CapÃtulo 56
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 56
Daniela olhava fixamente para o aparelho em sua mão. Buscava entender o que Yasmin queria dizer com aquela frase incompleta.
"Pedro decidiu fugir...
Durante um instante os três analisaram a mensagem enviada por Yasmin.
-- Deve ter acabado a bateria -- concluiu Daniela, com tristeza.
-- Acho que o Pedro desistiu de fugir para o Paraguai -- deduziu Bianca -- Ele vai fugir para outro país.
-- Talvez ele tenha decidido fugir sozinho -- disse Vagner.
-- Tudo isso é irrelevante. Tomara que vocês estejam certos em suas deduções -- Daniela voltou a caminhar com pressa -- Porém, estou com um pressentimento ruim -- olhou para o relógio: eram quase duas da manhã -- Falta muito, Wagner? -- perguntou com uma voz angustiada.
-- Muito perto. Olha, já dá para avistar as luzes da casa -- o piloto apontou em direção a um imenso casarão isolado do resto do mundo -- Já estamos entrando na propriedade.
-- Ótimo, a partir de agora temos que ser mais cautelosos. É provável que tenha algum capanga vigiando a casa -- alguma coisa a estava importunando, mas ela não conseguia descobrir porque se sentia dessa forma -- Por favor, tomem cuidado.
Aquilo era muito mais que um casarão abandonado no meio do nada. Parecia um mausoléu, coisa de filme de terror.
Durante um bom tempo estiveram estudando o lugar para que pudessem invadir sem serem descobertos. Finalmente, Daniela anunciou:
-- Primeiro vamos tentar descobrir quantos homens estão com ele, depois vamos preparar uma estratégia.
Gaule girou o seu copo entre os dedos, nervosamente. A madrugada havia chegado enluarada e quente. Porém, sem novidades. O detetive estava sem saber qual o rumo tomar dali para frente e esse fato o deixava extremamente preocupado.
Ele e Débora tinham parado em um posto de gasolina próximo a cidade de Guaíra. Aproveitaram para beber um café e ir ao banheiro.
Gaule deu um pulo da cadeira e chegou a levar a mão até a arma que estava na cintura quando Débora saiu berrando do banheiro:
-- Temos que correr -- disse afobada -- Daniela acabou de me mandar uma mensagem informando a localização do cativeiro.
O detetive jogou uma nota de dez reais sobre a mesa e apressou-se em se levantar da cadeira.
-- Então vamos. No caminho me dê todos os detalhes -- pediu o detetive -- Eita que essa sua irmã é uma peste! Como ela conseguiu chegar antes de nós?
-- Daniela é mansinha como uma gatinha, mas quando mexem com aqueles que ela ama... A maninha vira uma leoa.
Daniela ficou na ponta dos pés, esticou o pescoço e olhou pela janela de vidro. O silêncio provocava arrepios em sua espinha. Estava tão tensa que chegava a sentir náuseas. Ela respirou fundo, ajeitou o corpo e voltou-se para os dois amigos.
-- Na sala tem apenas dois homens -- sussurrou -- Será que tem mais por aí?
-- Aqui fora não tem mais ninguém -- disse Vagner -- Dei uma boa olhada por tudo.
-- Concordo com ele, Dani. Acho que são apenas esses dois.
-- Menos mal -- Daniela deu alguns passos adiante para ver se encontrava alguma janela destravada, ou que, pelo menos, não fosse tão difícil de arrombá-la.
-- A casa é antiga, provavelmente a madeira das janelas já estão apodrecidas ou as trancas enferrujadas. Deixe-me tentar -- pediu Vagner.
O piloto forçou a Janela com uma das mãos e conseguiu abri-la.
-- Não fiquem pensando que sou assim tão forte -- ele riu com gosto -- Mais um pouco e a janela inteira caía de tão podre que está.
-- Que lugar medonho esse cara escolheu para aprisionar os nossos lindinhos -- Bianca comentou, irritada -- O Pedro tem que apodrecer na cadeia. Espero que ele receba a sentença que merece pelos crimes que cometeu.
-- Ele vai, Bianca. Pode ter certeza que ele vai -- Daniela afirmou, convicta.
Vagner ergueu o olhar para dentro do cômodo deserto e sujo e imaginou o que encontrariam no restante da casa.
-- Esse casarão deve ter dezenas de quartos e salas.
-- Essas construções antigas de pedra me causam arrepios, sem luz e com sons estranhos, até parece mal assombrada.
-- Deixa de ser covarde, Bianca. O único ser que pode nos causar mal, é o Pedro -- Daniela deu um pequeno impulso e pulou para dentro -- Venham -- fez um gesto com a mão -- Todo cuidado é pouco! O piso está perigoso, cheio de buracos e desníveis.
Com passos vacilantes, Daniela atravessou o quarto em direção à porta.
-- Silêncio -- pediu para os amigos. Abriu a porta e seguiu pé por pé até o fim do corredor. Um som vindo do cômodo vizinho fez com que a loira voltasse a cabeça assustada. Ouviu vozes que reconheceu serem de Pedro.
-- É ele, tenho certeza -- sussurrou.
-- Vamos agir logo, Dani -- disse Vagner, impaciente.
Bianca empalideceu ao ver o que Vagner carregava na mão.
-- O que é isso?
