CapÃtulo 53
ENTRE LAMBIDAS E MORDIDAS -- CAPÍTULO 53
Ao sair para a rua, Yasmin passou por um homem alto e grisalho que parecia ter visto no dia anterior. Ele vestia roupas próprias para caminhada, mas, mesmo assim, no fundo de seu coração sentiu um ligeiro aperto.
-- Vocês querem voltar para dentro? -- disse Yasmin, ajeitando os bebes no carrinho -- Acho que não né. Mamãe é uma bobona, insegura e neurótica -- com um sorriso largo, começou a empurrar o carrinho pela calçada que dava para o parque.
-- Farei um lanche para mim, você também quer? -- perguntou Paula, sem disfarçar a felicidade pela presença de Débora em seu apartamento.
-- Pode ser -- a morena encolheu os ombros, sem muito entusiasmo -- Não estou com muita fome, mas vou tentar comer -- disse sorrindo, não querendo decepcionar a loira que se esforçava tanto em agradá-la.
Paula abriu a geladeira e tirou tudo o que precisava para preparar o sanduíche. Colocou alface, tomates e algumas fatias de presunto entre algumas fatias de pão, encheu dois copos com suco e colocou sobre a mesa.
-- Quer dizer que você está passando alguns dias com a Yasmin? -- indagou, sentando-se de frente para Débora.
-- Somente até a Dani voltar de Canoinhas -- Débora deu uma boa mordida no sanduíche e um gole no suco -- Yasmin precisa de ajuda com os gêmeos -- completou.
Paula franziu as sobrancelhas ao ouvi-la.
-- Aqueles dois são da pesada. Mimados e chantagistas -- deu um gole no suco e olhou para Débora -- Não negam o sangue que corre nas veias.
-- São só bebês, Paula e, não diga isso nem de brincadeira. Daniela ficaria uma fera -- Débora pegou o sanduíche, levou-o à boca, mas desistiu -- Não consigo.
-- Você precisa se alimentar -- aconselhou ela -- Dessa forma vai adoecer.
Débora suspirou profundamente, ergueu as sobrancelhas e sorriu.
-- Prometo que vou tentar -- a morena se levantou calmamente -- Obrigada por se preocupar comigo. Você é um anjo que Deus colocou na minha vida.
Débora deu um selinho rápido em Paula, pegou a bolsa, ajeitou-a sobre o ombro e depois saiu.
A brisa que tocava os seus cabelos naquele dia ensolarado e a paz que o parque transmitia, fizeram Yasmin se sentir bem mais leve e tranquila. Até os gêmeos pareciam curtir aquele passeio tão gostoso junto a natureza. Por nenhum momento choraram fazendo manha.
Um sorriso estava começando a aparecer no canto de sua boca quando o homem alto e grisalho parou diante dela.
Imediatamente, Yasmin olhou ao redor e soltou o ar aliviada ao ver várias pessoas caminhando, fazendo exercícios ou simplesmente sentados nos bancos do parque, tomando banho de sol.
-- Gêmeos? Que fofos! -- ele disse, colocando as mãos nos bolsos da frente do moletom.
-- Com licença. Está na hora de retornar para casa -- Yasmin apressou-se em voltar a empurrar o carrinho, mas ele a acompanhou.
Enquanto caminhavam lado a lado, fazia-se um silêncio carregado de tensão. Yasmin falou primeiro:
-- O senhor deseja algo? -- perguntou irritada.
-- Desejo -- o desconhecido acelerou o passo e parou diante do carrinho dos bebês -- Tenho uma arma no bolso do meu moletom, então, se não quer ver essas gracinhas furadas como peneira, acho melhor você ficar bem quietinha -- ao dizer isso, Jorge chegou a esticar as mãos para encostar nos gêmeos.
-- Tire sua mão imunda dos meus filhos. Ouviu? Nunca, nunca deixarei que toque neles -- a expressão de Yasmin era de nojo -- O que quer de mim? É dinheiro?
Jorge deu uma gargalhada horrenda.
-- Você sabe o que eu quero. Sabe o porquê estou aqui -- Jorge segurou forte nos braços de Yasmin -- Quero você e seus filhos.
-- Me solta! -- disse histérica -- Está me machucando.
As lágrimas começavam a cair sobre o rosto de Yasmin. Estavam incontroláveis, estava com medo, muito medo do que poderia acontecer com seus anjinhos. Daria a vida por eles, se preciso fosse.
-- Se você obedecer, nada de mal vai acontecer -- disse olhando em direção à rua lateral -- Está vendo aquele carro preto? Nós vamos caminhar calmamente até ele e entrar como se nada estivesse acontecendo.
Controlando os nervos, Yasmin obedeceu. Estava em choque e mal conseguia andar.
As pessoas passavam por eles e nada percebiam. A bruxa do 71 foi a única que parou para perguntar:
-- Está tudo bem Yasmin? Quem é esse homem?
Jorge fez cara feia e sacudiu o revólver dentro do bolso do moletom. Yasmin entendeu o recado e mesmo gaguejando, respondeu para a idosa.
