CapÃtulo 58
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 58
Pedro e Jorge iniciaram uma desenfreada corrida pelo quintal do casarão deixando um visível rastro no meio das folhas secas do jardim. Vez em quando olhavam para trás pra ver se alguém os seguia.
Próximo dali, Débora pegava a arma na bolsa e conferia se a mesma estava carregada, depois a guardou atrás de seu corpo, entre o cós da calça e a blusa.
-- Não sou mulher de ficar de braços cruzados. Eu quero mais é ir a luta.
Assim que saiu do carro, ela ouviu passos rápidos vindo em sua direção. Imediatamente ficou tensa, pressentindo que teria que agir bem mais cedo do que imaginara. Escondeu-se atrás do carro e esperou que eles se aproximassem. Estava muito escuro, daquela posição teve dificuldades de focá-los, por isso aguardou até que estivessem a apenas alguns metros de distância. Um rosto muito conhecido apareceu no seu campo de visão, e ela não titubeou. Segurou a arma com as duas mãos, saiu de seu esconderijo e apontou para o alvo.
-- Parados aí! -- berrou a morena -- Aonde pensam que vão?
Yasmin saiu pela porta do quarto chamando o nome de Daniela. Ela tinha ouvido alguns tiros e apesar de Bianca ter tentado tranquilizá-la, sabia que algo de muito ruim havia acontecido. Seu coração dizia isso, ele nunca se enganava.
Assim que chegou à sala olhou para Daniela caída no chão, a camiseta estava colada ao corpo ensopado de sangue. Yasmin soltou um grito, violento e desesperado. Correu para o lado dela e se ajoelhou.
-- Dani...Dani... Meu amor -- Yasmin estava em pânico.
Bianca aproximou-se e também se ajoelhou junto a ela.
-- Anita apareceu do nada e começou a atirar para todos os lados -- disse com os olhos cheios de lágrimas -- Fomos pegos de surpresa.
-- O que aconteceu? -- Gaule entrou na casa com a arma em punho -- Vocês viram quem fez isto? -- ele perguntou, olhando atento para todos os lados.
-- Houve um tiroteio e a Dani foi atingida -- respondeu Vagner -- Eu levei um tiro no ombro, mas estou bem -- o piloto caminhou com dificuldade até o sofá e se sentou mantendo o braço imóvel junto ao corpo.
O detetive se aproximou para examinar o estado de Daniela. A bala tinha entrado, mas não tinha atravessado, o que significava que ainda estava lá. Levou a mão à ferida e apertou com força para estancar o sangue.
-- Traga-me alguns panos -- pediu Gaule a Bianca -- Temos que conter o sangramento -- o sangue de Daniela escorria e formava uma poça no chão.
Bianca imediatamente saiu correndo a procura de algo que servisse como compressa.
Daniela debateu-se por algum tempo, antes de abrir os olhos. O corpo estava molhado de suor sob a camiseta manchada de sangue.
-- Meu amor -- Yasmin abraçou-a, querendo confortá-la. Seus olhos verdes estavam cheios de tristeza e medo -- A ambulância já está chegando, quero que aguente só mais um pouquinho.
-- Desculpa... -- o esforço para falar causava muita tosse em Daniela. Ela olhou para Yasmin e precisou piscar várias vezes para conseguir focar a visão -- Eu demorei...
Yasmin passou as mãos pelos cabelos dourados de Daniela, num gesto de carinho.
-- Você não demorou, meu amor. Estamos todos bem por causa da sua coragem e da sua força -- Yasmin declarou, já incapaz de esconder as lágrimas -- Não posso te perder Dani! Nós precisamos de você pra viver, meu amor.
-- Os... Gatinhos... -- sussurrou com dificuldade. Sua boca tinha gosto de sangue e ela sentia uma dor insuportável no corpo.
-- Eles estão bem, amor. Fica tranquila.