-- Como assim, o que é isso? É uma arma. Precisamos dela para nos defender.
-- Sou contra armas -- disse Bianca, virando-se para o piloto -- "Enquanto houver armas, haverá assassinos!"
-- Bom saber, da próxima vez trago uma flor -- Vagner balançou a cabeça.
-- Será que vocês podem deixar para discutir esse assunto em um outro momento? -- indagou Daniela, irritada.
Neste momento, ouviram passos. Imediatamente deixaram o corredor e se esconderam dentro de um dos vários quartos do lugar.
-- Caramba! Essa foi por pouco -- Bianca respirou fundo e soltou o ar bem devagar -- Era o Pedro, eu vi claramente.
-- Tem certeza, Bianca?-- Daniela perguntou, sentindo o coração bater forte no peito.
-- Absoluta. Reconheceria aquele cabelinho lambido a quilômetros de distância.
-- Essa é a oportunidade que esperávamos -- Daniela franziu a testa e olhou para o corredor. Naquele instante todos os seus pensamentos estavam concentrados em Yasmin, os gêmeos e no perigo que eles estavam correndo -- Vamos pegá-lo de surpresa. Por favor, Vagner, use a arma apenas em último caso -- pediu Daniela, tensa. Não queria machucar Pedro, mas, ao mesmo tempo, sabia que aquela situação não terminaria sem que alguém saísse ferido.
-- Vamos esperar ele sair do quarto e pegamos o maldito de jeito -- sussurrou Vagner com a voz rouca, engatilhando a arma.
-- É o que faremos -- concordou Daniela, ainda olhando na direção do corredor -- E que Deus nos ajude.
Daniela tinha consciência de que nunca foi muito religiosa, mas agradecia a Deus todos os dias por agora ter Yasmin e os gêmeos em sua vida. Era irresponsável, infantil e totalmente desligada. Sabia que era birrenta e teimosa e que se achava a pessoa mais forte, poderosa e inteligente do mundo. Ela era pecadora, tinha consciência dos seus pecados, mas como poderia ser diferente se o cara lá de cima nunca os socorreu?
Perguntava-se porque Deus foi tão injusto com toda a sua família. Por que ele permitiu que os capangas dos Vargas invadissem a sua casa, matando seu pai e colocando fogo em tudo. Foram tantos anos de agonia, perseguição, opressão e muito medo. Onde estava Deus que não impediu o sofrimento de seu povo humilde? Por que nos fez ver tanta maldade? Por que tolerou as injustiças? E como se não bastasse o passado sangrento e de vitórias do mal contra o bem, o presente não parecia ser diferente. Quando o bem se sobressairá ao mal? Vivia em busca de respostas, mas nunca as encontrou.
Pedro caminhou até perto do berço, sentou-se na beirada da cama e ali ficou perdido em pensamentos. Olhou a sua volta e depois para os bebês.
Yasmin o observava de longe. Ele mantinha os olhos fixos nos gêmeos. Aquilo a deixava nervosa.
-- Pedro -- Yasmin puxou conversa -- Deixe-me ir embora com os bebês, não falarei para ninguém que foi você que nos sequestrou. Eu ficarei calada, não vou entregá-lo a polícia. Eu juro.
Porém, Pedro não acreditou. Ele a olhou de lado e balançou a cabeça.
-- Você é esperta, Yasmin, mas eu sou muito mais que você. Não há testemunhas, ninguém faz ideia de onde estamos. Foi muito fácil trazê-la para cá.
-- Nessa hora Daniela já deve ter colocado toda a polícia de São Paulo atrás de nós. Eles encontrarão alguma pista, você não perde por esperar -- ela desabafou.
Pedro sabia que a polícia os procurava, Daniela faria de tudo para tê-los de volta, o mais breve possível.
-- Quero saber porquê você está fazendo isso? É por vingança? -- ela perguntou, brava.
-- Não é por vingança, Yasmin. É por amor -- Pedro parecia fora de si, agindo como um louco -- Sabe que se eu quisesse fazer algum mal a vocês, não os teria trazido até aqui.
-- Se você realmente nos ama, então, nos deixe ir embora -- Ela começou a chorar com desespero. Pedro se aproximou e tentou abraçá-la, porém Yasmin o empurrou e o encarou -- Por Deus, Pedro. Nos deixe ir.
-- Infelizmente, não posso te libertar. Não tem mais volta, bela. Fique tranquila, não há o que temer. Iremos para o México, comprarei uma casinha simples para morarmos e criaremos os nossos filhos em paz. Seremos felizes, Yasmin, muito felizes.
Depois de piscar várias vezes, incrédula, Yasmin encarou a realidade: Pedro estava louco. O terror era evidente em seus olhos e, incapaz de mover-se, ela apenas chorou.
-- Agora vou preparar as coisas, procure se alimentar, a viagem será longa.
Ele saiu do quarto e a deixou sozinha, novamente.
https://www.facebook.com/VANDINHACONTOLGBT/
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 01/12/2017
Bom dia Vandinha
A Dani tem que ter muito cuidado em tirar a Yasmin e as crianças longe do Pedro, aí sim poderá agir já que o cara está mui louco.
E talvez seja o tempo que o Caule chegue, mais estou achando que o Pedro não vai sair de lá vivo.
Bjus e até o próximo capítulo
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]