-- Está tudo bem -- piscou diversas vezes antes de continuar -- Ele é um amigo que trabalha na empresa - olhou fixamente para ela. Queria falar através dos olhos para que a idosa percebesse que havia algo de errado. Porém ela apenas resmungou:
-- Ah, então tá! -- olhou com desdém para o desconhecido.
-- Vamos? -- Jorge a segurou nos ombros -- Estamos atrasados para a consulta dos bebês -- disfarçou.
Yasmin respirou fundo para impedir que algumas lágrimas escapassem dos seus olhos.
-- Vamos -- concordou, assustada.
A bruxa do 71 ficou observando os dois por um longo tempo enquanto os pensamentos maldosos fervilhavam em sua cabeça.
-- Hum, mal a loira batata vira as costas, a outra já sai pra gandaia -- a idosa pegou um pedaço de papel e uma caneta da bolsa e anotou a placa do veículo preto -- Apesar de ser uma pervertida, vou fazer um favor para a loira. Ela vai ter que ficar sabendo que está levando galho.
A expressão de Daniela mudou quando aproximou-se da cerca que rodeava a propriedade, respirou fundo para encher os pulmões com o ar puro do anoitecer, olhou para o grupo que a seguia e levou o dedo sobre os lábios, pedindo que fizessem silêncio.
Tudo estava correndo como fora planejado. Ela fez um breve aceno para eles e atravessaram a cerca com cuidado.
-- Vocês vão pelo outro lado, nós vamos pelos fundos da casa -- murmurou Daniela.
Ao alcançarem a porta dos fundos, perceberam que a mesma estava destrancada. Bianca olhou para Daniela que fez um gesto para que ela prosseguisse.
Bianca empurrou a porta com cuidado, olhou para dentro e fez sinal de ok para que o grupo se aproximasse.
Daniela olhou para os homens armados, prontos para atacar.
-- Peguem-no, mas não o matem -- ordenou em meio as sombras.
Devagar, foram avançando pelos cômodos da casa. Cozinha, banheiro, dispensa e por último os quartos. Ouviram um grito de mulher, depois de uma criança. Daniela não se deteve e correu na direção dos gritos.
-- Não o matem! -- novamente ordenou.
Dois dos peões arrastaram um homem e o forçaram a cair de joelhos diante de Daniela.
-- Esse é o único homem na casa -- disse Rebeca.
Ele estava com a cabeça baixa e os ombros levemente curvados. Parecia muito assustado.
-- Olhe para mim -- mandou Daniela. A loira esperou impaciente, ele levantar a cabeça e encará-la com os olhos esbugalhados -- Escute com atenção. Vou perguntar apenas uma vez: Onde está o Pedro?
O homem tremia de medo e quando abriu a boca para falar, saiu apenas um grunhido.
-- Vamos homem! Fale logo -- Daniela agarrou o homem pelo colarinho e puxou-o para bem perto -- Não estamos de brincadeira.
-- Eu sou apenas o caseiro... seu Pedro não me disse para...
-- Pode matá-lo, ele não sabe de nada, mesmo -- Daniela se virou para sair.
Meia dúzia de canos de espingarda encostaram na cabeça do infeliz.
-- O senhor Pedro deixou a fazenda ontem a noite... -- ele parou de falar e engoliu a saliva com dificuldade.
Daniela cerrou os punhos.
-- Desembucha -- disse irritada -- Cinco, quatro, três...
-- Ele foi para São Paulo -- disse, suando.
A loira olhou para ele, aturdida. Parecia anestesiada.
-- O que você falou?
-- Ele saiu daqui ontem, por volta das onze horas, é tudo o que eu sei, eu juro.
-- São Paulo? -- Bianca não acreditava no que tinha acabado de ouvir -- Ele foi para São Paulo? -- levantou as mãos ao alto, indignada -- Nós viemos e ele foi? Seria comico se não fosse triste.
Daniela passou a mão pelo cabelo nervosamente.
-- E agora? O que será que esse maluco foi fazer em São Paulo? -- no mesmo instante ela pensou em Yasmin e os gêmeos e ficou preocupada -- Será que ele foi atrás da Yasmin?
-- Acho que sim -- respondeu Bianca -- Porém, não acredito que ele consiga se aproximar dela. Yasmin anda bem ligada ultimamente.
-- Sei não... -- Daniela caminhou até a porta com o celular na mão -- Yasmin pensa que o Pedro está aqui em Canoinhas, ela deve estar se sentindo segura e isso não é nada bom.
-- O que faremos com esse cara? -- perguntou Rebeca, apontando para o caseiro.
-- Mate-o -- inquieta, Daniela discou o número de Yasmin e saiu para a varanda.
Rebeca olhou incrédula para Bianca.
-- É sério? É para matarmos ele?
-- Pelo amor de Deus, não me mate -- implorou desesperado o homem -- Tenho um filho para criar. Eu não tenho nada a ver com as crueldades do senhor Pedro, sou apenas um pobre coitado -- lastimou-se, chorando.
