitada, não é? — Ele disse com asco. — Pode deixar comigo, Isaías.
O enfermeiro a conduziu até um leito vago e mandou que deitasse ali. Outro homem trocando de luvas deu uma olhada e perguntou.
— LI* também?
*Lesão Inalatória.
— Sim, mais uma LI para você cuidar.
— Cuida você.
— Eu não, meu plantão acabou.
— Então deixa essa vagabunda aí, se amanhã ainda estiver viva eu coloco no oxigênio. Se morrer é uma fábrica de bandido a menos no mundo.
Flávia ouvia a conversa transtornada, tocou o ombro dele.
— Senhor, me dê pelo menos um copo de água.
— Tem um bebedouro ali no final do pavilhão, vai lá e depois volta pro leito.
Ela fez como orientado, caminhou cabisbaixa até lá e bebeu vários copos de água, mas era como se sua garganta estivesse sempre seca. Retornou ao leito e cobriu-se com o lençol, estava esfriando à medida que a noite chegava, queria uma camisa ou um cobertor.
A noite chegou e ninguém veio examiná-la, a tosse continuava e agora sentia também falta de ar. Não conseguiu dormir, ouviu as reclamações de outras pessoas por conta da tosse, uma paciente gritou a ameaçando de morte caso não parasse de tossir.
***
— Já estão todos de volta às celas, não vão nos dar informações individuais. — Maurício constatava, passava das dez da noite.
— Se tivesse acontecido algo sério com ela já saberíamos, não é? Teriam ligado para você, que é o contato dela.
— Sim, ela não deve estar entre os feridos, acho que é hora de ir, Juliana.
A garota com ares cansados o fitou longamente, por fim o abraçou.
— Desculpe o desespero, nunca passei por nada parecido.
— Tenho certeza que Flávia também não. — Maurício brincou.
— Vem, te deixo em casa.
***
Quando finalmente cochilou no meio da manhã, um médico de estetoscópio dourado a acordou sacudindo seu ombro.
— Pode voltar para sua cela, moça.
Flávia acordou no susto, olhou ao redor tentando se localizar.
— Eu sou do aberto, senhor.
— Então volta para seu pavilhão.
— Tenho que ir para o trabalho, acho que estou atrasada. — Dizia entre tosses.
— Ninguém sai hoje, seu pavilhão está fechado também.
— O senhor pode me dar algo para a garganta? Acho que queimou um pouco por causa da fumaça.
— Beba bastante água, tem torneiras no seu pavilhão. — Disse e virou as costas.
Fim do capítulo
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Zaha
Em: 03/05/2018
Nem ses
Nem sei pra q fui ler antes de vc postar outro capítulo !
Estou frustrada pela forma como tratam as presidiárias! E ainda generalizam, como se todos tivessem participado,não dão assistência.Ainda que tovesse particopado deveria ter tido ajuda.Não é lixo hunano nao, tem direitos ,mas cagam nos direitos humanos...tenho sensibilidade c esse tema!!
Assim n podem ser reintegradas, saem pior q entraram, com raiva do mundo!
Vou correr a tudo q dá, transformar minha energia alterada por esse cap!
N sei como sobrevivi na outra estória ....kkk
Beijusss
Resposta do autor:
Talvez você se frustre no próximo capítulo também...
Esse problema carcerário é geral, e é ainda pior com as mulheres, o preconceito é em dobro, é horrível na vida real.
Bora correr! (vc corre aí que eu não corro aqui)
Mille
Em: 03/05/2018
Esse povo é muito ignorante não tem ética na profissão. Nada justifica esse tratamento com a pessoa. Juliana pode fazer um espetaculo para ver se consegue informação da Flávia.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Grande parte desse pessoal que trabalha em delegacias e presídios não tem tato ára lidar com mulheres presas, nem enxgergam como humanas, é bem triste...
Bjão!!
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Kim_vilhena
Em: 03/05/2018
É incrível como tratam os presos feito lixo.
Espero que nossa flávia fique bem e não aconteça nada grave a ela :(
Resposta do autor:
Pior que tratam mesmo, e tratam ainda pior as mulheres, coloquei só um pouquinho da realidade...
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Sem cadastro
Em: 03/05/2018
Nem ses
Nem sei pra q fui ler antes de vc postar outro capítulo !
Estou frustrada pela forma como tratam as presidiárias! E ainda generalizam, como se todos tivessem participado,não dão assistência.Ainda que tovesse particopado deveria ter tido ajuda.Não é lixo hunano nao, tem direitos ,mas cagam nos direitos humanos...tenho sensibilidade c esse tema!!
Assim n podem ser reintegradas, saem pior q entraram, com raiva do mundo!
Vou correr a tudo q dá, transformar minha energia alterada por esse cap!
N sei como sobrevivi na outra estória ....kkk
Beijusss
Resposta do autor:
Talvez você se frustre no próximo capítulo também...
Esse problema carcerário é geral, e é ainda pior com as mulheres, o preconceito é em dobro, é horrível na vida real.
Bora correr! (vc corre aí que eu não corro aqui)
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DriiH Rossi
Em: 03/05/2018
Agora pegar no pé da Juliana! ;)
Resposta do autor:
Ela tá sofrendo por tabela... hehe
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lusilenesetubal
Em: 02/05/2018
nossa coitada da Flávia que povo sem coração
tomara que ela saia logo pra ficar junto de sua amada e viver felizes.
Resposta do autor:
Sair ela até vai, mas em quais condições...
Bjão e bom findi, Lusilene!
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