Daniela tentava tomar ar para falar, mas sua visão começou a se embaçar novamente, sentia que a vida se esvaia. Não queria morrer, não agora. Sentiu dor, medo, desespero e uma vontade enorme de continuar a viver. Precisava sobreviver, queria curtir os seus anjinhos, queria cuidar deles e de Yasmin, vê-los crescer felizes e seguros, custasse o que custasse.
Sentiu que duas mãos fortes pressionavam um pano sobre o ferimento tentando conter o sangramento. Estava difícil respirar e a dor era intensa.
-- Dani! -- Yasmin gritou. A bela loira em seus braços parecia partir, a sua respiração tornou-se mais lenta. Ela estava desistido.
Sem conseguir respirar, não ouvia mais os gritos de Yasmin, nem sentia o seu cheiro gostoso. E involuntariamente se viu tomada por uma sensação de derrota.
-- O médico está demorando muito -- Bianca lutava contra o impulso de sacudir a amiga, gritar para que ela não desistisse, para que ela não os deixasse -- O que eu vou fazer sem você, sua loira chata?
-- Ela não vai morrer, ela não vai morrer -- as mão de Yasmin tremiam enquanto ela acariciava o rosto pálido de Daniela.
-- Bianca, continue a pressionar o ferimento. Débora ficou no carro. Vou verificar se está tudo bem com ela.
Bianca respirou pesadamente para se acalmar, pois desesperar-se não ajudaria em nada.
Débora permaneceu por um longo momento, olhando para as feições tão conhecidas daqueles homens. Suas pernas amoleceram e o estômago se contraiu. Pensamentos invadiram sua mente de antigas lembranças, e de repente sentiu uma grande tristeza.
Engoliu a saliva pesadamente que mais parecia uma pedra que passou pela garganta. Não era a primeira vez que experimentava aquela estranha sensação de terror, aquele tremor nas pernas e um ódio inexplicável, que a deixou completamente fora de si.
Os sentimentos que tinha reprimido durante tanto tempo vieram à tona e se apoderaram dela. Imagens que tinha se recusado terminantemente a recordar estavam agora claras em sua mente como um filme de terror: o carro sendo alvejado, capotando e explodindo com Luiz dentro dele.
Flashback
Luiz dirigia com cuidado pela avenida em direção ao centro. Olhava para Lara com os olhos brilhantes de quem estava perdidamente apaixonado.
-- Você é a mulher mais linda que conheci até hoje.
-- Obrigada! Apesar de achar um grande exagero, fico muito lisonjeada.
-- Não é exagero... -- Luiz olhou pelo retrovisor e avistou um carro suspeito atrás deles -- Tem um carro seguindo a gente.
Lara olhou para trás assustada.
-- Acelera Luiz. Eles estão atrás de nós -- pediu sem deixar de olhar para o carro misterioso.
Luiz olhou pelo retrovisor.
-- Merd*! -- pisou mais fundo no acelerador.
-- Eles estão do nosso lado -- Lara berrou desesperada. Ela olhou para ele, jamais esqueceria aqueles olhos frios e cruéis.
Assim que o carro emparelhou, um dos ocupantes colocou o tronco para fora do carro e atirou contra eles.
-- Abaixe-se... -- berrou Luiz para Lara.
Um dos tiros acertou o para-brisa, fazendo com que cacos de vidros caíssem sobre eles.
Mais tiros foram disparados. Era impossível contar quantas balas os atingiam em questão de segundos. Lara se encolheu no banco cobrindo a cabeça com os braços. Chorava, gritava. O silvo de um tiro passou próximo a ela, acertando Luiz no pescoço.
O veículo ficou desgovernado, atravessou a pista e girou várias vezes no ar, fazendo com que Lara fosse arremessada para fora do automóvel.
Ela ainda conseguiu levantar a cabeça e assistir o carro explodir em altas chamas, iluminando a noite com uma luz da cor laranja.
