CapÃtulo 54
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 54
Débora estava abrindo a porta do apartamento de Yasmin quando alguém tocou-lhe os ombros. Ela assustou-se e jogou a cabeça para trás, tensa e nervosa.
-- Calma garota! -- disse a senhora Marinez, rindo. Sua risada soou mais como um gemid* debochado.
-- A senhora quase me matou de susto -- Débora colocou a palma da mão sobre o peito e respirou fundo -- O deseja?
A idosa ergueu os olhos para o teto com um sorriso de desdém.
-- Yasmin está traindo a sua irmã -- disse cheia de maldade.
-- O que? Está maluca? -- Débora não deu a menor importância para ela, virou as costas e entrou no apartamento. Sabia que, para Yasmin, Daniela era tudo; a única mulher do mundo: bela, meiga, sincera. A irmã a amava da mesma forma e as duas viviam um amor verdadeiro, que não apareceu do nada e sim, foi construído dia após dia.
-- Você não acredita é? -- a mulher a seguiu -- Pois eu a vi de chamego com um homem lá no parque.
A insistência da senhora Marinez irritou a morena.
-- Fique sabendo que Yasmin é uma mulher corretíssima. Ela jamais faria isso com a Dani. Principalmente agora com os gêmeos. Nem adianta vir com fofocas -- Débora a encarou por um instante com a testa franzida, e em seguida olhou em direção ao corredor. O silêncio dentro do apartamento era anormal. Soube na mesma hora que algo havia acontecido -- Ela saiu para passear com os bebês no parque. Já eram seis e trinta. Yasmin não ficaria até essa hora na rua com eles -- disse Débora, com um nó na garganta. Ela olhou para trás e notou, com certo alívio, que a senhora Martinez continuava parada no meio da sala.
Débora puxou-a e a fez sentar-se ao seu lado no sofá. Tomou-lhe as mãos envelhecidas entre as suas num aperto caloroso.
-- Dona Marinez, preciso que a senhora me conte tudo o que sabe. É muito importante. A senhora me entende? -- cravou os olhos nela, que apesar de atenta não esboçava preocupação.
-- Claro que entendo, não sou burra -- disse a idosa, ranzinza.
-- Lógico que não é -- Débora fez um trejeito com a boca -- O que quero dizer, é que a senhora pode ser a única testemunha de um sequestro.
-- Sequestro? Testemunha, euuuu...? -- a idosa ficou maravilhada com a ideia de testemunhar diante de um delegado -- Eu sei de tudo... as roupas que ele estava usando, a placa do Corolla preto, tudo, tudo.
Marinez Soares era uma mulher rica porém, solitária. Cheia de receios, momentos de baixa autoestima e inveja dentro de si, ela dedicava seus dias a cuidar da vida alheia sempre com a intenção de denigrir a imagem do outro. Talvez, Marinez Soares, cuidava da vida alheia pra compensar as frustrações de sua própria vida. Pensou Débora em sua curta avaliação da idosa.
-- Então me conte tudo, senhora Marinez. Qualquer detalhe, mesmo aqueles que pareçam significante.
A senhora assentiu com um gesto de cabeça e começou a narrar para Débora tudo o que viu.
Aborrecida e preocupada, Anita andava de um cômodo a outro da casa. Nunca foi a favor daquele casamento, sabia que Yasmin seria a desgraça do filho e não se conformava com a situação. Estava cansada de dar ouvidos às loucuras de Pedro. Ele tinha que fugir, isso era fato. Não podia mais continuar no Brasil, o cerco havia se fechado e em breve toda a polícia de São Paulo estaria a sua procura.
-- Você vai fugir Pedro, mas Yasmin vai ficar -- abriu a gaveta da cômoda e pegou o revólver que pertencia a Luiz Carlos -- Uma mãe se sacrifica pelo filho, muitas vezes sem amor, mas se sacrifica. Posso até ser pega pela polícia, mas não ficarei sequer um dia na cadeia -- tocou o sino com impaciência e imediatamente o mordomo entrou na sala.
-- O que deseja, senhora? -- perguntou-lhe o mordomo.
-- Diga para o motorista preparar o carro. Vamos sair agora mesmo.
Daniela e Bianca saíram correndo do táxi e entraram apressadas em um dos elevadores. Daniela apertou o botão que correspondia ao seu andar e as portas se fecharam suavemente.
-- Vamos, vamos -- Daniela esfregava as mãos nervosamente -- que droga!
-- Calma Dani, ficar assim não vai ajudar em nada -- Bianca recomendou.
Poucos segundos depois, a porta do elevador se abriu e elas caminharam até o apartamento da senhora Martinez.
-- Espero que ela esteja em casa -- Daniela apertou a campainha e continuou apertando até que a idosa atendesse.
-- Ei, sou idosa mas não sou surda -- reclamou a senhora.
Daniela não esperou convite. Entrou como um furacão no apartamento de Marinez.
-- Conte-me tudo o que viu, bru... senhora Martinez -- Daniela pediu, buscando, recuperar a respiração.
-- Não sei se quero repetir essa história mais uma vez, já estou cansada de falar e com muito sono -- então ela se virou e foi sentar no sofá.
-- Como assim? -- Daniela foi atrás dela -- Vai falar e ponto final!
-- Não vou falar! -- embirrou.
-- Vou lhe encher de pancadas! -- ameaçou Daniela.
-- Dani, chega! -- Bianca puxou-a pelo braço -- A senhora Martinez não quer falar. Então, deixa ela. Encontraremos outra pessoa disposta a falar. Aquele parque é sempre cheio de pessoas se exercitando -- Bianca piscou para ela -- Vamos!