-- Para com isso, seu chorão! Aposto que não pensou em seu filho quando acobertou aquele marginal -- Bianca deu de dedo na cara dele e olhou com cara de mau para Rebeca -- Pode matá-lo!
Rebeca ficou olhando Bianca sair atrás de Daniela.
-- Matamos ele, chefa? -- perguntou o peão.
-- Claro que não! -- a moça revirou os olhos -- Somos trabalhadores honestos e não assassinos. Elas estão tirando uma com a cara de vocês. Seus bobões.
Daniela estava extremamente séria quando guardou o celular no bolso. Bianca aproximou-se e parou ao lado dela, preocupada.
-- O que aconteceu? Não conseguiu falar com a Yasmin?
Daniela fechou os olhos durante um momento enquanto se virava para a amiga.
-- Yasmin não atendeu o celular. Ela pode estar correndo perigo, Bianca -- ao fim da frase, ela suspirou profundamente -- Não vou me perdoar se algo de ruim acontecer a eles - falou, com expressão sombria.
O celular tocou e, ansiosamente, Daniela puxou-o do bolso e olhou no visor. Era de um número desconhecido.
-- Não vai atender? -- perguntou Bianca, de modo afobado -- Pode ser a Yasmin.
-- Você tem razão -- Daniela segurou o celular com a mão trêmula e levou-o ao ouvido -- Alô.
-- É a Daniela? -- indagou uma voz fina e hesitante, do outro lado.
-- Sim, sou eu. Quem está falando?
A pessoa fez uma pausa antes de se identificar:
-- Marinez Soares. Moro no mesmo prédio que você e a Yasmin.
Ela arqueou uma sobrancelha.
-- Quem?
-- A moradora do apartamento 71.
-- Ah, porque não disse logo? Você é a bruxa do 71.
-- Dani? Meu Deus! Não fale assim da mulher -- Bianca chamou a sua atenção.
Daniela franziu o cenho.
-- O que deseja, senhora Marinez Soares?
-- Lamento por tê-la perturbado, mas eu tinha que ligar -- a mulher deu uma pequena pausa e continuou a falar: A dona Yasmin estava aos beijos com um homem aqui no Parque do Ibirapuera.
Daniela tirou uma mecha de cabelos do rosto e disse a si mesma: Essa mulher é louca.
-- A senhora tem certeza que era a Yasmin?
-- Absoluta! Até anotei a placa do veículo.
-- Ela entrou em um carro? -- Daniela lutou para dominar o pânico que a assaltara naquele momento.
-- Ela e os bebês - completou a idosa fofoqueira.
Daniela perdeu o fôlego. Os olhos azuis faiscaram, enquanto ela pensava o que fazer.
-- Estou voltando para São Paulo. Daqui a pouco converso melhor com a senhora -- murmurou e desligou o celular irritada consigo mesma -- Novamente deixei aquele FDP maltratar a Yasmin -- passou as mãos pelos cabelos e deu um suspiro, furiosa. Amaldiçoou-se por haver falhado na proteção de sua família -- Sabe lá o que esse maluco fará com a Yasmin e os gatinhos? Ele é desequilibrado -- Tentando tirar aqueles pensamentos da cabeça, fez um gesto impaciente para Bianca: -- Liga para a Leonor e diz para ela mandar preparar o jatinho da empresa. Vamos voltar para São Paulo agora mesmo.
Bianca obedeceu prontamente. Pegou o celular e ligou para a ex recepcionista.
Todos agiram muito rápido e em menos de uma hora o jatinho, vindo de Canoinhas, pousou no aeroporto de Congonhas.
-- E agora, Dani? O que pretende fazer? -- Bianca perguntou, assim que alcançaram o saguão do aeroporto.
-- Vamos interrogar a bruxa do 71 -- Daniela atravessou a porta que dava acesso a saída do aeroporto e entrou no primeiro táxi da fila -- Ela deve ter muitas informações que nos ajudará a saber o destino deles -- sem se mexer, virou a cabeça em direção ao motorista e falou aflita: -- Toca para o Ibirapuera, é urgente.
Em dezembro: A Ilha do Falcão.
Link da sinopse: https://www.youtube.com/watch?v=_Skra9lqtwQ
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 16/11/2017
Ola Vandinha
Ainda bem que tem sempre uma fofoqueira de plantão e vai ajudar muito a salvar a Yasmin e as crianças. Depois que a poeira baixar a Dany pode contratar a senhora como segurança só ensina-la a ter atenção nos gestos.
E espero que agora consigam prender o Pedro, já chega de maldade queremos felicidade.
Bjus e até o próximo capítulo
Curti o vídeo do novo conto, irei amar mais um sucesso para nos prender a atenção e a torcida.
Resposta do autor:
Olá Mille!
Você está certa. Nossas garotas merecem paz e felicidade.
Estou caprichando no próximo romance. Mais uma personagem com jeitão de mafiosa. Você vai gosta.
Beijão.
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