-- Agora eu me lembro... Foram vocês que mataram Luiz Carlos -- naquele momento todas as lembranças relacionadas ao acidente que matou o primogênito dos Vargas, voltaram à sua mente.
Pedro olhou para a mulher a sua frente e precisou piscar várias vezes até conseguir reconhecê-la em meio a escuridão.
-- Débora?
-- Seu desgraçado. Ele era seu irmão, tinha a vida inteira pela frente e você a roubou causando aquele acidente de carro.
-- Não, não! Você está enganada. Não fomos nós. Guarda essa arma, Débora.
-- Essa cara de coitadinho não me convence, Pedro. Você não faz ideia da felicidade que sinto em ser eu a última pessoa que você vai ver antes de ir para o inferno.
-- Pois você não faz ideia da felicidade que senti em ser eu a última pessoa a ver a sua irmã viva -- Pedro falou com os olhos faiscando como os de um demônio.
Débora se sentiu desfalecer. Ele declarou com uma certeza assustadora. Será que ele estava blefando? Daniela estava bem, ela tinha que estar bem.
-- Você está mentindo -- disse, desconfiada.
-- Olha bem para a minha cara. Acha mesmo que estou mentindo? -- Pedro se dirigiu a ela com aquela expressão debochada e arrogante que Débora odiava -- Sua irmãzinha está morta. Ela morreu da mesma forma que o seu querido pai morreu. Que dó né? Acho que o destino dos Pauly é morrer pelas mãos dos Vargas.
Desesperada, Débora lançou um olhar de ódio na direção dele. As mãos começaram a tremer enquanto mirava o cano da arma para o peito de Pedro.
-- Adeus Pedro... -- impulsionada pela revolta e amargura, mirou e puxou o gatilho. O coice a jogou para trás, fazendo-a perder o equilíbrio.
Com inesperada rapidez e agilidade, Jorge correu para tentar tirar a arma das mãos dela, mas uma série de balas certeiras penet*aram na sua carne e ele desabou soltando apenas um gemid* abafado.
Gaule agachou-se ao lado do corpo de Jorge e verificou a pulsação.
-- Esse já era -- o detetive foi até o corpo de Pedro e constatou que ele também estava morto -- Eu realmente espero que exista um inferno... É muito bom saber que esse tipo de gente ainda vai ser punida pelo que fez de maldade nesta vida.
Débora estava paralisada e de boca aberta, apavorada, segurando a arma de maneira trêmula.
-- Eu matei uma pessoa -- ela disse chocada -- Isto não está acontecendo. Isto não pode estar acontecendo comigo.
-- Me dê essa arma, deixe que eu cuido disso.
Débora entregou-lhe a arma num gesto automático. A voz do detetive soava distante, como se ele falasse com ela de muito longe.
O som das sirenes de carros da polícia e de uma ambulância era a única coisa que ela conseguia ouvir nitidamente, ergueu a cabeça e olhou ao redor com a visão embaçada pelas lágrimas.
-- A Dani... -- Débora engoliu em seco, tentando se controlar, mas, ainda assim, sua voz saiu embargada -- É verdade o que o Pedro falou?
Gaule enfiou a arma no cós da calça e olhou-a nos olhos. Seu rosto assumiu uma expressão de desanimo e preferiu nada falar. Em um gesto simples de conforto ele tocou o ombro dela e sorriu com carinho.
-- Vamos entrar.
Hoje meu beijão vai para a minha querida leitora Mille.
O sucesso é daqueles que batalham, e com toda certeza você é um dos merecedores desse sucesso. Parabéns pela formatura!
Muita luz em sua caminhada.
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Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 10/12/2017
Oi Vandinha
Nossa você está nos deixando aflita, bora fazer a Dani ficar boa logo, para a felicidade ser completa.
Pedro teve o que mereceu queria que ele pagasse em vida mais lá em cima a lei não será injusta e ele irá pagar pelas maldade que cometeu.
Muito obrigada Vandinha.
Bjus e até o próximo capítulo
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