Martinez deu um pulo do sofá.
-- Já descansei o suficiente, já posso falar -- deu um sorriso amarelo e acrescentou: -- Eu sou a testemunha titular.
Mostrando-se impaciente, Daniela revirou os olhos azuis.
-- A senhora disse que estava cansada de tanto contar a mesma história, para quem mais contou?
-- Para a sua irmã -- respondeu a senhora Martinez imediatamente.
-- Débora está no meu apartamento? -- perguntou surpresa. Caminhou até Martinez, e colocou as duas mãos nos bolsos.
-- No momento não. Ela saiu daqui as pressas, disse que ia procurar um tal de Caule.
-- Gaule -- corrigiu Bianca.
-- Foi o que eu disse.
Daniela caminhou pensativa pela sala, depois sentou no sofá e fez um gesto com a cabeça para que a senhora Martinez também sentasse.
-- Pode começar a falar, dona testemunha titular. Conte tudo o que sabe, ou acha que sabe -- pediu Daniela.
A senhora Martinez rapidamente relatou a história a Daniela. A loira precisou respirar profundamente várias vezes para acalmar os nervos, e do começo ao fim do relato, chorou de desespero.
O detetive Gaule dirigia em alta velocidade pela rodovia Régis Bittencourt em direção ao estado do Paraná.
-- Tem certeza que ele está indo nesse sentido? -- perguntou Débora, encolhida no banco da frente do carro de Gaule.
-- Eles pararam em um posto de combustível em Taboão da Serra.
-- Por que não montam um bloqueio na estrada? Sei lá, qualquer coisa que o impeça de prosseguir com o sequestro -- disse Débora, indignada.
-- Não podemos arriscar a vida dos reféns. Pedro está desatinado, ele é capaz de qualquer coisa. Entenda, ele não tem mais nada a perder -- Gaule não desviava os olhos da estrada -- Vamos cercá-lo e negociar com ele a vida dos reféns -- o detetive ficou em silêncio, concentrando toda a sua atenção na estrada.
-- E agora, Dani? O que pretende fazer? -- perguntou Bianca, após ouvir atentamente as informações da senhora Marinez.
-- Primeiro temos que ter um plano. E para ter sucesso, um plano precisa ser arquitetado de maneira meticulosa e calculista. Caso o contrário, torna-se uma faca de dois gumes.
-- Poxa, Dani. Falou pouco, mas falou bonito.
-- Tirei de um filme... -- um som baixo chamou sua atenção e ela olhou para o celular, vendo o símbolo de mensagem piscar -- Mensagem da Débora! -- seu coração disparou.
-- Rápido, lê o que está escrito.
"Estou com o detetive Gaule na Régis Bittencourt em direção ao estado do Paraná".
-- Estado do Paraná? -- Daniela tremia de tão nervosa -- O que ele pretende indo para o Paraná?
-- Atravessar a fronteira de carro! -- falaram juntas.
-- Plano, plano, plano. Preciso de um plano -- Daniela caminhava em circulos pela sala -- Como não pensei nisso antes? -- disse eufórica, parando diante da amiga -- A Yasmin tem o Bruno Espião no celular.
-- O que é isso? -- perguntou Bianca, com enorme curiosidade.
-- "O Bruno Espião é uma aplicação fantasma, que permite localizar pessoas pelo telefone celular. O Bruno Espião regista as atividades do aparelho e em pequenos pacotes, envia a informação para um painel de controle onde você pode ver através do uso da Internet em qualquer computador, insere seus dados de usuário e sua senha e têm acesso às chamadas, SMS, localização, agenda e fotos do celular smartphone ou tablet".
-- Será que ela está com o celular?
-- Ela nunca sai sem o celular, e mesmo que o Pedro tenha tomado dela, o simples fato de receber uma chamada, vai denunciar a localização deles.
-- Então liga -- pediu Bianca.
-- Agora não.
-- Por que não? -- Bianca não entendeu.
-- Primeiro vamos providenciar um helicóptero e sobrevoar a Régis Bittencourt. Se ligarmos agora, Pedro pode jogar o aparelho fora, ou até mesmo destruí-lo. Prefiro segurar a ansiedade e esperar para quando estivermos próximos ao Paraná.
A voz do policial pelo rádio anunciava perplexo que haviam perdido o Corolla de vista. Gaule deu um soco violento no volante, logo em seguida pediu desculpas à Débora pelo descontrole.
-- Ele deve ter pego um caminho alternativo, aqueles usados por traficantes. Pedro deve estar se preparando para deixar o país -- o detetive balançou a cabeça inconformado -- A falta de fiscalização na fronteira faz do Paraguai uma rota de fuga e esconderijo para criminosos brasileiros.
-- Incompetentes! -- resmungou Débora, irritada -- Estava na cara que iam perder eles de vista.
-- Não fale assim dos policiais. Eles estão preocupados com os reféns, por isso mantiveram tanta distância do carro.
-- Pois vão ter que manter uma distância bem maior da Daniela quando ela souber que perderam o carro de vista.
Gaule coçou a cabeça. Conhecia a caçula dos Vargas, ela infernizaria a vida dele para sempre caso algo de ruim acontecesse a sua família.
-- Não se preocupe, Débora. Vamos encontrá-los e devolvê-los sãos e salvos à família.
- É o que espero, detetive.
CRÉDITOS:
https://brunoespiao.com.br/como-localizar-uma-pessoa-pelo-celular
Em dezembro: A Ilha do Falcão.
https://www.youtube.com/watch?v=_Skra9lqtwQ
Fim do capítulo
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